SEMEANDO CONHECIMENTO

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"MAS, TENDO SIDO SEMEADO, CRESCE." Jesus. (Marcos, 4:32.)


TEORIA DO MÓVEL DE NOSSAS AÇÕES

TEORIA DO MÓVEL DE NOSSAS AÇÕES
Revista Espírita, outubro de 1858

O senhor R..., correspondente do Instituto de França, e um dos membros mais eminentes da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, desenvolveu as, considerações seguintes: na sessão de 14 de setembro, como corolário da teoria que acabara de ser dada a propósito do mal do medo, e que narramos mais acima:

"Resulta de todas as comunicações que são dadas pelos Espíritos, que eles exercem uma influência direta sobre as nossas ações, em nos solicitando, uns ao bem, os outros ao mal. São Luís acabou de nos dizer: "Os Espíritos malignos gostam de rir; mantende-vos em guarda; aquele que crê dizer uma coisa agradável às pessoas que o cercam, aquele que diverte uma sociedade por seus gracejos ou seus atos, se engana freqüentemente, e mesmo muito freqüentemente, quando crê que tudo isso vem de si.
Os Espíritos levianos que o cercam se identificam com ele mesmo, e, com freqüência, alternativamente o enganam sobre seus próprios pensamentos, assim como àqueles que o escutam.
" Disso se segue que aquilo que dizemos não vem sempre de nós; que, com freqüência, não somos, como os médiuns falantes, senão intérpretes do pensamento de um Espírito estranho que se identifica com o nosso.
Os fatos vêm em apoio dessa teoria, e provam que, muito a miúdo, também nossos atos são a conseqüência desse pensamento que nos é sugerido.
O homem que faz mal cede, pois, a uma sugestão, quando ele é bastante fraco para não resistir, e quando fecha os ouvidos à voz da consciência, que pode ser a sua própria, ou a de um bom Espírito que combate nele, pelas suas advertências, a influência de um mau Espírito.
"Segundo a doutrina vulgar, o homem hauriria todos os seus instintos em si mesmo; proviriam seja de sua organização física, da qual não poderia ser responsável, seja de sua própria natureza, na qual pode procurar uma desculpa aos seus próprios olhos, dizendo que isso não é sua falta, se assim acreditou.
A Doutrina Espírita, evidentemente, é mais moral; ela admite no homem o livre arbítrio em toda a sua plenitude; dizendo-lhe que se faz mal, cede a má sugestão estranha, disso deixa-lhe toda a responsabilidade, uma vez que lhe reconhece o poder de resistir, coisa evidentemente mais fácil do que se tivesse que lutar contra a sua própria natureza.
Assim, segundo a Doutrina Espírita, não há arrastamento irresistível: o homem pode sempre fechar o ouvido à voz oculta que o solicita ao mal, em seu foro interior, como pode fechar à voz material daquele que lhe fala; ele o pode por sua vontade, pedindo a Deus a força necessária, e reclamando, para esse fim, a assistência dos bons Espíritos.
E o que Jesus nos ensina na sublime prece do Pater, quando nos leva a dizer: "Não nos deixeis sucumbir à tentação, mas livrai-nos do mal."
Quando tomamos para texto de uma de nossas perguntas a pequena anedota que reportamos, não esperávamos o desenvolvimento que dela iria decorrer.
Com isso estamos duplamente feliz, pelas belas palavras que nos valeram de São Luís e de nosso honorável colega.
Se não estivéssemos edificados, desde há muito tempo, quanto à capacidade deste último, e quanto aos seus profundos conhecimentos em matéria de Espiritismo, estaríamos tentados a crer fora dele mesmo, aplicação de sua teoria, e que São Luís dela se serviu para completar seu ensinamento. Á ela iremos juntar nossas próprias reflexões:

Essa teoria da causa excitante de nossos atos, evidentemente, ressalta de todo ensinamento dado pelos Espíritos; não só ela é sublime em moralidade, mas acrescentaremos que reabilita o homem aos seus próprios olhos; mostra-o livre para sacudir um jugo obsessor, como é livre para fechar sua casa aos importunes: não é mais uma máquina agindo por um impulso independente de sua vontade, é um ser de razão, que escuta, que julga e que escolhe livremente entre dois conselhos.
Acrescentemos que, apesar disso, o homem não é privado de sua iniciativa; não age menos com seu próprio movimento, uma vez que definitivamente não é senão um Espírito encarnado que conserva, sob o envoltório corpóreo, as qualidades e os defeitos que tinha como Espírito.
As faltas que cometemos têm, pois, sua fonte primeira nas imperfeições de nosso próprio Espírito, que não atingiu ainda a superioridade moral que terá um dia, mas que não tem menos seu livre arbítrio; a vida corpórea lhe é dada para se purgar de suas imperfeições pelas provas que sofre, e são precisamente essas imperfeições que o tornam mais fraco e mais acessível às sugestões de outros Espíritos imperfeitos, que disso se aproveitam para tratarem de fazê-lo sucumbir na luta que empreende.
Se sai vencedor dessa luta, ele se eleva; se fracassa, fica o que era, nem mais mau, nem melhor, é uma prova para recomeçar, e isso pode durar muito tempo assim.
Quanto mais se depura, mais seus lados fracos diminuem, e menos se entrega àqueles que o solicitam ao mal; sua força moral cresce em razão de sua elevação, e os maus Espíritos dele se afastam.
Quais são, pois, esses maus Espíritos? São os que se chamam os demônios?
Não são demônios na acepção vulgar da palavra, porque se entende por aí uma classe de seres criados para o mal e perpetuamente voltados ao mal.
Ora, os Espíritos nos dizem que todos melhoram em um tempo mais ou menos longo, segundo sua vontade; mas enquanto são imperfeitos podem fazer o mal, como a água que não está depurada pode espalhar miasmas pútridos e mórbidos.
No estado de encarnação, depuram-se se fazem o que é preciso para isso; no estado de Espíritos, sofrem as conseqüências do que fizeram ou não fizeram para se melhorarem, conseqüências que sofrem também na Terra, uma vez que as vicissitudes da vida, ao mesmo tempo, são expiações e provas.
Todos esses Espíritos, mais ou menos bons, quando estão encarnados, constituem a espécie humana, e, como a nossa Terra é um dos mundos menos avançados, nela se encontram mais maus Espíritos do que bons, eis porque nela vemos tanto de perversidade.
Façamos, pois, todos nossos esforços para não voltarmos depois desta estação, e para merecermos ir repousarmos num mundo melhor, num desses mundos privilegiados onde o bem reina sem divisão, e onde não nos lembraremos de nossa passagem neste mundo senão como um sonho mau.

A CASTIDADE

A CASTIDADE
(Grupo de Orléans – Médium: Sr. de Monvel)
REVISTA ESPÍRITA - SETEMBRO DE 1863

