Em tempos remotos, o Senhor
vinha ao mundo frequentes vezes entender-se com as criaturas.
Certa vez, encontrou um
homem irado e mau, que outra coisa não fazia senão atormentar os semelhantes.
Perseguia, feria e matava sem piedade.
Quando esse espírito
selvagem viu o Senhor, aproximou-se atraído pela luz d’Ele, a chorar de
arrependimento.
O Cristo, bondoso,
dirigiu-lhe a palavra:
— Meu filho, porque te
entregaste assim à perversidade? Não temes a justiça do Pai? Não acreditas no
Celeste Poder? A vida exige fraternidade e compreensão.
O malfeitor, que se mantinha
prisioneiro da ignorância, respondeu em lágrimas:
—Senhor, de hoje em diante
serei um homem bom.
Alguns anos passaram e Jesus
voltou ao mesmo sítio. Lembrou-se do infeliz a quem havia aconselhado e
buscou-o. Depois de certa procura, foi achá-lo oculto numa choça, extremamente
abatido. Interpelado quanto à causa de tão lamentável transformação, o mísero
respondeu:
—Ai de mim, Senhor! Depois
que passei a ser bom, ninguém me respeitou! Fiz-me escárnio da rua... Tenho
usado a compaixão e a generosidade, segundo me ensinaste, mas em troca recebo
apenas o ridículo, a pedrada e a dilaceração...
O Mestre, porém, abençoou-o
e falou.
—O teu lucro na eternidade
não será pequeno com o sacrifício. Entretanto, não basta reter a bondade. É
necessário saber distribuí-la. Para bem ajudar, é preciso discernir. Realmente
é possível auxiliar a todos. Contudo, se a muita gente devemos ternura
fraterna, a numerosos companheiros de jornada devemos esclarecimento enérgico.
Estimularemos os bons a serem melhores e cooperaremos, a benefício dos maus,
para que se retifiquem. Nunca
observaste o pomicultor?
Algumas árvores recebem dele irrigação e adubo; outras, no entanto, sofrerão a
poda, a fim de serem convenientemente amparadas.
O Senhor retirou-se e o
aprendiz retomou luta para conquistar o conhecimento.
Peregrinou através de muitos
livros, observou demoradamente os quadros da vida e recebeu a palma da ciência.
Os anos correram apressados,
quando o Cristo regressou e procurou-o, novamente.
Dessa vez, encontrou-o no
leito, enfermo e sem forças.
Replicando ao Divino Amigo,
explicou-se:
—Ai de mim, Senhor! Fui bom
e recebi injustiças, entesourei a ciência e minhas dificuldades cresceram de
vulto. Aprendi a amar e desejar em sã consciência, a idealizar com o plano
superior, mas vejo a ingratidão e a discórdia, a dureza e a indiferença com
mais clareza. Sei aquilo que muita gente ignora e, por isto mesmo, a vida
tornou-se-me um fardo insuportável...
O Mestre, porém, sorriu e
considerou:
- A tua preparação para a
felicidade ainda não se acha completa. Agora, é preciso ser forte. Acreditas
que a árvore respeitável conseguiria viver e produzir, caso não soubesse
tolerar a tempestade? A firmeza interior, diante das experiências da vida,
conferir-te-á o equilíbrio indispensável. Aprende a dizer adeus a tudo o que te
prejudica na caminhada em direção da luz divina e distribuirás a bondade, sem
preocupações de recompensa, guardando o
conhecimento sem surpresas
amargas. Sê inquebrantável em tua fé e segue adiante!
O aprendiz reergueu-se e
nunca mais experimentou a desarmonia, compreendendo, enfim, que a bondade, o
conhecimento e a fortaleza são a trilogia bendita da felicidade e da paz.
A trilogia bendita - Alvorada
Cristã - Francisco Cândido Xavier - Espírito Neio Lúcio