SEMEANDO CONHECIMENTO

SEMEANDO CONHECIMENTO... PARA COLHER AMOR, PAZ, ALEGRIA!


APRENDER PARA FAZER MELHOR ! E NÓS PRECISAMOS FAZER UM MUNDO MELHOR. SABEM PORQUE? PORQUE VOLTAREMOS PRA CÁ...

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"MAS, TENDO SIDO SEMEADO, CRESCE." Jesus. (Marcos, 4:32.)


MINHAS PESQUISAS : O TRABALHO DO PLANO ESPIRITUAL

1- MÉDIUNS DA PRÓPRIA VIDA
Acompanhávamos o Assistente, refletindo agora em nossa separação... Achávamos-nos, Hilário e eu, preocupados e comovidos. Ante o Sol renascente, o campo terrestre brilhava em plena manhã clara. Mudos e expectantes, renteamos com um homem do campo manobrando a enxada na defesa do solo.
Áulus apontou-o com a destra e rompeu o silêncio, murmurando:
- Vejam! A mediunidade como instrumentação da vida surge em toda a parte. O lavrador é o médium da colheita, planta é o médium da frutificação e a flor é o médium do perfume. Em todos os lugares, damos e recebemos, filtrando os recursos que nos cercam e moldando-lhes a manifestação, segundo as nossas possibilidades.
Avançávamos e, em breves momentos, víamo-nos defrontados por singela oficina de carpinteiro.
Nosso orientador indicou o operário que aplainava enorme peça e observou:
- Possuímos no artífice o médium de preciosas utilidades. Da devoção com que se consagra ao trabalho, nasce elevada percentagem de reconforto à Civilização.
Não longe, surpreendemos pequena marmoraria, à porta da qual um jovem envergava o escopro, ferindo a pedra.
- Eis o escultor – disse Áulus-, o médium da obra-prima. A Arte é a mediunidade do Belo, em cujas realizações encontramos as sublimes visões do futuro que nos é reservado.
O assistente prosseguiu enunciando importantes considerações sobre o assunto, quando passamos por alguns empregados da higiene pública, removendo o lixo de extensa praça.
- Aqui temos os varredores – disse com respeitoso acento -, valiosos médiuns da limpeza.
Logo após, contornamos um edifício em que funcionava um tribunal de justiça e nosso instrutor adiantou:
- Vemos aqui o fórum onde o juiz é o médium das leis. Todos os homens em suas atividades, profissões e associações são instrumentos das forças a que se devotam. Produzem, de conformidade com os ideais superiores ou inferiores em que se inspiram, atraindo os elementos invisíveis que os  rodeiam, conforme a natureza dos sentimentos e idéias de que se nutrem.
Atingíramos, no entanto, o lar em que Hilário e eu nos dedicaríamos ao socorro de uma criança doente.
Nesse ponto da excursão, o orientador, esperado a distância, separar-se-ia de nós, por fim.
Áulus segui-nos, paternal.
Na intimidade doméstica, um cavalheiro maduro e a esposa tomavam café em companhia de três petizes.
Ladeando a mesa limpa e sóbria, descansava em larga poltrona o menino abatido e pálido que nos recolheria o esforço assistencial.
O instrutor fixou os olhos no quadro expressivo que nos tomava a atenção e exclamou:
- A família consangüínea é uma reunião de almas em processo de evolução, reajuste, aperfeiçoamento ou santificação. O homem e a mulher, abraçando o matrimônio por escola de amor e trabalho, honrando o vínculo dos compromissos que assumem perante a Harmonia Universal, nele se transformam em médiuns da própria vida, responsabilizando-se pela materialização, alongo prazo, dos amigos e dos adversários de ontem, convertidos no santuário doméstico em filhos e irmãos. A paternidade e a maternidade, dignamente vividas no mundo, constituem sacerdócio dos mais altos  para o Espírito reencarnado na Terra, pois, através delas, a regeneração e o progresso se efetuam com segurança e clareza. Além do lar, será difícil identificar uma região onde a mediunidade seja mais espontânea e mais pura, de vez que, na posição de pai e de mãe, o homem e a mulher, realmente credores desses títulos, aprendem a buscar a sublimação de si mesmos na renúncia em favor das almas que, por intermédio deles, se manifestam na condição de filhos.
E, num sopro de bela inspiração, concluiu:
- a família física pode ser comparada a uma reunião de serviço espiritual no espaço e no tempo, cinzelando corações para a imortalidade.
Em seguida, o Assistente leu o mostrador de um relógio e observou:
- Quem caminha com a responsabilidade não deve esquecer as horas.
Retirou-se, precipite, e seguimo-lo até a praça próxima.
Áulus fixou o céu azul em que o Sol como que se desfazia em chuva de ouro quintessenciado, e dispunha-se a enlaçar-nos, quando me percebeu o propósito mais intimo, falando com humildade:
- Faça a prece por nós, André!
Reverente, pedi em voz alta:
- Senhor Jesus!
Faze-nos dignos  daqueles que espalham a verdade e o amor!
Acrescenta os tesouros da sabedoria nas almas que se engrandecem no amparo aos semelhantes.
Ajuda aos que se despreocupam de si mesmos, distribuindo em Teu Nome a esperança e a paz...
Ensina-nos a honrar-te os discípulos fiéis com o respeito e o carinho que lhes devemos.
Extirpa do campo de nossas almas a erva daninha da indisciplina e do orgulho, para  que a simplicidade nos favoreça a renovação.
Não nos deixes confiados à própria cegueira e guia-nos o passo, no rumo daqueles companheiros que se elevam, humilhando-se, e que por serem nobres e grandes, diante de Ti, não se sentem diminuídos, em se fazendo pequeninos, a fim de auxiliar-nos...
Glorifica-os, Senhor, coroando-lhes a fronte com os teus lauréis de luz!...
O orientador devia saber que ele próprio personificava para nós os benfeitores a cuja grandeza nos reportávamos; entretanto, não ousei pronunciar-lhe o nome, tal a veneração que nos merecia.
Terminada a oração, fitei-o de olhos úmidos.
Áulus não disse uma palavra.
Revestido de radiações luminescentes dando-nos a entender que se despedia de nós igualmente em prece, recolheu-nos num só abraço e partiu...
Á maneira de crianças, Hilário e eu, em pranto mudo de reconhecimento, contemplamo-lo, até que se lhe apagou o vulto ao longe.
Lembramo-nos, então, do trabalho que nos aguardava e, louvando o serviço que em toda a parte é a nossa bênção, passamos a socorrer a criança enferma, como quem se incorporava ao grande futuro.
ÚLTIMAS  PÁGINAS - NDM / cap. 30

Eram quase vinte horas, quando estacamos à frente de sóbrio edifício, ladeado por vários veículos.
Muita gente ia e vinha.
Desencarnados, em grande cópia, congregavam-se no recinto e fora dele.
Vigilantes de nosso plano estendiam-se, atenciosos, impedindo o acesso de Espíritos impenitentes ou escarnecedores.
Variados grupos de pessoas ganhavam ingresso à intimidade da casa, mas no pórtico experimentavam a separação de certos Espíritos que as seguiam, Espíritos que não eram simples curiosos ou sofredores, mas blasfemadores e renitentes no mal.
Esses casos, porém, constituíam exceção, porque em maioria o séqüito de irmãos desencarnados se formava de gente agoniada e enferma, tão necessitada de socorro fraterno como os doentes e aflitos que passavam a acompanhar.
Entramos.
Grande mesa, ao centro de vasta sala, encontrava-se rodeada de largo cordão luminoso, de isolamento.
Em derredor, reservava-se ampla área, onde se acomodavam quantos careciam de assistência, encarnados ou não, área essa que se mostrava protegida por faixas de defesa magnética, sob o cuidado cauteloso de guardas pertencentes à nossa esfera de ação.
À frente, na parte oposta à entrada, vários benfeitores espirituais conferenciavam entre si e, junto deles, respeitável senhora ouvia, prestimosa, diversos pacientes.
Apresentava-se a matrona revestida por extenso halo de irradiações opalinas, e, por mais que projeções de substância sombria a buscassem, através das requisições dos sofredores que a ela se dirigiam, conservava a própria aura sempre lúcida, sem que as emissões de fluidos enfermiços lhe pudessem atingir o campo de forças.
Designando-a com a destra, o Assistente informou:
- É a nossa irmã Ambrosina, que, há mais de vinte anos sucessivos, procura oferecer à mediunidade cristã o que possui de melhor na existência. Por amor ao ideal que nos orienta, renunciou às mais singelas alegrias do mundo, inclusive o conforto mais amplo do santuário doméstico, de vez que atravessou a mocidade trabalhando, sem a consolação do casamento.
Ambrosina trazia o semblante quebrantado e rugoso, refletindo, contudo, a paz que lhe vibrava no ser.
Na cabeça, dentre os cabelos grisalhos, salientava-se pequeno funil de luz, à maneira de delicado adorno.
Intrigados, consultamos a experiência de nosso orientador e o esclarecimento não se fez esperar:
- É um aparelho magnético ultra-sensível com que a médium vive em constante contato com
 o responsável pela obra espiritual que por ela se realiza. Pelo tempo de atividade na Causa do Bem e pelos sacrifícios a que se consagrou, Ambrosina recebeu do Plano Superior um mandato de serviço mediúnico, merecendo, por isso, a responsabilidade de mais íntima associação com o instrutor que lhe preside as tarefas. Havendo crescido em influência, viu-se assoberbada por solicitações de múltiplos matizes. Inspirando fé e esperança a quantos se lhe aproximam do sacerdócio de fraternidade e compreensão, é, naturalmente, assediada pelos mais desconcertantes apelos.
- Vive então flagelada por petitórios e súplicas? – indagou Hilário, inevitavelmente curioso.
-  Até certo ponto sim, porque simboliza uma ponte entre dois mundos, entretanto, com a paciência evangélica, sabe ajudar aos outros para que os outros se ajudem, porquanto  não lhe seria possível conseguir a solução para todos os problemas que se lhe apresentam. 
Abeiramo-nos da médium respeitável e modesta e vimo-la pensativa, não obstante o vozerio abafado, em torno.
Não longe, o pensamento conjugado de duas pessoas exteriorizava cenas lamentáveis de um crime em que se haviam embrenhado.
E, percebendo-as, Dona Ambrosina refletia, falando sem palavras, em frases audíveis tão-somente em nosso meio:
- Amados amigos espirituais, que fazer? Identifico nossos irmãos delinqüentes e reconheço-lhes os compromissos... Um homem foi eliminado... Vejo-lhe a agonia retratada na lembrança dos responsáveis... Que estarão buscando aqui nossos infortunados companheiros, foragidos da justiça terrestre?
Reparávamos que a médium temia perder a harmonia vibratória que lhe era peculiar.
Não desejava absorver-se em qualquer preocupação acerca dos visitantes mencionados.
Foi então que um dos mentores presentes se aproximou e tranqüilizou-a:
- Ambrosina, não receie. Acalme-se. É preciso que a aflição não nos perturbe. Acostume-
se a ver nossos irmãos infelizes na condição de criaturas dignas de piedade. Lembre-se de que nos achamos aqui para auxiliar, e o remédio não foi criado pelos sãos. Compadeça-se, sustentando o próprio equilíbrio! Somos devedores de amor e respeito uns para com os outros e, quanto mais desventurados, de tanto mais auxílio necessitamos. É indispensável receber nossos irmãos comprometidos com o mal, como enfermos que nos reclamam carinho.
A médium aquietou-se. Passou a conversar naturalmente com os freqüentadores da casa.  Aqui, alguém desejava socorro para o coração atormentado ou pedia cooperação em benefício de parentes menos felizes. Ali, suplicava-se concurso fraterno para doentes em desespero, mais além, surgiam requisições de trabalho assistencial. Dona Ambrosina consolava e prometia. Quando Gabriel, o orientador, chegasse, o assunto lhe seria exposto. Decerto, traria a colaboração necessária.
Não decorreram muitos minutos e Gabriel, o mais categorizado mentor da casa, deu entrada no recinto, acompanhado por grande séquito de amigos.
Acomodaram-se em palestra afetiva à frente da mesa. Aí reunidas, as entidades de vida mental mais nobre estabeleciam naturalmente larga faixa de luz incessível às sombras que senhoreavam a maioria dos encarnados e desencarnados da grande reunião.
Gabriel e os assessores abraçaram-nos generosos.
Dir-se-ia partilhávamos brilhante festividade, tão vivo se mostrava o júbilo dos instrutores e funcionários espirituais da instituição. O trato com doentes e sofredores dos dois planos não lhes roubava a esperança, a paz, o otimismo... Compareciam ali, com o abnegado e culto orientador, a quem Áulus não regateava os seus testemunhos de veneração, médicos e professores, enfermeiros e auxiliares desencarnados, prontos para servir na lavoura do bem.
Irradiavam tanta beleza e alegria, que Hilário, tão deslumbrado quanto eu, retornou às perguntas que lhe caracterizavam o temperamento juvenil.
Aqueles amigos, considerando as mensagens de luz e simpatia que projetavam de si mesmos, seriam altos embaixadores da Divina Providência? Desfrutavam, acaso, o convívio dos santos? Viveriam em comunhão pessoal com o Cristo? Teriam alcançado a condição de seres impecáveis?
O Assistente sorriu bem-humorado, e esclareceu:
- Nada disso. Com todo o apreço que lhes devemos, é preciso considerar que são vanguardeiros do progresso, sem serem infalíveis. São grandes almas em abençoado processo de sublimação, credoras de nossa reverência pelo grau de elevação que já conquistaram, contudo, são Espíritos ainda ligados à Humanidade terrena e em cujo seio se corporificarão, de novo, no futuro, através do instituto universal da reencarnação, para o desempenho de preciosas tarefas.
- No entanto, à frente da assembléia de criaturas torturadas que observamos, são eles luminares isentos de errar?
- Não – acentuou Áulus, compreensivo.- Não podemos exigir deles qualidades que somente transparecem dos Espíritos que já atingiram a sublimação absoluta. São altos expoentes de fraternidade e conhecimento superior, porém, guardam ainda consigo probabilidades naturais de desacerto. Primam pela boa vontade, pela cultura e pelo próprio sacrifício no auxílio incessante aos companheiros desencarnados, mas podem ser vítimas de equívocos, que se apressam, contudo, a corrigir, sem a vaidade que, em muitas circunstâncias, prejudica os doutos da Terra. Aqui temos, por exemplo, variados médicos sem o envoltório da experiência física. Apesar de excelentes profissionais, devotados e beneméritos na missão que esposaram, não seria, contudo, admissível fossem promovidos, de um instante para outro, da ciência fragmentária do mundo à sabedoria integral. Com a imersão nas realidades da morte, adquirem novas visões da vida, alargam-se-lhes os horizontes da observação.Compreendem que algo sabem, mas esse algo é muito pouco daquilo que lhes compete saber. Entregam-se, desse modo, a preciosas cruzadas de serviço e, dentro delas, ajudam e aprendem. Trabalhadores de outros círculos da experiência humana encontram-se no mesmo regime. Auxiliam e são auxiliados. Não poderia ser de outro modo. Sabemos que o milagre não existe como derrogação de leis da Natureza. Somos irmãos uns dos outros, evolvendo juntos, em processo de interdependência, no qual se destaca o esforço individual.
Nessa altura do esclarecimento que registrávamos, felizes, Dona Ambrosina sentara-se ao lado do diretor da sessão, um homem de cabelos grisalhos e fisionomia simpática que havia organizado a mesa orientadora dos trabalhos com catorze pessoas, em que transpareciam a simplicidade e a fé.
Enquanto Gabriel se postava ao lado da médium, aplicando-lhe passes de longo circuito, como a prepará-la com segurança para as atividades da noite, o condutor da reunião pronunciou sentida prece.
Em seguida, foi lido um texto edificante de livro doutrinário, acompanhado por breve anotação evangélica, em cuja escolha preponderou a influência de Gabriel sobre o orientador da casa.
Da leitura global distinguia-se a paciência por tema vivo.
E, realmente,a assembléia, examinada no todo mostrava-se flagelada de problemas inquietantes, reclamando a chave da conformação para alcançar o reequilíbrio.
Dezenas e dezenas de pessoas aglomeravam-se, em derredor da mesa, exibindo atribulações e dificuldades.
Estranhas formas-pensamentos surgiam de grupo a grupo, denunciando-lhes a posição mental.