De todas as virtudes de que o Cristo nos deixou o adorável exemplo, nenhuma foi mais indignamente esquecida pela triste Humanidade do que a castidade. E não falo apenas da
castidade do corpo, de que certamente ainda se encontrariam na Terra numerosos exemplos, mas dessa castidade da alma, que jamais concebeu um pensamento, deixou escapar uma palavra susceptível de manchar a pureza da virgem ou da criança que a
escuta.
O mal é tão universal, as ocasiões de perigo tão multiplicadas, que os pais, mesmo os verdadeiramente castos em seus atos e em suas palavras, não podem escapar à dolorosa certeza de que seus filhos não poderão, façam o que fizerem, subtrair-se ao funesto contágio.
É-lhes necessário, por maior que seja a repugnância que apresentem, resignar-se eles mesmos a abrir os olhos dessas inocentes criaturas, ao menos para as preservar do
perigo físico, já que é absolutamente impossível preservá-las do perigo moral; e, muitas vezes ainda, quando julgavam ter evitado o perigo, aparece algum escolho, cuja existência não haviam suspeitado e sobre o qual vem encalhar a pobre e inocente criança, que seu amor não pôde preservar da sujeira do vício.
Quantas palavras imprudentes, mesmo na mais seleta sociedade; quantas imagens e descrições, mesmo nos mais sérios livros, não vêm, sem que os pais o saibam, despertar, excitar ou mesmo satisfazer completamente essa curiosidade ávida, tão temível, da criança que não tem a menor consciência do perigo!
Se o mal é difícil de evitar, mesmo nas classes mais esclarecidas da sociedade, que dizer das classes inferiores?
E supondo que uma criança tenha tido a felicidade de escapar a isso no teto paterno, como protegê-la desse inevitável contato com os vícios que a oprimem diariamente?
Eis uma chaga muito profunda, muito perigosa, da qual todo homem, que conservou o senso moral no fundo do coração, deve sentir a mais imperiosa necessidade de expurgar da sociedade.
O mal está arraigado em nossos corações, e muito tempo se escoará ainda antes que cada um de nós se tenha tornado bastante puro para apenas lhe suspeitar a gravidade.
Um tal pensaria cometer falta séria se, ante uma criança, se permitisse a mínima  palavra ambígua; no entanto, rodeado de pessoas maduras, sentirá prazer em contar piadas obscenas ou triviais que, diz ele, não fazem mal a ninguém.
Não vê que a obscenidade é um mal tão imoral que mancha tudo quanto toca, mesmo o ar, cujas vibrações levarão longe o contágio.
Diz-se que as paredes têm ouvidos e esta imagem nunca foi tão verdadeira quanto em semelhante matéria.
A pura e santa castidade só estabelecerá definitivamente o seu reino na Terra quando toda criatura que pensa e fala tiver compreendido que jamais deve, em qualquer circunstância, nem escrever nem pronunciar uma palavra que a virgem mais pura não possa ouvir sem corar.
Direis que não tendes filhos e que não há uma só criança em vossa casa e, assim, não tendes nenhuma razão, no vosso entender, para vos constrangerdes. Mas se vós mesmos
fôsseis puros, não vos sentiríeis constrangidos; e não tendes amigos que vos escutam, que o vosso exemplo excita e que talvez perderão, ante os filhos que não conheceis, a reserva que um resto de pudor lhes havia feito observar até então?
Depois, é quase sempre às refeições que vosso espírito se deixa arrastar em ditos espirituosos que provocam o riso dos convivas; mas não vedes os serviçais que vos rodeiam, e vosso vizinho tem filhos!
Não conheceis esse vizinho, nem seus filhos, e jamais sabereis o mal do qual fostes a causa; mas o mal – ficai certos – venha de onde vier, será sempre punido.
Não só as paredes têm ouvidos: no ar que respirais há coisas que ainda não conheceis ou que não quereis conhecer.
Ninguém tem o direito de exigir de seus subalternos uma virtude que não pratica nem possui.
Basta uma única palavra impura para alterar a pureza de uma criança; basta uma única criança impura introduzida numa casa de educação pública para gangrenar toda uma geração de crianças que, mais tarde, se tornarão homens.
Haverá um só homem sensato que ponha em dúvida a verdade patente e dolorosa deste fato?
Ninguém duvida, ninguém ignora toda a extensão do mal que uma única palavra pode acarretar e, contudo, ninguém se julga obrigado a essa castidade da alma, que revolta todo pensamento obsceno, por mais disfarçado que seja e, mesmo, em certas circunstâncias, ninguém olha como estrita obrigação moral abster-se de pilhérias que deviam fazê-lo corar, se não se orgulhasse em não corar. Triste e vergonhoso orgulho!
Não é só a castidade que deveríamos respeitar nas crianças, mas, também, essa delicada candura a quem toda idéia de falsidade faz corar o rosto; e essa virtude é também muito rara. Mas quando se observa como é elevada a imensa maioria de nossos filhos, não nos devemos admirar muito.
Para a maioria dos pais, os filhos, sobretudo em tenra idade, não passam de pequenas bonecas, com as quais se divertem, como se fossem um brinquedo. E o que as torna tão divertidas é que sua ingênua credulidade permite que se abuse de sua paciência, de manhã à noite, com pequenas mentiras, julgadas inocentes porque são feitas sem qualquer
maldade e unicamente, como se diz, para rir.
Ora, em sua verdadeira acepção, a palavra inocente significa: que não prejudica.
Mas, ao contrário, que há de mais nocivo à candura de uma criança que esses pequenos e contínuos abusos de confiança, dos quais ela é inocente por um instante, mas só por um instante, para depois rir e se divertir, achando o maior prazer em imitar logo que pode?
Disso resulta muitas vezes que a criança mais cândida aprende a enganar tão depressa quanto aprende a falar e que, ao cabo de pouco tempo, é capaz de dar lições aos seus mestres.
Quase não se suspeita, sobretudo nessa idade, que muitas vezes uma causa insignificante possa mais tarde provocar deploráveis resultados.
Os órgãos da inteligência, nas crianças muito jovens, são qual cera mole, apta a receber o molde do mais fraco objeto que a toca e, mesmo, deformá-lo, ainda que por um
instante. E quando esta cera, a princípio tão fluida, vier a endurecer,
a impressão ficará inapagável.
É um erro crer-se que ela possa ser coberta por outras: só a marca primitiva ficará indelével; ao contrário, as impressões ulteriores é que deixarão apenas um traço fugaz, sob o qual a primeira aparecerá sempre.
Eis o que bem poucos jovens pais são capazes de sentir com bastante força para disso fazerem uma regra de conduta com seus filhos, sendo necessário que se lhes repita continuamente.
Cécile Monvel

