SEMEANDO CONHECIMENTO

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"MAS, TENDO SIDO SEMEADO, CRESCE." Jesus. (Marcos, 4:32.)


MINHAS PESQUISAS : HUMBERTO DE CAMPOS - IRMÃO X


HUMBERTO DE CAMPOS – O REPÓRTER DO ALÉM

A nossa intenção não é nos aprofundarmos na personalidade de Humberto de Campos, mas aprender com ele, que soube modificar conceitos sem perder seu estilo, sua clareza e seus princípios.


RESUMO DA BIOGRAFIA DE HUMBERTO DE CAMPOS


Humberto de Campos nasceu na pequena localidade de Piritiba, no Maranhão, em 1886.
Foi menino pobre. Estudou com esforço e sacrifício. Ficou órfão de pai aos 5 anos de idade. Sua infância foi marcada pela miséria. Em sua "Memórias", ele conta alguns episódios que lhe deixaram sulcos profundos na alma.
Tempo depois, mudou-se para o Rio de Janeiro, então Capital da República, onde se tornou famoso. Brilhante jornalista e cronista perfeito, suas páginas foram "colunas" em todos os jornais importantes do País.
Dedicou-se inteiramente à arte de escrever, e por isso eram parcos os recursos financeiros. A certa altura da sua vida, quando minguadas se fizeram as economias, teve a idéia de mudar de estilo.
Adotando o pseudônimo de Conselheiro XX, escreveu uma crônica chistosa a respeito da figura eminente da época - Medeiros e Albuquerque-, que se tornou assim motivo de riso, da zombaria e da chacota dos cariocas por vários dias.
O Conselheiro, sibilino e mordaz, feriu fundo o orgulho e a vaidade de Medeiros, colocando na boca do povo os argumentos que todos desejavam assacar contra Albuquerque. O sucesso foi total.
Tendo feito, por experiência, aquela crônica, de um momento para outro se viu na contingência de manter o estilo e escrever mais, pois seus leitores multiplicaram, chovendo cartas às redações dos jornais, solicitando novas matérias do Conselheiro XX.
Além de manter o estilo, Humberto se foi aprofundando no mesmo, tornando-se para alguns, na época, quase imortal, saciando o paladar de toda uma mentalidade que desejava mais liberdade de expressão e mais explicitude na abordagem dos problemas humanos e sociais.
Quando adoeceu, modificou completamente o estilo. Sepultou o Conselheiro XX, e das cinzas, qual Fênix luminosa, nasceu outro Humberto, cheio de piedade, compreensão e entendimento para com as fraquezas e sofrimentos do seu semelhante.
A alma sofredora do País buscou avidamente Humberto de Campos e dele recebeu consolação e esperança. Eram cartas de dor e desespero que chegavam às suas mãos, pedindo socorro e auxílio. E ele, tocado nas fibras mais sensíveis do coração, a todas respondia, em crônicas, pelos jornais, atingindo milhares de leitores em circunstâncias idênticas de provações e lágrimas.
Fez-se amado por todo o Brasil, especialmente na Bahia e São Paulo. Seus padecimentos, contudo, aumentavam dia-a-dia. Parcialmente cego e submetendo-se a várias cirurgias, morando em pensão, sem o calor da família, sua vida era, em si mesma, um quadro de dor e sofrimento. Não desesperava, porém, e continuava escrevendo para consolo de muitos corações.
A 5 de dezembro de 1934, desencarnou. Partiu levando da Terra amargas decepções. Jamais o Maranhão, sua terra natal, o aceitou. Seus conterrâneos chegaram mesmo a hostilizá-lo.
Três meses apenas de desencarnado, retornou do Além, através do jovem médium Chico Xavier, este, com 24 anos de idade somente, e começou a escrever, sacudindo o País inteiro com suas crônicas de além-túmulo.
O fato abalou a opinião pública. Os jornais do Rio de Janeiro e outros estados estamparam suas mensagens, despertando a atenção de toda gente. Os jornaleiros gritavam. Extra, extra! Mensagens de Humberto de Campos, depois de morto! E o povo lia com sofreguidão...
Agripino Grieco e outros críticos literários famosos examinaram atenciosamente a produção de Humberto, agora no Além. E atestaram a autenticidade do estilo. "Só podia ser Humberto de Campos!" - afirmaram eles.
Começou então uma fase nova para o Espiritismo no Brasil. Chico Xavier e a Federação Espírita Brasileira ganharam notoriedade. Vários livros foram publicados.
Aconteceu o inesperado. Os familiares de Humberto moveram uma ação judicial contra a FEB, exigindo os direitos autorais do morto!
Tal foi a celeuma, que o histórico de tudo isto está hoje registrado num livro cujo título é "A Psicografia ante os Tribunais", escrito por Dr. Miguel Timponi.
A Federação ganhou a causa. Humberto, constrangido, ausentou-se por largo período e, quando retornou a escrever, usou o pseudônimo de Irmão X.
Nas duas fases do Além, grafou 12 obras pelo médium Chico Xavier.
"Crônicas de Além-Túmulo", "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", "Boa Nova", "Novas Mensagens", "Luz Acima", "Contos e Apólogos" e outros foram livros que escreveu para deleite de muitas almas.
Nas primeiras mensagens temos um Humberto bem humano, com características próprias do intelectual do mundo. Logo depois, ele se vai espiritualizando, sutilizando as idéias e expressões, tornando-se então o escritor espiritual predileto de milhares.
Os que lerem suas obras de antes, e de depois, de morto, poderão constatar a realidade do fenômeno espírita e a autenticidade da mediunidade de Chico Xavier.
O mesmo estilo, o mesmo estro!

Fonte: Revista REFLEXÕES Edição n.º 5 - Maio de 1999 - Fernandópolis - SP - Brasil


CRÍTICA AO PARNASO ALÉM TÚMULO


CRÍTICA

“Eu faltaria, entretanto, ao dever que me é imposto pela consciência se não confessasse que, fazendo versos pela pena do Sr. Francisco Cândido Xavier, os poetas de que ele é intérprete apresentam as mesmas características de inspiração e de expressão que os identificavam neste planeta. Os temas abordados são os que os preocuparam em vida. O gosto é o mesmo e o verso obedece, ordinariamente, a mesma pausa musical. Frouxo e ingênuo em Casimiro, largo e sonoro em Castro Alves, sarcástico e variado em Junqueira, fúnebre e grave em Antero, filosófico e profundo em Augusto dos Anjos, sente-se, ao ler cada um dos autores que veio do outro mundo para cantar neste instante, a inclinação do Sr. Francisco Cândido Xavier para escrever – à La maniére de... – ou para traduzir o que aqueles altos espíritos sopraram ao seu ouvido.
Se eles voltaram a nos fazer concorrência com seus versos perante o público e, sobretudo, perante os editores, dispensando-lhes o pagamento dos direitos autorais, que destino terão os vivos que lutam até hoje com tantas e tão poderosas dificuldades? ”

(sobre “Parnaso de Além-túmulo”, psicografado por Chico Xavier;1932.)



CARTA ANTES DA HOSPITALIZAÇÃO


UMA CURIOSA CARTA DE HUMBERTO DE CAMPOS
Kelly Monte Klein

Se, de lá, seguir para o São João Batista, conte você, no outro mundo, com um amigo às ordens.
 De um raríssimo livro da autoria de Mello Barreto Filho (“Frases Célebres Brasileiras”, pag.334-337), publicado em 1947, pela editora “Irmãos Pongetti”, do Rio de Janeiro, anotamos a surpreendente frase que acima este artigo, constante de uma curiosa missiva de Humberto de Campos.
Foi, talvez, a sua última carta. Escreveu-a no dia 13 de março de 1934, poucas horas antes de entrar para a casa de saúde, de onde, meses depois, sairia o seu corpo para o túmulo. O destinatário da carta era o jornalista M. Paulo Filho (João Paraguaçu), a quem o autor de "Sombras que sofrem" dizia:
-          Rio de Janeiro, 13 de março de 1934.
Meu caro amigo: Devendo recolher-me, amanhã à tarde, à Casa de Saúde do Dr. Eiras, onde vou submeter-me a duas intervenções cirúrgicas delicadas, e onde pretendo passar mais de um mês, venho trazer a você o meu abraço de despedida. Se, de lá, seguir para o São João Batista, conte você, no outro mundo, com um amigo às ordens.
Remeto-lhe, nesta despedida dois livros: uma reedição e um volume novo, de contos orientais. Caso lhe seja possível, e queira você ajudar um doente a arranjar dinheiro para voltar à vida, peço-lhe que dê uma pequena notícia sobre o aparecimento desses trabalhos, os quais deverão fornecer recursos para a minha internação.
E, adeus, meu velho. Até breve. Ou até sempre. Um abraço afetuoso do – Humberto de Campos.
P.S. – Recebeu você o exemplar de Carvalhos e Roseiras, que lhe mandei em fevereiro último?



CHICO XAVIER


Em 1932, Chico Xavier inaugura a longa série de obras psicografadas, que já ultrapassam quatrocentas, com um livro de poesias, "Parnaso de Além Túmulo". Nele, poetas brasileiros e estrangeiros ditam seus poemas, com fidelidade de estilos, o que permite identificá-los independentemente da assinatura.
A obra provocou impacto na comunidade literária da época, que a desdenhou. Ao vê-la definida como burla ou mistificação, os mais Iúcidos concluíram que, ou se aceitava o fenômeno mediúnico ou se daria uma cadeira na Academia Brasileira de Letras ao jovem Francisco Cândido Xavier, porque ele ou era médium ou era gênio. Chico nunca mais parou de escrever. E nunca vulgarizou a mediunidade nem a colocou a serviço de informações convenientes para si ou para terceiros. Segue fiel aos orientadores espirituais.
Quando passou a receber mensagem de Humberto de Campos, o repórter do além, viu-se envolvido em processo que contra ele moveu a família do morto. Alegava uso indevido do nome do ilustre escritor e reivindicava direitos autorais sobre as obras escritas por Chico e assinadas por Humberto. Nos tribunais, o médium teve ganho de causa. Direitos autorais somente se paga aos vivos.
A viúva de Humberto de Campos, anonimamente, visita o Centro Espírita onde Chico Xavier recebia mensagens do além, para observar o que ali se passava.
Nesse ínterim, Chico já havia trocado a assinatura do espírito para Irmão X, já que durante a encarnação houve coleções onde assinou Conselheiro X X.
Ninguém a conhecia. Mas, de repente, Chico Xavier a convida para que se aproxime, e diz-lhe que seu marido estava presente e mandava um recado. Corada e duvidando, a senhora se aproxima.
O médium lhe fala sobre uma carta que ela trazia na bolsa e cita textos que o espírito lhe soprava. Emocionada, a senhora converteu-se ela e toda a família, ao Espiritismo.


Após três meses de sua morte, Chico Xavier teve um sonho, descrito pelo próprio Chico à um amigo, por carta :
“Há um mês tive um sonho engraçado.
Sonhei que uma pessoa me apresentou a Humberto de Campos, num lugar do céu muito azul e brilhante.
No chão havia uma espécie de vegetação que não deixava ver a Terra. Não vi casa alguma.
O que me impressionou mais é que as pessoas que eu via estavam sob uma árvore muito grande e tão branca que, quando o sol batia nas suas frondes de folhas muito delgadas, parecia uma grande árvore de cristal.
Ele veio então ao meu lado e me estendeu a mão com bondade, dizendo : - Você é o menino do Parnaso? – Disse-me mais coisas que não posso me recordar.”
A partir de março de 1935 Chico passou a ser o grande receptor das mensagens de Humberto de Campos.
O texto que abriu o desfile de tantas lições, que colocou o escritor entre os mais lidos da literatura espírita, tinha o título de “A Palavra dos Mortos”e serviu de introdução para o livro “Palavras do Infinito”.


CHEGANDO NO “CÉU” ...