Aqui, dardos de preocupação, estiletes de amargura, nevoeiros de lágrimas... Acolá, obsessores enquistados no desânimo ou no desespero, entre agressivos propósitos de vingança, agravados pelo temor do desconhecido...
Desencarnados em grande número suspiravam pelo céu, enquanto outros receavam o inferno, desajustados pela falsa educação religiosa recolhida no plano terrestre.
Vários amigos espirituais, junto aos componentes da mesa diretora, passaram a ajudá-los na predicação doutrinária, com bases no ponto evangélico da noite, espalhando, através de comentários bem feitos, estímulos e consolos.
Fichas individuais não eram declinadas, entretanto percebíamos claramente que as pregações eram arremessadas ao ar, com endereço exato. Aqui, levantavam um coração caído em desalento, ali, advertiam consciências descuidadas, mais além, renovavam o perdão, a fé, a caridade, a esperança...
Não faltavam quadros impressionantes de Espíritos perseguidores, que procuravam hipnotizar as próprias vítimas, precipitando-as no sono provocado, para que não tomassem conhecimento das mensagens transformadoras, ali veiculadas pelo verbo construtivo.
Muitos médiuns funcionavam no recinto, colaborando em favor dos serviços de ordem geral a se processarem harmoniosos, todavia, observávamos que Dona Ambrosina era o centro da confiança de todos e o objeto de todas as atenções.
Figurava-se, ali, o coração do santuário, dando e recebendo, ponto vivo de silenciosa junção entre os habitantes de duas esferas distintas.
Junto dela, em oração, foram colocadas numerosas tiras de papel. Eram requerimentos, anseios e súplicas do povo, recorrendo à proteção do Além, nas aflições e aperturas da existência. Cada folha era um petitório agoniado, um apelo comovedor.
Entre Dona Ambrosina e Gabriel destacava-se agora extensa faixa elástica de luz azulínea, e amigos espirituais, prestos na solidariedade cristã, nela entravam e, um a um, tomavam o braço da medianeira, depois de lhe influenciarem os centros corticais, atendendo, tanto quanto possível, aos problemas ali expostos.
Antes, porém, de começarem o trabalho de resposta às questões formuladas, um grande espelho fluídico foi situado junto da médium, por trabalhadores espirituais da instituição e, na face dele, com espantosa rapidez, cada pessoa ausente, nomeada nas petições da noite, surgia ante o exame dos benfeitores que, a distância, contemplavam-lhe a imagem, recolhiam-lhe os pensamentos e especificavam-lhes as necessidades, oferecendo a solução possível aos pedidos feitos.
Enquanto cultos companheiros de fé ensinavam o caminho da pacificação interior, sob a inspiração de mentores de nosso plano, Dona Ambrosina, sob o comando de instrutores que se revezavam no serviço assistencial, psicografava sem descanso.
Equilibrara-se o trabalho no recinto e, com isso, entendemos que havia reaparecido ocasião adequada para as nossas indagações.
Hilário foi o primeiro na inquirição que não conseguíamos sopitar, e, indicando o enorme laço fluídico que ligava Dona Ambrosina ao orientador que lhe presidia a missão, perguntou:
- Que significa essa faixa, através da qual a médium e o dirigente se associam tão intimamente um ao outro?
Áulus, com a tolerância e a benevolência habituais, elucidou:
- O desenvolvimento mais amplo das faculdades medianímicas exige essa providência.
Ouvindo e vendo, no quadro de vibrações que transcendem o campo sensório comum, Ambrosina não pode estar à mercê de todas as solicitações da esfera espiritual, sob pena de perder seu equilíbrio. Quando o médium se evidencia no serviço do bem, pela boa-vontade, pelo estudo e pela compreensão das responsabilidades de que se encontra investido, recebe apoio mais imediato de amigo espiritual experiente e sábio, que passa a guiar-lhe a peregrinação na Terra, governando-lhe as forças. No caso presente, Gabriel é o perfeito controlador das energias de nossa amiga, que só estabelece contato com o plano espiritual de conformidade com a supervisão dele.
- Quer dizer que para efetuarmos uma comunicação por intermédio da senhora, sob nosso estudo será preciso sintonizar com ela e o orientador ao mesmo tempo?
- Justamente- respondeu Áulus satisfeito. Um mandato mediúnico reclama ordem, segurança, eficiência. Uma delegação de autoridade humana envolve concessão de recursos da parte de quem a outorga.Não se pedirá cooperação sistemática do médium, sem oferecer-lhe as necessárias garantias.
- Isso, porém, não dificultará o processo de intercâmbio?
- De modo algum. Perante as necessidades respeitáveis e compreensíveis, com perspectivas de real aproveitamento, o próprio Gabriel se incumbe de tudo facilitar, ajudando aos comunicantes, tanto quanto auxilia a médium.
Assinalando a perfeita comunhão entre o mentor e a tutelada, indaguei por minha vez se uma associação daquela ordem não estaria vinculada a compromissos assumidos pelos médiuns, antes da reencarnação, ao que Áulus respondeu, prestimoso:
- Ah! sim, semelhantes serviços não se efetuam sem programa. O acaso é uma palavra inventada pelos homens para disfarçar o menor esforço. Gabriel e Ambrosina planejaram a experiência atual, muito antes que ela se envolvesse nos densos fluidos da vida física.
- E por que dizer – continuei, lembrando ao Assistente as suas próprias palavras - << quando o médium se destaca no serviço do bem recebe apoio de um amigo espiritual >>, se esse amigo espiritual e o médium já se encontram irmanados um ao outro, desde muito tempo?
O instrutor fitou-me de frente e falou:
- Em qualquer cometimento, não seria lícito desvalorizar a liberdade de ação. Ambrosina comprometeu-se; isso, porém, não a impediria de cancelar o contrato de serviço, não obstante reconhecer-lhe a excelência e a magnitude. Poderia desejar imprimir novo rumo ao seu idealismo de mulher, embora adiando realizações sem as quais não se erguerá livremente no mundo. Os orientadores da Espiritualidade procuram companheiros, não escravos. O médium digno da missão do auxílio não é um animal subjugado à canga, mas sim um irmão da Humanidade e um aspirante à Sabedoria. Deve trabalhar e estudar por amor... É por isso que muitos começam a jornada e recuam. Livres para decidir quanto ao próprio destino, muitas vezes preferem estagiar com indesejáveis companhias, caindo em temíveis fascinações. Iniciam-se com entusiasmo na obra do bem, entretanto, em muitas circunstâncias dão ouvidos a elementos corruptores que os visitam pelas brechas da invigilância. E, assim, tropeçam e se estiram na cupidez, na preguiça, no personalismo destruidor ou na sexualidade delinqüente, transformando-se em joguetes dos adversários da luz, que lhes vampirizam as forças, aniquilando-lhes as melhores possibilidades. Isso é da experiência de todos os tempos e de todos os dias...
- Sim,sim... – concordei – mas não seria possível aos mentores espirituais a movimentação de medidas capazes de pôr cobro aos abusos, quando os abusos aparecem?
Meu interlocutor sorriu e obtemperou:
- Cada consciência marcha por si, apesar de serem numerosos os mestres do caminho.
Devemos a nós mesmos a derrota ou a vitória. Almas e coletividades adquirem as experiências com que se redimem ou se elevam, ao preço do próprio esforço. O homem constrói, destrói e reconstrói destinos, como a Humanidade faz e desfaz civilizações, buscando a melhor direção para responder aos chamamentos de Deus. É por isso que pesadas tribulações vagueiam no mundo, tais como a enfermidade e a aflição, a guerra e a decadência, despertando as almas para o discernimento justo. Cada qual vive no quadro das próprias conquistas ou dos próprios débitos. Assim considerando, vemos no Planeta milhões de criaturas sob as teias da mediunidade torturante, milhares detendo possibilidades psíquicas apreciáveis, muitas tentando o desenvolvimento dos recursos dessa natureza e raras obtendo um mandato mediúnico para o trabalho da fraternidade e da luz. E, segundo reconhecemos, a mediunidade sublimada é serviço que devemos edificar, ainda que essa gloriosa aquisição nos custe muitos séculos.
- Mas, ainda num mandato mediúnico, o tarefeiro da condição de Dona Ambrosina pode cair? 
- Como não? – acentuou o interlocutor – um mandato é uma delegação de poder obtida pelo crédito moral, sem ser um atestado de santificação. Com maiores ou menores responsabilidades, é imprescindível não esquecer nossas obrigações perante a Lei Divina, a fim de consolidar os nossos títulos de merecimento na vida eterna.
E, com significativo tom de voz, acrescentou:
- Recordemos a palavra do Senhor: “muito se pedirá de quem muito recebeu”.
A conversação, à margem do serviço, oferecera-me suficiente material de meditação.
As valiosas anotações do Assistente, em se reportando à mediunidade, impeliam-me a silenciar e refletir.
Isso, porém, não acontecia com o meu companheiro, porque Hilário, fixando o espelho fluídico em que os benfeitores do nosso plano recolhiam informações rápidas para respostas às consultas, solicitou de nosso orientador alguma definição sobre o delicado instrumento, que funcionava às mil maravilhas, mostrando quadros com pessoas angustiadas ou enfermas, de momento a momento.
- É um televisor, manobrado com recursos de nossa esfera.
- Entretanto – inquiriu Hilário, minucioso - , a face do espelho mostra o veículo de carne ou a própria alma?
- A própria alma. Pelo exame do perispírito, alinham-se avisos e conclusões. Muitas vezes, é imprescindível analisar certos casos que nos são apresentados, de modo meticuloso; todavia, recolhendo apelos em massa, mobilizamos meios de atender a distância.  Para isso, trabalhadores das nossas linhas de atividade são distribuídos por diversas regiões, onde captam as imagens de acordo  com os pedidos que nos são endereçados, sintonizando as emissões com o aparelho receptor sob nossa vista. A televisão, que começa a estender-se no mundo, pode oferecer uma idéia imediata de semelhante serviço, salientando-se que entre nós essas transmissões são muito mais simples, exatas e instantâneas.   
Meu colega refletiu alguns momentos, como se grave problema lhe aflorasse à cabeça, e considerou:
- O que vemos sugere importantes ponderações. Imaginemos que alguém expeça determinada solicitação ao mandato mediúnico, sujeita a certa demora entre a requisição e a resposta... Figuremos que o interessado, situado longe, desencarne e permaneça, em Espírito, como acontece em muitas ocasiões, num aposento doméstico ou em algum leito de hospital, embora já liberado do corpo físico... Num caso desses, a resposta dos benfeitores espirituais será fornecida como se fosse dedicada ao encarnado autêntico?
- Isso pode ocorrer em várias circunstâncias – acrescentou o Assistente - , de vez que não nos achamos num serviço automático ou milagroso. Agimos com espírito de cooperação e boa vontade, dependendo o êxito do auxílio mútuo, porque uma só peça não solucionará os problemas da máquina inteira. Funcionários que recolhem anotações reclamam o concurso eficiente daqueles que as transmitem. Muita vez, a longa distância, a criatura em sofrimento é mostrada aos que se propõem socorrê-la e os samaritanos da fraternidade, em virtude do número habitualmente enorme dos aflitos, com a obrigação de ajudar, de improviso, não podem, de momento, ajuizar se estão recebendo informes acerca de um encarnado ou de um desencarnado, mormente quando não se acham laureados por vastíssima experiência. Em certas situações, os necessitados exigem auxílio intensivo em pequenina fração de minuto. Assim sendo, qualquer equívoco desse jaez é perfeitamente admissível.
- Mas,isso – tornou Hilário – não seria perturbar o serviço da fé? Se fôssemos nós, os encarnados, não julgaríamos tal acontecimento como sendo inútil resposta enviada a um morto?
- Não, Hilário, não podemos situar a questão nestes termos. Quem busca sinceramente a fé, encontra o prêmio da compreensão clara e pacífica das coisas, sem prejudicar-se diante de contradições superficiais e aparentes.
Nesse ponto do diálogo, o Assistente meditou um instante e observou:
- Mas se os consulentes são exemplares de leviandade e má-fé, abeirando-se do trabalho mediúnico no propósito deliberado de estabelecer a descrença e a secura espiritual, semelhantes resultados, quando se verificam, servem para eles como justa colheita dos espinhos que plantam, de vez que abusam da generosidade e da paciência dos Espíritos amigos e recolhem para si mesmos a negação e a tortura mental. Quem procura a fonte límpida, arremessando-lhe lodo à face, não pode, em seguida, obter a água pura.
Hilário, satisfeito, silenciou.
MANDATO  MEDIÚNICO - NDM / cap. 16

2- O TRABALHO DO PLANO ESPIRITUAL JUNTO AOS MÉDIUNS
- Conheçamos a nossa equipagem mediúnica – disse o orientador.
E, detendo-se ao pé do companheiro encarnado que regia os trabalhos, apresentou:
- Este é o nosso irmão Raul Silva, que dirige o núcleo com sincera devoção à fraternidade. Correto no desempenho dos seus deveres e ardoroso na fé, consegue equilibrar o grupo na onda de compreensão e boa-vontade que lhe é característica. Pelo amor com que se desincumbe da tarefa, é instrumento fiel dos benfeitores desencarnados, que lhe identificam na mente um espelho cristalino, retratando-lhes as instruções.
Logo após, caminhou na direção de uma senhora muito jovem e, designando-a, explicou:
- Eis nossa irmã Eugênia, médium de grande docilidade, que promete brilhante futuro na expansão do bem. Excelente órgão de transmissão,coopera com eficiência na ajuda aos desencarnados em desequilíbrio. Intuição clara, aliada a distinção moral, tem a vantagem de conservar-se consciente, nos serviços de intercâmbio, beneficiando-nos a ação.
Quase rente, parou à esquerda de um rapaz de seus trinta anos presumíveis e informou:
- Aqui temos nosso amigo Anélio Araújo. Vem conquistando gradativo progresso na clarividência, na clariaudiência e na psicografia.
Em seguida, abeirou-se de um cavalheiro simpático e notificou:
- Este é o nosso colaborador Antônio Castro, moço bem-intencionado e senhor de valiosas possibilidades em nossas atividades de permuta. Sonâmbulo, no entanto, é de uma passividade que nos requer grande vigilância. Desdobra-se com facilidade, levando a efeito preciosas tarefas de cooperação conosco, mas ainda necessita de maiores estudos e mais amplas experiências para expressar-se com segurança, acerca das próprias observações. Por vezes, comporta-se, fora da matéria densa, à maneira de uma criança, comprometendo-nos a ação. Quando empresta o veículo a entidades dementes ou sofredoras, reclama-nos cautela, porquanto quase sempre deixa o corpo à mercê dos comunicantes, quando lhe compete o dever de ajudar-nos na contenção deles, a fim de que o nosso tentame de fraternidade não lhe traga prejuízo à organização física. Será, porém, valioso auxiliar em nossos estudos.
Movimentando-se algo mais, o Assistente estacou diante de respeitável senhora, que se mantinha em fervorosa prece, e exclamou:
- Apresento-lhes agora nossa irmã Celina, devotada companheira de nosso ministério espiritual. Já atravessou meio século de existência física, conquistando significativas vitórias em suas batalhas morais. Viúva, há quase vinte anos, dedicou-se aos filhos, com admirável denodo, varando estradas espinhosas e dias escuros de renunciação. Suportou heroicamente o assédio de compactas legiões de ignorância e miséria que lhe rodeavam o esposo, com quem se consorciara em tarefa de sacrifício. Conheceu, de perto, a perseguição de gênios infernais a que não se rendeu e, lutando, por muitos anos, para atender de modo irrepreensível às obrigações que o mundo lhe assinalava, acrisolou as faculdades medianímicas, aperfeiçoando-as nas chamas do sofrimento moral, como se aprimoram as peças de ferro sob a ação do fogo e da bigorna. Ela não é simples instrumento de fenômenos psíquicos. É abnegada servidora na construção de valores do espírito. A clarividência e a clariaudiência, a incorporação sonambúlica e o desdobramento da personalidade são estados em que ingressa, na mesma espontaneidade com que respira, guardando noção de suas responsabilidades e representando, por isso, valiosa colaboradora de nossas realizações.  Diligente e humilde, encontrou na plantação do amor fraterno a sua maior alegria e, repartindo o tempo entre as obrigações e os estudos edificantes, transformou-se num acumulador espiritual de energias benéficas, assimilando elevadas correntes mentais, com o que se faz menos acessível às forças da sombra.
