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"MAS, TENDO SIDO SEMEADO, CRESCE." Jesus. (Marcos, 4:32.)


INTRODUÇÃO AO ESTUDO DOS FLUIDOS ESPIRITUAIS

Introdução ao estudo dos fluidos espirituais
Revista Espírita, março de 1866

Os fluidos espirituais representam um importante papel em todos os fenômenos espíritas, ou melhor, são o princípio mesmo desses fenômenos. Até agora se estava limitado a dizer que tal efeito é o resultado de uma ação fluídica, mas esse dado geral, suficiente no início, não o é mais quando se quer investigar os detalhes. Sabiamente os Espíritos limitaram seu ensinamento no princípio. Mais tarde, chamaram a atenção para a grave questão dos fluidos, e não foi num centro único que a abordaram: foi mais ou menos em todos.

Mas os Espíritos não nos vem trazer esta ciência, como nenhuma outra, já pronta: eles nos põem no caminho, fornecem-nos os materiais e a nós cabe estudá-los, observá-los, analisá-los, coordená-los e os pôr em obra. Foi o que fizeram para a constituição da doutrina e agiram assim em relação aos fluidos. Em milhares de lugares diversos e do nosso conhecimento, esboçaram o seu estudo. Em toda parte encontramos alguns fatos, algumas explicações, uma teoria parcial, uma idéia, mas em parte alguma um completo trabalho de conjunto. Por que isto? Impossibilidade da parte deles? Certo que não, porque o que teriam podido fazer como homens, com mais forte razão podê-lo-ão como Espíritos. Mas, como dissemos, é que por coisa alguma eles vem libertar-nos do trabalho da inteligência, sem o qual as nossas forças, ficando inativas, estiolar-se-iam, porque acharíamos mais cômodo que eles trabalhassem por nós.

Assim, o trabalho foi deixado ao homem, mas a sua inteligência, a sua vida, o seu tempo sendo limitados, a nenhum é dado elaborar tudo o que é necessário para a constituição de uma ciência. Eis porque não há uma só que, em todas as suas peças seja obra de um só homem; nenhuma descoberta que o seu primeiro inventor tenha levado à perfeição. A cada edifício intelectual vários homens e diversas gerações trouxeram seu contingente de pesquisas e de observações.

Assim também com a questão que nos ocupa, cujas diversas partes foram tratadas separadamente, depois coligidas num corpo metódico, quando puderam ser reunidos materiais suficientes. Esta parte da ciência espírita mostra, desde já, que não é uma concepção individual sistemática, de um homem ou de um Espírito, mas o produto de observações múltiplas, que tiram sua autoridade da concordância entre elas existente.

Pelo motivo que acabamos de exprimir, não poderíamos pretender que esta seja a última palavra. Como temos dito, os Espíritos graduam os seus ensinos e os proporcionam à soma e à maturidade das idéias adquiridas. Não se poderia, pois, duvidar que, mais tarde, elas pusessem novas observações sobre a via. Mas desde agora há elementos suficientes para formar um corpo que, ulteriormente e gradualmente, será completado.

O encadeamento dos fatos nos obriga a tomar nosso ponto de partida de mais alto, a fim de proceder do conhecido para o desconhecido.

Tudo se liga na obra da criação. Outrora consideravam-se os três reinos como inteiramente independentes entre si e teriam rido de quem pretendesse encontrar uma correlação entre o mineral e o vegetal, entre o vegetal e o animal. Urna observação atenta fez desaparecer a solução de continuidade, e provou que todos os corpos formam uma cadeia ininterrupta. De tal sorte que os três reinos não subsistem, na realidade, senão pelos caracteres gerais mais marcados. Mas nos seus limites respectivos eles se confundem, a ponto de se hesitar em saber onde um termina e o outro começa, e em qual certos seres devem ser colocados. Tais são, por exemplo, os zoofitas, ou animais plantas, assim chamados porque tem, ao mesmo tempo de animal e de planta.

O mesmo acontece no que concerne à composição dos corpos. Durante muito tempo os quatro elementos serviram de base às ciências naturais: caíram ante as descobertas da química moderna, que reconheceu um número indeterminado de corpos simples. A química nos mostra todos os corpos da natureza formados desse elementos combinados em diversas proporções. É da infinita variedade dessas proporções que nascem as inumeráveis propriedades dos diferentes corpos. É assim, por exemplo, que uma molécula de gás oxigênio e duas de gás hidrogênio, combinadas, formam água. Na sua transformação em água, o oxigênio e o hidrogênio perdem suas qualidades próprias. A bem dizer, não há mais oxigênio, nem hidrogênio, mas água. Decompondo a água, encontram-se novamente os dois gases, nas mesmas proporções. Se, em lugar de uma molécula de oxigênio, houver duas, isto é, duas de cada gás, não será mais água, mas um líquido muito corrosivo. Bastou, pois, uma simples mudança na proporção de um dos elementos para transformar uma substância salutar em outra venenosa.

Por uma operação inversa, se os elementos de uma substância deletéria, como, por exemplo, o arsênico, forem simplesmente combinados em outras proporções, sem adição ou subtração de nenhuma outra substância, ela tornar-se-á inofensiva, ou mesmo salutar. Há mais: várias moléculas reunidas de um mesmo elemento, gozarão de propriedades diferentes, conforme o modo de agregação e as condições do meio onde se encontram. A ozona, recentemente descoberta no ar atmosférico, é um exemplo. Reconheceu-se que essa substância não passa de oxigênio, um dos principais constituintes do ar, num estado particular, que lhe dá propriedades distintas das do oxigênio propriamente dito. O ar não deixa de ser formado de oxigênio e de azoto, mas suas qualidades variam conforme contenha maior ou menor quantidade de oxigênio no estado de ozona.

Estas observações, que parecem estranhas ao nosso assunto, não obstante a ele se ligam de maneira direta, como se verá mais tarde. Elas são, além disso, essenciais como pontos de comparação.