DE UM CASARÃO DO OUTRO MUNDO

Muitas vezes pensei que outras fossem as surpresas que aguardassem um morto depois de entregar à terra os seus despojos.
Como um menino que vai pela primeira vez a uma feira de amostras, imaginava o conhecido chaveiro dos grandes palácios celestiais.
Via S.Pedro de mãos enclavinhadas debaixo do queixo, óculos de tartaruga como os de Nilo Peçanha, assestados no nariz, percorrendo com as suas vistas sonolentas e cansadas os estudos técnicos, os relatórios, os mapas e livros imensos, anunciadores do movimento das almas que regressavam da Terra, como um amauense destacado de Secretaria.
Presumia-o um velhote bem conservado, igual aos senadores do tempo da monarquia no Brasil, confiando os sus longos bigodes e os fios grisalhos da sua barba respeitável.
Talvez que o bom apóstolo, desentulhando o baú de suas memórias, me contasse algo de novo : algumas anedotas a respeito de sua vida segundo a versão popular; fatos do seu tempo de pescarias certamente cheios d estroinices de rapazelho.
As jovens de Séfores e de Cafarnaum, na Galiléia eram criaturas tentadoras com os seus lábios de romã amadurecida.
S.Pedro por certo diria algo de suas aventuras, ocorridas, está claro, antes de sua conversão à doutrina do Nazareno.
Não encontrei, porém, o chaveiro do céu.
Nessa decepção cheguei a supor que a região dos bem-aventurados deveria ficar encravada em alguma cordilheira de nuvens inacessíveis. Tratava-se, certamente, de um recanto de maravilhas onde todos os lugares tomariam denominações religiosas, na sua mais alta expressão simbólica : Praça das almas Benditas, Avenida das Potências Angélicas. No coração da cidade prodigiosa, em paços resplandecentes, S. Cecília deveria tanger a sua harpa, acompanhando o coro das onze mil virgens, cantando ao som de harmonias deliciosas para acalentar o sono das filhas de Aqueronte e da Noite, a fim de que não viessem  com as suas achas incandescentes e víboras malditas perturbar a paz dos que ali esqueciam os sofrimentos em repouso beatífico.
De vez em quando se organizariam, nessa região maravilhosa, solenidades e festas comemorativas dos mais importantes acontecimentos da Igreja.
Os papas desencarnados seriam os oficiantes das missas e Te Deums de grande gala a que compareciam todos os Santos do calendário: S. Francisco com o mesmo hábito esfarrapado com que andou pregando nas Índias; S. José na sua indumentária de serralheiro; S. Sebastião na sua armadura de soldado romano; S. Clara com o seu perfil lindo e severo de madona, sustentada pelas mãos minúsculas e inquietas dos arcanjos como rosas de carne loura.
As almas bem conceituadas representariam, nas galerias deslumbrantes, os santos que a Igreja inventou para o seu agiológio.
Mas ... não me foi possível encontrar o céu.
Julguei, então, que os espíritas estavam mais acertados em seus pareceres. Deveria reencontrar os que haviam abandonado as suas carcaças na terra, continuando a mesma vida.
Busquei relacionar-me com as falanges dos brasileiros emigrados no outro mundo.
Idealizei a sociedade antiga, os patrícios ilustres aí refugiados, imaginando encontra-los em uma residência principesca como a do marquês de Abrantes, instalada na antiga chácara de D Carlota em Botafogo, onde recebiam a mais fina flor da sociedade carioca das últimas décadas do segundo império, cujas reuniões, compostas d fidalgos escavocratas da época, ofuscavam a simplicidade a simplicidade monacal dos Paços de S. Cristóvão.
E pensei de mim para comigo : Os rabinos do Sinédrio, que exararam a sentença condenatória de Jesus Cristo, quererão saber as novidades de Hitler na fúria contra os judeus.
Os remanescentes do príncipe de Bismarck, que perderam a última guerra, desejariam saber qual a situação dos negócios franco-alemãs.
Contaria aos israelitas a história da esterilização e aos seguidores do ilustre filho de Schoenhausen as questões do plebiscito do Sarre.
Cada bem aventurado me viria fazer uma solicitação, a que eu atenderia com as habilidades de um porta-novas acostumado aos prazeres maliciosos do boato.
Enganara-me, todavia. Ninguém se preocupava com a Terra ou com a coisas da sua gente.
Tranqüilizem-se, contudo, os que ficaram, porque se não encontrei o Padr Eterno com as suas longas barbas de neve, como se fossem feitas de paina alva e macia, segundo as gravuras católicas, não vi também o Diabo.
Logo  que tomei conta de mim, conduziram-me a um solar confortável como a casa dos Bernadelli na praia de Copacabana.
Semelhante a uma abadia de frades da Estíria, espanta-me o seu aspecto imponente e grandioso.
Procurei saber nos anais desse casarão do outro mundo as notícias relativas ao planeta terreno. Examinei os seus in fólios. Nenhum relato havia com respeito aos santos da corte celestial., como eu imaginava, nem alusões a Mefistófeles e ao Amaldiçoado. Ignorava-se a história do fruto proibido, a condenação dos anjos rebelados, o decreto do dilúvio, as espantosas visões do evangelista no Apocalipse. As religiões estão na Terra muito prejudicadas pelo abuso dos símbolos. Poucos fatos relacionados com elas estavam naqueles documentos.
O nosso mundo é insignificante demais pelo que pude constatar na outra vida. Conforta-se porém haver descoberto alguns velhos entre muitas caras novas.
Encontrei o Emílio radicalmente reformado. Contudo, às vezes, faz questão de aparecer-me de ventre rotundo, e rosto bonacheirão como recebia os amigos na Pascoal para falar da vida alheia.
-Ah ! filho – exclama sempre – há momentos nos quais eu desejava dscer no Rio como o homem invisível de Wells e dar muita paulada nos bandidos de nosa terra.
E, na graça de quem, esvaziando copos, andou enchendo o tonel das Danaides, desfolha o caderno de suas anedotas mais recentes.
A vida, entretanto, não é mais idêntica à da Terra. Novos hábitos. Novas preocupações e panoramas novos.
A minha situação é a de um enfermo pobre que se visse de uma hora para outra em luxuosa estação de águas, com as despesas custeadas pelos amigos.
Restabelecendo a minha saúde, estudo e medito. E meu coração, ao descerrar as folhas diferentes dos compêndios do Infinito, pulsa como o do estudante novo.
Sinto-me novamente na infância. Calço os meus tamanquinhos, visto as minhas calças curtas, arranjo-me às pressas com a má vontade do garotos incorrigíveis, e vejo-me outra vez diante da mestra Sinhá, que me olha com indulgência através da sua tristeza de virgem desamada, e repito, apontando as letras da cartilha : - ABC... ABCDE...
Ah! Meu Deus, estou aprendendo agora os luminosos alfabetos que os teus dedos imensos escreveram com giz de ouro resplandecente nos livros da Natureza. Faze-me novamente menino para compreender a lição que me ensinas!
Sei hoje, relendo os capítulos da tua glória, porque vicejam na Terra os cardos e os jasmineiros, os cedros e as ervas, porque vivem os bons e os maus, recebendo, numa atividade promíscua, os benefícios da tua casa.
Não trago do mundo, Senhor, nenhuma oferenda para a tua grandeza!
Não possuo senão o coração, exausto de sentir e bater, como uma vaso de iniqüidades.
Mas, no dia em que te lembrares do mísero pecador, que te contempla no teu doce mistério, como lâmpada de luz eterna, em torno da qual bailam sóis como pirilampos acesos dentro da noite, fecha os teus olhos misericordiosos para as minhas fraquezas e deixa cair nesse vaso imundo uma raiz de açucenas.
Então, Senhor, como já puseste lume nos meus olhos, que ainda choram, plantarás o lírio da paz no meu coração, que ainda sofre e ainda ama.

Humberto de Campos – Palavras do Infinito
São Leopoldo, 27 de março de 1935


A LIBERTAÇÃO


CARTA AOS QUE FICARAM

No antigo Paço da boa Vista, ns audiências dos sábados, quando recebia toda gente, atendeu D.Pedro II a um negro velho, de carapinha branca, e em cujo rosto, enrugado pelo frio de muitos invernos, se descobria o sinal de muitas penas e muitos maus tratos.
-         Ah! Meu senhor grande – exclamou o infeliz – como é duro ser escravo ! ...
O magnânimo imperador encarou  suas mãos cansadas no leme da direção do povo e aquelas outras, engelhadas nas excrecências dos calos adquiridos na rude tarefa das senzalas, tranqüilizando-o, comovido :
-         Ó meu filho, tem paciência ! Também eu sou escravo dos meus deveres e eles são bem pesados ... Teus infortúnios vão diminuir ...
E mandou soltar o preto.
Mais tarde, nos primeiros tempos do seu desterro, o bondoso monarca, a bordo do alagoas, recebeu a visita do seu ex-ministro; às primeiras interpelações de ouro Preto, respondeu-lhe o grande exilado :
-         Em suma, estou satisfeito e tranqüilo.
E aludindo à sua expatriação :
-         É a minha carta de alforria ... agora posso ir onde quero.
A coroa era pesada demais para a cabeça do monarca republicano.
Aos que me perguntarem no mundo sobre a minha posição em face da morte, direi que ela teve para mim a fulguração de um Treze de Maio para os filhos de angola.
A morte não veio buscar a minha alma, quando esta se comprazia nas redes douradas da ilusão.
A sua tesoura não me cortou fios da mocidade e de sonho, porque eu não possuía senão neves brancas e rígidas à espera do sol para se desfazerem. O gelo dos meus desenganos necessitava desse calor de realidade, que a morte espalha no caminho em que passa com a sua foice derrubadora.
Resisti porém ao seu cerco como Aquiles no heroísmo indomável de quem vê a destruição de suas muralhas e redutos.
Na minha trincheira de sacos de água quente, eu a vi chegar quase todos os dias ...
Mirava-me nas pupilas chamejantes dos seus olhos, pedindo-lhe complacência e ela me sorria consoladora nas suas promessas.
Eu não podia porém adivinhar o seu fundo mistério, porque a dúvida obsidiava o meu espírito, enrodilhando-se no  meu raciocínio como tentáculos de um polvo.
E na minha alegria bárbara sentia-me encurralado no sofrimento, como um lutador romano aureolado de rosas.
Triunfava da morte e como Ájax recolhi as últimas esperanças no rochedo da minha dor, desafiando o tridente dos deuses.
A minha excessiva vigilância trouxe-me a insônia, que arruinou a tranqüilidade dos meus últimos dias.
Perseguido pela surdez, já os meus olhos se apagavam como as derradeiras luzes de um navio soçobrando em mar encapelado no silêncio da noite. Sombra movendo-se dentro das sombras, não me acovardei diante do abismo.
Sem esmorecimento atirei-me ao combate, não para repelir mouros na costa, mas para erguer muito alto o coração retalhado nas pedras do caminho como um livro de experiências para os que vinham depois dos meus passos, ou como a réstia luminosa que os faroleiros desabotoam na superfície das águas, prevenindo os incautos dos perigos das sirtes traiçoeiras do oceano.
Muitos me supuseram corroído de lepra e de vermina como se eu fosse Bento de Labre, raspando-se com a escudela de Jô. Eu porém estava apenas refletindo a claridade das estrelas do meu imenso crepúsculo.
Quando me encontrava nessa faina de semear a resignação, a primeira e a última flor dos que atravessam o deserto das incertezas da vida, a morte abeirou-se do meu leito; devagarinho, como alguém que temesse acordar um menino doente.
Esperou que tapassem com a anestesia todas as janelas e intrestícios dos meus sentimentos.
E quando o caos mais absoluto se fez sentir no meu cérebro, zás! Cortou as algemas a que me conservava retido por amor aos outros condenados, irmãos meus, reclusos no calabouço da vida.
Adormeci nos seus braços como um ébrio nas mãos de uma deusa.
Despertando dessa letargia momentânea, compreendi a realidade da vida, que eu negara, além dos ossos que se enfeitam como os cravos rubros da carne.
Humberto !... Humberto !... – exclamou uma voz longínqua – recebe o que te enviam da Terra !
Arregalei os olhos com horror e com enfado :
- Não ! Não quero saber de panegíricos e agora não me interessam as seções necrológicas dos jornais.
- Enganas-te – repetiu – as homenagens da convenção não se equilibram até aqui. A hipocresia é como certos micróbios de vida efêmera.
- Toma as preces que se elevam por ti a Deus, dos peitos sufocados, onde penetraste com as tuas exortações e conselhos.
- O sofrimento entornou sobre o teu coração um cântaro de mel.
Vi descer, de um ponto indeterminado do espaço, braçadas de flores inebriantes como se fossem feitas de neblina resplandecente, e escutei, envolvendo o meu nome pobre, orações tecidas com suavidade e doçura.
Ah ! eu não vira o céu e a sua corte de bem aventurados; mas Deus receberia aquelas deprecações no seu sólio de estrelas encantadas como a hóstia simbólica do catolicismo se perfuma na onda envolvente dos aromas de um turíbulo.
Nossa Senhora deveria ouvi-las no seu trono de jasmins bordados de ouro, contornado dos anjos que eternizam a sua glória.
Aspirei com força aqueles perfumes.
Pude locomover-me para investigar o reino das sombras, onde penso sem miolos na cabeça.
Amava ainda e ainda sofria, reconhecendo-me no pórtico de uma nova luta.
Encontrei alguns amigos a quem apertei fraternalmente as mãos.
E voltei cá. Voltei para falar com os humildes e com os infortunados, confundidos na poeira da estrada de suas existências, como frangalhos de papel, rodopiando ao vento. Voltei para dizer aos que não pude interpretar no meu ceticismo de sofredor:
Não sois os candidatos ao casarão da Praia Vermelha (Hospício Nacional). Plantai, pois nas almas a palmeira da esperança. Mais tarde ela descobrirá sobre as vossas cabeças escanecidas os seus leques enseivados e verdes...
E posso acrescentar, como o neto de Marco Aurélio, no tocante à morte que me arrebatou da prisão nevoenta da Terra :
- É a minha carta de alforria ... agora Possi ir onde quero.
Os amargores do mundo eram pesados demais para o meu coração.

Humberto de Campos
Pedro Leopoldo 28 de março de 1935.