Realmente, ao lado da irmã sob nossa vista, fruíamos deliciosa sensação de paz e reconforto.
Provavelmente fascinado pela onda de alegria indefinível em que nos banhávamos, Hilário indagou:
- Se extraíssemos agora uma ficha psicoscópica de dona Celina, a posição dela, como a estamos registrando, seria devidamente caracterizada?
- Perfeitamente – elucidou Áulus, de pronto - ; assinalar-lhe-ia as emanações fluídicas de bondade e compreensão, fé e bom ânimo. Assim como a Ciência na Terra consegue catalogar os elementos químicos que entram nas formações de matéria densa, em nosso campo de matéria rarefeita é possível analisar o tipo de forças sutis que dimanam de cada ser. Mais tarde, o homem poderá examinar uma emissão de otimismo ou de confiança, de tristeza ou desesperação e fixar-lhes a densidade e os limites, como já pode separar e estudar as radiações do átomo de urânio. Os princípios mentais são mensuráveis e merecerão no porvir excepcionais atenções, entre os homens, qual acontece na atualidade com os fotônios, estudados pelos cientistas que se empenham em decifrar a constituição específica da luz.
Depois de ligeiro intervalo, o Assistente aduziu:
- Uma ficha psicoscópica, sobretudo, determina a natureza de nossos pensamentos e, através de semelhante auscultação, é fácil ajuizar dos nossos méritos ou das nossas necessidades.
Logo após, nosso orientador convocou-nos a exame detido, junto ao campo encefálico da irmã Celina, acentuando:
- Em todos os processos medianímicos, não podemos esquecer a máquina cerebral como órgão de manifestação da mente. Decerto, já possuem conhecimentos adequados em torno do aparelhamento orgânico, dispensando-nos a atenção em particularidades técnicas sobre o vaso carnal.
E afagando-lhe a cabeça pintalgada de cabelos brancos, acrescentou:
- Bastar-nos-á sucinto exame da vida intracraniana, onde estão assentadas as chaves de comunicação entre o mundo mental e o mundo físico.
Centralizando a atenção, através de pequenina lente que Áulus nos estendeu, o cérebro de nossa amiga pareceu-nos poderosa estação radiofônica, reunindo milhares de antenas e condutos, resistências e ligações de tamanho microscópico, à disposição das células especializadas em serviços diversos, a funcionarem como detectores e estimulantes, transformadores e ampliadores da sensação e da idéia, cujas vibrações fulguravam aí dentro como raios incessantes, iluminando um firmamento minúsculo. 
O Assistente observou conosco aquele precioso labirinto, em que a epífise brilhava como pequenino sol azul, e falou:
- Não nos convém relacionar minudências relativas ao cérebro e ao sistema nervoso em geral, com as quais se encontram vocês familiarizados  nos conhecimentos humanos comuns.
Nesse instante, reparei admirado os feixes de associação entre a células corticais, vibrando com a passagem do fluxo magnético do pensamento.
- Recordemos – prosseguiu o instrutor – que o delicado aparelho encefálico reúne milhões de células, que desempenham funções particulares, quais sejam as dos trabalhadores em fila hierárquica, na harmoniosa estrutura de um Estado.
E, enumerando determinadas regiões, trecho a trecho, daquele reino pensante, declarou:
- Não precisaremos alongar digressões. As experiências adquiridas pela alma constituem maravilhosas sínteses de percepção e sensibilidade, na condição de Espíritos libertos em que nos encontramos, mas especificam-se no equipamento de matéria densa como núcleos de controle das manifestações da individualidade, perfeitamente analisáveis. É assim que a alma encarnada possui no cérebro físico os centros especiais que governam a cabeça, o rosto, os olhos, os ouvidos e os membros, em conjunto com os centros da fala, da linguagem, da visão, da audição, da memória, da escrita, do paladar, da deglutição, do tato, do olfato, do registro de calor e frio, da dor, do equilíbrio muscular, da comunhão com os valores internos da mente, da ligação com o mundo exterior, da imaginação, do gosto estético, dos variados estímulos artísticos e tantos outros quantas sejam as aquisições de experiências entesouradas pelo ser, que conquista a própria individualidade, passo a passo e esforço a esforço, enaltecendo-a pelo trabalho constante para a sublimação integral, à face de todas as vias de progresso e aprimoramento que a terra lhe possa oferecer.
Breve pausa surgiu espontânea.
E porque Hilário e eu não ousássemos interferir, o Assistente continuou:
- Não podemos realizar qualquer estudo de faculdades medianímicas, sem o estudo da personalidade. Considero, assim, de extrema importância a apreciação dos centros cerebrais, que representam bases de operação do pensamento e da vontade, que influem de modo compreensível em todos os fenômenos mediúnicos, desde a intuição pura à materialização objetiva. Esses recursos, que merecem a defesa e o auxílio das entidades sábias e benevolentes, em suas tarefas de amor e sacrifício junto dos homens, quando os medianeiros se sustentam no ideal superior da bondade e do serviço ao próximo, em muitas ocasiões podem ser ocupados por entidades inferiores ou animalizadas, em lastimáveis processos de obsessão.
- Mas – interpôs Hilário, judicioso - , diante de um campo cerebral tão iluminado quanto o de nossa irmã Celina, será lícito aceitar a possibilidade de invasão dele por parte de Inteligências menos evolvidas? Será cabível semelhante retrocesso?
- Não podemos olvidar – considerou o Assistente – que Celina se encontra encarnada numa prova de longo curso e que , nos encargos de aprendiz, ainda se encontra muito longe de terminar a lição.
Meditou um momento e filosofou bem-humorado:
- Numa viagem de cem léguas podem ocorrer muitas surpresas no derradeiro quilômetro do caminho.
Logo após, colocando a destra paternal sobre a fronte da médium, prosseguiu:
- Nossa irmã vem atravessando os seus testemunhos de boa-vontade, fé viva, caridade e paciência. Tanto quanto nós, ainda não possui plena quitação com o passado. Somos vasta legião de combatentes em vias de vencer os inimigos que nos povoam a fortaleza íntima ou o mundo de nós mesmos, inimigos simbolizados em nossos velhos hábitos de convívio com a natureza inferior, a nos colocarem em sintonia com os habitantes das sombras, evidentemente perigosos ao nosso equilíbrio. Se nossa amiga Celina, quanto qualquer de nós, abandonar a disciplina a que somos constrangidos para manter a boa forma na recepção da luz, rendendo-se às sugestões da vaidade ou do desânimo, que costumamos fantasiar como sendo direitos adquiridos ou injustificável desencanto, decerto sofrerá o assédio de elementos destrutivos que lhe perturbarão a nobre experiência atual de subida. Muitos médiuns se arrojam a prejuízos dessa ordem. Depois de ensaios promissores e começo brilhante, acreditam-se donos de recursos espirituais que lhes não pertencem ou temem as aflições prolongadas da marcha e recolhem-se à inutilidade, descendo de nível moral ou conchegando-se a improdutivo repouso, porquanto retomam inevitavelmente a cultura dos impulsos primitivos que o trabalho incessante no bem os induziria a olvidar.
E sorrindo:
- Ainda não chegamos à vitória suprema sobre nós mesmos. Achamo-nos na condição do solo terrestre, que não prescinde do arado protetor ou da enxada prestimosa, a fim de produzir. Sem os instrumentos do trabalho e da luta, aperfeiçoando-nos as possibilidades, estaríamos permanentemente ameaçados pela erva daninha que mais se alastra e se afirma, tanto quanto melhor é a qualidade do trato de terra em abandono.
Fitando-nos, de frente, como a recordar o peso das responsabilidades de que nos investíamos, completou:
- Nossas realizações espirituais do presente são pequeninas réstias de claridade sobre as pirâmides de sombra do nosso passado. È imprescindível muita cautela com as sementeiras do bem para que a ventania do mal não as arrase. È por isso que a tarefa mediúnica, examinada como instrumentação para a obra das Inteligências superiores, não é tão fácil de ser conduzida a bom termo, de vez que, contra o canal ainda frágil que se oferece à passagem da luz, acometem as ondas pesadas de treva da ignorância, a se agitarem, compactas, ao nosso derredor.
Calou-se o Assistente. Dir-se-ia que ele também agora se ligava ao campo magnético dos amigos em silêncio, para o trabalho da reunião prestes a começar.
EQUIPAGEM  MEDIÚNICA - NDM / cap. 03
Faltavam apenas dois minutos para as vinte horas, quando o dirigente espiritual mais responsável deu entrada no pequeno recinto. Nosso orientador articulou a apresentação. O Irmão Clementino abraçou-nos acolhedor. A casa pertencia-nos a todos, explicou sorridente. Estivéssemos, pois, à vontade, na tarefa de que nos achávamos investidos. A essa altura, diversas entidades do nosso plano colocaram-se junto dos médiuns que estariam de serviço. Clementino avançou em direção de Raul Silva, perto de quem se postou em muda reflexão.
Logo após, Áulus convidou-me ao psicoscópio e, graduando-o sob nova modalidade, recomendou-nos acurado exame. Foquei os companheiros encarnados em concentração mental, identificando-os sob aspecto diferente. Dessa vez, os veículos físicos apareciam quais se fossem correntes eletromagnéticas em elevada tensão.
O sistema nervoso, os núcleos glandulares e os plexos emitiam luminescência particular. E, justapondo-se ao cérebro, a mente surgia como esfera de luz característica, oferecendo em cada companheiro determinado potencial de radiação.
Assinalando-nos a curiosidade, o Assistente explicou:
- Em qualquer estudo mediúnico, não podemos esquecer que a individualidade espiritual, na carne, mora na cidadela atômica do corpo, formado por recursos tomados de empréstimo ao ambiente do mundo. Sangue, encéfalo, nervos, ossos, pele e músculos representam materiais que se aglutinam entre si para a manifestação transitória da alma, na Terra, constituindo-lhe vestimenta temporária, segundo as condições em que a mente se acha.
Nesse instante, o irmão Clementino pousou a destra na fronte do amigo que comandava a assembléia, mostrando-se-nos mais humanizado, quase obscuro.
- O benfeitor espiritual que ora nos dirige – acentuou o nosso instrutor – afigura-se-nos mais pesado porque amorteceu o elevado tom vibratório em que respira habitualmente, descendo à posição de Raul, tanto quanto lhe é possível, para benefício do trabalho começante. Influencia agora a vida cerebral do condutor da casa, à maneira dum musicista emérito manobrando, respeitoso, um violino de alto valor, do qual conhece a firmeza e a harmonia.
Notamos que a cabeça venerável de Clementino passou a emitir raios fulgurantes, ao mesmo tempo que o cérebro de Silva, sob os dedos do benfeitor, se nimbava de luminosidade intensa, embora diversa. O mentor desencarnado levantou a voz comovente, suplicando a Bênção Divina com expressões que nos eram familiares, expressões essas que Silva transmitiu igualmente em alta voz, imprimindo-lhes variações.  Com a emotividade que nos invadia a todos, brando silêncio se interpôs, durante rápidos minutos. Fios de luz brilhante ligavam os componentes da mesa, dando-nos a perceber que a prece os reunia fortemente entre si.
Terminada a oração, acerquei-me de Silva. Desejava investigar mais a fundo as impressões que lhe assaltavam o campo físico, e observei-lhe, então, todo o busto, inclusive braços e mãos, sob vigorosa onda de força, a eriçar-lhe a pele, num fenômeno de doce excitação, como que “agradável calafrio”. Essa onda de força descansava sobre o plexo solar, onde se transformava em luminoso estímulo, que se estendia pelos nervos até o cérebro, do qual se derramava pela boca, em forma de palavras.
Acompanhando-me a análise, o Assistente explicou:
- O jacto de forças mentais do irmão Clementino atuou sobre a organização psíquica de Silva, como a corrente dirigida para a lâmpada elétrica. Apoiando-se no plexo solar, elevou-se ao sistema neuro-cerebrino, como a energia elétrica da usina emissora que, atingindo a lâmpada, se espalha no filamento incandescente, produzindo o fenômeno da luz.
- E o problema da voltagem? – indaguei, curioso.
- Não foi esquecido. Clementino graduou o pensamento e a expressão com a capacidade do nosso Raul e do ambiente que o cerca, ajustando-se-lhes às possibilidades, tanto quanto o técnico de eletricidade controla a projeção de energia, segundo a rede dos elementos receptivos.
E sorrindo:
- Cada vaso recebe de conformidade com a estrutura que lhe é própria.
Os confrontos de Áulus sugeriam belas indagações. A ligação elétrica gera luz na lâmpada. E ali? O contacto espiritual, decerto, segundo inferíamos, improvisava forças igualmente a se derramarem do cérebro e da boca de Silva, na feição de palavras e raios luminosos...
O instrutor percebeu-nos a muda inquirição e apressou-se em aclarar:
- A lâmpada em cujo bojo se faz luz arroja de si mesma os fotônios que são elementos vivos da Natureza a vibrarem no “espaço físico”, através dos movimentos que lhes são peculiares, e nossa alma, em cuja intimidade se processa a idéia irradiante, lança fora de si os princípios espirituais, condensados na força ponderável e múltipla do pensamento, princípios esses com que influímos no “espaço mental”. Os mundos atuam uns sobre os outros pelas irradiações que despendem e as almas influenciam-se mutuamente, por intermédio dos agentes mentais que produzem.
A palavra serena e precisa do orientador compelia-nos à meditação, embora rápida.
Os claros apontamentos, em torno da energia mental, conduziam-nos a preciosas reflexões.
Então, o pensamento não escapava às realidades do mundo corpuscular, ponderei de mim para comigo. Assim como possuímos na Terra valiosas observações alusivas à química da matéria densa, relacionando-lhes as unidades atômicas, o campo da mente oferecia largas ensanchas ao estudo de suas combinações... Pensamentos de crueldade, revolta, tristeza, amor, compreensão, esperança ou alegria teriam natureza diferenciada, com característicos e pesos próprios, adensando a alma ou sutilizando-a, além de lhe definirem as qualidades magnéticas... A onda mental possuiria determinados coeficientes de força na concentração silenciosa, no verbo exteriorizado ou na palavra escrita... Compreendia, desse modo, mais uma vez, e sem qualquer obscuridade, que somos naturalmente vítimas ou beneficiários de nossas próprias criações, segundo as correntes mentais que projetamos, escravizando-nos a compromissos com a retaguarda de nossas experiências ou libertando-nos para a vanguarda do progresso, conforme nossas deliberações e atividades, em harmonia ou em desarmonia com as Leis Eternas...
O solilóquio, porém, não devia alongar-se. Nosso orientador, atento aos objetivos de nossa permanência na casa, chamou-me a novas observações:
- Repararam na comunhão entre Clementino e Silva, no momento da prece?
E, ante a nossa expectação de aprendizes continuou:
- Vimos aqui o fenômeno da perfeita assimilação de correntes mentais que preside habitualmente a quase todos os fatos mediúnicos. Para clareza de raciocínio, comparemos a organização de Silva, nosso companheiro encarnado, a um aparelho receptor, quais os que conhecemos na Terra, nos domínios da radiofonia. A emissão mental de Clementino, condensando-lhe o pensamento e a vontade, envolve Raul Silva em profusão de raios que lhe alcançam o campo interior, primeiramente pelos poros, que são miríades de antenas sobre as quais essa emissão adquire o aspecto de impressões fracas e indecisas. Essas impressões apóiam-se nos centros do corpo espiritual, que funcionam à guisa de condensadores, atingem, de imediato, os cabos do sistema nervoso, a desempenharem o papel de preciosas bobinas de indução, cumulando-se aí num átimo e reconstituindo-se, automaticamente, no cérebro, onde possuímos centenas de centros motores, semelhantes a milagroso teclado de eletroímãs, ligados uns aos outros e em cujos fulcros dinâmicos se processam as ações e as reações mentais , que determinam vibrações criativas, através do pensamento ou da palavra, considerando-se o encéfalo como poderosa estação emissora e receptora e a boca por valioso alto-falante. Tais estímulos se expressam ainda pelo mecanismo das mãos e dos pés ou pelas impressões dos sentidos e dos órgãos, que trabalham na feição de guindastes e condutores, transformadores e analistas, sob o comando direto da mente.
A elucidação não podia ser mais simples, contudo oferecia oportunidade a mais amplas indagações.
- Temos então aqui a técnica do próprio pensamento? – perguntou Hilário, com interesse.