Essas composições e decomposições se obtêm artificialmente e em pequenas doses nos laboratórios, mas se operam em grande e espontaneamente no grande laboratório da natureza. Sob a influência do calor, da luz, da eletricidade, da humanidade, um corpo se decompõe, seus elementos se separam, outras combinações se operam e novos corpos se formam. Assim, a mesma molécula de oxigênio, por exemplo, que faz parte do nosso corpo, após a destruição deste, entra na composição de um mineral, de uma planta, ou de um corpo animado. Em nosso corpo atual acham-se, pois, as mesmas parcelas de matéria, que foram partes constituintes de uma multidão de outros corpos.

Citemos um exemplo para tornar a coisa mais clara.

Um pequeno grão é posto na terra, nasce, cresce e torna-se uma grande árvore que, anualmente, dá folhas, flores e frutos. Quer dizer que a árvore se achava inteirinha no grão? Certamente que não, porque ela contém uma quantidade de matéria muito mais considerável. Então de onde lhe veio essa matéria? Dos líquidos, dos sais, dos gases que a planta tirou da terra e do ar, que infiltraram em sua haste e, pouco a pouco, alimentaram o volume. Mas nem na terra nem no ar encontram-se madeira, folhas, flores e frutos. É que esses mesmos líquidos, sais e gases, no ato de absorção, se decompuseram, seus elementos sofreram novas combinações, que os transformaram em seiva, lenho, casca, folhas, flores, frutos, essências voláteis, etc. Estas mesmas partes, por sua vez, vão destruir-se, decompor-se, seus elementos, misturar-se de novo na terra e no ar; recompor as substâncias necessárias à frutificação, ser reabsorvidos, decompostos e, mais uma vez, transformados em seiva, lenho, casca, etc.

Numa palavra, a matéria não sofre aumento nem diminuição. Transforma-se e, por força dessas transformações sucessivas, a proporção das diversas substâncias é sempre em quantidade suficiente para as necessidades da natureza. Suponhamos, por exemplo, que uma dada quantidade de água seja decomposta, no fenômeno da vegetação, para fornecer o oxigênio e o hidrogênio necessários á formação das diversas partes da planta; é uma quantidade de água que existe a menos na massa; mas essas partes da planta, quando de sua decomposição, vão tornar livres o oxigênio e o hidrogênio que elas encerravam, e esses gases, combinando-se entre si, vão formar uma nova quantidade de água equivalente à que havia desaparecido.

Um fato que é oportuno assinalar aqui, é que o homem, que pode operar artificialmente as composições e decomposições que se operam espontaneamente na natureza, é impotente para reconstituir o menor corpo organizado, ainda que fosse uma palha de erva ou uma folha morta. Depois de ter decomposto um mineral, pode recompô-lo em todas as suas peças, como era antes. Mas quando separou os elementos de uma parcela de matéria vegetal ou animal, não pode reconstituí-la e, com mais forte razão, dar-lhe a vida. Seu poder pára na matéria inerte: o princípio de vida está na mão de Deus.

A maioria dos corpos simples são chamados ponderáveis, porque é possível achar o seu peso, e este está na razão da soma de moléculas contidas num dado volume. Outros são ditos imponderáveis, porque para nós não tem peso e, seja qual for a quantidade em que se acumulem num outro corpo, não aumentam o peso deste. Tais são: o calórico, a luz, a eletricidade, o fluido magnético ou do ímã. Este último não passa de uma variedade da eletricidade. Posto que imponderáveis, nem por isto esses fluidos deixam de ter um grande poder. O calórico divide os corpos mais duros, os reduz a vapor, dá aos líquidos evaporados uma irresistível força de expansão. O choque elétrico quebra árvores e pedras, curva barras de ferro, funde os metais, atira longe enormes massas. O magnetismo dá ao ferro um poder de atração capaz de sustentar pesos consideráveis. A luz não possui esse gênero de força, mas exerce uma ação química sobre a maioria dos corpos, e sob sua influência operam-se incessantemente composições e decomposições. Sem a luz os vegetais e os animais se estiolam, os frutos não têm sabor nem colorido.

Todos os corpos da natureza, minerais, vegetais, animais, animados ou inanimados, sólidos, líquidos ou gasosos, são formados dos mesmos elementos, combinados de maneira a produzir a infinita variedade dos diferentes corpos. Hoje a Ciência vai mais longe. Suas investigações pouco a pouco a conduzem à grande lei da unidade. Agora é geralmente admitido que os corpos reputados simples não passam de modificações, de transformações de um elemento único, princípio universal designado sob os nomes de éter, fluido cósmico ou fluido universal. De tal sorte que, segundo o modo de agregação das moléculas desse fluido, e sob a influência de circunstâncias particulares, adquire propriedades especiais, que constituem os corpos simples.

Estes, combinados entre si em diversas proporções, formam, como dissemos, a inumerável variedade de corpos compostos. Segundo esta opinião, o calórico, a luz, a eletricidade e o magnetismo não passariam de modificações do fluido primitivo universal. Assim esse fluido que, segundo toda probabilidade, é imponderável seria ao mesmo tempo o princípio dos fluidos imponderáveis e dos corpos ponderáveis.

A química nos faz penetrar na constituição íntima dos corpos, mas, experimentalmente. não vai além dos corpos considerados simples. Seus meios de análise são impotentes para isolar o elemento primitivo e determinar a sua essência. Ora, entre esse elemento em sua pureza absoluta e o ponto onde pára as investigações da Ciência, o intervalo é imenso. Raciocinando por analogia, chega-se a esta conclusão que entre esse dois pontos extremos, esse fluido deve sofrer modificações que escapam aos nossos instrumentos e aos nossos sentidos materiais. É nesse campo novo, até aqui fechado à exploração, que vamos tentar penetrar.

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO PERISPÍRITO

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO PERISPÍRITO
Revista Espírita, março de 1866

Até agora só se tinham idéias muito incompletas sobre o mundo espiritual ou invisível. Imaginavam-se os Espíritos como seres fora da humanidade. Os anjos também eram criaturas à parte, de uma natureza mais perfeita. Quanto ao estado das almas após a morte, os conhecimentos não eram mais positivos. A opinião mais geral deles fazia seres abstratos, dispersos na imensidade e não tendo mais relações com os vivos, a não ser que, segundo a doutrina da Igreja, estivessem na beatitude do céu ou nas trevas do inferno. Além disso, as observações da Ciência, não parando na matéria tangível, resulta entre o mundo corporal e o mundo espiritual, um abismo que parecia excluir toda reaproximação. É este abismo que novas observações e o estudo de fenômenos ainda pouco conhecidos vem encher, ao menos em parte.