ATMOSFERA ESPIRITUAL

ATMOSFERA ESPIRITUAL
REVISTA ESPÍRITA MAIO DE 1867

O Espiritismo nos ensina que os Espíritos constituem a população invisível do globo, estão no espaço e entre nós, vendo-nos e nos acotovelando incessantemente, de tal sorte que,
quando nos julgamos sós, temos constantemente testemunhas secretas de nossas ações e de nossos pensamentos. Isto pode parecer constrangedor para certas pessoas, mas desde que assim é, não se pode impedir que assim seja.
Cabe a cada um fazer como o sábio, que não teria medo se sua casa fosse de vidro. Sem nenhuma dúvida é a esta causa que se deve atribuir a revelação de tantas torpezas e infrações que se pensava sepultados na sombra.
Além disso sabemos que, numa reunião, além dos assistentes corporais, há sempre ouvintes invisíveis; que sendo a permeabilidade uma das propriedades do organismo dos Espíritos, estes podem achar-se em número ilimitado num dado espaço.
Muitas vezes nos foi dito que em certas sessões eles eram em quantidades inumeráveis. Na explicação dada ao Sr. Bertrand, a propósito das comunicações coletivas que ele obteve, foi dito que o número de Espíritos presentes era tão grande que a atmosfera estava, a bem dizer, saturada de seus fluidos. Isto não é novo para
os espíritas, mas talvez não tenham sido deduzidas todas as conseqüências.
Sabe-se que os fluidos que emanam dos Espíritos são mais ou menos salutares, conforme o grau de sua depuração; conhece-se o seu poder curativo em certos casos e, também, seus efeitos mórbidos de indivíduo a indivíduo.
Ora, desde que o ar pode ser saturado desses fluidos, não é evidente que, segundo a
natureza dos Espíritos que sobejam em determinado lugar, o ar ambiente não se ache carregado de elementos salutares ou prejudiciais, que devem exercer uma influência sobre a saúde física, tanto quanto sobre a saúde moral?
Quando se pensa na energia da ação que um Espírito pode exercer sobre um homem, é de
admirar-se da que deve resultar da aglomeração de centenas ou de milhares de Espíritos?
Esta ação será boa ou má conforme os Espíritos derramem num dado meio um fluido benéfico ou maléfico, agindo à maneira das emanações fortificantes ou dos miasmas deletérios, que se espalham no ar. Assim se podem explicar certos efeitos coletivos produzidos sobre massas de indivíduos, o sentimento de bem-estar ou de mal-estar que se
experimenta em certos meios, e que não têm nenhuma causa aparente conhecida, o arrastamento coletivo para o bem ou para o mal, os impulsos generosos, o entusiasmo ou o desânimo, por vezes a espécie de vertigem que se apodera de toda uma assembléia,
de toda uma cidade, mesmo de todo um povo. Cada indivíduo, em razão do seu grau de sensibilidade, sofre a influência desta atmosfera viciada ou vivificante.
Por este fato, que parece fora de dúvida e que confirma, ao mesmo tempo, a teoria e a experiência, nós achamos nas relações do mundo espiritual com o mundo corporal, um novo princípio de higiene que, sem dúvida, um dia a Ciência levará em consideração.
Podemos, então, subtrair-nos a essas influências que emanam de uma fonte inacessível aos meios materiais?
Sem sombra de dúvida, porquanto, assim como saneamos os lugares insalubres, destruindo a fonte dos miasmas pestilentos, podemos sanear a atmosfera moral que nos envolve, subtraindo-nos às influências perniciosas dos fluidos espirituais malsãos, e isto mais facilmente do que podemos escapar às exalações paludosas, pois depende
unicamente de nossa vontade, e aí não estará um dos menores benefícios do Espiritismo, quando for universalmente compreendido e, sobretudo, praticado.
Um princípio perfeitamente constatado por todo espírita, é que as qualidades do fluido perispiritual estão na razão direta das qualidades do Espírito encarnado ou desencarnado;
quanto mais elevados e desprendidos das influências da matéria forem os sentimentos, mais depurado será o seu fluido.
Conforme os pensamentos que o dominam, o encarnado irradia fluidos, impregnados desses mesmos pensamentos, que os viciam ou os saneiam, fluidos realmente materiais, conquanto impalpáveis, invisíveis para os olhos do corpo, mas perceptíveis pelos sentidos