- Não tanto – adiantou o interlocutor - ; o pensamento que nos é exclusivo flui incessantemente de nosso campo cerebral, tanto quanto as ondas magnéticas e caloríficas que nos são particulares, e usamo-lo normalmente, acionando os recursos de que dispomos.
- Não será, porém, tão fácil estabelecer a diferença entre a criação mental que nos pertence daquela que se nos incorpora à cabeça... – ponderou meu colega intrigado.
- Sua afirmação carece de base – exclamou o Assistente. – Qualquer pessoa que saiba manejar a própria atenção observará a mudança, de vez que o nosso pensamento vibra em certo grau de freqüência, a concretizar-se em nossa maneira especial de expressão, no círculo dos hábitos e dos pontos de vista, dos modos e do estilo que nos são peculiares.
E, bem humorado, comentou:
- Em assuntos dessa ordem, é imprescindível muito cuidado no julgar, porque, enquanto afinamos o critério pela craveira terrena, possuímos uma vida mental quase sempre parasitária, de vez que ocultamos a onda de pensamento que nos é própria, para refletir e agir com os preconceitos consagrados ou com a pragmática dos costumes preestabelecidos, que são cristalizações mentais no tempo, ou com as modas do dia e as opiniões dos afeiçoados que constituem fácil acomodação com o menor esforço. Basta, no entanto, nos afeiçoemos aos exercícios da meditação, ao estudo edificante e ao hábito de discernir para compreendermos onde se nos situa a faixa de pensamento, identificando com nitidez as correntes espirituais que passamos a assimilar.
Hilário pensou alguns instantes e, estampando na fisionomia o contentamento de quem fizera importante descoberta, falou satisfeito:
- Agora percebo como podem surgir fenômenos mediúnicos em comezinhas situações da vida, tantos nos feitos notáveis da genialidade, como nos dramas cotidianos...
- Sim, sim... – acentuou o orientador, agora preocupado com o tempo que a nossa palestração consumia – a mediunidade é um dom inerente a todos os seres, como a faculdade de respirar, e cada criatura assimila as forças superiores ou inferiores com as quais sintoniza. Por isso mesmo, o Divino Mestre recomendou-nos oração e vigilância para não cairmos nas sugestões do mal, porque a tentação é o fio de forças vivas a irradiar-se de nós, captando os elementos que lhe são semelhantes e tecendo, assim, ao redor de nossa alma, espessa rede de impulsos, por vezes irresistíveis.
E, buscando o lugar que lhe competia nos trabalhos em andamento, ajuntou:
- Estudemos trabalhando. O tempo utilizado a serviço do próximo é bênção que entesouramos em nosso próprio favor, para sempre.
ASSIMILAÇÃO  DE  CORRENTES  MENTAIS -- NDM / cap. 05

3- ÁGUA FLUIDIFICADA
Notei que a reunião atingia a fase terminal.
Duas horas bem vividas haviam corrido céleres para nós.
Raul Silva consultou o relógio e cientificou os companheiros de haver chegado o momento das preces de despedida.
Os amigos sofredores, aglomerados no recinto, poderiam receber vibrações de auxílio, enquanto os elementos do grupo recolheriam, através da oração, o refazimento das próprias forças.
Pequeno cântaro de vidro, com água pura, foi trazido à mesa.
E porque Hilário perguntasse se iríamos assistir a alguma cerimônia especial, o Assistente explicou, afável:
- Não, nada disso. A água potável destina-se a ser fluidificada. O líquido simples receberá recursos magnéticos de subido valor para o equilíbrio psicofísico dos circunstantes.
Com efeito, mal acabávamos de ouvir o apontamento, Clementino se abeirou do vaso e, de pensamento em prece, aos poucos se nos revelou coroado de luz.
Daí a instantes, de sua destra espalmada sobre o jarro, partículas radiosas eram projetadas sobre o líquido cristalino que as absorvia de maneira total.
- Por intermédio da água fluidificada – continuou Áulus -, precioso esforço de medicação pode ser levado a efeito. Há lesões e deficiências no veículo espiritual a se estamparem no corpo físico, que somente a intervenção magnética consegue aliviar, até que os interessados se disponham à própria cura.
CLARIVIDÊNCIA  E  CLARIAUDIÊNCIA - NDM / cap.12

4- O TRABALHO DO PLANO ESPIRITUAL NAS REUNIÕES DE DESENVOLVIMENTO MEDIÚNICO
Hoje à noite – disse-me o devotado amigo – observará algumas demonstrações de desenvolvimento mediúnico.
No instante indicado, compareci ao grupo. Antes do ingresso dos companheiros encarnados, já era muito grande a movimentação. Número considerável de trabalhadores. Muito serviço de natureza espiritual. Admirava as características dos socorros magnéticos, dispensados às entidades sofredoras, quando Alexandre acentuou:
- Por enquanto, nossos esforços são mais frutíferos ao círculo dos desencarnados infelizes. As atividades beneficentes da casa concentram-se neles, em maior porção, porque os encarnados, mesmo aqueles que já se interessam pela prática espiritista, muito raramente se dispõem, com sinceridade, ao aproveitamento real dos valores legítimos de nossa cooperação.
E depois de longa pausa, prosseguiu:
- É muito lenta e difícil a transição entre a animalidade grosseira e a espiritualidade superior. Nesse sentido, há sempre, entre os homens, um oceano de palavras e algumas gotas de ação.
Nesse instante, os primeiros amigos do plano carnal deram entrada no recinto.
- Veremos hoje – exclamava um senhor de espessos bigodes – veremos hoje se temos boa sorte.
- Não tenho vindo com assiduidade às experiências – comentou um rapaz – porque vivo desanimado... Há quanto tempo mantenho o lápis na mão, sem resultado algum?
- É pena ! – respondia outro senhor – a dificuldade desencoraja, de fato.
- Parece-me que nada merecemos, no setor do estímulo, por parte dos benfeitores invisíveis! – acrescentava uma senhora de boa idade – há quantos meses procuro em vão desenvolver-me? Em certos momentos sino vibrações espirituais intensas junto de mim, contudo, não passo de manifestações iniciais.
A palestra continuou interessante e pitoresca. Decorridos alguns minutos, com a presença de outros pequenos grupos de experimentadores que chegavam, solícitos, foi iniciada a sessão de desenvolvimento. O diretor proferiu tocante prece, no que foi acompanhado por todos os presentes.
Dezoito pessoas mantinham-se em expectativa.
- Alguns – explicou Alexandre – pretendem a psicografia, outros tentam a mediunidade de incorporação. Infelizmente, porém, quase todos confundem poderes psíquicos com funções fisiológicas. Acreditam no mecanismo absoluto da realização e esperam o progresso eventual e problemático, esquecidos de que toda  edificação da alma requer disciplina, educação, esforço e perseverança. Mediunidade construtiva é a língua de fogo do Espírito Santo, luz para a qual é preciso conservar o pavio do amor cristão, o azeite da boa vontade pura. Sem a preparação necessária, a excursão dos que provocam o ingresso no reino invisível é, quase sempre, uma viagem nos círculos de sombra. Alcançam grandes sensações e esbarram nas perplexidades dolorosas. Fazem descobertas surpreendentes e acabam nas ansiedades e dúvidas sem fim. Ninguém pode trair a lei impunemente, e, para subir, Espírito algum dispensará o esforço de si mesmo, no aprimoramento íntimo.
Dirigindo—se de maneira especial, para os circunstantes, o instrutor recomendou:
- Observemos.
Postara-se ao lado de um rapaz que esperava, de lápis em punho, mergulhado em fundo silêncio.
Ofereceu—me Alexandre o seu vigoroso auxílio magnético e contemplei-o com atenção. Os núcleos glandulares emitiam pálidas irradiações. A epífise, principalmente, semelhava-se a reduzida semente algo luminosa.
- Repare no aparelho genital- aconselhou-me o instrutor, gravemente.
Fiquei estupefato. As glândulas geradoras emitiam fraquíssima luminosidade, que parecia abafada por aluviões de corpúsculos negros a se caracterizarem por espantosa mobilidade. Começavam a movimentação sob a bexiga urinária e vibravam ao longo de todo o cordão espermático, formando colônias compactas, nas vesículas seminais, na próstata, mas massas mucosas uretrais, invadiam os canais seminíferos e lutavam com as células sexuais, aniquilando-as. As mais vigorosas daquelas feras microscópicas situavam-se no epidídimo, onde absorviam, famélicas, os embriões delicados da vida orgânica. Estava assombrado. Que significava aquele acervo de pequeninos seres escuros? Pareciam imantados uns aos outros, na mesma faina de destruição. Seriam expressões mal conhecidas da sífilis?
Enunciando semelhante indagação íntima, explicou-me Alexandre, sem que eu lhe dirigisse a palavra falada:
- Não, André. Não temos sob os olhos o espiroqueta de Schaudinn, nem qualquer nova forma suscetível de análise material por bacteriologistas humanos. São bacilos psíquicos da tortura sexual, induzidos pela sede febril de prazeres inferiores. O dicionário médico do mundo não os conhece, e, na ausência de terminologia adequada aos seus conhecimentos, chamemos-lhes larvas, simplesmente. Têm sido cultivados por este companheiro, não só pela incontinência no domínio das emoções próprias, através de experiências sexuais variadas, senão também pelo contato com entidades grosseiras, que se afinam com as predileções dele, entidades que o visitam com freqüência, à maneira de imperceptíveis vampiros. O pobrezinho ainda não pode compreender que o corpo físico é apenas leve sombra do corpo perispiritual, não se capacitou de que a prudência, em matéria de sexo, é equilíbrio da vida, e, recebendo as nossas advertências sobre a temperança, acredita ouvir remotas lições de aspecto dogmático, exclusivo, no exame da fé religiosa. A pretexto de aceitar o império da razão pura, na esfera da lógica, admite que o sexo nada tem que ver com a espiritualidade, como se esta não fosse a existência em si. Esquece-se de que tudo é espírito, manifestação divina e energia eterna. O erro de nosso amigo é o de todos os religiosos, que supõem  a alma absolutamente separada do corpo físico, quando todas as manifestações psicofísicas se derivam da influenciação espiritual.
....
Novos mundos de pensamento raiavam-me no ser. Começava a sentir definições mais francas do que havia sido terríveis incógnitas para mim, no capítulo da patogenia em geral. Não saíra do meu intraduzível espanto, quando o instrutor me chamou a atenção para um cavalheiro maduro que tentava a psicografia.
- Observe este amigo – disse-me, com autoridade – não sente um odor característico?
Efetivamente, em derredor daquele rosto pálido, assinalava-se a existência de atmosfera menos agradável. Semelhava-se o corpo a um tonel de configuração caprichosa, de cujo interior escapavam certos vapores muito leves, mas incessantes. Via-se-lhe a dificuldade para sustentar o pensamento com relativa calma. Não tive qualquer dúvida. Deveria ele usar alcoólicos em quantidade regular.
Vali-me do ensejo para notar-lhe as singularidades orgânicas. O aparelho gastrintestinal parecia totalmente ensopado em aguardente, porquanto essa substância invadia todos os escaninhos do estômago, e começando a fazer-se sentir nas paredes do esôfago, manifestava a sua influência até no bolo fecal. Espantava-me o fígado enorme. Pequeninas figuras horripilantes postavam-se, vorazes, ao longo da veia porta, lutando desesperadamente com os elementos sanguíneos mais novos. Toda a estrutura do órgão se mantinha alterada. Terrível ingurgitamento. Os lóbulos cilíndricos, modificados, abrigavam células doentes e empobrecidas. O baço apresentava anomalias estranhas.
- Os alcoólicos – esclareceu Alexandre, com grave entonação – aniquilavam-no vagarosamente. Você está examinando as anormalidades menores.
Este companheiro permanece completamente desviado em seus centros de equilíbrio vital. Todo o sistema endócrino foi atingido pela atuação tóxica. Inutilmente trabalha a medula para melhorar os valores da circulação. Em vão, esforçam-se os centros genitais para ordenar as funções que lhes são peculiares, porque o álcool excessivo, determina modificações deprimentes sobre a própria cromatina. Debalde trabalham os rins na excreção dos elementos corrosivos, porque a ação perniciosa da substância em estudo anula diariamente grande número de nefrons. O pâncreas, viciado, não atende com exatidão ao serviço de desintegração dos alimentos. Larvas destruidoras exterminam as células hepáticas. Profundas alterações modificam-lhe as disposições do sistema nervoso vegetativo, e não fossem as glândulas sudoríparas, tornar-se-lhe-ia talvez, impossível a continuação da vida  física.
Não conseguia dissimular minha admiração. Alexandre indicava os pontos enfermiços e esclarecia os assuntos com sabedoria e simplicidade tão grandes que não pude ocultar o assombro que se apoderara de mim.
.....
O instrutor colocou-me, em seguida, ao lado de uma dama simpática e idosa. Após examina-la, atencioso, acrescentou:
- Repare nossa irmã. É candidata ao desenvolvimento da mediunidade de incorporação.
Fraquíssima luz emanava de sua organização mental, e, desde o primeiro instante, notara-lhe as deformações físicas. O estômago dilatara-se-lhe horrivelmente e os intestinos pareciam sofrer estranhas alterações. O fígado consideravelmente aumentado, demonstrava indefinível agitação. Desde o duodeno ao sgmóide, notavam-se anomalias de vulto. Guardava a idéia de presenciar, não o trabalho de um aparelho digestivo usual, e, sim de vasto alambique, cheio de pastas de carne e caldos gordurosos, cheirando a vinagre de condimentação ativa. Em grande zona do ventre superlotado de alimentação, viam-se muitos parasitos conhecidos, mas, além deles, divisava outros corpúsculos semelhantes a lesmas voracíssimas, que se agrupavam em grandes colônias, desde os músculos e as fibras do estômago até a válvula íleo-cecal. Semelhantes parasitos atacavam os sucos nutritivos, com assombroso potencial de destruição.
Observando-me a estranheza, o orientador falou, em meu socorro :
- Temos aqui uma pobre amiga desviada nos excessos de alimentação. Todas as suas glândulas e centros nervosos trabalham para atender as exigências do sistema digestivo. Descuidada de si mesma, caiu na glutonaria crassa, tornando-se presa de seres de baixa condição.
E porque me conservasse em silêncio, incapacitado de argumentar, ante ensinamentos tão novos, o instrutor considerou:
- Perante estes quadros, pode você avaliar a extensão das necessidades educativas na esfera da Crosta. A mente encarnada engalanou-se com os valores intelectuais e fez o culto da razão pura, esquecendo-se de que a razão humana precisa de luz divina. O homem comum percebe muito pouco e sente muito menos. Ante a eclosão de conhecimentos novos, em face da onda regeneradora do Espiritualismo que banha as nações mais cultas da Terra, angustiada por longos sofrimentos coletivos necessitamos acionar as melhores possibilidades de colaboração, para que os companheiros terrestres valorizem as suas oportunidades benditas de serviço e redenção.
Compreendi que Alexandre se referia, veladamente, ao grande movimento espiritista, em virtude de nos encontrarmos nas tarefas de uma casa doutrinária, e não me enganava, porque o bondoso mentor continuou a dizer gravemente:
- O Espiritismo cristão é a revivescência do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Crista, e a mediunidade constitui um de seus fundamentos vivos. A mediunidade, porém, não é exclusiva dos chamados “médiuns” . Todas as criaturas a possuem, porquanto significa percepção espiritual, que deve ser incentivada em nós mesmos. Não bastará, entretanto, perceber. É imprescindível santificar essa faculdade, convertendo-a no ministério ativo do bem. A maioria dos candidatos ao desenvolvimento dessa natureza, contudo, não se dispõe aos serviços preliminares de limpeza do vaso receptivo. Dividem, inexoravelmente, a matéria e o espírito, localizando-os em campos opostos, quando nós, estudantes da Verdade, ainda não conseguimos identificar rigorosamente as fronteiras entre uma e outro, integrados na certeza de que toda a organização universal se baseia em vibrações puras. Inegavelmente, meu amigo – e sorriu – não desejamos transformar o mundo em cemitério de tristeza e desolação. Atender a santificada missão do sexo, no seu plano respeitável, usar um aperitivo comum, fazer a boa refeição, de modo algum significa desvios espirituais; no entanto, os excessos representam desperdícios lamentáveis de força, os quais retêm a alma nos círculos inferiores. Ora, para os que se trancafiaram nos cárceres de sombra, não é fácil desenvolver percepções avançadas. Não se pode cogitar de mediunidade construtiva, sem o equilíbrio construtivo dos aprendizes, na sublime ciência do bem-viver.