Para começar o Espiritismo nos ensina que os Espíritos são as almas dos homens que viveram na Terra, que progridem sem cessar, e que os anjos são essas mesmas almas ou Espíritos chegados a um estado de perfeição que os aproxima da Divindade.

Em segundo lugar, ensina-nos que as almas passam alternativamente do estado de encarnação ao de erraticidade, que neste último estado elas constituem a população invisível do globo, ao qual ficam ligadas, até que aí tenham adquirido o desenvolvimento intelectual e moral que comporta a natureza deste globo, depois do que o deixam, passando a um mundo mais adiantado.

Pela morte do corpo, a humanidade corporal fornece almas ou Espíritos ao mundo espiritual. Pelos nascimentos, o mundo espiritual alimenta o mundo corporal. Há, pois, transmutação ou deversão incessante de um no outro. Esta relação constante os torna solidários, pois são os mesmos seres que entram no nosso mundo e dele saem alternativamente. Eis um primeiro traço de união, um ponto de contato, que já diminui a distância que parecia separar o mundo visível do mundo invisível.

A natureza íntima da alma, isto é, do princípio inteligente, fonte do pensamento, escapa completamente às nossas investigações. Mas sabe-se agora que a alma é revestida de um envoltório ou corpo fluídico, que dela faz, após a morte do corpo material, como antes, um ser distinto, circunscrito e individual. A alma é o princípio inteligente considerado isoladamente. É a força atuante e pensante, que não podemos conceber isolada da matéria senão como uma abstração. Revestida de seu envoltório fluídico, ou perispírito, a alma constitui o ser chamado Espírito, como quando está revestida do envoltório corporal, constitui o homem. Ora, posto que no estado de Espírito goze de propriedades e de faculdades especiais, não cessou de pertencer à humanidade. Os Espíritos são, pois, seres semelhantes a nós, pois cada um de nós torna-se Espírito após a morte do corpo, e cada Espírito torna-se homem pelo nascimento.

Esse envoltório não é a alma, pois não pensa: é apenas uma vestimenta. Sem a alma, o perispírito, assim como o corpo, é uma matéria inerte privada de vida e de sensações. Dizemos matéria, porque, com efeito, o perispírito, posto que de uma natureza etérea e sutil, não é menos matéria com os fluidos imponderáveis e, demais, matéria da mesma natureza e da mesma origem que a mais grosseira matéria tangível, como logo veremos.

A alma não reveste o perispírito apenas no estado de Espírito; é inseparável desse envoltório, que a segue na encarnação, como na erraticidade. Na encarnação, é o laço que a une ao envoltório corporal, o intermediário com cujo auxílio age sobre os órgãos e percebe as sensações das coisas exteriores. Durante a vida, o fluido perispiritual identifica-se com o corpo, cujas partes todas penetra; com a morte, dele se desprende; privado da vida, o corpo se dissolve, mas o perispírito, sempre unido à alma, isto é, ao princípio vivificante, não perece. Apenas a alma, em vez de dois envoltórios, conserva apenas um: o mais leve, o que está mais em harmonia com o seu estado espiritual.

Posto que esses princípios sejam elementares para os Espíritas, era útil lembrá-los para a compreensão das explicações subseqüentes e a ligação das idéias.

Algumas pessoas contestaram a utilidade do invólucro perispiritual da alma e, em conseqüência, a sua existência. Dizem que a alma não precisa de intermediário para agir sobre o corpo; e, uma vez separada do corpo, ele é um acessório supérfluo.

A isto respondemos, para começar, que o perispírito não é uma criação imaginária, uma hipótese inventada para chegar a uma solução; sua existência é um fato constatado pela observação. Quanto à sua utilidade, durante a vida ou após a morte, é preciso admitir que, desde que existe, é que serve para alguma coisa. Os que contestam a sua utilidade são como um indivíduo que, não compreendendo as funções de certas engrenagens num mecanismo, concluíssem que elas só servem para desnecessariamente complicar a máquina. Não vê que se a menor peça fosse suprimida, tudo seria desorganizado. Quantas coisas, no grande mecanismo da natureza, parecem inúteis aos olhos do ignorante e, mesmo, de certos cientistas, que de boa fé julgam que se tivessem sido encarregados da construção do Universo, o teriam feito melhor!

O perispírito é uma das mais importantes engrenagens da economia. A Ciência o observou nalguns de seus efeitos e, seguidamente, tem sido designado como fluido vital, fluido ou influxo nervoso, fluido magnético, eletricidade animal, etc., sem se dar precisa conta de sua natureza e de suas propriedades, e, ainda menos, de sua origem. Como envoltório do Espírito após a morte, foi suspeitado desde a mais alta antigüidade. Todas as teogonias atribuem aos seres do mundo invisível um corpo fluídico. São Paulo diz em termos precisos que nós renascemos com um corpo espiritual (I Cor. XV: 35-44 e 50)

Dá-se o mesmo com todas as grandes verdades baseadas nas leis da natureza, e das quais, em todas as épocas, os homens tiveram a intuição. É assim que, desde antes de nossa era, notáveis filósofos tinham suspeitado da redondeza da Terra e seu movimento de rotação, o que nada tira ao mérito de Copérnico e de Galileu, mesmo supondo que estes últimos tenham aproveitado as idéias de seus predecessores. Graças a seus trabalhos, o que não passava de opinião individual, uma teoria incompleta e sem provas, desconhecida das massas, tornou-se uma verdade científica, prática e popular.

A doutrina do perispírito está no mesmo caso. O Espiritismo não foi o primeiro a descobri-lo. Mas, assim como Copérnico para o movimento da Terra, ele o estudou, demonstrou, analisou, definiu e dele tirou fecundos resultados. Sem os estudos modernos mais completos, esta grande verdade, como muitas outras ainda estaria no estado de letra morta.