perispirituais e visíveis pelos olhos da alma, pois impressionam fisicamente e afetam aparências muito diferentes para os que são dotados de visão espiritual.
Pelo só fato da presença dos encarnados num assembléia, os fluidos ambientes serão bons ou maus.
Quem quer que traga consigo pensamentos de ódio, de inveja, de ciúme, de orgulho, de egoísmo, de animosidade, de cupidez, de falsidade, de hipocrisia, de maledicência, de malevolência, numa palavra, pensamentos hauridos na fonte das más paixões, espalha em torno de si eflúvios fluídicos enfermiços, que reagem sobre os que o cercam.
Ao contrário, numa assembléia em que cada um só trouxesse sentimentos de bondade, de caridade, de humildade, de devotamento desinteressado, de benevolência e de amor ao
próximo, o ar é impregnado de emanações salubres, em meio às quais se sente viver mais à vontade.
Se agora se considerar que os pensamentos atraem os pensamentos da mesma natureza, que os fluidos atraem os fluidos similares, compreende-se que cada indivíduo traga consigo um cortejo de Espíritos simpáticos, bons ou maus, e que, assim, o ar seja saturado de fluidos em relação com os pensamentos que predominam. Se os maus pensamentos forem em minoria, não impedirão que as boas influências se produzam, pois estas os paralisam. Se dominarem, enfraquecerão a irradiação fluídica dos Espíritos bons, ou, mesmo, por vezes impedirão que os bons fluidos penetrem nesse meio, como o nevoeiro enfraquece ou
detém os raios-do-sol.
Qual é, pois, o meio de se subtrair à influência dos maus fluidos?
Esse meio ressalta da própria causa que produz o mal. Que se faz quando se reconhece que um alimento é prejudicial à saúde? É rejeitado e substituído por outro mais saudável. Já que são os maus pensamentos que engendram os maus fluidos e os atraem, deve-se envidar esforços para só os ter bons, repelir tudo o que é mal, como se repele um alimento que nos pode tornar doentes; numa palavra, trabalhar por seu melhoramento moral e,
para nos servirmos de uma comparação do Evangelho, “não só limpar o vaso por fora, mas, sobretudo, limpá-lo por dentro.”
Melhorando-se, a Humanidade verá depurar-se a atmosfera fluídica em cujo meio vive, porque não lhe enviará senão bons fluidos, e estes oporão uma barreira à invasão dos maus. Se um dia a Terra chegar a ser povoada somente por homens que,
entre si, pratiquem as leis divinas do amor e da caridade, ninguém duvida que eles se encontrarão em condições de higiene física e moral completamente diversas das hoje existentes.
Sem dúvida esse tempo ainda está longe, mas, enquanto se espera, essas condições podem existir parcialmente, cabendo às assembléias espíritas dar o exemplo.
Os que tiverem possuído a luz serão mais repreensíveis, porque terão tido em mãos os meios de se esclarecer; incorrerão na responsabilidade dos retardamentos que seu exemplo e sua má vontade tiverem trazido ao melhoramento geral.
Isto é uma utopia, um discurso vão? Não; é uma dedução lógica dos próprios fatos, que o Espiritismo revela diariamente.
Com efeito, o Espiritismo nos prova que o elemento espiritual, que até o presente tem sido considerado como a antítese do elemento material, tem com esse último uma conexão íntima, donde resulta uma porção de fenômenos não observados ou incompreendidos. Quando a Ciência tiver assimilado os elementos fornecidos pelo Espiritismo, ela aí colherá novos e importantes elementos para o melhoramento material da Humanidade.
Assim, a cada dia vemos alargar-se o círculo das aplicações da doutrina que, como alguns ainda pensam, está longe de se restringir ao pueril fenômeno das mesas girantes e outros efeitos de mera curiosidade.
Realmente o Espiritismo não tomou o seu impulso senão no momento em que entrou na via filosófica; é menos divertido para certa gente, que nele buscava apenas uma distração, mas é mais bem apreciado pelas pessoas sérias, e o será ainda mais, à medida que for mais bem compreendido em suas conseqüências.