- Oh! – exclamei – e porque motivo não dizer tudo isto aos nossos irmãos congregados aqui? Porque não adverti-los austeramente?
Alexandre sorriu, benévolo e acentuou:
- Não, André. Tenhamos calma. Estamos no serviço de evolução e adestramento. Nossos amigos não são rebeldes ou maus, em sentido voluntário. Estão espiritualmente desorientados e enfermos. Não podem transformar-se, dum momento para outro. Compete-nos, portanto, ajuda-los no caminho educativo.
O orientador deixou de sorrir e acrescentou:
- É verdade que sonham edificar maravilhosos castelos, sem base; alcançar imensas descobertas exteriores, sem estudarem a si próprios; mas gradativamente, compreenderão que mediunidade elevada ou percepção edificante não constituem atividades mecânicas da personalidade e sim conquista do Espírito, para cuja consecução não se pode prescindir das iniciações dolorosas, dos trabalhos necessários, com a auto-educação sistemática e perseverante. Excetuando-se, porém, essas ilusões infantis, são bons companheiros de luta, aos quais estimamos carinhosamente, não só como nossos irmãos mais jovens, mas também por serem credores de reconhecimento pela cooperação que nos prestam, muitas vezes inconscientemente. Os tenros embriões vegetais de hoje serão as árvores robustas de amanhã. As tribos ignorantes de ontem constituem a Humanidade de agora. Por isso mesmo, todas as nossas reuniões são proveitosas, e, ainda que os seus passos sejam vacilantes na senda, tudo faremos para defende-los contra as perigosas malhas do vampirismo.
DESENVOLVIMENTO MEDIÚNICO - ML / cap. 3
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O Assistente silenciou, porquanto a palavra de Silva se fez ouvir, recomendando aos médiuns observassem, através da vidência e da audição, os ensinamentos que porventura fossem, naquela noite, ministrados ao grupo pelos amigos espirituais da casa.
Reparamos que Celina, Eugênia e Castro aguçaram as suas atenções. Clementino, findo o preparo da água medicamentosa, consagrou-lhes maior carinho, aplicando-lhes passe na região frontal.
- Nosso amigo – esclareceu o Assistente – procura ajudar aos nossos companheiros de mediunidade, favorecendo-lhes o campo sensório. Não lhes convêm, por agora, a clarividência e a clariaudiência demasiado abertas. Na esfera dos Espíritos reencarnados, há que dosar observações para que não venhamos a ferir os impositivos da ordem. Cada qual de nós deve estar em sua faixa de serviço, fazendo o melhor ao seu alcance. Imaginemos um aparelho radiofônico terrestre, coletando todas as espécies de onda, em movimento de captação simultânea. O proveito e a harmonia da transmissão seriam realmente impraticáveis, e não haveria propósito construtivo na mensagem. Um médium, pois, não deve demorar-se com todas as solicitações do meio em que se situa, sob pena de arrojar as suas impressões ao desequilíbrio, a menos quando, por sua própria evolução, consiga sobrepairar ao campo do trabalho, dominando as influências do meio e selecionando-as, segundo o elevado critério de quem já consegue orientar-se para o bem e orientar aqueles que o acompanham.
Hilário refletiu um momento e indagou:
- Os trabalhos mediúnicos, porém, são rigorosamente iguais nos três instrumentos sob nosso exame?
- Isso não. O círculo de percepção varia em cada um de nós. Há diferentes gêneros de mediunidade; contudo, importa reconhecer que cada Espírito vive em determinado degrau de crescimento mental e, por isso, as equações do esforço mediúnico diferem de indivíduo para indivíduo, tanto quanto as interpretações da vida se modificam de alma para alma. As faculdades medianímicas podem ser idênticas em pessoas diversas, entretanto, cada pessoa tem a sua maneira particular de empregá-las. Um modelo, em muitas ocasiões, é o mesmo para grande assembléia de pintores, todavia, cada artista fixá-lo-á na tela a seu modo. Uma lâmpada exibirá claridade lirial, em jacto contínuo, mas, se essa claridade for filtrada por focos múltiplos, decerto estará submetida à cor e ao potencial de cada um desses filtros, embora continue sendo sempre a mesma lâmpada a fulgurar em seu campo central de ação. Mediunidade é sintonia e filtragem. Cada Espírito vive entre as forças com as quais se combina, transmitindo-as segundo as concepções que lhe caracterizam o modo de ser.
Notando o cuidado que o irmão Clementino empregava na preparação dos médiuns, meu colega inquiriu ainda:
-A clarividência e a clariaudiência acaso estão localizadas exclusivamente nos olhos e nos ouvidos da criatura reencarnada?
Áulus acariciou-lhe a cabeça e acentuou:
- Hilário, vê-se que você está começando a jornada no conhecimento superior. Os olhos e os ouvidos materiais estão para a vidência e para a audição como os óculos estão para os ouvidos – simples aparelhos de complementação. Toda percepção é mental. Surdos e cegos na experiência física, convenientemente educados, podem ouvir e ver, através de recursos diferentes daqueles que são vulgarmente utilizados. A onda hertziana e os raios X vão ensinando aos homens que há som e luz muito além das acanhadas fronteiras vibratórias em que eles se agitam, e o médium é sempre alguém dotado de possibilidades neuropsíquicas especiais que lhe estendem o horizonte dos sentidos.
Meu companheiro fixou o gesto de quem aproveitara a lição, mas objetou, reverente:
- Desejava, porém, saber se Dona Celina, por exemplo, está enxergando o irmão Clementino e ouvindo-o, tão-somente pelo processo curial de percepção na Terra.
- Sim, isso acontece, por uma questão de costume cristalizado. Celina pensa ouvir o supervisor, através dos condutos auditivos, e supõe vê-lo, como se o aparelho fotográfico dos olhos estivesse funcionando em conexão com o centro da memória, no entanto, isso resulta do hábito. Ainda mesmo no campo de impressões comuns, embora a criatura empregue os ouvidos e os olhos, ela vê e ouve com o cérebro, e, apesar de o cérebro usar as células do córtex para selecionar os sons e imprimir as imagens, quem vê e ouve, na realidade, é a mente. Todos os sentidos na esfera fisiológica pertencem à alma, que os fixa no corpo carnal, de conformidade com os princípios estabelecidos para a evolução dos Espíritos reencarnados na Terra.
Sorrindo, ajuntou:
- Vocês possuem uma prova disso, quando o homem se encontra naturalmente desdobrado, cada noite, durante o sono, vendo e ouvindo, a despeito da inatividade dos órgãos carnais, na experiência a que chamam “vida de sonho”.
E baixando o tom de voz acrescentou:
- Somos receptores de reduzida capacidade, à frente das inumeráveis formas de energia que nos são desfechadas por todos os domínios do Universo, captando apenas humilde fração delas. Em suma, nossa mente é um ponto espiritual limitado, a desenvolver-se em conhecimento e amor, na espiritualidade infinita e gloriosa de Deus.
Decorreram mais alguns instantes.
- Centralizemos mais atenção na prece, adestrando-nos para o serviço de bem!
Essa frase foi pronunciada por Clementino, em voz clara e pausada, como a oferecer uma base única para a convergência de nossas cogitações.
Atento, porem, aos nossos objetivos de estudo, acompanhei os médiuns mais diretamente interessados no apelo. Dona Celina registrara as palavras com precisão e guardava a atitude do aluno disciplinado. Dona Eugênia assimilara-as, em forma de ordem intuitiva, e mostrava-se na condição do aprendiz criterioso. Castro, contudo, não as recolhera nem de leve. Com permissão do supervisor, pusemo-nos em tarefa de análise. 
Observei que sutilmente ligados à faixa fluídica de Clementino, os três médiuns, cada qual a seu modo, lhe acusaram a presença. Dona Celina anotava-lhe os mínimos movimentos, à maneira do discípulo diante do professor, Dona Eugênia lhe assinalava a vizinhança com menos facilidade, qual se o distinguisse imperfeitamente, através dum lençol de nebulosidade, e Castro, embora o visse com perfeição, parecia completamente alheio à influência do instrutor.
- As possibilidades de Celina e Castro, na clarividência e na clariaudiência, são por enquanto mais vastas que em nossa irmã Eugênia – esclareceu Áulus, prestimoso. – Acham-se os três levemente submetidos ao comando magnético de Clementino e podem identificar-lhe a presença com analogia de observações, porque, nas circunstâncias em que operam, estão agindo como pessoas comuns, utilizando-se da percepção habitual.
- Entretanto – aduziu Hilário -, se o trio foi colocado sob a ordenação magnética do supervisor, por que motivo nossas amigas lhe acataram o convite, enquanto Castro se mantém visivelmente impermeável a ele?
- O mentor do recinto exerce apenas branda influência, abdicando de qualquer pressão mais forte, suscetível de provocar viciosa imanação, em desfavor de nossos amigos – disse Áulus, convicto. – Alem disso, a mente de Castro passou, de súbito, a alimentar propósitos diferentes. Incapaz de concentrar a atenção, de modo irrepreensível, na região superior do trabalho que nos compete levar a efeito, de momento não mais se revela interessado em satisfazer ao programa de Clementino, mas sim em provocar um reencontro com a progenitora desencarnada. Enxerga o orientado do conjunto, como quem é constrangido a ver alguém de passagem, todavia, sem qualquer preocupação de escutá-lo ou servi-lo, confinado como se encontra às emoções do jardim doméstico. Basta a indiferença mental para que nada ouça do que mais interessa agora ao esforço coletivo da reunião.
Evidentemente desejoso de definir a lição, no quadro de nossos conhecimentos terrestres, acrescentou:
- É uma antena que se insensibilizou, de improviso, recusando sintonizar-se com a onda que a procura.
Nesse instante, vimos que um companheiro simpático de nosso plano avançou do círculo de espectadores, abeirando-se de Dona Celina e chamando-a, discreto.
- A nobre criatura ouviu-lhe a voz, mas não se voltou para trás. Entretanto, respondeu-lhe em pensamento, numa frase que se fez perfeitamente audível para nós: - “Encontrar-nos-emos mais tarde”.
Áulus informou, presto:
- É o esposo desencarnado de nossa irmã que a visita, com afetuosa solicitação, contudo, disciplinada quanto é, Celina sabe renunciar ao conforto de ouvi-lo, a fim de colaborar no êxito da reunião com maior segurança.
Logo após, vimos Castro desdobrar-se de novo, auxiliado agora simplesmente pelo forte desejo de ausentar-se do círculo e, revestido das emanações que lhe desfiguravam o perispírito, caminhou, hesitante, ao encontro de uma entidade amiga que o aguardava a pequena distância.
- Nosso cooperador - falou o Assistente -, menos habituado à disciplina edificante, julga que já fez o possível, em favor dos trabalhos programados para esta noite, e põe-se no encalço da mãezinha, que vem sendo beneficiada em nossa organização .
- Não nos foi, porém , possível alongar anotações.
Clementino, à cabeceira da assembléia, estendeu os braços e colocou-se em prece.
Cintilações de safirino esplendor revestiam-lhe agora o busto, dando-nos a impressão de que o abnegado benfeitor se convertera num anjo sem asas. Em momentos ligeiros, verdadeiro jorro solar desceu do Alto, coroando-lhe a fronte e, de suas mãos, passou a irradiar-se prodigiosa fonte de luz, que nos alcançava a todos, encarnados e desencarnados, prodigalizando-nos a sensação de indescritível bem-estar. Nada consegui dizer, não obstante as perquirições que me esfuziavam o pensamento. O êxtase do mentor impelia-nos a respeitosa mudez. Aqueles minutos de vibração sem palavras representavam precioso manancial de energias restauradoras para quantos lhe abrissem as portas do espírito. É o que eu conseguia depreender pelo revigoramento de minhas próprias forças.
Terminada que foi a operação inesquecível, Raul solicitou ainda alguns instantes de tranqüilidade e expectativa.  Competia ao grupo aguardar a manifestação de algum dos orientadores da casa, à guisa de instrução geral no encerramento.
Dona Celina rogou licença para notificar que vira surgir no recinto um ribeiro cristalino, em cuja corrente muitos enfermos se banhavam, e Dona Eugênia seguiu-a, explicando que chegara a contemplar um edifício repleto de crianças, entoando hinos de louvor a Deus.
Registramos semelhantes comunicados com surpresa. Nada víramos ali que pudesse recordar sequer de longe um córrego de águas curativas ou algum pavilhão de serviço à infância.
A sala era demasiado estreita para comportar tais cenários. Fitando-me, intrigado, Hilário parecia perguntar se as duas médiuns não estariam sob o influxo de alguma perturbação momentânea.
Assinalando-nos a estranheza, o Assistente considerou, prestimoso:
- Importa não esquecer que ambas se encontram reunidas na faixa magnética de Clementino, fixando as imagens que a mente dele lhes sugere. Viram-lhe os pensamentos, relacionados com a obra de amparo aos doentes e com a formação de uma escola, que a instituição pretende, em breve, mobilizar no socorro ao próximo. Idéias, elaboradas com atenção, geram formas, tocadas de movimento, som e cor, perfeitamente perceptíveis por todos aqueles que se encontrem sintonizados na onda em que se expressam. Não podemos olvidar que há fenômenos de clarividência e clariaudiência que partem da observação ativa dos instrumentos mediúnicos, identificando a existência de pessoas, paisagens e coisas exteriores a eles próprios, qual acontece na percepção terrestre vulgar, e existem aqueles que decorrem da sugestão que lhes é trazida pelo pensamento criador dos amigos desencarnados ou encarnados, estímulos esses que a mente de cada médium traduz, seguindo as possibilidades de que dispõe, favorecendo, por isso mesmo, as mais díspares interpretações.
- Oh! – exclamou Hilário, entusiasmado – temos aí a técnica dos obsessores quando improvisam para as suas vítimas variadas impressões alucinatórias...
- Sim, sim... – confirmou o Assistente.
- É isso mesmo. No entanto, evitemos a conversação agora. O trabalho da reunião vai terminar.
CLARIVIDÊNCIA  E  CLARIAUDIÊNCIA - NDM / cap.12
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Surgida a oportunidade, vali-me da prestigiosa influência para ingressar no espaçoso e velho salão, onde Alexandre desempenha atribuições na chefia.
Dentre as dezenas de cadeiras, dispostas em filas somente dezoito permaneciam ocupadas por pessoas terrestres, autênticas. As demais atendiam à massa invisível aos olhos comuns do plano físico. Grande assembléia de almas sofredoras. Público extenso e necessitado. Reparei que os fios luminosos dividiam os assistentes da região espiritual em turmas diferentes. Cada grupo exibia características próprias. Em torno das zonas de acesso, postavam-se corpos de guarda, e compreendi, pelo vozerio do exterior, que, também ali, a entrada dos desencarnados obedecia a controle significativo. As entidades necessitadas, admitidas ao interior, mantinham discrição e silêncio. Entrei cauteloso, sem despertar atenção na assembléia que ouvia, emocionadamente, a palavra generosa e edificante de operoso instrutor da casa.
Grande número de cooperadores velavam atentos. E enquanto o devotado mentor falava com o coração nas palavras, os dezoito companheiros encarnados demoravam-se em rigorosa concentração do pensamento elevado a objetivos altos e puros. Era belo sentir-lhes a vibração particular. Cada qual emitia raios luminosos, muito diferentes entre si, na intensidade e na cor. Esses raios confundiam-se à distância aproximada de sessenta centímetros dos corpos físicos e estabeleciam uma corrente de força, bastante diversa das energias de nossa esfera. Essa corrente não se limitava ao círculo movimentado. Em certo ponto, despejava elementos vitais, à maneira de fonte miraculosa, com origem nos corações e nos cérebros humanos que aí se reuniam. As energias dos encarnados casavam-se aos fluidos vigorosos dos trabalhadores de nosso plano de ação, congregados em vasto número, formando precioso armazém de benefícios para os infelizes, extremamente apegados ainda às sensações fisiológicas.
Semelhantes forças mentais não são ilusórias, como pode parecer ao raciocínio terrestre menos esclarecido, quanto às reservas infinitas de possibilidades além da matéria mais grosseira.
Detinha-me na observação dos valores novos de meu aprendizado, quando meu amigo, terminada a dissertação consoladora, me solicitou a presença nos serviços mediúnicos.