O perispírito é o traço de união que liga o mundo espiritual ao mundo corporal. O Espiritismo no-los mostra em relação tão íntima e tão constante, que de um ao outro a transição é quase insensível. Ora, assim como na natureza o reino vegetal se liga ao reino animal por seres semivegetais ou semi-animais, o estado corporal se liga ao estado espiritual não só pelo princípio inteligente, que é o mesmo, mas ainda pelo envoltório fluídico, ao mesmo tempo semimatéria e semi-espiritual, desse mesmo princípio. Durante a vida terrena, o ser corporal e o ser espiritual estão confundidos e agem de acordo; a morte do corpo apenas os separa. A ligação destes dois estados é tal, reagem um sobre o outro com tanta força, que dia virá em que será reconhecido que o estudo da história natural do homem não seria completo sem o do envoltório perispiritual, isto é, sem por um pé no domínio do mundo invisível.

Tal aproximação é ainda maior quando se observa a origem, a natureza, a formação e as propriedades do perispírito, operação que decorre naturalmente do estudo dos fluidos.

É sabido que todos os animais tem como princípios constituintes o oxigênio, o hidrogênio, o azoto e o carbono, combinados em diferentes proporções. Ora, como dissemos, esses mesmos corpos simples tem um princípio único, que é o fluido cósmico universal. Por suas diversas combinações eles formam todas as variedades de substâncias que compõem o corpo humano, o único de que aqui falamos, posto seja o mesmo em relação aos animais e às plantas. Disto resulta que o corpo humano, na realidade, não passa de uma espécie de concentração, de condensação ou , se quiser, da solidificação do gás carbônico. Com efeito, suponhamos a desagregação completa de todas as moléculas do corpo, reencontraremos o oxigênio, o hidrogênio, o azoto e o carbono; em outros termos, o corpo será volatilizado. Os quatro elementos, voltando ao seu estado primitivo por uma nova e mais completa decomposição, se os nossos meios de análise o permitissem, dariam o fluido cósmico. Esse fluido, sendo o princípio de toda a matéria, é ele mesmo matéria, posto que num completo estado de eterização.

Um fenômeno análogo se passa na formação do corpo fluídico, ou perispírito: é, igualmente, uma condensação do fluído cósmico em redor do foco de inteligência, ou alma. Mas aqui a transformação molecular opera-se diferentemente, porque o fluido conserva sua imponderabilidade e suas qualidades etéreas. O corpo perispiritual e o corpo humano tem, pois, sua fonte no mesmo fluido; um e outro são matéria, posto sob dois estados diferentes. Assim, tivemos razão de dizer que o perispírito é da mesma natureza e da mesma origem que a mais grosseira matéria. Como se vê, nada há de sobrenatural, desde que se liga, por seu princípio, às coisas da natureza, das quais ele mesmo não passa de uma variedade.

Sendo o fluido universal o princípio de todos os corpos da natureza, animados e inanimados e, por conseqüência, da terra, das pedras. Moisés estava certo quando disse: "Deus formou o corpo do homem do limo da terra." Isto não quer dizer que Deus tomou terra, a petrificou e com ela modelou o corpo do homem, como se modela uma estátua com barro, como acreditaram os que tomam ao pé da letra as palavras bíblicas, mas que o corpo era formado dos mesmos princípios ou elementos que o limo da terra, ou que tinham servido para formam o limo da terra.

Moisés acrescenta: "E lhe deu uma alma vivente, feita à sua semelhança" faz , assim, uma distinção entre alma e corpo; indica que ela é de natureza diferente, que não é matéria, mas espiritual e imaterial como Deus. Diz: uma alma vivente, para especificar que nela só está o princípio de vida, ao passo que o corpo, formado de matéria, por si mesmo não vive. As palavras: à sua semelhança implicam uma similitude e não uma identidade. Se Moisés tivesse olhado a alma como uma porção da Divindade, teria dito: Deus o anima dando-lhe uma alma tirada da sua própria substância, como disse que o corpo tinha sido tirado da terra.

Estas reflexões são uma resposta às pessoas que acusam o Espiritismo de materializar a alma, porque lhe dá um envoltório semimaterial.

No estado normal, o perispírito é invisível aos nossos olhos e impalpável ao nosso tato, como o são uma infinidade de fluidos e de gases. Contudo, a invisibilidade, a impalpabilidade, e mesmo a imponderabilidade do fluido perispiritual não são absolutas. Eis por que dizemos no estado normal. Em certos casos, ele sofre, talvez, uma condensação maior, ou uma modificação molecular de natureza especial, que o torna momentaneamente visível ou tangível. É assim que se produzem as aparições. Sem que haja aparição, muitas pessoas sentem a impressão fluídica dos Espíritos pela sensação do tato, o que é o indício de um natureza material.

De qualquer maneira por que se opere a modificação atômica do fluido, não há coesão como nos corpos materiais: a aparência se forma e se dissipa instantaneamente, o que explica as aparições e as desaparições súbitas. Sendo as aparições o produto de um fluido material invisível, tornado visível por força de uma mudança momentânea na sua constituição molecular, não são mais sobrenaturais que os vapores que alternadamente se tornam visíveis ou invisíveis pela condensação ou pela rarefação. Citamos o vapor como ponto de comparação, sem pretender que haja similitude de causa e efeito.

Algumas pessoas criticaram a qualificação de semimaterial dada ao perispírito, dizendo que uma coisa é matéria ou não o é. Admitindo que a expressão seja imprópria, seria preciso adotá-la, em falta de um termo especial para exprimir esse estado particular da matéria. Se existisse um mais apropriado à coisa, os críticos deveriam tê-lo indicado. O perispírito é matéria, como acabamos de ver, falando filosoficamente, e por sua essência íntima. Ninguém poderia contestá-lo; mas não tem as propriedades da matéria tangível, tal como se a concebe vulgarmente; não pode ser submetido à análise química; porque, embora tenha o mesmo princípio que a carne e o mármore e possa tornar as suas aparências, na realidade nem é carne nem mármore. Por sua natureza etérea, tem, ao mesmo tempo, da materialidade por sua substância, e da espiritualidade por sua impalpabilidade; e a palavra semimaterial não é mais ridícula do que semiduplo e tantas outras, porque também pode se dizer que uma coisa é dupla ou não o é.