AS COMUNICAÇÕES ALÉM TÚMULO


A PALAVRA DOS “MORTOS”

Pedem de São Paulo a colaboração humilde do meu esforço para a apresentação de “Palavras do Infinito” que a abnegação de um grupo de espiritistas da Sociedade de Metapsíquica do grande Estado, tendo à frente o eminente amigo Dr João Batista Pereira, vai lançar à publicidade com o objetivo de fornecer gratuitamente, com a mensagem dos mortos, um consolo aos tristes, uma esperança aos desafortunados e um raio de claridade aos que naufragam, desesperados, na noite escura da dúvida e da descrença em meio às borrasca do oceano impetuosos da vida.
Existem poucas probabilidades de eficácia no esforço dos mortos em favor da regeneração da sociedade dos vivos. Contudo as atividades de ordem espiritualista, na atualidade do mundo, constituem a derradeira esperança da civilização.
Sou agora dos que vêem de perto o trabalho intenso das coletividades invisíveis pelo progresso humano; sinto ao meu lado a vibração luminosa do pensamento orientador das sentinelas avançadas de outras esferas da evolução e do conhecimento e reconheço que somente das concepções cristãs do moderno Espiritualismo poderá nascer o novo dia da Humanidade.
E embora a negação sistemática dos homens diante dessas realidades consoladoras, os túmulos vêm deixando escapar os seus profundos e maravilhosos segredos, falando a sua palavra tocada de conforto e de claridade sobrenaturais.
Na antiguidade egípcia, figurava-se o santuário da verdade ao fim de uma estrada sinuosa, rodeada de esfinges, representando os enigmas de suas essências profundas; e no seu estranho simbolismo essas imagens constituíam as esfinges da Morte, cujos umbrais de silêncio e de treva a Vida jamais poderia transpor para solucionar os problemas inextrincáveis dos destinos e dos seres.
O tempo, todavia, modificou a mentalidade humana, adaptando-a para um conhecimento melhor de si mesma. Em meados do século passado, quando o materialismo atingia as suas cumiadas, na expressão filosófica dos pregoeiros e expositores, eis que os mortos voltam a confabular com os vivos sobre a sua maravilhosa ressurreição.
A esperança volta a felicitar a mansarda dos pobres e o coração dos oprimidos na prodigiosa perspectiva da imortalidade através de todos os mundos e os desencarnados, num heroísmo supremo, volvem aos centros de estudo e aos gabinetes dos sábios com a lição piedosa das suas experiências.
Não obstante a arrancada gloriosa dos que já haviam partido das substâncias podres da Terra para as esferas luminosas do Céu, tentando, com os seus exércitos de arcanjos, reorganizar a sociedade humana, restaurando os alicerces do Cristianismo, poucos foram aqueles que ouviram as suas trombetas ecoando no vale das lágrimas e das provações.
Diante desse fenômeno universal, a religião não pode volver do seus interesses e da sua intransigência para identificar a espiritualidade dos seus santos e dos seus antigos reformadores; a ciência acadêmica, por sua vez, conserva-se de guarda ao seu passado e com as suas conquistas de ontem presume-se na posse da sabedoria culminante.
Entretanto, o dogmatismo é incompatível com o progresso, e todas as concepções científicas de cada século se caracterizam pela sua instabilidade, porque os olhos da carne não vêem o que existe. Nenhuma teoria pode explicar a vida à base exclusivista da matéria. Todos os fenômenos mecânicos do Universo obedecem a uma força inteligente e nada existe de real diante da visão apocada dos homens, porque as verdades profundas se lhes conservam invisíveis.
Os movimentos planetários, os turbilhões atômicos no complexo de todas as coisas tangíveis, inclusive o seu próprio corpo, o mistério da força, os enigmas da aglutinação molecular, o segredo da atração, a identidade substancial da energia e da matéria, que nunca se encontram separadas uma da outra, não se mostram aos olhos humanos dentro da sua transcendência e da sua grandeza.
Todo átomo de matéria tem a sua gênese no átomo invisível, de natureza psíquica. Raios impalpáveis e ocultos trazem a vida e a morte.
E o homem, na sua ignorância presumida, mal se apercebe de que é o fantasma cambaleante de Édipo, vivendo na zona limitada do seu livre arbítrio, mas submetido às leis de bronze do destino e da dor, cujas atividades objetivam o aprimoramento de sua personalidade; apesar da sua vaidade e do seu orgulho, todas as suas glórias materiais caminham para a morte.
Nietzsche arquiteta com Zaratutra a filosofia do homem superior para cair aniquilado sob seu próprio infortúnio. Napoleão, depois das lutas prestigiosas que lhe granjearam a admiração universal, recolhe-se em Santa Helena para meditar nas célebres sentenças do Eclesiates. Édison, após encher de conforto as cidades modernas com a sua imaginação criadora, sente o esgotamento de suas forças físicas para aguardar o gume afiado da morte. Os homens, com todos os pergaminhos de suas conquistas, viverão sempre no círculo de suas fraquezas e de suas misérias, enquanto não se voltarem para o lado espiritual do Sofrimento e da Vida.
A manifestação das atividades dos mortos não lhes tem fornecido as conclusões de ordem moral qual se fazem necessárias ao aperfeiçoamento coletivo; com algumas honrosas exceções, despertou apenas o sentimento de suas análises, nem sempre orientadas no propósito de saber, para serem filhas intempestivas das vaidades pessoais de cada um.
Disse Ingenieros, nos seus estudos psicológicos, que a história da civilização representa apenas o desenvolvimento da curiosidade humana.  Se isso ‘um fato incontestável, não é menos verdade que essa sede de revelações deve possuir uma bússola espiritual nas suas longas e acuradas perquirições do invisível.
Muita experiência trouxe do mundo para acreditar que as teorias, só por si, possam operar a salvação da humanidade. Elas constituem apenas o roteiro de sua marcha onde os espíritos de boa vontade vão conhecer o caminho. São acessórios do seu esclarecimento sem representarem a compreensão em si mesmas.
Toda a civilização ocidental fundou-se à base do Cristianismo; todavia o que menos se vê, no seu fausto e na sua grandeza, é o amor e a piedade do Crucificado. A atualidade está cheia de exemplos dolorosos. Povos considerados cristãos preparam-se afanosamente para as lutas fraticidas.
A Liga das Nações, que alimentava o sonho da paz universal está hoje quase reduzida a uma abstração de ideólogos. A Itália e a Alemanha expansionistas empunham a espada do arrastamento e da destruição. Ainda agora o general Ludendhorf acaba de entregar à publicidade o seu livro terrível sobre a guerra total.
A crença e a fé não procedem de combinações teóricas ou do malabarismo das palavras e dos raciocínios. É no trabalho e na dor que se processam e se afinam. Para a fé não há melhor símbolo que o toque de Moisés sobre as rochas adustas, fazendo brotar o lençol líquido das águas claras da vida.
Só a dor pode tocar o coração empedernido dos homens e é por isso que a lição dos mortos servirá somente para constituir a base nova da sociologia de amanhã. A fé, por enquanto, continuará como patrimônio dos corações que foram tocados pela graça do sofrimento. Tesouro da imortalidade, seria o ideal da felicidade humana se todos os homens o conquistassem, mesmo nos desertos tristes da Terra.
Um grande astrônomo francês, inquirido sobre as recompensas do Céu, acentuou :
“Mesmo aqui podem as criaturas receber as recompensas do paraíso. O Céu é o infinito e a Terra é uma das Pátrias da Imensidade; todo os homens, portanto, são cidadãos celestes. É aqui, na superfície triste do mundo, que as almas realizam a aquisição de suas felicidades. Estamos em pleno céu e em toda a parte veremos cada um receber segundo as suas obras...”
Sobre as frontes orgulhosas dos homens pairam os órgãos invisíveis de uma justiça imanente e sobre a terra pode o espírito fazer jus ao prêmios do Alto. A crença, com os seus esplendores subjetivos, é um desses maravilhosos tesouros.
Que as palavras do infinito s derramem sobre o entendimento das criaturas; cooperando com a dor, elas descobrirão para o homem as grandezas ocultas de sua própria alma, a fim de que ele aceite, em seu próprio benefício, as realidades confortadoras da sobrevivência.
A voz do além pode ficar incompreendida, mas os mortos continuarão a falar para os vivos, comandados à ordem de alguém, que está acima das opiniões de todos os cientistas e escritores, encarnados e desencarnados.
Foi a piedade de Jesus que abriu as cortinas que velavam os mistérios escuros e tristes da morte e o divino Jardineiro conhece o terreno fecundo onde germina, as sementes do seu amor.
Os homens aprenderão à custa das suas dores, com todo o fardo de suas misérias e de suas fraquezas e as palavras do infinito cairão sobre ele como a chuva de favores do alto.
Que elas se espalhem nos corações e nas almas, porque cada um traz consigo a claridade de um sol e a doçura de uma benção.

Humberto de Campos - Palavras do Infinito
São Leopoldo, 27 de março de 1935


A FAMÍLIA DE HUMBERTO DE CAMPOS E OS LIVROS PSICOGRAFADOS


Versão da Família

Em 1937, a Federação Espírita Brasileira, com sede no Rio de Janeiro, lança mais um livro psicografado pelo médium Chico Xavier, o “Crônicas de Além Túmulo “. Não era o primeiro, nem o segundo. Era o quarto de uma série que, hoje, atinge o total de doze livros.
Em 1941, pelo menos uns cinco livros, que então fazem muito sucesso, com grande aceitação por parte do público, trazem na capa o nome de Humberto de Campos, como sendo seu autor. Seus herdeiros constatam que não são edições clandestinas das obras que escreveu. São títulos e textos inteiramente novos, editados sob a responsabilidade da Federação Espírita Brasileira. A popularidade do escritor ainda era muito grande o que garantia a boa vendagem dessas obras psicografadas.
A família de Humberto de Campos jamais pretendeu encetar uma cruzada contra o Espiritismo e muito menos atacar o médium que psicogrfava ditas obras. Se aquelas mnsagen eram realmente ditadas pelo espírito do escritor, e todas com a intenção de divulgar a doutrina, que então imprimise esses textos em papel de qualidade modesta e os vendesse por uma quantia módica, entre seus adeptos. Mas não como estava acontecendo.
Até mesmo edições encadernadas estavam à venda. Editar os referido livros e vende-los por preços paralelos àqueles outros, à venda nas livrarias, era, antes de mais nada, uma verdadeira apropriação indébita.
Era o uso indevido de um nome, de uma marca, devidamente registrada. Se essa federação estampasse, como autor, o nome de João da Silva, os venderia com a mesma facilidade ? Por acaso os laços que sempre prenderam, em vida, o escritor aos seus herdeiros desapareceriam com a sua morte? Pela simples razão de não fazer mais parte do rol dos vivos, o seu nome caía no domínio público?
Diante desse quadro a família, sentindo-se prejudicada em seus direitos e magoada pelo fato dessa Federação, do sr Frederico Figner, ter agido como se ignorasse a existência dos herdeiros, resolveu mover uma ação contra essa entidade, em 1944.
A causa não poderia terminar senão do jeito que terminou : Praticamente um empate técnico. Os herdeiros nada obtiveram senão a retirada do nome do escritor daqueles livros. Em uma conotação com o pseudônimo que Humberto de Campos usou na série de onze livros com estórias galantes e humorísticas – Conselheiro XX – os livros psicografados por Chico Xavier passaram a ter a assinatura de Irmão X.

Irmão X Meu Pai – Humberto de Campos Filho


EMMANUEL


PREFÁCIO DE EMMANUEL AOS LIVROS DE HUMBERTO DE CAMPOS
BRASIL, CORAÇÃO DO MUNDO,  PÁTRIA DO EVANGELHO

Meus caros filhos.
Venho falar-vos do trabalho em que agora colaborais com o nosso amigo desencarnado, no sentido de esclarecer as origens remotas da formação da Pátria do Evangelho a que tantas vezes nos referimos em nossos diversos comunicados.
O nosso irmão Humberto tem, nesse assunto, largo campo de trabalho a percorrer, com as suas facilidades de expressão e com o espírito, em face da mentalidade geral do Brasil.
Os dados que ele fornece nestas páginas foram recolhidos nas tradições do mundo espiritual, onde falanges desveladas e amigas se reúnem constantemente para os grandes sacrifícios em prol da humanidade sofredora.
Este trabalho se destina a explicar a missão da terra brasileira no mundo moderno. Humboldt, visitando o vale extenso do Amazonas, exclamou, extasiado, que ali se encontrava o celeiro do mundo. O grande cientista asseverou uma grande verdade: precisamos, porém, desdobrá-la, estendendo-a do seu sentido econômico à sua significação espiritual.
O Brasil não está somente destinado a suprir as necessidades materiais dos povos mais pobres do planeta, mas, também, a facultar ao mundo inteiro uma expressão consoladora de crença e de fé raciocinadas e a ser o maior celeiro de claridades espirituais do orbe inteiro.
Nestes tempos de confusionismo amargo, consideramos de utilidade um trabalho desta natureza e, com a permissão dos nossos maiores dos planos elevados, empreendemos mais esta obra humilde, agradecendo a vossa desinteressada e espontânea colaboração.
Nossa tarefa visa a esclarecer o ambiente geral do país, argamassando as suas tradições de fraternidade com o cimento das verdades puras, porque, se a Grécia e a Roma da antiguidade tiveram a sua hora, como elementos primordiais das origens de toda a civilização do Ocidente; se o império português e o espanhol se alastraram quase por todo o planeta; se a França, se a Inglaterra têm tido a sua hora proeminente nos tempos que assinalam as etapas evolutivas do mundo, o Brasil terá também o seu grande momento, no relógio que marca os dias da evolução da humanidade.
Se outros povos atestaram o progresso, pelas expressões materializadas e transitórias, o Brasil terá a sua expressão imortal na vida do espírito, representando a fonte de um pensamento novo, sem as ideologias de separatividade, e inundando todos os campos das atividades humanas com uma nova luz.
Eis, em síntese, o porquê da nossa atuação, nesse sentido. O nosso irmão encontra mais facilidade pra vazar o seu pensamento em soledade com o médium, como se ainda se encontrasse no seu escritório solitário; daí por que as páginas em apreço foram produzidas de molde a se aproveitarem as oportunidades do momento.
Peçamos a Deus que inspire os homens públicos, atualmente no leme da Pátria do Cruzeiro, e que, nesta hora amarga em que se verifica a inversão de que quase todos os valores morais, no seio das oficinas humanas, saibam eles colocar muito alto a magnitude dos seus precípuos deveres.
E a vós, meus filhos, que Deus vos fortaleça e abençoe, sustentando-vos nas lutas depuradoras da vida material.