Demonstrando-se interessado no aproveitamento integral do tempo, foi muito comedido nas saudações.
- Não podemos perder os minutos – informou.
E designando reduzido grupo de seis entidades próximas, esclareceu:
- Esperam ali os amigos autorizados.
- À comunicação ? – indaguei.
O instrutor fez um sinal afirmativo e acrescentou:
- Nem todos, porém, conseguem o intuito à mesma hora. Alguns são obrigados a esperar semanas, meses, anos ...
- Não supunha tão difícil a tarefa – aduzi espantado.
- Verá – falou Alexandre gentil.
E dirigindo-se para uma rapaz que se mantinha em profunda concentração, cercado de auxiliares de nosso plano, explicou atencioso:
- Temos seis comunicantes prováveis, mas na presente reunião, apenas compareceu um médium em condições de atender. Desde já, portanto, somos obrigados a considerar que o grupo de aprendizes e obreiros terrestres somente receberá o que se relacione com o interesse coletivo. Não há possibilidade para qualquer serviço extraordinário.
Julguei que o médium fosse a máquina, acima de tudo – ponderei.
- A máquina também gasta – observou o instrutor – e estamos diante de maquinismo demasiadamente delicado.
Fixando-me a expressão espantadiça, Alexandre continuou:
- Preliminarmente, devemos reconhecer que nos serviços mediúnicos, preponderam os fatores morais. Neste momento, o médium, para ser fiel ao mandato superior, necessita clareza e serenidade, como o espelho cristalino dum lago. De outro modo, as ondas de inquietude perturbariam a projeção de nossa espiritualidade sobre a materialidade terrena, como as águas revoltas não refletem as imagens sublimes do céu e da Natureza ambiente.
Indicando o médium, prosseguiu o orientador, com voz firme:
- Este irmão não é um simples aparelho. É um Espírito que deve ser tão livre quanto o nosso e que a fim de se prestar ao intercâmbio desejado, precisa renunciar a si mesmo, com abnegação e humildade, primeiros fatores na obtenção de acesso à permuta com as regiões mais elevadas. Necessita calar para que outros falem; dar de si próprio para que outros recebam. Em suma, deve servir de ponte, onde se encontrem interesses diferentes. Sem essa compreensão consciente o espírito de serviço, não poderia atender aos propósitos edificantes. Naturalmente, ele é responsável pela manutenção dos recursos interiores, tais como a tolerância, a humildade, a disposição fraterna, a paciência e o amor cristão; todavia, precisamos cooperar no sentido de manter-lhe os estímulos de natureza exterior, porque se o companheiro não tem pão, nem paz relativa, se lhe falta assistência nas aquisições mais simples, não poderemos exigir-lhe a colaboração, redundante em sacrifício. Nossas responsabilidades, portanto, estão conjugadas nos mínimos detalhes da tarefa a cumprir.
Raiando-me a idéia de que o médium deveria esperar, satisfeito, a compreensão divina, Alexandre ponderou:
- Consideremos, contudo, meu amigo, que ainda nos encontramos em trabalho incompleto. A questão do salário virá depois ...
Nesse ponto da conversação, convidou-me à aproximação do aparelho mediúnico e colocando-lhe a destra sobre a fronte, exclamou:
- Observe. Estamos diante do psicógrafo comum. Antes do trabalho a que se submete, neste momento, nossos auxiliares já lhe prepararam as possibilidades para que não se lhe perturbe a saúde física. A transmissão da mensagem não será simplesmente “tomar a mão”. Há processos intrincados, complexos.
E, ante minha profunda curiosidade científica, o orientador ofereceu-me o auxílio magnético de sua personalidade vigorosa e passei a observar, no corpo do intermediário, grande laboratório de forças vibrantes. Meu poder de apreensão visual supera os raios X, com características muito mais aperfeiçoadas. As glândulas do rapaz transformaram-se em núcleos luminosos, à guisa de perfeitas oficinas elétricas. Detive-me, porém, na contemplação do cérebro, em particular. Os condutores medulares formavam extenso pavio, sustentando a luz mental, como chama generosa de uma vela de enormes proporções. Os centros metabólicos infundiam-me surpresas. O cérebro mostrava fulgurações nos desenhos caprichosos. Os lobos cerebrais lembravam correntes dinâmicas. As células corticais e as fibras nervosas, com suas tênues ramificações, constituíam elementos delicadíssimos de condução de energias recônditas e imponderáveis. Esse concerto, sob a luz mental indefinível, a epífise emitia raios azulados e intensos.
- Observação perfeita ? – indagou o instrutor, interrompendo-me o assombro. – Transmitir mensagens de uma esfera para a outra, no serviço de edificação humana – continuou – demanda esforço, boa vontade, cooperação e propósito consistente. É natural que o treinamento e a colaboração espontânea do médium facilitem o trabalho; entretanto, de qualquer modo, o serviço não é automático... Requer muita compreensão, oportunidade e consciência.
Estava admirado.
- Acredita que o intermediário possa improvisar o estado receptivo ? De nenhum modo. A sua preparação espiritual deve ser incessante. Qualquer incidente pode perturbar-lhe o aparelhamento sensível, como a pedrada que interrompe o trabalho da válvula receptora. Além disso, a nossa cooperação magnética é fundamental para a execução da tarefa. Examine atentamente. Estamos notando as singularidades do corpo perispiritual. Pode reconhecer, agora, que todo o centro glandular é uma potência elétrica. No exercício mediúnico de qualquer modalidade, a epífise desempenha o papel mais importante. Através de suas forças equilibradas, a mente humana intensifica o poder de emissão e recepção de raios peculiares à nossa esfera. É nela, na epífise, que reside o sentido novo dos homens; entretanto, na grande maioria deles, a potência divina dorme embrionária.
Reconheci que, de fato, a glândula pineal do intermediário expedia luminosidade cada vez mais intensa. Deslocando, porém, sua atenção do cérebro para a máquina corpórea em geral, o orientador prosseguiu:
- A operação da mensagem não é nada simples, embora os trabalhadores encarnados não tenham consciência de seu mecanismo intrínseco, assim como as crianças, em se fartando no ambiente doméstico, não conhecem o custo da vida ao sacrifício dos pais. Muito antes da reunião que se efetua, o servidor fiel já foi objeto de nossa atenção especial, para que os pensamentos grosseiros não lhes pesem no campo íntimo. Foi convenientemente ambientado e, ao sentar-se aqui, foi assistido por vários operadores do nosso plano. Antes de tudo, as células nervosas receberam novo coeficiente magnético, para que não haja perdas lamentáveis do tigróide (corpúsculos de Nissl), necessário aos processos da inteligência. O sistema nervoso simpático, mormente o campo autônomo do coração, recebeu auxílios energéticos e o sistema nervoso central foi convenientemente atendido, para que não se comprometa a saúde do trabalhador de boa vontade. O vago foi defendido por nossa influenciação contra qualquer choque das vísceras. As glândulas supra renais receberam acréscimo de energia, para que se verifique acelerada produção de adrenalina, de que precisamos para atender ao dispêndio eventual das reservas nervosas.
Nesse instante, vi que o médium parecia quase desencarnado. Suas expressões grosseiras, de carne, haviam desaparecido ao meu olhar, tamanha a intensidade da luz que o cercava, oriunda de seus centros espirituais.
Após longo intervalo, Alexandre continuou:
- Sob nossa apreciação, não temos o arcabouço de cal, revestidos de carboidratos e proteínas, mas outra expressão mais significativa do homem imortal, filho de Deus Eterno. Repare, nesta anatomia nova, a glória de cada  unidade minúscula do corpo. Cada célula é um motor elétrico que necessita de combustível para funcionar, viver e servir.
Despreocupado de meu assombro, o instrutor mudou de atitude e considerou:
Interrompamos as observações. É necessário agir.
Acenou para um dos seis comunicantes. O mensageiro aproximou-se contente.
- Calixto – falou Alexandre, em tom grave – temos seis amigos para o intercâmbio; todavia as possibilidades são reduzidas. Escreverá apenas você. Tome seu lugar. Recorde sua missão consoladora e nada de particularismos pessoais. A oportunidade é limitadíssima e devemos considerar o interesse de todos.
Depois de cumprimentar-nos ligeiramente, Calixto postou-se ao lado do médium, que o recebeu com evidente sinal de alegria. Enlaçou-o com o braço esquerdo e, alçando a mão até o cérebro do rapaz, tocava-lhe o centro da memória com a ponta dos dedos, como a recolher o material de lembranças do companheiro. Pouco a pouco vi que a luz mental do comunicante se misturava às irradiações do trabalhador encarnado. A zona motora do médium adquiriu outra cor e outra luminosidade. Alexandre aproximou-se da dupla em serviço e colocou a destra sobre o lobo frontal do colaborador humano, como a controlar as fibras inibidoras, evitando, quanto possível, as interferências do aparelho mediúnico.
Calixto mostrava enorme alegria no semblante feliz de servo que se regozija com as bênçãos do trabalho, e dando sinais de profunda gratidão ao Senhor, começou a escrever, apossando-se do braço do companheiro e iniciando o serviço com as belas palavras:
- A paz de Jesus seja convosco !
PSICOGRAFIA - ML/cap.1

5- O TRABALHO DO PLANO ESPIRITUAL ANTES DAS REUNIÕES DE ASSISTÊNCIA ESPIRITUAL
Os preparativos espirituais para a reunião eram ativos e complexos.
Chegamos de regresso à residência de Dona Isabel, quando faltavam poucos minutos para as dezoito horas e já o salão estava repleto de trabalhadores em movimento.
Observando, com estranheza, determinadas operações, fiz algumas perguntas ao nosso orientador, que me esclareceu com bondade:
- Realizar uma sessão de trabalhos espirituais eficientes não é coisa tão simples. Quando encontramos companheiros encarnados, entregues ao serviço com devotamento e bom ânimo, isentos de preocupação, de experiências malsãs e inquietações injustificáveis, mobilizamos grandes recursos a favor do êxito necessário. Claro que não podemos auxiliar atividades infantis, nesse terreno. Quem não deseje cuidar de semelhantes obrigações, com a seriedade devida, poderá esperar fatalmente pelos espíritos menos sérios, porquanto a morte física não significa renovação, para quem não procurou renovar-se. Onde se reúnam almas levianas, aí estará, igualmente a leviandade. No caso de Isabel, porém há que lhe auxiliar o esforço edificante. Em todos os setores evolutivos, é natural que o trabalhador sincero e eficiente receba recursos sempre mais vastos. Onde se encontre a atividade do bem, permanecerá a colaboração espiritual de ordem superior.
Calara-se o bondoso amigo.
Continuei reparando as laboriosas atividades de alguns irmãos que dividiam a sala, de modo singular, utilizando longas faixas fluídicas. Anicieto veio em socorro da minha perplexidade, explicando, atencioso:
- Estes amigos estão promovendo a obra de preservação e vigilância. Serão trazidas aos trabalhos de hoje algumas dezenas de sofredores e torna-se imprescindível limitar-lhes a zona de influenciação neste templo familiar. Para isso, nossos companheiros preparam as necessárias divisões magnéticas.
Observei, admirado que eles magnetizavam o próprio ar.
Nosso instrutor, porém informou, gentil:
- Não se impressione André. Em nossos serviços, o magnetismo é força preponderante. Somos compelidos a movimenta-lo em grande escala.
E sorrindo concluiu:
- Já os sacerdotes do antigo Egito não ignoravam que, para atingir determinados efeitos, é indispensável impregnar a atmosfera de elementos espirituais, saturando-a de valores positivos da nossa vontade. Para disseminar as luzes evangélicas aos desencarnados, são precisas providências variadas e complexas, sem o que, tudo redundaria em aumento de perturbações. Este núcleo é pequenino, considerado do ponto de vista material, mas apresenta grande significação para nós outros. É preciso vigiar, não o esqueçamos.
Enquanto as atividades de preparação espiritual seguiam intensas, Dona Isabel e Joaninha, noutra ordem de serviços, chegaram ao salão, dispondo arranjos diferentes. Usaram largamente a vassoura e o espanador. Revestiram a mesa de toalha muito alva e trouxeram pequenos recipientes de água pura.
A uma ordem de um dos superiores daquele templo doméstico, espalharam-se os vigilantes, em derredor da moradia singela. Nos menores detalhes, estava a nobre supervisão dos benfeitores. Em tudo a ordem, o serviço, a simplicidade.
Logo após alguns minutos além das dezoito horas, começaram a chegar os necessitados da esfera invisível ao homem comum.
Se fosse concedida à criatura vulgar uma vista de olhos, ainda que ligeira, sobre uma assembléia de espíritos desencarnados, em perturbação e sofrimento, muito se lhes modificariam as atitudes na vida normal. Nessa afirmativa, devemos incluir, igualmente, a maioria dos próprios espiritistas, que freqüentam as reuniões doutrinárias, alheios ao esforço auto-educativo, guardando da espiritualidade uma vaga idéia, na preocupação de atender ao egoísmo habitual. O quadro de retificações individuais, após a morte do corpo, é tão extenso e variado que não encontramos palavras para definir a imensa surpresa.
Aqueles rostos esqueléticos causavam compaixão. Chegavam ao recinto aquelas entidades perturbadas, em pequenos magotes, seguidas de orientadores fraternais. Pareciam cadáveres erguidos do leito de morte. Alguns se locomoviam com grande dificuldade. Tínhamos diante dos olhos uma autêntica reunião de “coxos e estropiados” , segundo o símbolo evangélico.
- Em maioria – esclareceu Aniceto – são irmãos abatidos e amargurados, que desejam a renovação sem saber como iniciar a tarefa. Aqui poderemos observar apenas sofredores dessa natureza, porque o santuário de Isidoro e Isabel não está preparado para receber entidades deliberadamente perversas. Cada grupamento tem seus fins.
Com efeito, os recém chegados estampavam profunda angústia na expressão fisionômica. As senhoras em pranto eram numerosas. O quadro consternava. Algumas entidades mantinham as mãos no ventre, calcando regiões feridas. Não eram poucas as que traziam ataduras e faixas.
- Muitos – disse-nos o mentor – não concordam ainda com as realidades da morte corporal. E toda essa gente, de modo geral, está prisioneira da idéia da enfermidade. Existem pessoas, e vocês, como médicos, as terão conhecido largamente, que cultivam a moléstia com verdadeira volúpia. Apaixonam-se pelos diagnósticos exatos, acompanham no corpo, com indefinível ardor, a manifestação dos indícios mórbidos, estudam a teoria da doença de que são portadoras, como jamais analisam um dever justo no quadro das obrigações diárias, e quando não dispõem das informações nos livros, estimam a longa atenção dos médicos, os minuciosos cuidados da enfermagem e as compridas dissertações sobre a enfermidade de que se constituem voluntárias prisioneiras. Sobrevindo a desencarnação, é muito difícil o acordo entre elas e a verdade, porquanto prosseguem mantendo a idéia dominante. Às vezes, no fundo, são boas almas, dedicadas aos parentes do sangue e aproveitáveis na esfera restrita de entendimento a que se recolhem, mas, no entanto, carregadas de viciação mental por muitos séculos consecutivos.
E num gesto diferente, nosso instrutor considerou:
- Demoramo-nos todos a escapar da velha concha do individualismo. A visão da universalidade custa preço alto e nem sempre estamos dispostos a pagá-lo. Não queremos renunciar ao gosto antigo, fugimos aos sacrifícios louváveis. Nessas circunstâncias, o mundo que prevalece para a alma desencarnada, por longo tempo, é o reino pessoal de nossas criações inferiores. Ora, desse modo, quem cultivou a enfermidade com adoração, submeteu-se-lhe ao império. É lógico que devemos, quando encarnados, prestar  toda assistência ao corpo físico, que funciona, para nós, como vaso sagrado, mas remediar a saúde e viciar a mente são duas atitudes essencialmente antagônicas entre si.
A palestra era magnificamente educativa; entretanto, o número crescente de entidades necessitadas chamava-nos à cooperação. Muitas choravam baixinho, outras gemiam em voz mais alta. Depois de longa pausa, Aniceto advertiu:
- Vamos ao serviço. Para nós, cooperadores espirituais, os trabalhos já começaram. A prece e o esforço dos companheiros encarnados representarão o termo desta reunião de assistência e iluminação em Jesus Cristo.