Como princípio elementar universal, o fluido cósmico oferece dois estados distintos: o de eterização ou de imponderabilidade, que pode se considerar como o estado normal primitivo, e o de materialização ou de ponderabilidade, que, de certo modo, não é senão consecutivo. O ponto intermediário é o da transformação do fluido em matéria tangível. Mas aí, ainda, não há transição brusca, porque se pode considerar os nossos fluidos imponderáveis como um termo médio entre os dois estados.

Cada um desses dois estados necessariamente dá lugar a fenômenos especiais. Ao segundo pertencem os do mundo visível, e ao primeiro os do mundo invisível. Uns, chamados fenômenos materiais, são do campo da Ciência propriamente dita; os outros, qualificados de fenômenos espirituais, porque se ligam à existência dos Espíritos, são da atribuição do Espiritismo. Mas há entre eles tão numerosos pontos de contato, que servem para mútuo esclarecimento e, como dissemos, o estudo de uns não poderia ser completo sem o estudo dos outros. É à explicação desses últimos que conduz o estudo dos fluidos de que, posteriormente, faremos assunto para um trabalho especial.

CAUSAS DA OBSESSÃO E MEIOS DE COMBATÊ-LA V

Causas da obsessão e meios de combate - V
Revista Espírita, maio de 1863

Como deve ter sido notado, o sr. Constant chegou a Morzine com a idéia de que a causa do mal era puramente físico. Podia ter razão, porque seria absurdo supor, a priori, uma influência oculta a todo efeito cuja causa é desconhecida. Segundo ele, a causa está inteiramente nas condições higiênicas, climatéricas e fisiológicas dos habitantes.

Estamos longe de pretender devesse ele ter vindo com uma opinião contrária prontinha, o que não teria sido mais lógico. Dizemos apenas que com sua idéia preconcebida não viu a que acaso podia referir-se, ao passo que se ao menos tivesse admitido a possibilidade de outra causa, teria visto outra coisa.

Quando uma causa é real, deve poder explicar todos os efeitos que produz. Se certos efeitos vêm contradize-la, é que aquela é falsa, ou não é única e, então, é preciso procurar uma outra. Incontestavelmente é a marcha mais lógica. E a justiça, nas suas investigações em busca da criminalidade, não procede de modo diverso. Se trata de constatar um crime, chega ela com a idéia de que deve ter sido cometido desta ou daquela maneira, por tal ou qual pessoa? Não. Ela observa as menores circunstâncias e, remontando dos efeitos às causas, afasta as que são inconciliáveis com os efeitos observados e, de dedução em dedução, é raro que não chegue à constatação da verdade. Dá-se o mesmo nas ciências. Quando uma dificuldade resta insolúvel, o mais sábio é suspender o julgamento. Então toda hipótese é permitida para tentar resolve-la. Mas se a hipótese não resolve todos os casos da dificuldade, é que é falsa. Não tem o caráter de uma verdade absoluta se não der a razão de tudo. É assim que no Espiritismo, por exemplo, à parte toda constatação material, remontando dos efeitos às causas, chega-se ao princípio da pluralidade das existências, como conseqüência inevitável, porque só ele explica claramente o que nenhum outro explicar.

Aplicando este método aos fatos de Morzine é fácil ver que a causa única admitida pelo sr. Constant está longe de tudo explicar. Ele constata, por exemplo, que geralmente as crises cessam quando os doentes estão fora da comuna. Se, pois, o mal é devido à constituição linfática e à má nutrição dos habitantes, como a causa cessa de agir assim que transpõem a ponte que os separa da comuna vizinha? Se as crises nervosas não fossem acompanhadas de nenhum outro sintoma, ninguém duvida que se pudesse, aparentemente, atribuí-los a um estado constitucional, mas há fenômenos que não seriam explicados exclusivamente por esse estado.

Aqui o Espiritismo nos oferece uma comparação chocante. No começo das manifestações, quando se viam mesas girando, batendo, erguendo-se no espaço sem ponto de apoio, o primeiro pensamento foi que isso podia ser por ação da eletricidade, do magnetismo ou de outro fluido desconhecido. A suposição não era desarrazoada, ao contrário, oferecia probabilidades. Mas quando se viu que os movimentos davam sinal de inteligência, manifestavam uma vontade própria, espontânea e independente, a primeira hipótese teve de ser abandonada, pois não resolvia esta fase do fenômeno, e houve que reconhecer-se uma causa inteligente para um efeito inteligente. Qual era sua inteligência? Foi, ainda, por via da experimentação que a ela se chegou, e não por um sistema preconcebido.

Outro exemplo. Quando, observando a queda dos corpos, Newton notou que todos caíram na mesma direção, procurou a causa e levantou uma hipótese. Esta hipótese, resolvendo todos os casos de mesmo gênero, tornou-se a lei da gravitação universal, lei puramente mecânica, porque todos os efeitos eram mecânicos. Mas suponhamos que vendo cair uma maçã, esta tivesse obedecido à sua vontade, que ao seu comando em vez de descer tivesse subido, fosse para a direita ou para a esquerda, tivesse parado ou entrado em movimento, que por um sinal qualquer tivesse respondido ao seu pensamento, ele teria sido forçado a reconhecer algo que não uma lei mecânica, isto é, que não sendo inteligente, a maçã deveria ter obedecido a uma inteligência. Assim foi com as mesas girantes. Assim é com os doentes de Morzine.

Para não falar senão de fatos observados peto próprio sr. Constant, perguntaríamos como uma alimentação má e um temperamento linfático podem produzir a antipatia religiosa em criaturas naturalmente religiosas e até devotas? Se fosse um fato isolado podia ser uma exceção, mas reconhece-se que é geral e que é um dos caracteres da doença lá e alhures. Eis um efeito. Procurai a sua causa. Não a conheceis? Seja. Confessai-o, mas não digais que é devido ao fato de os habitantes comerem batatas e pão preto, nem à sua ignorância e inteligência obtusa, porque vos oporão o mesmo efeito entre gente que vive na abundância e recebeu inscrição. Se o conforto bastasse para curar a impiedade, ficaríamos admirados de encontrar tantos ímpios e blasfemadores entre as criaturas que de nada se privam.