Emmanuel


O ESPIRITISMO NO BRASIL


PREFÁCIO : NOVAS MENSAGENS

O Espiritismo no Brasil:

Numerosos companheiros de Allan Kardec já haviam regressado às luzes da espiritualidade, quando inúmeras entidades do serviço de direção dos movimentos espiritistas no planeta deliberaram efetuar um balanço de realizações e de obras em perspectiva, nos arraiais doutrinários, sob a bênção misericordiosa e augusta do Cordeiro de Deus.
Vivia-se, então, no limiar do século XX, de alma aturdida ante as renovações da indústria e da ciência, aguardando-se as mais proveitosas edificações para a vida do Globo.
Falava-se aí, nesse conclave do plano invisível, com respeito à propagação da nova fé, em todas as regiões do mundo, procurando-se estudar as possibilidades de cada país, no tocante ao grande serviço de restauração do Cristianismo, sem suas fontes simples e puras.
Após várias considerações, em torno do assunto, o diretor espiritual da grande reunião falou com segurança e energia:
“- Irmão de eternidade: no mundo terrestre, de modo geral, as doutrinas espiritualistas, em sua complexidade e transcendência, repousam no coração da Ásia adormecida; mas, precisamos considerar que o Evangelho do Divino Mestre não conseguiu ainda harmonizar essas variadas correntes de opinião do espiritualismos oriental com a fraternidade perfeita, em vista de as nações do Oriente se encontrarem cristalizadas na sua própria grandeza, há alguns milênios.
Em breve, as forças da violência acordarão esses países que dormem o sono milenário do orgulho, numa injustificável aristocracia espiritual, a fim de que se integrem na lição da solidariedade verdadeira, mediante os ensinamentos do Senhor! . . . Urge, pois, nos voltemos para a Europa e para a América, onde, se campeiam as inquietações e ansiedades, existe um desejo real de reforma, em favor da grande cooperação pelo bem comum da coletividade. Certo, essa renovação é sinônima de muitas dores e dos mais largos tributos de lágrimas e de sangue; mas, sobre as ruínas da civilização ocidental, deverá florescer no futuro uma sociedade nova, com base na solidariedade e na paz, em todos os caminhos dos progressos humanos . . .  Examinemos os resultados dos primeiros esforços do Consolador, no Velho Mundo! . . .”
E os representantes dos exércitos de operários, que laboram nos diversos países da Europa e da América, começaram a depor, sobre os seus trabalhos, no congresso do plano invisível, elucidando-os sinteticamente: -“ A França – exclamava um deles - , berço do grande missionário e codificador da doutrina, desvela-se pelo esclarecimento da razão, ampliando os setores da ciência humana, positivando a realidade de nossa sobrevivência, através dos mais avançados métodos de observação e de pesquisa. Lá se encontram ainda numerosos mensageiros do Alto, como Denis, Flammarion e Richet, clareando ao mundo os grandes caminhos filosóficos e científicos do porvir.”
- “A Grã-Bretanha – afirmava outro – multiplica os seus centros de estudos e de observação, intensificando as experiências de Crookes e dissolvendo antigos preconceitos.”
- “A Itália – asseverava novo mensageiro – teve um Lombroso o início de experiências decisivas. O próprio Vaticano se interessa pela movimentação das idéias espiritistas no seio das classes sociais, onde foi estabelecido rigoroso critério de análise no comércio dos planos invisíveis com o homem terrestre.”
- “A Rússia, bem como outras regiões do Norte – prosseguia outro emissário -, conseguira com Aksakof a difusão de nossas verdades consoladoras. Até a corte do Czar se vem interessando nas experimentações fenomênicas da Doutrina.”
“A Alemanha – afirmava ainda outro – possui numerosos físicos que se preocupam cientificamente com os problemas da vida e da morto, enriquecendo os nossos esforços de novas expressões de experiência e cultura...”
Iam as exposições a essa altura, quando uma luz doce e misericordiosa inundou o ambiente da reunião de sumidades do plano espiritual. Todos se calaram, tomados de emoção indizível, quando uma voz, augusta e suave, falou, através das vibrações radiosas de que se tocava a grande assembléia:
“Amados meus, não tendes, para a propagação da palavra do Consolador, senão os recursos da falível ciência humana?
Esquecestes que os excessos de raciocínio prejudicaram o coração as ovelhas desgarradas do grande rebanho?
Não haverá verdade sem humildade e sem amor, porque toda a realidade do Universo e da vida deve chegar ao pensamento humano, antes de tudo, pela fé, ao sopro dos seus resplendores eternos e divinos! . . .
Operários do Evangelho: excelente é a ciência bem intencionada do mundo, mas não esqueçais o coração, em vossos labores sublimes . . .
Procurai a nação da fraternidade e da paz, onde se movimenta o povo mais emotivo do globo terrestre, e iniciai ali uma tarefa nova.
Se o Cristo edificou a sua igreja sobre a pedra segura e inabalável da fé que remove montanhas e se o Consolador significa a doutrina luminosa e santa de esperança de redenção suprema das almas, todos os seus movimentos devem conduzir à caridade, antes de tudo, porque sem caridade não haverá paz nem salvação para o mundo que se perde! . . .”
Uma copiosa efusão de luzes, como bênçãos do Divino Mestre, desceu do Alto sobre a grande assembléia, assim que o apóstolo do Senhor terminou a sua exortação comovida e sincera, luzes essas que se dirigiam, como aluvião de claridades, para a terra generosa e grande que repousa sob a luz gloriosa da constelação do Cruzeiro.
E foi assim que a caridade selou, então, todas as atividades do Espiritismo brasileiro.
Seus núcleos, em todo o país, começaram a representar os centros de eucaristia divina para todos os desesperados e para todos os sofredores.
Multiplicaram-se as tendas de trabalho do Consolador, em todas as suas cidades prestigiosas, e as receitas mediúnicas, os conselhos morais, os postos de assistência, as farmácias homeopatas gratuitas, os passes magnéticos, multiplicaram-se, em todo o Brasil, para a fusão de todos os trabalhadores, no mesmo ideal de fraternidade e de redenção pela caridade mais pura.

Humberto de Campos
( Recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier, em 5 de Novembro de 1938.).




OS LIVROS DE HUMBERTO DE CAMPOS


PREFÁCIO : CRÔNICAS DE ALÉM-TÚMULO

Por enquanto, poucos intelectuais, na Terra, são suscetíveis de considerar a possibilidade de escreverem um livro, depois de “mortos”.
Eu mesmo, em toda a bagagem de minha produção literária no mundo, nunca deixei transparecer qualquer laivo de crença nesse sentido.  
Apegando-me ao resignado materialismo dos meus últimos tempos, desalentado em face dos problemas transcendentes do Além-túmulo, não teve coragem de enfrentá-los, como, um dia, fizeram Medeiros e Albuquerque e Coelho Neto, receoso do fracasso de que deram testemunho, como marinheiros inquietos e imprudentes, regressando ao porto árido dos preconceitos humanos, mal se haviam feito de vela ao grande oceano das expressões fenomênicas da doutrina, onde os espíritas sinceros, desassombrados e incompreendidos, são aqueles arrojados e rudes navegadores da Escola de Sagres que, à força de sacrifícios e abnegações, acabaram suas atividades descobrindo um novo continente para o mundo, dilatando as suas esperanças e santificando os seus trabalhos . . .
Dentro da sinceridade que me caracterizava, não perdi ensejos para afirmar as minhas dúvidas, expressando mesmo a minha descrença acerca da sobrevivência espiritual, descorçoado de qualquer possibilidade de viver além dos meus ossos e das minhas células doentes . . .
É verdade que os assuntos de Espiritismo seduziam a minha imaginação, com a perspectiva de um mundo melhor do que esse, onde todos os sonhos das criaturas caminham para a morte; sua literatura fascinava o meu pensamento com o magnetismo suave da esperança, mas a fé não conseguia florescer no meu coração de homem triste, sepultado nas experiências difíceis e dolorosas.
Os livros da doutrina eram para o meu espírito como soberbos poemas de um idealismo superior do mundo subjetivo, sem qualquer feição de realidade prática, onde eu afundava as minhas faculdades de análise nas ficções encantadoras; suas promessas e sua mística de consolos eram o brando anestésico que muitos corações infortunados e doloridos, mas o meu era já inacessível à atuação do sedativo maravilhoso, e o pior enfermo é sempre aquele que já experimentou a ação de todos os específicos conhecidos.
Em 1932, um dos meus companheiros da Academia de Letras solicitou minha atenção para o texto do “Parnaso de Além-Túmulo”. As rimas do outro mundo enfileiravam-se com a sua pureza originária nessa antologia dos mortos, através da mediunidade de Francisco Xavier, o caixeiro humilde de Pedro Leopoldo, impressionando os conhecedores das expressões estilísticas da língua portuguesa. Por minha vez, procurei ouvir a palavra de Augusto de Lima, a respeito do fato, insólito, mas o grande amigo se esquivou ao assunto, afirmando:
     - “Certamente, entre as novidades da minha terra, Pedro Leopoldo concorre com um novo Barão de Münchhausen.”
A verdade, porém, é que pude atravessar as águas pesadas e escuras do Aqueronte e voltar do mundo das sombras, testemunhando a grande e consoladora verdade.
É incontestável que nem todos me puderam receber, segundo as realidades da sobrevivência. A visita de um “morto” na maioria das hipóteses constitui sempre um fato importuno e desagradável. Para os vivos, que pautam a existência pelo pentagrama das convenções sociais, o morto com as suas verdades será invariavelmente um fantasma importuno, e temos de acomodar os imperativos da lógica às concepções do tempo em que se vive.
Feitas essas considerações, eis-me diante do leitor, com um livro de crônicas de Além-Túmulo.
Desta vez, não tenho necessidade de mandar os originais de minha produção literária a determinada casa editora, obedecendo a dispositivos contratuais, ressalvando-se a minha estima sincera pelo meu grande amigo José Olímpio.
A lei já não cogita mais da minha existência, pois, do contrário, as atividades e os possíveis direitos dos mortos representariam séria ameaça à tranqüilidade dos vivos.
Enquanto aí consumia o fosfato do cérebro para acudir aos imperativos do estômago, posso agora dar o volume sem retribuição monetária.
O médium está satisfeito com a sua vida singela, dentro da pauta evangélica do “daí de graça o que de graça recebestes” e a Federação Espírita Brasileira, instituição venerável que o Prefeito Pedro Ernesto reconheceu de utilidade pública, cuja Livraria via imprimir o meu pensamento, é sobejamente conhecida no Rio de Janeiro, pelas suas respeitáveis finalidades sociais, pela sua assistência aos Necessitados, pelo seu programa cristão, cheio de renúncias e abnegações santificadoras.
Aí está o livro com a minha lembrança humilde. Que ele possa receber a bênção de Deus, constituindo um conforto para os aflitos e para os tristes do microcosmo onde vive.
Que não se precipitem em suas apreciações os que não me puderem compreender. A morte será a mesma para todos. A cada qual será reservados um bangalô subterrâneo e a sentença clara da justiça celeste.
Quanto aos espíritos superiores da crítica contemporânea, cristalizados nas concepções da época, que esperem pacientemente pelo Juízo Final, com as suas milagrosas revelações. Não serei eu quem lhes vá esclarecer o entendimento, contando quantos pares de meias usei em toda a vida, ou descobrindo o número exato de seus anos, através de mesas festivas e alegres.
Aguardem com calma o toque de reunir das trombetas de Josafá.

Humberto de Campos
(Pedro Leopoldo, 25 de junho de 1937)

O EVANGELHO DE JESUS


PREFÁCIO : A BOA NOVA

 Na Escola do Evangelho

Oferecendo esse esforço modesto ao amigo leitor, julgo prudente endereçar-lhe uma explicação, quanto à gênese destas páginas.
Dentro delas, sou o primeiro a reconhecer que os meus temas não são os mesmos. Os que se preocupam com a expressão fenomênica da forma não encontrarão, talvez, o mesmo estilo. Em período algum, faço referências de sabor mitológico. E naqueles velhos amigos que, como eu próprio aí no mundo, não conseguem atinar com as realidades da sobrevivência, surpreendo, por antecipação, as considerações mais estranhas.
Alguns perguntarão, com certeza, se fui promovido a ministro evangélico.
Semelhante administração pode ser natural, mas não será muito justa. O gosto literário sempre refletiu as condições da vida do Espírito. Não precisamos muitos exemplos para justificar a afirmação.. Minha própria atividade literária, na Terra, divide-se em duas fases essencialmente distintas. A página do Conselheiro XX é muito diversa das em que vazei as emoções novas a dor, como lâmpada maravilhosa, me fazia descobrir, no país da minhalma.
Meu problema atual não é o de escrever para agradar, mas o de escrever com proveito.
Sei quão singelo é o esforço presente; entretanto, desejo que ele reflita o meu testemunho de admiração por todos os que trabalham pelo Evangelho no Brasil.
Nas esferas mais próximas da Terra, os nossos labores por afeiçoar sentimentos, a exemplo do Cristo, são também minuciosos e intensos. Escolas numerosas se multiplicam, para os espíritos desencarnados. E eu, que sou agora um discípulo humilde desse educandário de Jesus, reconheci que os planos espirituais têm também o seu folclore. Os feitos heróicos e abençoados, muitas vezes anônimos no mundo, praticados por seres desconhecidos, encerram aqui profundas lições, em que encontramos forças novas. Todas as expressões evangélicas têm, entre nós, a sua história viva. Nenhuma delas é símbolo superficial. Inumeráveis observações sobre o Mestre e seus continuadores palpitam nos corações estudiosos e sinceros.
Dos milhares de episódios desse folclore do céu, consegui reunir trinta e trazer ao conhecimento do amigo generoso que me concede a sua atenção. Concordo em que é pouco: mas isso deve valer como tentativa útil, pois estou certo de que não me faltou o auxílio indispensável.
Hoje, não mais cogito de crer, porque sei.
E aquele Mestre de Nazaré polariza igualmente as minhas esperanças. Lembro-me de que, um dia palestrando com alguns amigos protestantes, notei que classificavam a Jesus como “rocha dos séculos”. Sorri e passei, como os pretensos espíritos fortes de nossa época, aí no mundo. Hoje, porém, já não posso sorrir, nem passar. Sinto a “rocha” milenária, luminosa e sublime, que nos sustenta o coração atolado no pântano de miséria seculares. E aqui estou para lhe prestar o meu preito de reconhecimento com estas páginas simples, cooperando com os que trabalham devotadamente na sua causa divina, de luz e redenção.
Jesus vê que no vaso imundo de meu espírito penetrou uma gota de seu amor desvelado e compassivo. O homem perverso, que chegava da Terra, encontrou o raio de luz destinado à purificação de seu santuário. Ele ampara os meus pensamentos com a sua bondade sem limites. A ganga terrena ainda abafa, em meu coração, o ouro que me deu da sua misericórdia; mas, como Bartolomeu, já possuo o bom ânimo para enfrentar os inimigos de minha paz, que se abrigam em mim mesmo. Tenho a alegria do Evangelho, porque reconheço que o seu amor não me desampara. Confiado nessa proteção amiga e generosa, meu Espírito trabalha e descansa.
Agora, para consolidar a estranheza dos que me lêem, com o sabor de crítica, tão ao gosto do nosso tempo, justificando a substância real das narrativas deste livro, citarei o apóstolo Marcos, quando diz ( 4: 34 ):
“E sem parábola nunca lhes falava; porém, tudo declarava em particular aos seus discípulos”, e o apóstolo João, quando afirmava ( 21: 25): “Há, porém, ainda muitas outras coisas que Jesus fez e que, se cada uma de per si fosse escrita, cuido que nem ainda o mundo todo poderia conter os livros que se escrevessem”.
E é só.
Como se vê, não faço referência aos clássicos da literatura antiga ou contemporânea. Cito Marcos e João. É que existem Espíritos esclarecidos e Espíritos evangelizados, e eu, agora, peço a Deus que abençoe a minha esperança de pertencer ao número destes últimos.