ANTES DA REUNIÃO - OM/cap. 43

6- O TRABALHO DO PLANO ESPIRITUAL DURANTE AS REUNIÕES DE ASSISTÊNCIA ESPIRITUAL
A paisagem de sofrimento, desdobrada aos nossos olhos, lembrava-me o ambiente das Câmaras de Retificação.
Entendeu-se Anicieto com Isidoro e falou, resoluto:
- Mãos à obra ! Distribuamos alguns passes de reconforto !
- Mas – objetei – estarei preparado para trabalho dessa natureza ?
- Porque não ? – indagou o instrutor em voz firme – toda competência e especialização no mundo, nos setores de serviço, constituem o desenvolvimento da boa vontade. Bastam o sincero propósito de cooperação e a noção de responsabilidade para que sejamos iniciados, com êxito em qualquer trabalho novo.
Semelhantes afirmativas estimularam-me o coração. Recordei Narcisa, a dedicada irmão dos infortunados, que permanecia em “Nosso Lar” , quase sempre sem repouso, como prisioneira do sacrifício. Pareceu-me ainda ouvir-lhe a voz fraterna e carinhosa – “André, meu amigo, nunca te negues, quanto possível, a auxiliar os que sofrem. Ao pé dos enfermos, não olvides que o melhor remédio é a renovação da esperança; se encontrares os falidos e os derrotados da sorte, fala-lhes do divino  ensejo do futuro; se fores procurado, algum dia, pelos espíritos desviados e criminosos, não profiras palavras de maldição. Anima, eleva, educa, desperta, sem ferir os que ainda dormem. Deus opera maravilhas por intermédio do trabalho de boa vontade! “  Sem mais hesitação, dispus-me ao serviço. Aniceto designou-me um grupo de seis enfermos espirituais acentuando:
- Aplique seus recursos, André. Com a nossa colaboração, os amigos em tarefa nesta casa poderão atender a responsabilidades diferentes e também imperiosas.
Os mais apagados trabalhadores do bem rejubilem-se pela exemplificação nas lutas comuns e edifiquem-se no Senhor Jesus, porque nenhuma de suas manifestações fica perdida no espaço e no tempo. Naquele instante em que fora chamado a prestar auxílios reais, eu não recorria aos meus cabedais científicos, não me reportava tão somente à técnica da medicina oficial, a que me filiara no mundo, mas recordava aquela Narcisa humilde e simples, das Câmaras de Retificação, enfermeira devotada e carinhosa, que conseguia muito mais com amor do que com medicações.
Aproximei-me duma senhora profundamente abatida, lembrando o exemplo da generosa amiga de “Nosso Lar” , entendendo que não deveria socorrer utilizando apenas a firmeza e a energia, mas também a ternura e a compreensão.
- Minha irmã – disse, procurando captar-lhe a confiança – vamos ao passe reconfortador.
- Ai, ai ! – respondeu a interpelada – nada vejo, nada vejo ! Ah! O tracoma ! Infeliz que sou ! E me falaram em morte, em vida diferente... Como recuperar a vista ?! Quero ver, quero ver!...
- Calma – respondi, encorajado -, não confia no poder de Jesus? Ele continua curando cegos, iluminando-nos o caminho, guiando-nos os passos !
Somente mais tarde lembrei que, naquele instante olvidara a curiosidade doentia, não pensei na impressão deixada pelo tracoma naquele organismo espiritual, nem me preocupei com a expressão propriamente científica do fenômeno, vendo apenas, à minha frente, uma irmã sofredora e necessitada. E à medida que me dispunha a observara a prática do amor fraternal, uma claridade diferente começou a iluminar e a aquecer-me a fronte.
Lembrando a influência divina de Jesus, iniciei o passe de alívio sobre os olhos da pobre mulher reparando que enorme placa de sombra lhe pesava na fronte. Pronunciando palavras de animação, às quais ligava a melhor essência de minhas intenções concentrei minhas possibilidades magnéticas de auxílio nessa zona perturbada. Dentro de alguns instantes, a desencarnada desferiu um grito de espanto.
- Vejo! Vejo! – exclamou, entre o assombro e a alegria – grande Deus! Grande Deus!
E ajoelhando-se, num movimento instintivo para render graças, dirigia-me a palavra, comovidamente:
- Quem sois vós emissário do bem?
Dominava-me profunda emoção, que não conseguia sofrear. Confundia-me a bondade do Eterno. Quem era eu para curar alguém? Mas a alegria daquela entidade, libertada das trevas, afirmava a ocorrência, na qual não queria acreditar. A luz daquela dádiva como que  mostrava mais fortemente o fundo escuro de minhas imperfeições individuais e o pranto inundou-me as faces, sem que pudesse retê-lo nos recônditos mananciais do coração. Enquanto a enferma espiritual se desfazia em lágrimas de louvor, também eu me absorvia numa onda de pensamentos novos. Desejava socorrer o doente próximo e, contudo, estava enlaçado em singular deslumbramento íntimo. Aniceto, porém, aproximou-se delicadamente e falou em voz baixa:
- André, a excessiva contemplação dos resultados pode prejudicar o trabalhador. Em ocasiões como esta, a vaidade costuma acordar dentro de nós, fazendo-nos esquecer o Senhor. Não olvides que todo o bem procede d’Ele, que é a luz de nossos corações. Somos seus instrumentos nas tarefas de amor. O servo fiel não é aquele que se inquieta pelos resultados nem o que permanece enlevado na contemplação deles, mas justamente o que cumpre a vontade divina do Senhor e passa adiante.
Aquelas palavras não poderiam ser mais significativas. O generoso mentor voltou ao serviço a que se entregara, junto de outros irmãos e, valendo-me do amoroso aviso, dirigi-me à reconhecida senhora, acentuando:
- Minha amiga, agradeça a Jesus e não a mim, que sou apenas obscuro servidor. Quanto ao mais, não se impressione em demasia com a visão dos aspectos exteriores; volte o poder visual para dentro de si mesma, para que possa consagrar ao Senhor da Vida os sublimes dons da visão.
Notei que a ouvinte se surpreendia com as minhas palavras, que lhe pareceram, talvez, inoportunas e transcendentes, mas, novamente firme na compreensão do dever, acerquei-me do enfermo próximo. Tratava-se dum irmão que falecera na Gamboa, vitimado pelo câncer. Toda a região facial apresentava-se com horrífico aspecto. Apliquei os passes de reconforto, ministrando pensamentos e palavras de bom ânimo, e reparei que o  pobrezinho se sentia tomado de considerável melhora. Prometi-lhe interesse amigo, a fim de internar-se em alguma casa espiritual de tratamento, recomendando que preparasse a vida mental para colher semelhante benefício, oportunamente. Em seguida, atendi a dois ex tuberculosos do Encantado, a uma senhora que desencarnara em Piedade, em conseqüência de tumor maligno, e a um rapaz de Olaria, que se desprendera num choque operatório. Nenhum dos quatro últimos, contudo, manifestou qualquer alívio. Persistiam as mesmas indisposições orgânicas, os mesmos fenômenos psíquicos de sofrimento.
Terminada a tarefa que me fora cometida, reuni-me ao nosso instrutor e Vicente, que me esperavam a um canto da sala.
- As atividades de assistência – exclamou Aniceto, cuidadoso – se processam conforme observam aqui. Alguns se sentem curados, outros acusam melhoras, e a maioria parece continuar impermeável ao serviço de auxílio. O que nos deve interessar, todavia, é a semeadura do bem. A germinação, o desenvolvimento,a flor e o fruto pertencem ao Senhor.
Vicente, que se mostrava fortemente impressionado, observou:
- O número de entidades perturbadas espanta. Vemo-las em diversos graus de desequilíbrio, desde “Nosso Lar” até a Crosta.
Aniceto sorriu e falou em tom grave:
- Devemos esmagadora porcentagem desses padecimentos à falta de educação religiosa. Não me refiro, porém, aquela que vem do sacerdócio ou que parte da boca de uma criatura para os ouvidos de outra. Refiro-me à educação religiosa íntima e profunda, que o homem nega sistematicamente a si mesmo.
ASSISTÊNCIA ESPIRITUAL - OM/cap.44
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Em todas as reuniões do grupo, junto ao qual funciona Alexandre, com atribuições de orientador, vários são os serviços que se desdobram sob a responsabilidade dos companheiros desencarnados. Nem sempre me foi possível estudá-los separadamente; todavia, respeito a alguns deles, não me furtei ao desejo forte de receber elucidações do respeitável instrutor. Um desses serviços era o de passes magnéticos, ministrados aos freqüentadores da casa.
O trabalho era atendido por seis entidades, envoltas em túnicas muito alvas, como enfermeiros vigilantes. Falavam raramente e operavam com intensidade. Todas as pessoas, vindas ao recinto, recebiam-lhes o toque salutar e, depois de atenderem aos encarnados, ministravam socorro eficiente às entidades infelizes do nosso plano, principalmente as que se constituíam em séqüito familiar dos nossos amigos da Crosta.
Indagando de Alexandre, relativamente àquela secção de atividade espiritual, indicando-lhe os companheiros, em esforço silencioso, esclareceu o mentor, com a bondade de sempre:
- Aqueles nossos amigos são técnicos em auxílio magnético que comparecem aqui para a dispensação de passes de socorro. Trata-se dum departamento delicado de nossas tarefas, que exige muito critério e responsabilidade.
- Esses trabalhadores - interroguei - apresentam requisitos especiais?
- Sim - explicou o mentor amigo -, na execução da tarefa que Lhes está subordinada, não basta a boa vontade, como acontece em outros setores de nossa atuação. Precisam revelar determina, das qualidades de ordem superior e certos conhecimentos especializados. O servidor do bem, mesmo desencarnado, não pode satisfazer em semelhante serviço, se ainda não conseguiu manter um padrão superior de elevação mental continua, condição indispensável à exteriorização das faculdades radiantes. O missionário do auxilio magnético, na Crosta ou aqui em nossa esfera, necessita ter grande domínio sobre si mesmo, espontâneo equilíbrio de sentimentos, acendrado amor aos semelhantes, alta compreensão da vida, fé vigorosa e profunda confiança no Poder Divino. Cumpre-me acentuar, todavia, que semelhantes requisitos, em nosso plano, constituem exigências a que não se pode fugir, quando, na esfera carnal, a boa vontade sincera, em muitos casos, pode suprir essa ou aquela deficiência, o que se justifica, em virtude da assistência prestada pelos benfeitores de nossos círculos de ação ao servidor humano, ainda incompleto no terreno das qualidades desejáveis.
Ouvindo as considerações do orientador, lembrei-me de que, de fato, vez por outra, viam-se nas reuniões costumeiras do grupo os médiuns passistas, em serviço, acompanhados de perto pelas entidades referidas. Vali-me, então, do ensejo para intensificar meu aprendizado.
- Os amigos encarnados - perguntei -, de modo geral, poderiam colaborar em semelhantes atividades de auxílio magnético?
- Todos, com maior ou menor intensidade, poderão prestar concurso fraterno, nesse sentido respondeu o orientador -, porquanto, revelada a disposição fiel de cooperar a serviço do próximo, por esse ou aquele trabalhador, as autoridades de nosso meio designam entidades sábias e benevolentes que orientam, indiretamente, o Neófito, utilizando-lhe a boa vontade e enriquecendo-lhe o próprio valor. São muito raros, porém, os companheiros que demonstram a vocação de servir espontaneamente. Muitos, não obstante bondosos e sinceros nas suas convicções, aguardam a mediunidade curadora, como se ela fosse um acontecimento miraculoso em suas vidas e não um serviço do bem, que pede do candidato o esforço laborioso do começo. Claro que, referindo-nos aos irmãos encarnados, não podemos exigir a cooperação de ninguém, no setor de nossos trabalhos normais; entretanto, se algum deles vem ao nosso encontro, solicitando admissão às tarefas de auxílio, logicamente receberá nossa melhor orientação, no campo da espiritualidade.
- Ainda mesmo que o operário humano revele valores muito reduzidos, pode ser mobilizado? ¬interroguei, curioso.
- Perfeitamente - aduziu Alexandre, atencioso. - Desde que o interesse dele nas aquisições sagradas do bem seja mantido acima de qualquer preocupação transitória, deve esperar incessante progresso das faculdades radiantes, não só pelo próprio esforço, senão também pelo concurso de Mais Alto, de que se faz merecedor.
Não longe de nós, permaneciam os técnicos espirituais do auxílio magnético, em atividade metódica. Reconhecia-lhes nos trabalhos silenciosos um mundo novo de ensinamentos, convidando-me a experiências proveitosas; todavia, anotando as explicações do instrutor, ponderei quanto à possibilidade de contribuição pelo esclarecimento de algum amigo encarnado, em face do assunto, e perguntei:
- Quando na Crosta, envolvidos pelos fluidos mais densos, como poderemos desenvolver a capacidade radiante, depois da edificação de nossa boa vontade real, a serviço do próximo?
O orientador percebeu-me a intenção e elucidou, de pronto:
- Conseguida a qualidade básica, o candidato ao serviço precisa considerar a necessidade de sua elevação urgente, para que as suas obras se elevem no mesmo ritmo. Falaremos tão-só das conquistas mais simples e imediatas que deve fazer, dentro de si mesmo. Antes de tudo, é necessário equilibrar o campo das emoções. Não é possível fornecer forças construtivas a alguém, ainda mesmo na condição de instrumento útil, se fazemos sistemático desperdício das irradiações vitais Um sistema nervoso esgotado, oprimido, é um canal que não responde pelas interrupções havidas. A mágoa excessiva, a paixão desvairada, a inquietude obsidente, constituem barreiras que impedem a passagem das energias auxiliadoras. Por outro lado, é preciso examinar também as necessidades fisiológicas, a par dos requisitos de ordem psíquica. A fiscalização dos elementos destinados aos armazéns celulares é indispensável, por parte do próprio interessado em atender as tarefas do bem. O excesso de alimentação produz odores fétidos, através dos poros, bem como das saídas dos pulmões e do estômago, prejudicando as faculdades radiantes, porquanto provoca dejeções anormais e desarmonias de vulto no aparelho gastrintestinal, interessando a intimidade das células. O álcool e outras substâncias tóxicas operam distúrbios nos centros nervosos, modificando certas funções psíquicas e anulando os melhores esforços na transmissão de elementos regeneradores e salutares.
O mentor fez uma pausa mais longa, observando em mim o efeito de suas palavras, e concluiu:
- Levada a efeito a construção da boa vontade sincera, o trabalhador leal compreende a necessidade do desenvolvimento das qualidades a que nos referimos, porquanto, em contacto incessante com os benfeitores desencarnados, que se valem dele na missão de amparo aos semelhantes, recebe indiretas sugestões de aperfeiçoamento que o erguem a posições mais elevadas. As observações de Alexandre não podiam ser mais claras; contudo, aventurei-me ainda a ponderar:
- Consideremos, todavia, que surja a necessidade imediata de socorrer alguém, no círculo dos encarnados, e examinemos a hipótese da imprescindibilidade dum instrumento humano. Imaginemos que não exista, de pronto, em derredor de nossa tarefa, o órgão completo e adequado a influenciação das potências superiores. Existirá, certamente, porém, ao nosso lado, um companheiro em condições comuns, que, mergulhado na ignorância, ainda não percebe os perigos a que expõe o próprio corpo, mas que se deixará aproveitar pelo nosso esforço espiritual em benefício de outrem. Será crível que não possa ser aproveitado?
O instrutor sorriu bondosamente, e considerou:
- Seria demasiado rigor. Em todo lugar onde haja merecimento nos que sofrem e boa vontade nos que auxiliam, podemos ministrar o benefício espiritual com relativa eficiência. Todos os enfermos podem procurar a saúde; todos os desviados, quando desejam, retornam ao equilíbrio. Se a prática do bem estivesse circunscrita aos Espíritos completamente bons, seria impossível a redenção humana. Qualquer cota de boa vontade e espírito de serviço recebe de nossa parte a melhor atenção.
Imprimiu Alexandre pequeno intervalo à palestra, e, depois de pensar um minuto, esclareceu:
- Quando nos referimos às qualidades necessárias aos servidores desse campo de auxílio, a ninguém desejamos desencorajar, mas orientar as aspirações do trabalhador para que a sua tarefa cresça em valores positivos e eternos.