O regime higiênico explicaria melhor este outro fato não menos característico e geral do sentimento de dualidade, que se traduz de modo inequívoco na linguagem dos doentes? Certo que não. É sempre uma terceira pessoa quem fala. Sempre uma distinção entre ele e a moça, fato constante nos indivíduos no mesmo caso, seja qual for a sua classe social. Os remédios são ineficazes por uma boa razão: é que são bons, como diz aquele terceiro, para a moça, isto é, para o ser corporal, mas não para o outro, aquele que não é visto e que, entretanto, a faz agir, a constrange, a subjuga, a derruba e se serve de seus membros para bater e de sua boca para falar. Ele diz nada haver visto que justifique a idéia da possessão. Mas os fatos estavam ante os seus olhos. Ele mesmo os cita. Podem ser explicados pela causa que ele lhes atribui? Não. Então esta causa não é verdadeira. Ele via os efeitos morais e devia procurar uma causa moral.

Outro médico, o dr. Chiara, que também visitou Morzine, publicou sua apreciação, constatando os mesmos fenômenos e os mesmos sintomas que o sr. Constant. Mas para ele, como para este último, os Espíritos malignos são imaginação dos doentes. Em seu trabalho encontramos o seguinte fato, a propósito de uma doente:

"O acesso começa por um soluço e movimentos de deglutição, pela flexão e soerguimentos alternativos da cabeça sobre o tronco. Depois de várias contorções que lhe dão ao rosto tão suave uma expressão horrorosa: "S... médico, grita ela, eu sou o diabo..., tu queres fazer-me deixar a moça; eu não te temo... vem!... há quatro anos que a domino: ela é minha, nela ficarei. – Que fazes nesta moça? - Eu a atormento. - E porque, infeliz, atormentais uma pessoa que não te fez nenhum mal? – Porque me puseram aqui para atormentá-la. - És um celerado. "Aqui paro, atordoado por uma avalanche de injúrias e imprecações."

Falando de outra doente, diz ele:

"Após alguns instantes de uma cena muda, de uma pantomima mais ou menos expressiva, nossa possessa põe-se a soltar pragas horríveis. Espumando de raiva, injuria-nos a todos com um furor sem igual. Mas - digamo-lo já - não é a moça que assim se exprime, é o diabo que a possui e que, servindo-se de seu órgão, fala em seu próprio nome. Quanto à nossa energúmena, é apenas um instrumento passivo no qual foi inteiramente abolida a noção do eu. Se for interpelada diretamente, fica muda: só Belzebú responderá.

"Enfim, depois de uns três minutos esse drama horrível cessa de repente, como que por encanto. A mocinha B... retoma o ar mais calmo, o mais natural do mundo, como se nada tivesse acontecido. Tricotava antes, eis que tricota depois, parecendo não ter interrompido o trabalho. Interrogo-a. Responde que não sente a menor fadiga nem se lembra de nada. Falo-lhe das injúrias que nos dirigiu. Ela as ignora, mas parece contrariar-se e nos pede desculpas.

"Em todas essas doentes a sensibilidade geral é abolida completamente. Podem ser pinçadas, beliscadas, ou queimadas e nada sentem. Numa delas fiz uma dobra na pele e atravessei com uma agulha comum: correu sangue mas ela nada sentiu.

"Em Morzine vi ainda várias dessas doentes fora do estado da crise. Eram moças gordas, agradáveis, gozando da plenitude das faculdades físicas e morais. Vendo-as é impossível supor a existência da menor afecção."

Isto contrasta com o estado raquítico, macilento e sofredor que o sr. Constant admite ter notado. Quanto ao fenômeno da insensibilidade durante as crises, não é, como se viu, a única aproximação que os fatos apresentam com a catalepsia, o sonambulismo e a dupla visão.

De todas essas observações o dr. Chiara chegou a esta definição do mal:

"É um conjunto mórbido, formado de diferentes sintomas, tomados um pouco em todo o quadro patológico das moléstias nervosas e mentais; numa palavra, é uma afecçâo sui generis, para a qual, pouco ligando às denominações, conservarei o nome de histero-demonia, que já lhe foi dado."

É caso de dizer: "Quem tiver ouvidos, ouça." É um mal particular, formado de diferentes partes e que tem sua fonte um pouco em toda parte. É o mesmo que dizer simplesmente: "É um mal que não compreendo." É um mal sui generis. Estamos de acordo. Mas qual esse gênero, ao qual nem sabeis dar o nome?

Poderíamos provar a insuficiência de uma causa puramente material para explicar o mal de Morzine, por muitas outras aproximações, que os próprios leitores farão. Reportem-se aos artigos precedentes, ao que dizemos da maneira por que se exerce ação dos Espíritos obsessores, dos fenômenos resultantes dessa ação, e a analogia ressaltará com a última evidência. Se, para a gente de Morzine, o terceiro que interfere é o diabo, é porque lhes disseram que era o diabo e eles só sabiam isto. Aliás é sabido que certos Espíritos de baixo nível divertem-se tomando nomes infernais para apavorar. A este nome substitui em sua boca o vocábulo Espírito, ou antes, maus Espíritos e tereis a reprodução idêntica de todas as cenas de obsessão e do subjugação que referimos.

É incontestável que, numa região onde dominasse a idéia do Espiritismo, sobrevindo tal epidemia, os doentes se dissessem solicitados por maus Espíritos, quando, aos olhos de certas pessoas parecessem loucos. Dizem que é o diabo, é uma afecção nervosa. É o que teria acontecido em Morzine, se o conhecimento do Espiritismo ali tivesse precedido a invasão desses Espíritos. Então os adversários teriam gritado: socorro! Mas a providência não lhes quis dar essa satisfação passageira. Ao contrário, quis provar sua importância para combater o mal pelos meios ordinários.