Humberto de Campos
(Pedro Leopoldo, 9 de novembro de 1940)

EXPERIÊNCIAS DE ALÉM TÚMULO


PREFÁCIO ; PONTOS E CONTOS

O Evangelho é o Livro da Vida, cheio de contos e pontos divinos, trazidos ao mundo pelo Celeste Orientador.
Cada apóstolo lhe reflete a sabedoria e a santidade.
E em cada página o Espírito do Mestre resplende, sublime de graça e encantamento, beleza e simplicidade.
É a história do bom samaritano.
A exaltação de uma semente de mostarda.
O romance do filho pródigo.
O drama das virgens loucas.
A salvação do mordomo infiel.
O ensinamento da drama perdida. 
A tragédia da figueira infrutífera.
A lição da casa sobre a rocha.
A parábola do rico.
A rendição do juiz contrafeito.
Na montanha, o Divino Amigo multiplica os pães, mas não se esquece de salientar as bem-aventuranças.
Na cura de enfermos ou de obsidiados, traça pontos de luz que clareiam a rota dos séculos, restaurando o corpo doente, sem olvidar o espírito imperecível.
Inspirados na Boa Nova, escrevemos para você, leitor amigo, as páginas deste livro singelo.
Por que se manifestam os desencarnados, com tamanha insistência na Terra? Não teriam encontrado visões novas da vida que os desalojassem do mundo? – perguntará muita gente, surpreendendo-nos o esforço.
É que o túmulo não significa cessação de trabalho, nem resposta definitiva aos nossos problemas.
É imprescindível agir, sempre a auxiliarmo-nos uns ao outros.
Conta-nos Longfellow a história de um monge que passou muitos anos, rogando uma visão do Cristo.
Certa manhã, quando orava, viu Jesus ao seu lado e caiu de joelhos, em jubilosa adoração. No mesmo instante o sino do convento derramou-se em significativas badaladas. Era a hora de socorrer os doentes e aflitos, à porta da casa e, naquele momento, o trabalho lhe pertencia.
O clérigo relutou, mas, com imenso esforço, levantou-se e foi cumprir as obrigações que lhe competiam. Serviu pacientemente ao povo, no grande portão do mosteiro, não obstante amargurado por haver interrompido a indefinível contemplação. Voltando, porém, à cela, após o dever cumprido, oh maravilha! Chorando e rindo de alegria, observou que o Senhor o aguardava no cubículo e, ajoelhando-se, de novo, no êxtase que o possuía, ouviu o Mestre que lhe disse, bondoso.
- “Se houvesses permanecido aqui, eu teria fugido.”
Assim, de nossa parte, dentro do ministério que hoje nos cabe, não nos é lícito desertar da luta e sim cooperar, dentro dela, para a vitória do Sumo Bem.
É por isso, leitor, que trazemos a você estas páginas despretensiosas, relacionando conclusões e observações dos nossos trabalhos e experiências.
Talvez sirvam, de algum modo, à sua jornada na Terra. Mas se houver alguma semelhança, entre estes pontos e contos com algum episódio de sua própria vida, acredite você que isso não passa de mera coincidência.

Irmão X
(Pedro Leopoldo, 3 de outubro de 1950)



CONSTATAÇÃO DA SOBREVIVÊNCIA DA ALMA


PREFÁCIO : REPORTAGENS DE ALÉM-TÚMULO

Do noticiarista desencarnado

A sepultura não é a porta do céu, nem a passagem para o inferno. É o bangalô subterrâneo das células cansadas – silencioso depósito do vestuário apodrecido.
O homem não encontrará na morte mais do que vida e, no misterioso umbral, a grande surpresa é o encontro de si mesmo.
Falar, pois, de homens e de espíritos, como se fossem expoentes de duas raças antagônicas, vale por falsa concepção das realidades eternas. As criaturas terrenas são, igualmente, Espíritos revestidos de expressões peculiares ao planeta. Eis a verdade que o Cristianismo restaurado difundirá nos círculos da cultura religiosa.
Quanta gente aguarda a grande transição para regenerar costumes e renovar pensamentos? Entretanto, adiar a realização do bem é, sempre, menosprezar patrimônios divinos, agravando dificuldades futuras.
Deslumbramento que invadiu as zonas de intercâmbio, entre as esferas visível e invisível, operou singulares atitudes nos aprendizes novos.
Em círculos diversos, companheiros nossos, pelo simples fato de haverem transposto os umbrais do sepulcro, são convertidos, pelos que ficaram na Terra, em oráculos supostamente infalíveis; alguns amigos, porque encontraram benfeitores na zona espiritual, esquecem os serviços que lhes competem no esforço comum; médiuns necessitados de esclarecimentos são transformados em semideuses.
A alegria da imortalidade embriagou a muitos estudiosos imprevidentes.
Dorme-se ao longo de trabalhos valiosos e urgentes, à espera de mundos celestiais, como se o orbe terrestre não integrasse a paisagem do Infinito.
É necessário, portanto, recordar que a existência humana é oportunidade preciosa no aprendizado para a vida eterna.
Ensina-se-nos, aqui, que Espíritos protetores e perturbados, nobres e mesquinhos, podem ser encontrados nos planos visíveis e invisíveis.
Cada criatura humana tem a sua cota de deveres e direitos, de compromissos e possibilidades. Zonas felizes e desventuradas permanecem nas consciências, na multiplicidade de posições mentais dos Espíritos eternos. Tanto na Terra como no Céu, a responsabilidade é lei.
Neste quadro de observações, o Consolador é a escola divina destinada ao levantamento das almas. Urge, pois, que os discípulos se despreocupem do Espiritismo dos mortos, para colocar acima de todas as demonstrações verbalistas o Espiritismo dos vivos na eternidade.
Dentro de cada aprendiz há um mundo a desbravar.
A Terra é também a grande universidade. Ninguém despreze a luta, o sofrimento, a dificuldade, o testemunho próprio.
A luz e o bem, a sabedoria e o amor, a compreensão e a fraternidade, o cérebro esclarecido e as mãos generosas dependem do esforço pessoal, antes de tudo.
O Sol ilumina o mundo, a chuva fecunda a terra, a árvore frutifica, as águas suavizam a aridez do deserto; mas o homem deve caminhar por si mesmo. As maravilhas e dádivas da Natureza superior não eximem a criatura da obrigação de seguir com o Cristo, para Deus.
Quando tantos companheiros dormem esquecendo o serviço, ou contendem por ninharias copiando impulsos infantis, trago-te, leitor amigo, estas reportagens despretensiosas – lembrança humilde de humilde noticiarista desencarnado.
As experiências relacionadas, nestas páginas singelas, falam eloqüentemente de nossas necessidades individuais.
Não devemos continuar na condição de meros beneficiários da Casa de Deus, reincidentes nas dívidas e falhas criminosas.
A Providência nos oferece tesouros imperecíveis.
O Pai repartiu a herança com magnanimidade e justiça. Não há filhos esquecidos e todos somos seus filhos.
Trazendo-te, pois, meu esforço desvalioso, feito de coração para corações, termino afirmando que todas estas reportagens são reais e que, se os nomes das personagens obedecem à convenção da caridade, fraternal, aqui não há ficções nem coincidências.
Cada história representa um caso individual, no imenso arquivo das experiências humanas, para compreensão da vida eterna.

Humberto de Campos
(Pedro Leopoldo, 8 de dezembro de 1942)


RECADO AOS IRMÃOS ENCARNADOS


PREFÁCIO : CONTOS E APÓLOGOS
Oferenda

Meu amigo, à maneira dos velhos peregrinos que jornadeiam sem repouso, busco-te os ouvidos pelas portas do coração.
Senta-te aqui por um momento.
Somos poucos junto à árvore seivosa da amizade perfeita.
Muitos passaram traçando-te o caminho...
Visitaram-te muitos outros, compelindo-te a dobrar os joelhos perante o Céu...
Não te imponho um figurino para atitudes exteriores.
Ofereço-te o lume da experiência.
Não te aponto normas para a comtemplação das estrelas.
Rogo vejas no firmamento a presença divina da Divina Bondade.
Trago-te apenas as histórias simples e humildes, que ouvi de outros viajores.
Recebe-as, elas são nossas.
Guardam o sorriso dos que ensinam no templo do amor e as lágrimas dos que aprendem na escola do sofrimento.
Assemelham-se a flores pobres entretecidas de júbilo e pranto, dor e bênção, que deponho em tua alma para a viagem do mundo.
Acolhe-as com tolerância e benevolência! Dir-te-ão todas elas que, além da morte, floresce a vida, tanto quanto da noite ressurge o esplendor solar, e que se há flagelação e desespero, ante o infortúnio dos homens, fulgem, sempre puras e renovadas, a esperança e a alegria, ante a glória de Deus.

Irmão X
(Pedro Leopoldo , 30 de outubro de 1957)
 

HUMBERTO DE CAMPOS POR HUMBERTO DE CAMPOS


EXPLICAÇÕES

Não, meu amigo. Quando me desvencilhei do corpo físico, há quase vinte anos, o título de “ espírita não me classificava as convicções.
Como acontece a muita gente boa, acreditava mais no que via com meu olho e tateava com as minhas mãos.
Lia o Evangelho de Jesus e compulsava as impressões de vários experimentadores da sobrevivência, entretanto, sem objetivos sérios de estudo e sim na extravagância das gralhas da inteligência que vão à lavoura do espírito, gritando inutilmente ou bicando aqui e ali para perturbar o crescimento das plantas e prejudicar-lhes a produção.
Era um homem demasiadamente ocupado com a Terra para devotar-me às revelações do Céu.
Meus pensamentos jaziam tão vigorosamente encarnados nas preocupações mundanas, que nem a força hercúlea da enfermidade conseguia deslocar-me para as visões íntimas da vida Superior.
Ilhado na fortaleza de minha pretensa superioridade intelectual, ria ou chorava nas letras, acreditando, porém, que a fé seria apanágio das criaturas ignorantes e simples, indigna dos cérebros mergulhados em maiores cogitações.
Situava-me entre a dúvida e a ironia, quando a Morte, na condição de meirinho da Justiça divina, me intimou a comparecer no tribunal da realidade, mais cedo do que eu supunha, e somente então comecei a interessar-me pelo gigantesco esforço dos homens de boa vontade que, nos mais diversos climas do planeta, se dedicam hoje à solução dos enigmas inquietantes do destino e do ser.
O túmulo não é apenas a porta de cinza.
Morrer não é terminar.
E, banhado ao clarão da verdade, por mercê de Deus, incorporei-me à imensa caravana dos que despertam e trabalham na recuperação de si mesmos.
Não estranhe, pois, se continuo  em minha faina de escritor humilde, tentando nortear as minhas faculdades no rumo do bem.
É o que poso fazer, porquanto não disponho de especialização adequada para outro mister.
Você pergunta porque me devoto presentemente ao Espiritismo com Jesus, quando fui intérprete da literatura fescenina (obscena e licenciosa), lançando vários livros picantes, e político apaixonado na corrente partidária a que me filiei, como defensor dos interesses de minha terra.
Creia que, realmente, errei muito.
Mas sempre consegui equilibrar-me na corda bamba das convenções terrestres e, muita vez, caí escandalosamente em pleno espetáculo, à frente daqueles que me aplaudiam ou me apupavam.
Entretanto, a morte constrangeu-me ao reajuste preciso.
Acordei para um dia novo e procuro comunicar-me com os que ainda se encontram nas sombras da noite.
Admito que poderia fazer cousa pior.
Se me deixasse vencer pela tentação, efetivamente integraria a vasta fileira dos espíritos obstinados na perversidade que lhes é própria, cavalgando os ombros de meus desafetos.
Algo, porém, amadureceu dentro de mim.
Aquilo que me causava prazer impele-me agora à repugnância.
A experiência mostrou-me a parte inútil de minha vida, e por acréscimo de bondade do Senhor, voltei ao campo de minha própria sementeira, não mais para deslustrar o serviço da natureza, mas para colaborar com o bem, a favor de mim próprio.
É por essa razão que ainda estou escrevendo...
Convença-se, contudo, de que não possuo mais no vaso do coração a tinta escura do sarcasmo e esteja certo de que me sinto excessivamente distante de qualquer milagre da sublimação.
Sou apenas um homem ... desencarnado com o sadio propósito de regenerar-me.
Depreenderá você, portanto, desta confissão que, em hipótese alguma, poderia inculcar-me na posição de Guia Espiritual dos meu semelhantes.
A sepultura não converte a carne que ela engole, voraz, em manto de santidade.
Somos depois da morte o que fomos e muita gente, que anda por aí mascarada, aqui encontra recursos para ser mais cruel.
Quanto a mim, rendo graças a Deus por achar-me na condição de pecador arrependido, esmurrando o próprio peito e clamando “mea culpa, mea culpa...”
Nosso orientador real é o Cristo, Nosso Senhor.
Sem Ele, sem a nossa aplicação aos Seus ensinos e exemplos, respiraremos invariavelmente na antiga cegueira que nos arroja aos fundos espinheiros do fosso.
Procuremo-Lo, pois, e auxiliemo-nos um aos outros e você, que com tanta generosidade se interessa pela minha renovação, não se esqueça das oito letras de luz que brilham sobre seu nome. Ser “espírita” é continuar com Jesus o apostolado da redenção e que você prossiga com o Mestre, amando e servindo, no constante incentivo ao bem, é tudo de mais nobre que lhe posso desejar.