UMA NOVA DESCOBERTA FOTOGRÁFICA

UMA NOVA DESCOBERTA FOTOGRÁFICA
Revista Espírita, julho de 1858

Vários jornais narraram o fato seguinte:

"O senhor Badet, falecido em 12 de novembro último, depois de uma enfermidade de três meses, tinha o costume, diz o Union bourguignonne de Dijon, cada vez que suas forcas lhe permitiam, de se colocar numa janela do primeiro andar, com a cabeça constantemente voltada para o lado da rua, a fim de se distrair vendo os transeuntes.
Há alguns dias, a senhora Peltret, cuja casa fica defronte a da viúva senhora Badet, percebeu, na vidraça dessa janela, o senhor Badet, ele mesmo, com seu boné de algodão, sua figura emagrecida, etc., enfim tal como o havia visto durante sua enfermidade. Grande foi sua emoção, para não dizer mais.
Ela chamou, não somente seus vizinhos, cujo testemunho poderia ser suspeito, mas, ainda, homens sérios, que perceberam, bem distintamente, a imagem do senhor Badet sobre a vidraça da janela onde tinha o costume de se colocar.
Mostrou-se também essa imagem à família do defunto, que imediatamente fez a vidraça desaparecer.
"Ficou, todavia, bem constatado que a vidraça tinha tomado a impressão da imagem da figura enferma, que aí estava como daguerreotipada, fenômeno que se poderia explicar se, do lado oposto à janela, houvesse tido uma outra por onde os raios solares pudessem chegar ao senhor Badet; mas não havia nada: o quarto não tinha senão uma única janela. Tal é a verdade toda nua sobre esse fato espantoso, cuja explicação se deve deixar aos sábios."

Confessamos que, à leitura desse artigo, nosso primeiro sentimento foi o de lhe dar a qualificação vulgar com a qual se gratificam as notícias apócrifas, e a ele não ligamos nenhuma importância. Poucos dias depois, o senhor Jobard, de Bruxelas, nos escreveu o que segue:

- À leitura do fato seguinte (o que acabamos de citar), que se passou em meu país, com um dos meus parentes, encolhi os ombros vendo o jornal que a relata remeter a explicação aos sábios, e essa brava família retirar a vidraça através da qual Badet via os transeuntes. Evocai-o para ver o que pensa disso."

Essa confirmação do fato por um homem do caráter do senhor Jobard, cujos mérito e honorabilidade todo o mundo conhece, e a circunstância particular de que um dos seus parentes dele fora o herói, não poderiam deixar dúvida sobre a sua veracidade. Em conseqüência, evocamos o senhor Badet na sessão da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, na terça-feira, 15 de junho de 1858, e eis as suas explicações que se seguem:

1. Peço a Deus Todo-poderoso permitir ao Espírito do senhor Badet, falecido em 12 de novembro último, em Dijon, de se comunicar conosco. - R. Estou aqui.

2. O fato que vos concerne e que acabamos de lembrar, é verdadeiro? - R. Sim, é verdadeiro.

3. Poderíeis dele nos dar a explicação? - R. É um dos agentes físicos desconhecidos agora, mas que se tornarão usuais mais tarde. É um fenômeno bastante simples, semelhante a uma fotografia combinada com forças que não foram ainda descobertas por vós.

4. Poderíeis apressar o momento dessa descoberta pelas vossas explicações? - R. Gostaria, mas é obra de outros Espíritos e do trabalho humano.

5. Poderíeis nos reproduzir uma segunda vez o mesmo fenômeno? - R. Não fui eu quem o produziu, foram as condições físicas, das quais sou independente.

6. Pela vontade de quem e com qual objetivo o fato ocorreu? -R. Produziu-se quando eu estava vivo e sem a minha vontade; um estado particular da atmosfera o revelou depois.

Estabelecida uma discussão entre os assistentes, sobre as causas prováveis desse fenômeno, e várias opiniões tendo sido emitidas sem que fossem dirigidas perguntas ao Espírito, este disse espontaneamente: E a eletricidade e a galvanoplastia que agem também sobre o perispírito, vós não as tendes em conta.

7. Foi-nos dito há pouco que os Espíritos não têm olhos; ora, se essa imagem é a reprodução do perispírito, como ocorreu que ela haja podido reproduzir os órgãos da visão? -- R. O perispírito não é o Espírito; a aparência, ou perispírito, tem olhos, mas o Espírito não os tem. Eu vos disse bem, falando do perispírito, que estava vivo.

Nota. - À espera de que essa nova descoberta seja feita, dar-lhe-emos o nome provisório de fotografia espontânea. Todo o mundo lamentará que, por um sentimento difícil de compreender, destruiu-se a vidraça sobre a qual estava reproduzida a imagem do senhor Badet; um tão curioso monumento teria podido facilitar as pesquisas e as observações próprias para o estudo da questão. Talvez viu-se nessa imagem a obra do diabo; em todo caso, se o diabo esteve para alguma coisa nesse assunto, foi seguramente na destruição da vidraça, porque ele é o inimigo do progresso.