No final de contas, recorreram ao afastamento das doentes, que foram dirigidas para os hospitais de Thomon, Chambéry, Lyon, Mâcon etc. O meio era bom porque, quando todas transportadas, podiam se gabar de que não existiam mais doentes na região. A medida podia basear-se num fato observado, o da cessação das crises fora da comuna. Mas parece ter-se baseado em outra consideração: o isolamento das doentes. Aliás a opinião do sr. Constant é categórica. Deveria haver uma espécie de lazareto, diz ele, onde pudessem ser escondidas, assim que se mostrassem, as desordens morais e nervosas, cuja propriedade contagiosa é estabelecida, como disse meu velho amigo dr. Bouchut. Esperando melhor, tal lazareto foi encontrado no asilo de alienados. É o único lugar verdadeiramente conveniente para o tratamento racional e completo das moléstias que me ocupam, quer se admita que sua doença é mesmo uma forma, uma variedade de alienação, quer mesmo não admitindo que fossem, sob qualquer título, tomadas como alienadas. É necessário sobre elas produzir um certo grau de intimidação, ocupar seu Espírito de modo a deixar o menos tempo possível às suas preocupações por outra preocupação. Subtraí-las absolutamente de toda influência religiosa irrefletida e desmedida, às conversas, aos conselhos ou observações susceptíveis de alimentar o seu erro, que, ao contrário deve ser combatido diariamente. Dar-lhes um regime apropriado. Obrigá-las, enfim, a se submeterem às prescrições que seria útil associar a um tratamento puramente moral e ter os meios de execução.

Onde encontrar reunidas todas essas condições necessárias, essenciais, senão num asilo? Teme-se para essas doentes o contato com as verdadeiras alienadas. Tal contato seria menos prejudicial do que se pensava e, afinal, teria sido fácil conservar provisoriamente um pavilhão só para as doentes de Morzine. Se sua aglomeração tivesse qualquer inconveniente, ter-se-ia encontrado compensação na própria reunião e estou convicto de que o nome de asilo, casa de loucos, por si só tivesse produzido mais de uma cura e que se tivessem encontrado poucos diabos que uma ducha não tivesse posto em fuga."

Estamos longe de partilhar do otimismo do sr. Constant sobre a inocuidade do contato dos alienados e a eficiência das duchas em casos semelhantes. Ao contrário, estamos persuadidos de que em tal regime pode produzir uma verdadeira loucura, onde esta é apenas aparente. Ora, note-se bem que fora das crises, as doentes tem todo o bom senso e são sãs de corpo e espírito. Não há nelas senão uma perturbação passageira, sem quaisquer caracteres da loucura propriamente dita. Seu cérebro necessariamente enfraquecido pelos ataques freqüentes que experimenta, seria ainda mais facilmente impressionável pela visão dos loucos e pela só idéia de achar-se entre loucos. O sr. Constant atribui o desenvolvimento e a continuidade da moléstia à imitação, à influência das conversas dos doentes entre si e aconselha a pô-las entre loucos ou isola-las num pavilhão do hospital! Não é uma contradição e é isto que ele entende por tratamento moral?

Em nossa opinião o mal se deve a uma causa absolutamente diversa e requer meios curativos diferentes. Tem a sua fonte na reação incessante que existe entre o mundo visível e o invisível, que nos cerca, e em cujo meio vivemos, isto é, entre os homens e os Espíritos, que não passam de almas dos que viveram e entre os quais há bons e maus. Esta reação é uma das forças, uma das leis da natureza, e produz uma porção de fenômenos psicológicos, fisiológicos e morais incompreendidos, porque a causa era desconhecida. O Espiritismo nos deu a conhecer esta lei, e, desde que os efeitos são submetidos a uma lei da natureza, nada tem de sobrenatural. Vivendo no meio desse mundo, que não é tão imaterial quanto o imaginam, uma vez que esses seres, embora invisíveis, tem corpos fluídicos semelhantes aos nossos, nós sentimos a sua influência. A dos bons Espíritos é salutar e benéfica. A dos maus é perniciosa como o contato das criaturas perversas na sociedade.

Assim, dizemos que em Morzine abateu-se, de momento, uma nuvem de Espíritos malfazejos. Abateu-se sobre a localidade como aconteceu sobre muitas outras. E não será com duchas nem alimentos suculentos que serão expulsos. Uns o chamam diabos ou demônios. Nós os chamamos apenas maus Espíritos e Espíritos inferiores, o que não implica uma melhor qualidade, mas o que é muito diferente pelas conseqüências, visto como a idéia ligada aos demônios é a de seres a parte, enquanto eles não passam de almas de homens que foram maus na terra, mas que acabarão por se melhorarem um dia. Vindo a essa localidade como Espíritos, fazem o que teriam feito como se vindos em vida, isto é, o mal que faria um bando de malfeitores. É, pois, necessário expulsá-los, como se expulsaria uma tropa inimiga.

Na natureza desses Espíritos está o serem antipáticos à religião, porque temem o seu poder, assim como os criminosos são antipáticos à lei e aos juizes que os condenam. E exprimem esse sentimento pela boca de suas vítimas, verdadeiros médiuns inconscientes, absolutamente certos quando dizem ser apenas ecos. O paciente é reduzido à passividade. Está na situação de um homem dominado por um inimigo mais forte, que o obriga a fazer a sua vontade. O eu do Espírito estranho neutraliza momentaneamente o eu pessoal. Há subjugação obsessional e não possessão.

Que absurdo! dirão certos médicos. Vá que seja absurdo, mas nem por isso deixa de ser tido como verdade por grande número de médicos. Tempo virá - e não tão longe quanto se pensa - em que a ação do mundo invisível será geralmente admitida e a influência dos maus Espíritos posta entre as causas patológicas. Será levado em conta o importante papel desempenhado pelo perispírito na fisiologia e uma nova via de cura será aberta para uma porção de doenças consideradas incuráveis.

Se assim é, perguntarão, de onde vem a inutilidade dos exorcismos? Isto prova uma coisa: é que os exorcismos, tais quais são aplicados, não valem mais que os remédios, porque sua eficácia não está no ato exterior, na virtude das palavras e sinais, mas no ascendente moral exercido sobre os maus Espíritos.