Humberto de Campos, setembro de 1854
Histórias e Anotações

20 ANOS NO ALÉM



VINTE ANOS

Realmente, meu amigo, em dezembro de 1934, abandonei o corpo apressadamente, à maneira de inquilino despejado de casa, por força de sentença inapelável que, em meu caso, era o decreto da morte.
E você pergunta por minhas impressões da Vida Espiritual por todo esse tempo que, à frente da Eternidade, não tem qualquer significação.
Sinceramente, não tenho muito a dizer.
O homem que se desencarna sem as asas do gênio sublimado na fé e na virtude assemelha-se, de algum modo, ao navegador do século XVI que, descobrindo terras novas, plantava o domicílio no litoral, incapaz de romper os laços com a retaguarda, de modo a seguir gradativamente, na direção da floresta.
Novidades por novidades tenho visto inúmeras.
Assim como o selvagem dos trópicos pode ser transportado até as vizinhanças do pólo, a fim de extasiar-se com o glorioso espetáculo da aurora boreal, sem compreender-lhe o jogo de luz, assim também tenho contemplado paisagens maravilhosas de outros mundos, sem, contudo, entender-lhe a magnificência.
Terminado o estímulo da excursão educativa, eis-me de volta ao solo áspero de minhas próprias experiências, no qual devo cultivar os valores do porvir
Você será naturalmente induzido a indagar quanto ao pretérito. Atravessando a criatura múltiplas existência, de outras vezes terei igualmente regressado ao campo spiritual , por isso, não posso estar pisando num terreno desconhecido...
Assim não suponha que algumas perigrinações na carne possam valer grande cousa, quando nosso esforço na  própria elevação não seja discutivelmente muito grande.
Viajamos no oceano de forças físicas, tornando a velhos continentes da recapitulação por alguns lustros apenas e regressamos ao litoral, a fim de prosseguir na construção das bases de progresso e segurança que nos habilitarão, um dia, aos alto cimos.
Por enquanto, é preciso vencer obstáculos e sombras, dificuldades e inibições no país de mim mesmo, para caminhar da animalidade que m caracteriza à Humanidade real de que ainda me vejo distante. E, nesse trabalho, não há muito gosto de alinhar notificações e surpresas, porque, tanto aí quanto aqui, não é fácil modificar a química do pensamento, com vistas à própria renovação.
Desnecessário comentar nossas organizações e deveres.
Toda uma literatura copiosa e brilhante, nos mais diversos centros do mundo, revelam hoje os processos evolutivos da Terra Melhorada, onde presentemente me encontro, sem o pesado escafandro das células enfermas e, por essa razão, você deve saber que vivem errantes aqui somente os que aí pervagavam, entre a ociosidade e a indisciplina, que apenas se precipitam nas trevas infernais os que, no mundo, já haviam organizado um inferno na própria cabeça e que os heróis passam por nós, de relance, com destino às Alturas em que se colocaram.
Quanto a nós, pecadores penitentes e algumas de boa vontade, estamos marchando, passo a pão, na superação de nós mesmos, entre o céu que sonhamos e o inferno que nos cabe evitar.
Ainda sim, o comboio da morte, todos os dias, derrama viajores em nossa estação.
Não raro, por isso, observo antigos companheiros do mundo chegando aqui sob as farpas do sofrimento, mastigando resíduos de extremas desilusões. São amigos que choram o ouro largado no chão, que suspiram pelo poder ou pela evidência social de que o sepulcro os despoja, que deploram o tempo perdido em atividades inúteis ou que enlouquecem, tentando debalde reaver o corpo bem cuidado que o túmulo apodreceu...
Não julgue que a recuperação seja obra de improviso.
Resignação, coragem, compreensão, paciência e valor moral não constituem artigos adquiríveis no estoque alheio. Representam qualidades que todos somos constrangidos a edificar no mundo que nos é próprio, ao preço de nossa renunciação e de nossas lágrimas.
A única nota diferente que possuo em meu círculo individual é a que se refere à minha adesão intelectual ao Evangelho, sob a luz do Espiritismo. Digo “intelectual” porque ainda estou trabalhando o coração, como o lapidário burila a pedra, a fim de oferta-lo efetivamente ao Senhor.
E não diga que a minha conversão surge tarde demais, porque assim como o esforço de vocês no bem é valioso investimento de recursos para a existência daqui, a nossa tarefa nessa direção capitaliza em nosso favor preciosas oportunidades para o estágio que aí nos compete no futuro, de vez que, em tempo oportuno, estarei de novo entre os homens, tanto quanto você estará igualmente entre os espíritos desencarnados.
Como reparamos, vinte anos de vida espiritual são poucos dias para a restauração e para o reajuste, porque a dor e a experimentação, a prova e a luta ainda permanecem conosco, à feição de instrutoras, que não podemos menosprezar.
Não se aflija nem se desconsole, porém, diante de minha confidência fraternal.
Trabalhe e estude, ame e instrua-se, fazendo o melhor que puder no mundo e, se você retém qualquer dúvida em tono  de minhas afirmativas, em breve, você mesmo estará aqui, depois de escalar pela casa da morte, a fim de melhor sentir a vida com o próprio coração e apreciar a realidade com os próprios olhos.

Humberto de Campos, dezembro de 1954
Histórias e Anotações


ENTREVISTAS, CONTOS,  CRÔNICAS


PREFÁCIO ; CONTOS DESTA E DOUTRA VIDA

De início

Devotado amigo espiritual costuma dizer-nos que há livros-revelações, livros-tesouros, livros-bálsamos, livros-refeições, livros-venenos, livos-bombas.
Propomo-nos definir este volume como sendo prato inofensivo - lanche mental leve e simples -, aspirando a ser útil aos viajores da Terra, seja na travessia de pequenas dificuldades ou na indagação construtiva para a escolha de rumos. Ao alinhavar-se as páginas, nos textos das quais
reunimos, despretensiosamente, algumas sugestões e lições do cotidiano, não tivemos a menor preocupação de artesanato e nem qualquer intento de impressionar pelo manejo de citas e cinzéis.
Aqui, neste punhado de crônicas humildes, encontrará o leitor amigo apenas o desejo de aprender com todos, na permuta de idéias e sentimentos que nos restaurem as energias da alma, em ágape ligeiro, sem mergulhar, de modo profundo, nas realidades da vida.
Em nos referindo a repasto breve nos valores do espírito, sem maior imersão no conhecimento superior, dir-se-á talvez que ignoramos o engano de Esaú, trocando com Jacob os direitos da primogenitura por uma tigela de lentilhas, atitude estouvada num caçador exímio qual o neto de Abraão, perfeitamente capaz de esperar pelos quitutes de Rebeca.
Cabe-nos declarar, formalmente, que não desconsideramos, de maneira alguma, a necessidade do estudo e da meditação, diante dos problemas do Universo, que nos compelem ao trato dos livros-luzes; nós, porém, os homens desencarnados - atormentada pela fome de paz e esclarecimento -, não podemos olvidar que Jesus, ante o povo exausto e doente, ensinou a verdade mas multiplicou também o pão.

Irmão X
(Uberaba, 20 de Janeiro de 1964)

JUDAS ISCARIOTES

Silêncio augusto cai sobre a cidade Santa. A antiga capital da Judéia parece dormir o seu sono de muitos séculos.
Além descansa Getsêmani, onde o divino Mestre chorou numa longa noite de agonia, acolá está o Gólgota sagrado e em cada coisa silenciosa há um traço da Paixão que as épocas guradarão para sempre.
E, em meio de todo o cenário, como um veio cristalino de lágrimas, passa o Jordão silencioso, como se as águas mudas, buscando o Mar morto, quisessem esconder das coisas tumultuosas dos homens os segredos insondáveis do Nazareno.
Foi assim, numa destas noites que vi Jerusalém, vivendo a sua eternidade de maldições.
Os espíritos podem vibrar em contato direto com a história. Buscando uma relação íntima com a cidade dos profetas, procurava observar o passado vivo dos Lugares Santos.
Parece qu as mãos iconoclastas de Tito por ali passaram como executoras de um decreto irrevogável. Por toda a parte ainda persiste um sopro de destruição e desgraça. Legiões de duendes, embuçados nas suas vestimentas antigas, percorrem as ruínas sagradas e no meio das fatalidades que pesam sobre o empório morto dos judeus, não ouvem os homens os gemidos da humanidade invisível.
Nas margens caladas do Jordão, não longe talvez do lugar sagrado onde o Precursor batizou Jesus Cristo, divisei um homem sentado sobre uma pedra.
De sua expressão fisionômica irradiava-se uma simpatia cativante.
-Sabe quem é este ? – murmurou alguém aos meus ouvidos. – Este é Judas.
-Judas ?!...
-Sim. Os espíritos apreciam, às vezes, não obstante o progresso que já alcançaram, volver atrás, visitando os sítios onde se engrandeceram ou prevaricaram, sentindo-se momentaneamente transportados aos tempos idos. Então, mergulham o pensamento no passado, regressando ao presente, dispostos ao heroísmo necessário do futuro.
Judas costuma vir à Terra, nos dias em que se comemora a Paixão de nosso Senhor, meditando nos seus atos de antanho ...
Aquela figura de homem magnetizava-me.
Eu ainda não estou livre da curiosidade do repórter, mas entre as minhas maldades de pecador e a perfeição de Judas existia um abismo.
O meu atrevimento, porém, e a santa humildade do seu coração, ligaram-se para que eu o atravessasse, procurando ouvi-lo.
-O senhor é de fato, o ex-filho de Iscariotes? – perguntei.
-Sim, sou Judas – respondeu aquele homem triste, enxugando uma lágrima nas dobras de sua longa túnica.
Como o Jeremias, das Lamentações. Contemplo às vezes esta Jerusalém arruinada, meditando no juízo dos homens transitórios...
-É uma verdade tudo quanto reza o Novo Testamento com respeito à sua personalidade na tragédia da condenação de Jesus ?
-Em parte ... Os escribas que redigiram os evangelhos não atenderam às circunstâncias e às tricas políticas que acima dos meus atos predominaram na nefanda crucificação.
Pôncio Pilatos e o tetrarca da Galiléia, além dos seus interesses individuais na questão, tinham ainda a seu cargo salvaguardar os interesses do Estado romano, empenhado em satisfazer as aspirações religiosas dos anciãos judeus.
Sempre a mesma história. O Sanedrin desejava o reino do céu pelejando por Jeová, a ferro e fogo; Roma queria o reino da Terra.
Jesus estava entre essas forças antagônicas com a sua pureza imaculada.
Ora, eu era um dos apaixonados pelas socialistas do Mestre, porém meu excessivo zelo pela sua doutrina me fez sacrificar o seu fundador.
Acima dos corações, eu via a política, única arma com a qual poderia triunfar e Jesus não obteria nenhuma vitória.
Com as suas teorias nunca poderia conquistar as rédeas do poder já que, no seu manto de pobre, se sentia possuído de um santo horror à propriedade.
Planejei então uma revolta surda como se projeta hoje em dia na Terra a queda de um chefe de Estado.
O Mestre passaria a um plano secundário e eu arranjaria colaboradores para uma obra vasta  enérgica como a que fez mais tarde Constantino Primeiro, o Grande, depois de vencer Maxêncio às portas de Roma, o que aliás apenas serviu para desvirtuar o Cristianismo.
Entregando, pois, o Mestre à Caifás, não julguei que as coisas atingissem um fim tão lamentável e, ralado de remorsos, presumi que o suicídio era a única maneira de me redimir aos seus olhos.
-E chegou a salvar-se pelo arrependimento ?
-Não. Não consegui. O remorso é uma força preliminar para os trabalhos reparadores. Depois de minha morte trágica submergi-me em séculos de sofrimento expiatório da minha falta.
Sofri horrores nas perseguições inflingidas em Roma aos adeptos da doutrina de Jesus e as minhas provas culminaram em uma fogueira inquisitorial, onde imitando o Mestre fui traído, vendido e usurpado.
Vítima da felonia e da traição deixei na Terra os derradeiros resquícios do meu crime, na Europa do século XV.
Desde esse dia, em que me entreguei por amor do Cristo a todos os tormentos e infâmias que me aviltavam, com resignação e piedade pelos meus verdugos, fechei o ciclo das minhas dolorosas encarnações na Terra, sentindo na fronte o ósculo de perdão da minha própria consciência...
-E está hoje meditando nos dias que se foram .... – pensei com tristeza.
-Sim... estou recapitulando os fatos como se passaram. E agora irmanado com Ele, que se acha no seu luminoso Reino das alturas que ainda não é deste mundo, sinto nestas estradas o sinal de seus divinos passos.
Vejo-O ainda na cruz entregando a Deus o seu destino... sinto a clamorosa injustiça dos companheiros que O abandonaram inteiramente e me vem uma recordação carinhosa das poucas mulheres que O ampararam no doloroso transe...
Em todas as homenagens a Ele prestadas, eu sou sempre a figura repugnante do traidor...
Olho complacentemente os que me acusam sem refletir se podem atirar a primeira pedra...
Sobre o meu nome pesa a maldição milenária, como sobre estes sítios cheios de miséria e de infortúnio.
Pessoalmente, porém, estou saciado de justiça, porque já fui absolvido pela minha consciência no tribunal dos suplícios redentores.
Quanto ao divino Mestre – continuou Judas com os seus prantos – infinita é a sua misericórdia e não só para comigo, porque recebi trinta moedas, vendendo-O aos seus algozes, há muitos séculos Ele está sendo criminosamente vendido no mundo a grosso e a retalho, por todos os preços, em todos os padrões de ouro amoedado....
-É verdade – conclui – e os novos negociadores do Cristo não se enforcam depois de vende-lo.
Judas afastou-se tomando a direção do Santo Sepulcro e u, confundido nas sombras invisíveis para o mundo, vi que no céu brilhavam algumas estrelas sobre as nuvens pardacentas e tristes, enquanto o Jordão rolava na sua quietude como um lençol de águas mortas, procurando um mar morto.