Considerações sobre a fotografia espontânea.

Resulta das explicações acima, que o fato, em si mesmo, não é sobrenatural nem miraculoso.
Quantos fenômenos desse mesmo caso, deveram, nos tempos da ignorância, ferir as imaginações muito propensas ao maravilhoso!
E, pois, um efeito puramente físico, que pressagia um novo passo na ciência fotográfica.
O perispírito, como se sabe, é o envoltório semi-material do Espírito; não é somente depois da morte que o Espírito dele está revestido; durante a vida está unido ao corpo: é o laço entre o corpo e o Espírito.
A morte não é senão a destruição do envoltório mais grosseiro; o Espírito conserva o segundo, que toma a aparência do primeiro, como se dele tivesse retido a impressão.
O perispírito é geralmente invisível, mas, em certas circunstâncias, ele se condensa e, se combinando com outros fluidos, torna-se perceptível à visão, algumas vezes mesmo tangível; é ele que se vê nas aparições.
Quaisquer que sejam a sutilidade e imponderabilidade do perispírito, não deixa de ser uma espécie de matéria, cujas propriedades físicas nos são ainda desconhecidas.
Desde que é matéria, pode agir sobre a matéria; essa ação é patente nos fenômenos magnéticos; acaba de se revelar sobre os corpos inertes pela impressão que a imagem do senhor Badet deixou sobre a vidraça.
Essa impressão ocorreu durante a sua vida; conservou-se depois de sua morte; mas era invisível; foi preciso, ao que parece, a ação fortuita de um agente desconhecido, provavelmente atmosférico, para torná-la aparente.
Que haveria nisso de espantoso?
Não se sabe que se podem fazer desaparecer e reviver à vontade as imagens daguerreotipadas?
Citamos isso como comparação, sem pretender a semelhança dos procedimentos.
Assim, seria o perispírito do senhor Badet que, emanando do corpo deste último, teria com o tempo, e sob o império de circunstâncias desconhecidas, exercido uma verdadeira ação química sobre a substância do vidro, análoga à da luz.
A luz e a eletricidade deveram, incontestavelmente, exercer um grande papel nesse fenômeno.
Resta saber quais são esses agentes e essas circunstâncias; é o que, provavelmente, saber-se-á mais tarde, e essa não será uma das descobertas menos curiosas dos tempos modernos.
Se é um fenômeno natural, dirão aqueles que negam tudo, por que é a primeira vez que se produziu?
Perguntaremos, por nossa vez por que as imagens daguerreotipadas não foram fixadas senão depois de Daguerre, por que não foi ele quem inventou a luz, nem as placas de cobre, nem a prata, nem os cloretos?
Conhecem-se, há muito tempo, os efeitos do quarto escuro; uma circunstância fortuita colocou sobre o caminho da fixação, depois, com a ajuda do gênio, de perfeição em perfeição, chegou-se às obras primas que vemos hoje.
Provavelmente, seria o mesmo fenômeno estranho que acaba de se revelar; e quem sabe se ele nunca se produziu, se não passou desapercebido pela falta de um observador atento?
A reprodução de uma imagem sobre um vidro é um fato vulgar, mas a fixação dessa imagem em outras circunstâncias que as das fotografias, o estado latente dessa imagem, depois sua reaparição, eis o que deve marcar nas magnificências da ciência.
Crendo os Espíritos nisso, deveremos nos emocionar com muitas outras maravilhas das quais várias nos foram assinaladas por eles.
 Honra, pois, aos sábios bastante modestos para não crerem que a Natureza virou para eles a última página do seu livro.
Se esse fenômeno se produziu uma vez, deverá se reproduzir.
Provavelmente, é o que ocorrerá quando dele tivermos a chave.
À espera disso, eis o que contou um dos membros da Sociedade na sessão da qual falamos:
"Eu habitava, disse ele, uma casa em Montrouge; era verão, o sol brilhava pela janela; sobre a mesa achava-se uma garrafa cheia de água, e sob a garrafa uma pequena esteira; de repente, a esteira pegou fogo.
Se ninguém estivesse lá poderia ocorrer um incêndio sem que se lhe soubesse a causa. Experimentei cem vezes produzir o mesmo efeito, e nunca tive sucesso.
" A causa física do incêndio é bem conhecida: a garrafa produziu o efeito de um vidro ardente; mas, por que não se pôde reiterar a experiência?
É que, independentemente da garrafa e da água, havia um concurso de circunstâncias que operaram, de um modo excepcional, a concentração dos raios solares: talvez o estado da atmosfera, dos vapores, as qualidades da água, a eletricidade, etc., e tudo isso, provavelmente, em certas proporções desejadas: donde a dificuldade de cair justo nas mesmas condições, e a inutilidade das tentativas para produzir um efeito semelhante.
Eis, pois, um fenômeno inteiramente do domínio da física, do qual se toma conhecimento, quanto ao princípio, e que todavia não se pode repetir à vontade.
Viria ao pensamento do cético mais endurecido negar o fato?
Seguramente não. Por que, pois, esses mesmos céticos negam a realidade dos fenômenos espíritas (falamos das manifestações em geral), por que não podem manipulá-los à sua vontade?
Não admitir que fora do conhecido possa haver agentes novos regidos por leis especiais; negar esses agentes, porque não obedecem às leis que conhecemos, em verdade, é fazer prova de bem pouca lógica e mostrar um espírito bem limitado.