Os doentes não diziam: "Não são remédios que nos faltam: mas padres santos". E os insultavam, dizendo que não eram bastante santos para ter ação sobre os demônios. Era a alimentação de batatas que os levava a falar assim? Não, mas a intuição da verdade. Em casos semelhantes a ineficácia do exorcismo é constatada pela experiência. E por que? Porque consiste em cerimônias e fórmulas de que se riem os maus Espíritos, ao passo que cedem ao ascendente moral que lhe impõem. Vêem que os querem dominar por meios impotentes o querem mostrar-se mais fortes. São como o cavalo passarinheiro que derruba o cavaleiro inábil, mas se dobra quando encontra um mestre.

"Numa dessas cerimônias, "diz o dr. Chiara, "houve na igreja, onde haviam reunido todos os doentes, um tumulto horrível. Todas as mulheres caíram em crise simultaneamente, derrubando, quebrando os bancos da igreja e rolando pelo chão, de mistura com homens e crianças, que em vão se esforçavam por conte-las. Proferem juras horríveis e incríveis, interpelam os sacerdotes nos mais injuriosos termos."

Neste momento cessaram as cerimônias públicas de exorcismo, mas foram exorcizar a domicílio, a qualquer hora do dia e da noite, o que não deu melhores resultados, determinando-se sua renúncia.

Citamos vários exemplos da força moral em semelhantes casos, e caso não tivéssemos sob os olhos um número suficiente de provas, bastaria lembrar a que exercia o Cristo que, para expulsar os demônios, apenas mandava que se retirassem. Comparem-se, nos Evangelhos, os possessos daquele tempo com os de nossos dias, e ver-se-á uma chocante similitude. Jesus os curava por milagres, direis vós. Seja. Mas eis um fato passado entre os cismáticos e que não considerais miraculoso.

O Sr. A..., de Moscou, que não havia lido o nosso relato, contava-nos, há poucos dias, que nas suas propriedades os habitantes de uma aldeia foram atingidos por um mal em tudo semelhante ao de Morzine. Mesmas crises, mesmas convulsões, mesmas blasfêmias, mesmas injúrias contra os padres, mesmo efeito do exorcismo, mesma impotência da ciência médica. Um de seus tios, o sr. R..., de Moscou, poderoso magnetizador, homem de bem por excelência, de coração muito piedoso, tendo vindo visitar aqueles infelizes, parava as convulsões mais violentas pela simples imposição das mãos, acompanhada de fervorosa prece. Repetindo o ato acabou curando quase todos radicalmente.

Este exemplo não é único. Como explicá-lo, senão pela influência do magnetismo, secundada pela prece, remédio pouco usado pelos nossos materialistas, porque não se encontra no codex nem nas farmácias? Contudo, remédio poderoso quando parte do coração e não dos lábios, e que se apoia numa fé viva e num ardente desejo de fazer o bem. Descrevendo a obsessão em nossos primeiros artigos, explicamos a ação fluídica que se exerce em tal circunstância e daí concluímos, por analogia, que teria sido um poderoso auxiliar em Morzine.

Como quer que seja, parece que o mal chegou a seu termo, mas as condições da região continuem as mesmas. Por que isto? É o que ainda não nos é permitido dizer. Como, porém, mais tarde será reconhecido, haverá servido ao Espiritismo mais do que se pensa, ainda quando não fosse senão para provar, por um grande exemplo, que aqueles que não o conhecem não estão preservados contra a ação dos maus Espíritos e a impotência dos meios ordinários empregadas para os expulsar.

Terminaremos assegurando a certos habitantes da região sobre a pretensa influência de alguns dentre eles teria podido exercer causando o mal, como o dizem. A crença nos lançadores da sorte deve ser relegada entre as superstições. Que sejam de coração piedoso. E os que se encarregaram de os conduzir se esforcem por elevá-los moralmente: é o mais seguro meio de neutralizar a influência dos maus Espíritos e de prevenir a volta do que se passou. Os maus Espíritos só se dirigem aqueles a quem sabem poder dominar e não aqueles a quem a superioridade moral - não dizemos intelectual - encouraça contra os ataques.

Aqui se apresenta uma objeção muito natural, que convém prevenir. Talvez perguntem por que todos os que fazem o mal não são atingidos pela possessão? A isto respondemos que, fazendo o mal, sofre de outra maneira a perniciosa influência dos maus Espíritos, cujos conselhos escutam, pelo que serão punidos com tanto mais severidade quanto mais agirem com conhecimento de causa. Não creiais na virtude de nenhum talismã, nenhum amuleto, nenhum signo, nenhuma palavra para afastar os maus Espíritos. A pureza de coração e de intenção, o amor de Deus e do próximo, eis o melhor talismã, porque lhes tira todo império sobre as nossas almas. Eis a comunicação que a respeito deu o Espírito de São Luís, guia espiritual da Sociedade Espírita de Paris:

"Os possessos de Morzine estão realmente sob a influência dos maus Espíritos, atraídos para aquela região por causas que conhecereis um dia, ou melhor, que vós mesmos reconhecereis um dia. O conhecimento do Espiritismo ali fará predominar a boa influência sobre a má fé, isto é, os Espíritos curadores e consoladores, atraídos pelos fluidos simpáticos, substituirão a maligna e cruel influência que desola aquela população. O Espiritismo está chamado a prestar grandes serviços. Será o curador dos males cuja causa era antes desconhecida e ante às quais a ciência continua impotente. Sondará as chagas mortais e lhes ministrará o bálsamo reparador; tornando os homens melhores, deles afastará os maus Espíritos atraídos pelos vícios da humanidade. Se todos os homens fossem bons, os maus Espíritos deles se afastariam porque não poderiam os induzir ao mal. A presença dos homens de bem os faz fugir. A dos homens viciosos os atrai, ao passo que se dá o contrário com os bons Espíritos. Assim, sede bons, se quiserdes ter apenas bons Espíritos em redor de vós. (Médium, sra. Costel).

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