Humberto de Campos
Pedro Leopoldo 19 de abril de 1935


MARILYN MONROE

Encontro em Hollywood

Caminhávamos, alguns amigos, admirando a paisagem do Wilshire Boulevard, em Hollywood, quando fizemos parada, ante a serenidade do Memoriam Park Cemetery, entre o nosso caminhos e os jardins de Glendon Avenue.
A formosa mansão dos mortos mostrava grande movimentação de Espíritos libertos da experiência física, e entramos.
Tudo, no interior, tranqüilidade e alegria.
Os túmulos simples pareciam monumentos erguidos à paz, induzindo à oração, entre as árvores que a primavera pintara de verde novo, numerosas entidades iam e vinham, muitas delas escoradas umas as outras, à feição de convalescentes, sustentadas por enfermeiros em pátio de hospital agradável e extenso.
Numa esquina que se alteava com o terreno, duas laranjeiras ornamentais guardavam o acesso para o interior de pequena construção que hospeda as cinzas de muitas personalidades que demandaram o Além, sob o apreço do mundo.
A um canto, li a inscrição: “Marilyn Monroe – 1926-1962”. Surpreendido, perguntei a Clinton, um dos amigos que nos acompanhavam :
-Estão aqui os restos de Marilyn, a estrela do cinema, cuja história chegou até mesmo ao conhecimento de nós outros, os desencarnados de longo tempo no Mundo Espiritual ?
-Sim- respondeu ele, e acentuou com expressão significativa: -não se detenha, porém, a tatear-lhe a legenda mortuária ... Ela está viva e você pode encontra-la aqui e agora ...
-Como ?
O amigo indicou frondoso olmo chinês, cuja galharia compõe esmeraldino refúgio no largo recinto, e falou:
-Ei-la que descansa, decerto em visita de reconforto e reminiscência ...
A poucos passos de nós, uma jovem desencarnada, mas ainda evidentemente enferma, repousava a cabeleira loura no colo de simpática senhora que a tutelava.
Marilyn Monroe, pois era ela, exibia a face desfigurada e os olhos tristes.
Informados de que nos seria lícito aborda-la, para alguns momentos de conversa, aproximamo-nos , respeitosos.
Clinton fez a apresentação e aduzi:
-Sou um amigo do Brasil, que deseja ouvi-la.
-Um brasileiro a procurar-me depois da morte?
-Sim, e porque não? – acrescentei- a sua experiência pessoal interessa a milhões de pessoas no mundo inteiro ...
E o diálogo prosseguiu:
-Uma experiência fracassada...
-Uma lição talvez.
-Em que lhe poderia ser útil?
-A sua vida influenciou muitas vidas e estimaríamos receber ainda que fosse um pequeno recado de sua parte para aqueles que lhe admiraram os filmes e que lhe recordam no mundo a presença marcante ...
-Quem gostaria de acolher um grito de dor ?
-A dor instrui...
-Fui mulher como tantas outras e não tive tempo e nem disposição para cogitar de filosofia.
-Mas fale mesmo assim...
-Bem, diga então às mulheres que não se iludam a respeito da beleza e fortuna, emancipação e sucesso ... Isso dá popularidade e a popularidade é um trapézio no qual raras criatura conseguem dar espetáculos de grandeza moral, incessantemente, no circo do cotidiano.
-Admite, desse modo, que a mulher deve permanecer no lar, de maneira exclusiva?
-Não tanto. O lar é uma instituição que pertence à responsabilidade tanto da mulher quanto do homem. Quero dizer que a mulher lutou durante séculos para obter a liberdade... Agora que a possui nas nações progressistas, é necessário aprender a controla-la. A liberdade é um bem que reclama bom senso de administração, como acontece ao poder, ao dinheiro, à inteligência...
Pensei alguns momentos na fama daquela jovem que se apresentara à Terra inteira, dali mesmo, em Hollywood e ajuntei:
-Miss Monroe, quando se refere à liberdade da mulher, você quer mencionar a liberdade do sexo ?
-Especialmente.
-Porque?
-concorrendo sem qualquer obstáculo ao trabalho do homem, a mulher, de modo geral, se julga com direito a qualquer tipo de experiência e, com isso, na maioria das vezes, compromete as bases da vida. Agora que regressei à espiritualidade compreendo que a encarnação é uma escola com muita dificuldade de funcionar para o bem, toda vez que a mulher foge  à obrigação  de amar, nos filhos a edificação moral a que é chamada.
-Deseja dizer que o sexo ...
-Pode ser comparado à porta da vida terrestre, canal de renascimento e renovação, capaz de ser guiado pra a luz ou para as trevas, conforme o rumo que se lhe dê.
-Ser-lhe-á possível clarear um pouco mais este assunto?
-Não tenho expressões para falar sobre isso com o esclarecimento necessário; no entanto, proponho-me a afirmar que o sexo é uma espécie de caminho sublime para a manifestação do amor criativo, no campo das formas físicas e na esfera das obras espirituais,, se não for respeitado por uma sensata administração dos valores de que se constitui, vem a ser naturalmente tumultuado pelas inteligências animalizadas que ainda se encontram em níveis mais baixos da evolução.
-Mis Monroe – considerei, encantado, em lhe ouvindo os conceitos-, devo asseverar-lhe, não sem profunda estima por sua pessoa, que o suicídio não lhe alterou a lucidez.
-A tese do suicídio não é verdadeira como foi comentada-acentuou ela sorrindo. Os vivos falam acerca dos mortos o que lhes vem à cabeça, sem que os mortos lhe possam dar a resposta devida, ignorando que eles mesmos, os vivos, se encontrarão, mais tarde, diante do mesmo problema ... A desencarnação me alcançou através de tremendo processo obsessivo. Em verdade, na época, me achava sob profunda depressão. Desde menina, sofri altos e baixos, em matéria de sofrimento, por não saber governar a minha liberdade .... depois de noites horríveis, nas quais me sentia desvairar, por falta de orientação e de fé, ingeri, quase semi-inconsciente, os elementos mortíferos que me expulsaram do corpo, na suposição de que tomava uma simples dose de pípulas mensageiras do sono ...
-Conseguiu dormir na grande transição.
-De modo algum. Quando minha governanta bateu à porta do quarto, inquieta ao ver a luz acesa, acordei às súbitas da sonolência a que me confiara, sentindo-me duas pessoas a um só tempo ... Gritei apavorada, sem saber, de imediato, identificar-me, porque lograva mover-me e falar, ao lado daquela outra forma, a vestimenta carnal que eu largara ... Infelizmente, para mim, o aposento abrigava malfeitores desencarnados que, mais tarde, viam a saber, que me dilapidavam as energias. Acompanhei, com indescritível angústia, o que se seguiu com meu corpo inerme; entretanto, isso faz parte de um capítulo do meu sofrimento que lhe peço permissão para não relembrar ...
-Ser-lhe-á possível explicar-nos porque terá experimentado essa agudeza de percepção, justamente no instante em que a morte, de modo comum, traz anestesia e repouso?
-Efetivamente não tive a intenção de fugir à existência, mas, no fundo, estava incursa no suicídio indireto. Malbaratara minhas forças, em nome da arte, entregara-me a excessos que me arrasaram as oportunidades de elevação ... Ultimamente, fui informada por amigos daqui de que não me foi possível descansar, após a desencarnação, enquanto não me desvencilhei da influência perniciosa do Espíritos vampirizadores a cujos propósitos eu aderira, por falta de discernimento quanto às leis que regem o equilíbrio da alma.
-Compreendo que dispõe agora de valiosos conhecimentos, em torno da obsessão...
-Sim, creio hoje que a obsessão, entre as criatura humanas, é um flagelo muito pior que o câncer. Peçamos a Deus que a Ciência do mundo se decida a estudar-lhe os problema e resolvê-los ...
A entrevista mostrava sinais de fadiga, e pelos olhos da enfermeira que lhe guardava a cabeça no regaço amigo percebi que não me cbia avançar.
-Miss Monroe-conclui – foi um prazer para mim este encontro em Hollywood. P{odemos acaso saber, quais são, na atualidade, os seus planos para o futuro?
Ela emitiu novo sorriso, em que se misturavam a tristeza e a esperança, manteve silêncio por alguns instantes e afirmou:
-Na condição de doente, primeiro, quero melhorar-me... em seguida, como aluna do educandário da vida, preciso repetir as lições e provas em que fali ...
Por agora, não devo e nem poso ter outro objetivo que não seja reencarnar, lutar, e reaprender ...
Pronunciei algumas frases curtas de agradecimento e despedida e ela agitou a pequenina mão num gesto de adeus.
Logo após, alinhavei estas notas, à guisa de reportagem, a fim de pensar nas bênçãos do Espiritismo Evangélico e na necessidade da sua divulgação.

Humberto de Campos
Livro Estante da Vida


ESCRITOR E JORNALISTA DE ALÉM TÚMULO


Que não desfrutamos competência para a arte da redação, é coisa vulgarmente sabida...
Sou o mesmo jornalista desenxabido, sem a ilusão de estar servindo caviar no cardápio das letras, quando apenas dispõe de algum refogado pobre para oferecer aos amigos...
Carregando o carro enxundioso da vida física ou envergando o envoltório mais leve do plano espiritual, meu cérebro é a mesma lamparina de artesão, com que lavro a canivete a preciosa madeira do vernáculo, que tantos filigranam com o buril da inteligência, inflamado a fogo sagrado de inspiração.
Não inculpe, assim, as antenas medianímicas, com relação à minha pobreza intelectual. Se nos exprimimos, na situação de escriba anônimo da verdade, cada vez mais despretensiosamente, creia que nunca é tarde a fim de reconhecer que o jornalista ou o escritor, por mais insignificantes, qual acontece em meu caso, são chamados pela vida a escrever para os outros e não para si mesmos.
E, atingindo semelhante conhecimento de posição, é imperioso anotar o que estamos fazendo com os poderes mágicos do alfabeto.
Escrever, sim, mas escrever com proveito, entendendo-se que a pena é o instrumento da palavra e a palavra edifica e destrói, tanto quanto rebaixa ou santifica.
Isso é o que, em sã consciência, nos sentimos na obrigação de explicar-lhe.
Quanto a estarmos funcionando, no domínio da letra, “tanto tempo depois de morto”, qual proclama você, supomos que isso ocorre à face de caridosa concessão na Misericórdia Divina, de vez que não escondo a alegria de poder trabalhar com as palavras, embora isso, no fundo, deva constituir igualmente uma provação.
Esteja certo, entretanto, de que aspiramos, profundamente, agora, a lidar com as letras, no terreno do espírito, com a cautela de um lavrador que esmerasse em cultivar batatas, depois de muita desilusão com as plantas empregadas na valorização dos entorpecentes. Isso, meu prezado amigo, é o que vamos atualmente procurando aprender e fazer, desejando, porém, que você, ao chegar aqui, venha conseguir coisa melhor.

“Cartas e Crônicas”
pelo Espírito Irmão X (Humberto de Campos)








A VIDA CONTINUA ...


Meu amigo, diz você, em vernáculo precioso, que a crença nos Espíritos desencarnados é característico de miséria intelectual.
Em sua conceituação de garimpeiro da retórica, os problemas do Espiritualismo contemporâneo se resumem a uma exploração de baixa estirpe, alimentada por uma chusma de idiotas, nos quais o sofrimento ou a ignorância galvanizaram o complexo da fé inconsciente.
Com a maior sem-cerimônia deste mundo, assevera você que a convicção dos espiritistas de hoje é uma peste mental, surgida com Allan Kardec, no século passado, e acentua que o pensamento aristocrático na Antigüidade jamais cogitou de semelhante movimentação idealística.
O seu noviciado no assunto é claro em demasia para que nos disponhamos à minuciosa escarificação do pretérito.
Se puder escutar-nos, no entanto, por alguns momentos, não nos meta a ridículo se lembrarmos que a idéia da imortalidade nasceu com a própria razão do cérebro humano.
Não sei se você já leu a história do Egito, mas, ainda mesmo sem a vocação de um Champollion, poderá informar-se de que, há milênios, a nobreza faraônica admitia, sem restrições, a sobrevivência dos mortos, que seriam julgados por um tribunal presidido por Osíris, dentro do mais elevado padrão de justiça.
Os grandes condutores hindus, há muitos séculos, chegavam a dividir o Céu em diversos andares e o Inferno em vários departamentos, segundo as Leis de Manu.
Os chineses, não menos atentos para com a suprema questão, declaravam que os mortos eram recebidos, além do túmulo, nos lugares agradáveis ou atormentados que haviam feito por merecer.
Os romanos viviam em torno dos oráculos e dos feiticeiros, consultando as vozes daqueles que haviam atravessado o leito escuro do rio da morte.
Narra Suetônio que o assassínio de Júlio César foi revelado em sonhos.
Nero, Calígula e Cômodo eram obsidiados célebres, perseguidos por fantasmas.
Marco Aurélio sente-se inspirado por entidades superiores, legando suas reflexões à posteridade.
Na Grécia, os gênios da Filosofia e da Ciência formulam perguntas aos mortos, no recinto dos santuários.
Tales ensina que o mundo é povoado por anjos e demônios.
Sócrates era acompanhado, de perto, por um Espírito-guia, a ditar-lhe conselhos pertinentes à missão que lhe cabia desempenhar.
Na Pérsia, o zoroatrismo acende a crença na lei de retribuição, depois do sepulcro, sob a liderança de Ormuzd e Arimã, os doadores do bem e do mal.
Em todos os círculos da cultura antiga e moderna, sentimos o sulco marcante da espiritualidade na evolução terrestre.
Acima de todas as referências, porém, invocamos o Evangelho, em cuja sublime autoridade você se baseia para menosprezar a verdade.
O Novo Testamento é manancial de Espiritismo divino.
O nascimento de Jesus é anunciado, por vias mediúnicas, não só à pureza de Maria, mas à preocupação de José e à esperança de Isabel, Ana e Simeão.
Em todos os ângulos da passagem do Mestre, há fenômenos de transubstração da matéria, de clariaudiência, de clarividência, de materialização, de cura, de incorporação, de levitação e de glória espiritual.
Em Caná, transforma-se a água em vinho; junto à corrente do Jordão, fazem-se ouvir as vozes diretas do Céu; no Tabor, corporificam-se Espíritos sublimados; em lugares diversos, entidades das trevas apossam-se de médiuns infelizes, entrando em contacto com o Senhor; no lago, o Cristo caminha sobre a massa líquida e, depois do Calvário, surge o Amigo Celeste, diante dos companheiros tomados de assombro, demonstrando a ressurreição individual, além da morte...
Tudo isto é realidade histórica, insofismável, mas você afirma que para crer em Espíritos será necessário trazer complicações na cabeça e chagas na pele.
Não serei eu, “homem-morto” há dezesseis anos, quem terá a coragem de contradizê-lo.
Naturalmente, se este correio de fraternidade chegar às suas mãos, um sorriso cor-de-rosa aparecerá triunfante em suas bochechas felizes; mas não se glorie, excessivamente, na madureza adornada de saúde e dinheiro, porque embora eu deseje a você uma existência no corpo de carne, tão longa quanto a de Matusalém, é provável que você venha para cá, em breves dias, ensaiando o sorriso amarelo do desencanto.