Voltemos à imagem do senhor Badet; far-se-á, sem dúvida, como nosso colega com sua garrafa, numerosas tentativas infrutíferas antes de ter sucesso, e isso, até que um acaso feliz ou o esforço de um poderoso gênio haja dado a chave do mistério; então, provavelmente, isso se tornará uma arte nova com a qual se enriquecerá a indústria. Entendemos aqui uma quantidade de pessoas dizer-se: mas há um meio bem simples de ter essa chave: por que não é pedida aos Espíritos!
É aqui o caso de revelar um erro no qual cai a maioria daqueles que julgam a ciência espírita sem conhecê-la.
Lembramos primeiro esse princípio fundamental de que todos os Espíritos estão longe, como se acreditava antigamente, de tudo saberem.
A escala espírita nos dá a medida de sua capacidade e de sua moralidade, e a experiência confirma, cada dia, nossas observações a esse respeito.
Os Espíritos, pois, não sabem tudo, e ocorre que, em certos assuntos, em todas as considerações, são bem inferiores a certos homens; eis o que não se deve jamais perder de vista.
O Espírito do senhor Badet, o autor involuntário do fenômeno que nos ocupa, revela pelas suas respostas uma certa elevação, mas não uma grande superioridade; ele mesmo se reconhece inabilitado para dar uma explicação completa: Seriam, disse, a obra de outros Espíritos e do trabalho humano; essas últimas palavras são todo um ensinamento.
Com efeito, seria muito cômodo não ter senão que interrogar os Espíritos para fazer as descobertas mais maravilhosas; onde estaria, então, o mérito dos inventores, se mão oculta viesse lhes facilitar a tarefa e poupar-lhes o trabalho de pesquisar?
Mais de um, sem dúvida não se faria escrúpulo de tomar uma patente de invenção em seu nome pessoal, sem mencionar o verdadeiro inventor.
Acrescentamos que semelhantes perguntas são sempre feitas com objetivo de interesse e na esperança de uma fortuna fácil, coisas que são más recomendações junto aos bons Espíritos; estes, aliás, não se prestam jamais a servir de instrumento para um negócio.
O homem deve ter sua iniciativa, sem o que se reduz ao estado de máquina; deve-se aperfeiçoar pelo trabalho; é uma das condições de sua existência terrestre; é preciso também que cada coisa venha a seu tempo, e pelos meios que apraz a Deus empregar: Os Espíritos não podem desviar os caminhos da Providência.
Querer forçar a ordem estabelecida é se pôr à mercê dos Espíritos zombadores que bajulam a ambição, a cupidez, a vaidade, para rirem em conseqüência das decepções das quais são causa.
Muito pouco escrupulosos de sua natureza, dizem tudo o que se quer, dão todas as receitas que se lhes pedem, se for preciso as apoiarão em fórmulas científicas, salvo se tenham, no máximo, o valor da dos charlatões.
Que aqueles, pois, que creram que os Espíritos viriam lhes abrir minas de ouro, se desenganem; sua missão é séria.
Trabalhai, esforçai-vos, é o fundamento que menos falta, disse um célebre moralista, do qual daremos, logo, uma notável entrevista de além-túmulo; a essa máxima sábia, a Doutrina Espírita acrescenta: É a estes que os Espíritos sérios vêm em ajuda pelas idéias que sugerem, ou por conselhos diretos, e não aos preguiçosos que querem desfrutar sem nada fazerem, nem aos ambiciosos que querem ter o mérito sem a dificuldade.
Ajuda-te e o céu te ajudará.

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