“Pontos e Contos” /
pelo Espírito Irmão X (Humberto de Campos), psicografado por Chico Xavier.


O “OUTRO MUNDO’


VIAGEM AO ESPAÇO


Falas, entusiasticamente, em habitantes de outros mundo, como se não estivéssemos habituados à experiências espírita.
Antes da evolução dos projéteis balísticos, referes-te às criaturas de Marte e Júpiter, Vênus e Saturno, com o  êxtase de uma criança. E pensas em alterações e reviravoltas milagrosas, como se a tela moral do orbe pudesse modificar-se de momento.
Lembra-te, porém, de que a vida estua, vitoriosa, em toda a parte, e de que a própria gota da água é um pequenino mundo, povoado por miríades de seres dos quais o microscópio nos proporciona ampla notícia.
Cada esfera quanto cada paisagem é habitada a seu modo. E todos nós, amigos desencarnados, formulamos votos para que o homem, nosso irmão, continue devassando pacificamente o espaço, surpreendendo novas características de vida no reino cósmico. Nota, entretanto, que há mais de um século os homens que “morreram”chamam, debalde, a atenção dos homens que “vão morrer”. E gritam que a vida continua para lá do sepulcro, que a matéria se gradua em outros estados diferentes daquele pelo qual é conhecida na Terra.
Convidados à verificação da verdade, sábios eminentes como Crookes, Myers, Morselli, Ochorowiez, Aksakof, Lodge, empenham a própria autoridade, fazendo a lume observações e declarações indiscutíveis.
Médiuns consagrados ao bem colaboram na difusão dos novos conhecidos. Home, Eusápia, Esperance, Piper, sem nos reportarmos às irmãs Fox , submetem-se a exigências constantes.
Os espíritos são vistos, ouvidos, apalpados, fotografados e identificados, mas, porque os medianeiros permanecem naturalmente unidos à mensagem, como o violino ao musicista na execução da melodia, cria Richet a grande escapatória com a  metapsíquica. Não obstante a responsabilidade  de sua obra científica, o notável pesquisador constrói com tal sutileza a sua filosofia da dúvida, que a Doutrina Espírita estaria transfigurada simplesmente em vasto laboratório de intermináveis experimentos, não fosse a legião de bravos que lhe sustentam o estandarte de amor e luz, como autênticos vanguardeiros do progresso, junto da humanidade.
Ainda assim, apesar de todos os empeços, avança a evidência do Mundo Espiritual.
Nos países mais cultos do Globo os fenômenos do Evangelho vão sendo revividos, imprimindo conseqüências morais por toda parte. Os assuntos da sobrevivência são reexaminados.
Outros médiuns chegam à sementeira das grandes revelações e o movimento prossegue, anunciando a continuação da vida no Além.
O problema,contudo, é tão fascinante que até mesmo os espíritas, privilegiados do entendimento, manuseiam-lhe os valores como quem lhe desconhece a grandeza. Permanecem na realidade fulgurante, à maneira do homem comum à frente do Sol. À força de recolher-lhe, gratuitamente, a vitalidade e o calor, se esquece de agradecer-lhe a presença.
Não precisa perguntar-nos, assim com esse ar de encantamento, se pode habilitar-se a uma excursão até Vênus ou Marte, em época próxima. Queiras ou não, farás, como nós já fizemos, uma viagem muito mais importante. Mesmo que bebas soros de longevidade, com a geléia real de contrapeso, conforme as usanças do século, apresentarás as tuas despedidas no momento adequado.
Creias ou não creias, conhecerás cidades prodigiosas e ninhos abismais, superlotados de gente que sente e pensa como tu. Não precisarás, para isso, tripular um foguete em velocidade vertiginosa. Virás mesmo na barca do velho Caronte.
Nem alarme, nem propaganda. Para os homens, nossos irmãos na Terra, estarás em silêncio.
Mas teus olhos verdadeiros mostrar-se-ão percucientes por trás da fronte marmórea e a tua voz se levantará, renovada, por cima da boca hirta. Tão logo comece a romagem, dirão no mundo que estás morto.
Pensa nisso para acostumar-te, desde agora, às dificuldades com que te haverás, depois, para seres recebido entre os homens.
De qualquer modo, porém, encontrarás na Doutrina Espírita os recursos necessários à grande preparação. Se respeitada, ela te será precioso passaporte, laboriosamente adquirido, para que te dirijas, tranqüilo, aos domínios maravilhosos que desejas conhecer. E essa circunstância; no caso, é a mais expressiva de todas, porque se podes chegar hoje em carne e osso, a planetas diversos do nosso, a fim de observares o que ‘dos outros para morreres em seguida, amanhã desembarcarás nos planos da Vida Maior, em espírito e verdade, para receberes a que te pertence.


AS RELIGIÕES


Religiões irmanadas

"Comentávamos a conveniência de se irmanarem as religiões, em favor da concórdia do mundo, quando meu amigo Tertuliano da Cunha, desencarnado no Pará, falou entre brejei-ro e sentencioso: – Gente, é necessário pensar nisso com precaução. Idéia religiosa é degrau da verdade e o discernimento varia de cabeça para cabeça. Exaltam vocês a excelência de larga iniciativa, em que os múltiplos templos sejam convocados à integração num plano único de atividade; entretanto, não será muito cedo para semelhante cometi-mento? Porque a pergunta vagueasse no ar, o experiente sertanista piscou os olhos, sorriu malicioso e aduziu: – Isso me faz lembrar curiosa fábula que me foi relatada por velho índio, numa de minhas excursões no Xingu. E contou: – Reza uma lenda amazônica que, certa feita, a onça, muito bem posta, surgiu na selva, imensamente transformada. Ela, que estimava a astúcia e a violência, nas correrias contra animais indefesos, escondia as garras tintas de sangue e dizia acalentar o propósito de reunir todos os bichos no caminho da paz. Declarava haver entendido, enfim, que Deus é o Pai de todas as criaturas e que seria aconselhável que todas o adorassem num só verbo de amor. Confessava os próprios erros. Reconhecia haver abusado da inteligência e da força. Despertara o terror e a desconfiança de todos os companheiros, quando era seu justo desejo granjear-lhes a simpatia e a veneração. Convertera-se, porém, a princípios mais elevados. Queria reverenciar o Supre-mo Senhor, que acendera o Sol, distribuíra a água e criara o arvoredo, animada de inten-ções diferentes. Para isso, convidava os irmãos à unidade. Poderiam, agora, viver todos em perpétua harmonia, porquanto, arrependida dos crimes que cometera, aspirava somente a prestigiar a fé única. Renunciaria ao programa de guerra e dominação. Não mais perse-guiria ou injuriaria a quem quer que fosse. Pretendia simplesmente estabelecer na floresta uma nova ordem, que a todos levasse a se prosternarem perante Deus, honrando a frater-nidade. Solenizando o acontecimento, congraçar-se-ia a família do labirinto verde em grande furna, para manifestações de louvor à Providência Divina. Macacos e cervos, lebres e pacas, tucanos e garças, patos e rãs, que oravam, em liberdade, a seu modo, escu-taram o nobre apelo, mas duvidaram da sinceridade de tão alto discurso. Todavia, apare-ceram serpentes e raposas, aranhas e abutres, amigos incondicionais do ardiloso felídeo, aderindo-lhe ao brilhante projeto. E tamanhos foram os argumentos, que a bicharada mais humilde se comoveu, assentando, por fim, que era justo aceitar-se a proposta feita em nome do Pai Altíssimo. Marcado o dia para a importante assembléia, todos se dirigiram para a loca escolhida, repentinamente transfigurada em santuário de flores. Quando a cerimônia ia a meio caminho, com as raposas servindo de locutoras para entreter os ouvin-tes, as serpentes deitaram silvos estranhos sobre os crentes pacatos, as aranhas teceram es-cura teia nos orifícios do antro, embaçando o ambiente, os abutres entupiram a porta de saída, e a onça cruel, avançou sobre as presas desprevenidas, transformando a reunião em pavoroso repasto... E os bichos que sobraram foram escravizados na sombra, para banquete oportuno... Nosso amigo fez longa pausa e ajuntou: – A união de todos os credos é meta divina para o divino futuro, mas, por enquanto, a Terra ainda está fascinada pelo critério da maioria. Como vemos, é possível trabalhar pela conciliação dos religiosos de todas as procedências; no entanto, segundo anotamos, será preciso enfrentar a onça e os amigos da onça... Onde o melhor caminho para a melhor solução?...
Sorrimos todos, desapontados, mas não houve quem quisesse continuar o exame do assun-to, após a palavra do engraçado e judicioso comentarista".

(Contos desta e doutra Vida, 1964.)







ALLAN KARDEC


HOMENAGEM
Kardec, obrigado!

Kardec, enquanto recebes as homenagens do mundo, pedimos vênia para associar o nosso preito singelo de amor aos cânticos de reconhecimento que te exalçam a obra gigantesca nos domínios da libertação espiritual.
Não nos referimos aqui ao professor emérito que foste, mas ao discípulo de Jesus que possibilitou o levantamento das bases do Espiritismo Cristão, cuja estrutura desafia a passagem do tempo.
Falem outros dos títulos de cultura que te exornavam a personalidade, do prestígio que desfrutavas na esfera da inteligência, do brilho de tua presença nos fastos sociais, da glória que te ilustrava o nome, de vez que todas as referências à tua dignidade pessoal nunca dirão integralmente o exato valor de teus créditos humanos.
Reportar-nos-emos ao amigo fiel do Cristo e da Humanidade, em agradecimento pela coragem e abnegação com que te esqueceste para entregar ao mundo a mensagem da Espiritualidade Superior.
E, rememorando o clima de inquietações e dificuldades em que, a fim de reacender a luz do Evangelho, superaste injúria e sarcasmo, perseguição e calúnia, desejamos expressar-te o carinho e a gratidão de quantos edificaste para a fé na imortalidade e na sabedoria da vida.
O Senhor te engrandeça por todos aqueles que emancipaste das trevas e te faça bendito pelos que se renovaram perante o destino à força de teu verbo e de teu exemplo!...
Diante de ti enfileiram-se, agradecidos e reverentes, os que arrebataste à loucura e ao suicídio com o facho da esperança; os que arrancaste ao labirinto da obsessão com o esclarecimento salvador; os pais desditosos que se viram atormentados por filhos insensíveis e delinqüentes, e os filhos agoniados que se encontram na vala da frustração e do abandono pela irresponsabilidade dos pais em desequilíbrio e que foram reajustados por teus ensinamentos, em torno da reencarnação; os que renasceram em dolorosos conflitos da alma e se reconheceram, por isso, esmagados de angústia nas brenhas da provação, e os quais livraste da demência, apontando-lhes as vidas sucessivas; os que se acharam arrasados de pranto, tateando a lousa na procura dos entes queridos que a morte lhes furtou dos braços ansiosos, e aos quais abriste os horizontes da sobrevivência, insuflando-lhes renovação e paz, na contemplação do futuro; os que soergueste do chão pantanoso do tédio e do desalento, conferindo-lhes, de novo, o anseio de trabalhar e a alegria de viver; os que aprenderam contigo o perdão das ofensas e abençoaram, em prece, aqueles mesmos companheiros de Humanidade que lhes apunhalaram o espírito, a golpes de insulto e de ingratidão; os que te ouviram a palavra fraterna e aceitaram com humildade a injúria e a dor por instrumentos de redenção; e os que desencarnaram incompreendidos ou acusados sem crime, abraçando-te as páginas consoladoras que molharam com as próprias lágrimas...
Todos nós, os que levantaste do pó da inutilidade ou do fel do desencanto para as bênçãos da vida, estamos também diante de ti!...
E, identificando-nos na condição dos teus mais apagados admiradores e como os últimos dos teus mais pobres amigos, comovidamente, em tua festa, nós te rogamos permissão para dizer: Kardec, obrigado!... Muito obrigado!...

** Francisco Cândido Xavier foi renomado médium espírita, conhecido no País e no exterior por seu grande exemplo de vida cristã e por haver recebido dos Espíritos 412 livros doutrinários, através da sua mediunidade psicográfica. A mensagem acima foi ditada pelo Espírito Humberto de Campos (Irmão X) ao médium Chico Xavier e inserida na revista espírita Reformador, da FEB (Federação Espírita Brasileira).




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