Nesse momento, aproximou-se um dos companheiros em serviço, pedindo a cooperação de Alexandre em determinado setor.Ele atendeu, gentil. No entanto, antes de separar-se de mim, conduziu-me ao reduzido grupo de entidades que se encarregavam dos passes e, apresentando-me ao amigo que chefiava o trabalho, explicou, generoso:
- Anacleto: nosso irmão André Luiz, que exerceu funções de médico na última experiência terrestre, estimaria receber alguns esclarecimentos, quanto aos serviços de sua especialidade. Desde já, agradeço tudo o que você fizer por ele.
O diretor daquele departamento de auxílio acolheu-me fraternalmente e, fosse porque estava em trabalho ativo ou porque se dava a poucas palavras, convidou-me, sem perda de tempo, às observações diretas das atividades sob sua chefia. Delicadamente, colocou-me ao lado de uma senhora respeitável, que se localizara à mesa, não longe do orientador da casa.
- Vejamos esta irmã - exclamou Anacleto, prontificando-se ao auxilio afetuoso -, observe-lhe o coração e, principalmente, a válvula mitral. Detive-me em acurado exame da região mencionada e, efetivamente, descobri a existência de tenuíssima nuvem negra, que cobria grande extensão da zona indicada, interessando ainda a válvula aórtica e lançando filamentos quase imperceptíveis sobre o nódulo sino-auricular. Expus ao novo amigo minhas observações, ao que me respondeu:
- Assim como o corpo físico pode ingerir alimentos venenosos que lhe intoxicam os tecidos, também o organismo perispiritual pode absorver elementos de degradação que lhe corroem os centros de força, com reflexos sobre as células materiais. Se a mente da criatura encarnada ainda não atingiu a disciplina das emoções, se alimenta paixões que a desarmonizam com a realidade, pode, a qualquer momento, intoxicar-se com as emissões mentais daqueles com quem convive e que se encontrem no mesmo estado de desequilíbrio. As vezes, semelhantes absorções constituem simples Fenômenos sem maior importância; todavia, em muitos casos, são suscetíveis de ocasionar perigosos desastres orgânicos. Isto acontece, mormente quando os interessados não têm vida de oração, cuja influência benéfica pode anular inúmeros males.
Indicou o coração de carne da irmã presente e continuou:
- Esta amiga, na manhã de hoje, teve sérios atritos com o esposo, entrando em grave posição de desarmonia íntima. A pequena nuvem que lhe cerca o órgão vital representa matéria mental fulminatória. A permanência de semelhantes resíduos no coração pode ocasionar-lhe perigosa enfermidade. Atendamos ao caso.
Sempre sob minha observação, Anacleto assumiu nova atitude, dando-me a entender que ia favorecer suas expansões irradiantes e, em seguida, começou a atuar por imposição. Colocou a mão direita sobre o epigástrio da paciente, na zona inferior do esterno e, com surpresa, notei que a destra, assim disposta, emitia sublimes jatos de luz que se dirigiam ao coração da senhora enferma, observando-se nitidamente que os raios de luminosa vitalidade eram impulsionados pela força inteligente e consciente do emissor. Assediada pelos princípios magnéticos, postos em ação, a reduzida porção de matéria negra, que envolvia a válvula mitral, deslocou-se vagarosamente e, como se fora atraída pela vigorosa vontade de Anacleto, veio aos tecidos da superfície, espraiando-se sob a mão irradiante, ao longo da epiderme. Foi então que o magnetizador espiritual iniciou o serviço mais ativo do passe, alijando a maligna influência. Fez o contacto duplo sobre o epigástrio, erguendo ambas as mãos e descendo-as, logo após, morosamente, através dos quadris até aos joelhos, repetindo o contacto na região mencionada e prosseguindo nas mesmas operações por diversas vezes. Em poucos instantes, o organismo da enferma voltou à normalidade.
Eu estava admirado. E como o assunto envolvia problemas espirituais de elevada significação, assim que o instrutor terminou o trabalho, indaguei:
- Perdoe-me a pergunta, mas, na hipótese de não se socorrer esta irmã, da colaboração de uma casa espiritista, como se haveria com a doença oculta? Estaria ao abandono?
- De modo algum - respondeu Anacleto, sorrindo. - Há verdadeiras legiões de trabalhadores de nossa especialidade amparando as criaturas que, através de elevadas aspirações, procuram o caminho certo nas instituições religiosas de todos os matizes. A manifestação de fé não se limita a simples afirmação mecânica de confiança. O homem que vive mentalmente, visceralmente, a religião que lhe ensina a senda do bem, está em atividade intensa e renovadora, recebendo, por isto mesmo, as mais fortes contribuições de amparo espiritual, por quanto abre a porta viva da alma para o socorro de Mais Alto, através da oração e da posição ativa de confiança no Poder Divino.
O novo companheiro indicou a irmã que se libertara da desastrosa influenciação e esclareceu, depois de uma pausa:
- Nossa amiga está procurando a verdade, cheia de sincera confiança em Jesus. Ovelha fustigada pela tempestade do mundo e inexperiente na esfera do conhecimento, volta-se para o Divino Pastor, como a criança frágil, sequiosa do carinho materno. Estivesse orando numa igreja católica romana ou num templo budista, receberia o socorro de nossa Esfera, por intermédio desse ou daquele grupo de trabalhadores do Cristo. Naturalmente aqui, no seio de uma organização indene das sombras do preconceito e do dogmatismo, nosso concurso fraternal pode ser mais eficiente, mais puro, e as suas possibilidades de aproveitamento são muito mais vastas. É preciso assinalar, porém, que os auxiliadores magnéticos transitam em toda parte, onde existam solicitações da fé sincera, distribuindo o socorro do Divino Mestre, dentro da melhor divisão de serviço. Onde vibre o sentimento sincero e elevado, aí se abre um caminho para a Proteção de Deus.
A elucidação fez-me grande bem pela revelação de imparcialidade na distribuição dos bens de nosso plano. Entretanto, outra pergunta ocorreu-me, de imediato.
- Todavia, meu amigo - considerei -, admitamos que esta nossa irmã fosse estranha a qualquer atividade de ordem espiritual. Imaginemo-la sem fé, sem filiação a qualquer escola religiosa e sem qualquer atestado de merecimento na prática da virtude. Ainda assim, receberia o benefício dos passes libertadores?
Anacleto, com aquela bondade paciente que eu conhecia em Alexandre, observou:
- Se fosse uma criatura de sentimentos retos, embora infensa à religião, em suas meditações naturais receberia auxílio, não obstante menor, pela sua incapacidade de recepção mais intensa das nossas energias radiantes; mas, se ficasse integralmente mergulhada nas sombras da ignorância ou da maldade, permaneceria distante da colaboração de ordem superior e as suas forças físicas sofreriam desgastes violentos e inevitáveis, pela continuidade da intoxicação mental. Quem se fecha às idéias regeneradoras, fugindo às leis da cooperação, experimentará as conseqüências legítimas. Satisfeito com as elucidações recebidas, reconheci que não me competia interromper o curso dos trabalhos, tão-somente para satisfazer minha curiosidade pessoal.O novo companheiro dirigiu-se a diferente setor. Postávamo-nos, agora, ao lado de um cavalheiro idoso, para cujo organismo Anacleto me reclamou atenção. Analisei-o acuradamente. Com assombro, notei-lhe o fígado profundamente alterado. Outra nuvem, igualmente muito escura, cobria grande parte do Órgão, compelindo-o a estranhos desequilíbrios. Toda a vesícula biliar permanecia atingida. E via-se, com nitidez, que os reflexos negros daquela peque¬na porção de matéria tóxica alcançavam o duodeno e o pâncreas, modificando o processo digestivo. Alguns minutos de observação silenciosa davam-me a conhecer a extrema perturbação de que o órgão da bile se sentia objeto. As células hepáticas pareciam presas de perigosas vibrações.Enderecei ao amigo espiritual meu olhar de admiração.
- Observou? - disse ele, bondosamente toda perturbação mental é ascendente de graves processos patológicos. Afligir a mente é alterar as funções do corpo. Por isso, qualquer inquietação intima chama-se desarmonia e as perturbações orgânicas chamam-se enfermidades.
Colocou a destra amiga sobre a fronte do cavalheiro e acrescentou:
- Este irmão, portador dum temperamento muito vivo, está cheio dos valores positivos da personalidade humana. Tem atravessado inúmeras experiências em lutas passadas e aprendeu a dominar as coisas e as situações com invejável energia. Agora, porém, está aprendendo a dominar a si mesmo, a conquistar-se para a iluminação interior. Em semelhante tarefa, contudo, experimenta choques de vulto, porquanto, dentro de sua individualidade dominadora, é compelido a destruir várias concepções que se lhe figuravam preciosas e sagradas. Nesse empenho, os próprios ensinamentos do Cristo, que lhe serve de modelo à renovação, doem-lhe no íntimo como marteladas, em certas circunstâncias. Este homem, no entanto, é sincero e deseja, de fato, reformar-se. Mas sofre intensamente, porque é obrigado a ausentar-se de seu campo exclusivo, a caminho do vasto território da compreensão geral. No circulo dos conflitos dessa natureza, vem lutando, desde ontem, dentro de si mesmo, para acomodar-se a certas imposições de origem humana que lhe são necessárias ao aprendizado espiritual, e, no esforço mental gigantesco, ele mesmo produziu pensamentos terríveis e destruidores, que segregaram matéria venenosa, imediatamente atraída para o seu ponto orgânico mais frágil, que é o fígado. Ele, porém, está em prece regeneradora e facilitará nosso serviço de socorro, pela emissão de energias benéficas. Não fosse a oração, que lhe renova as forças reparadoras, e não fosse o socorro imediato de nossa esfera, poderia ser vítima de doenças mortais do corpo. A permanência de matéria tóxica, indefinidamente, na intimidade deste órgão de importância vital, determinaria movimentos destruidores para os glóbulos vermelhos do sangue, complicaria as ações combinadas da digestão e perturbaria, de modo fatal, o metabolismo das proteínas.
Anacleto fez uma pausa mais longa, sorriu cordialmente e acentuou:
- Isto, porém, não acontecerá. Na luta titânica em que se empenha consigo mesmo, a vontade firme de acertar é a sua âncora de salvação.
Permanecia tão surpreso com o ensinamento, que não ousei dirigir-lhe qualquer interrogação.
Anacleto continuou de pé e aplicou-lhe um passe longitudinal sobre a cabeça, partindo do contacto simples e descendo a mão, vagarosamente, até à região do fígado, que o auxiliador tocava com a extremidade dos dedos irradiantes, repetindo-se a operação por alguns minutos. Surpreendido, observei que a nuvem, de escura, se fizera opaca, desfazendo-se, pouco a pouco, sob o influxo vigoroso do magnetizador em missão de auxílio. O fígado voltou à normalidade plena.
Mais alguns minutos e nos encontramos diante de uma senhora grávida, em sérias condições de enfraquecimento.Anacleto deteve-se mais respeitoso.
- Aqui - disse ele, sensibilizado - temos uma irmã altamente necessitada de nossos recursos fluídicos. Profunda anemia invade-lhe o organismo. Em regime de subalimentação, em virtude das dificuldades naturais que a rodeiam de longo tempo, a gravidez constitui para ela um processo francamente doloroso. O marido é parcamente remunerado e a esposa é obrigada a vigílias, noite adentro, a fim de auxiliá-lo na manutenção do lar. A prece, porém, não representa para este coração materno tão-somente um refúgio. A par de consolações espontâneas, ela recolhe forças magnéticas de substancial expressão que a sustentam no presente drama biológico.
Em seguida, indicou a região do útero e ponderou:
- Observe as manchas escuras que cercam a organização fetal.
Efetivamente, aderindo ao saco de liquido amniótico, viam-se Microscópicas nuvens pardacentas vagueando em várias direções, dentro do sublime Laboratório de forças geradoras.
Dando-me a perceber seu fundo conhecimento da situação, Anacleto continuou:
- Se as manchas atravessarem o liquido, provocarão dolorosos processos patológicos em toda a zona do epiblasto. E o fim da luta será o aborto inevitável.
Comovidissimo, contemplei o quadro divino daquela mãe sacrificada, unida à organização espiritual daquele que lhe seria o filho no porvir. Foi o chefe da assistência magnética que me arrebatou daquela silenciosa admiração, explicando:
- Não obstante a fé que lhe exorta o caráter, apesar dos seus mais elevados sentimentos, nossa amiga não consegue furtar-se, de todo, à tristeza angustiosa, em certas circunstâncias. Há seis dias permanece desalentada, aflita. Dentro de algum tempo, o esposo deve resgatar um débito significativo, faltando-lhe, porém, os recursos precisos. A pobre senhora, contudo, além de suportar a carga de pensamentos destruidores que vem produzindo, é compelida a absorver as emissões de matéria mental doentia do companheiro, que se apóia na coragem e na resignação da mulher. As vibrações dissolventes acumuladas são atraídas para a região orgânica, em condições anormais e, por isso, vemo-las congregadas como pequeninas nuvens em torno do órgão gerador, ameaçando, não só a saúde maternal, mas também o desenvolvimento do feto.
Estupefato, ante os novos ensinamentos, reparei que. Anacleto chamou um dos auxiliares, recomendando-lhe alguma coisa.
Logo após, muito cuidadosamente, atuou por imposição das mãos sobre a cabeça da enferma, como se quisesse aliviar-lhe a mente. Em seguida, aplicou passes rotatórios na região uterina. vi que as manchas microscópicas se reuniam, congregando-se numa só, formando pequeno corpo escuro. Sob o influxo magnético do auxiliador, a reduzida bola fluídico - pardacenta transferiu-se para o interior da bexiga urinária.
Intensificando-me a admiração, o novo companheiro, dando os passes por terminados, esclareceu:
- Não convém dilatar a colaboração magnética para retirar a matéria tóxica de uma vez. Lançada no excretor de urina, será alijada facilmente, dispensando a carga de outras operações.
Foi então que se aproximou de Anacleto o servidor a quem me referi, trazendo-lhe uma pequenina ânfora que me pareceu conter essências preciosas.
O orientador do serviço tomou-a, zeloso, e falou:
- Agora, é preciso socorrer a organização fetal. A alimentação da genitora, por força de circunstâncias que independem de sua vontade, tem sido insuficiente.
Anacleto retirou do vaso certa porção de substância luminosa, projetando-a nas vilosidades uterinas, enriquecendo o sangue materno destinado a fornecer oxigênio ao embrião.
Expressando minha profunda admiração pelo concurso eficiente de que fora testemunha, considerou o generoso auxiliador:
- Não podemos abandonar nossos irmãos na carne, ao sabor das circunstâncias, mormente quando procuram a cooperação precisa através da prece. A oração, elevando o nível mental da criatura confiante e crente no Divino Poder, favorece o intercâmbio entre as duas esferas e facilita nossa tarefa de auxilio fraternal. Imensos exércitos de trabalhadores desencarnados se movimentam em toda parte, em nome de Nosso Pai. Em vista disto, meu irmão, o homem de bem encontrará, depois da morte do corpo, novos mundos de trabalho que o esperam e onde desenvolverá, infinitamente, o amor e a sabedoria, de que possui os germens no coração.
Em seguida, Anacleto passou a atender um cavalheiro, cujos rins pareciam envolvidos em crepe negro, tal a densidade da matéria mental fulminante que os cercava. Aplicou-lhe passes longitudinais, com muito carinho, e, finda a operação, observou-me:
- Um dia, compreenderá o homem comum a importância do pensamento. Por agora, é muito difícil revelar-lhe o sublime poder da mente.
O chefe da assistência magnética ia estender-se, talvez, em considerações educativas, mas um dos cooperadores do serviço aproximou-se e notificou-lhe, atencioso:
- Estimaria receber a sua orientação num caso de «décima vez». Trata-se do nosso conhecido, que apresenta graves perturbações no baço.
Extremamente surpreendido, acompanhei Anacleto, que se dirigiu para um dos recantos da sala.
Á nossa frente estava um cavalheiro idoso, que o orientador examinou com atenção. Por minha vez, observei-lhe o fígado e o baço, que acusavam enorme desequilíbrio.
- Lastimável! -- exclamou o chefe do auxilio, depois de longa perquirição. - Entretanto, apenas poderemos aliviá-lo. Agora, após dez vezes de socorro completo, é preciso deixá-lo entregue a si mesmo, até que adote nova resolução.
E, dirigindo-se ao auxiliar, acentuou:
- Poderá oferecer-lhe melhoras, mas não deve alijar a carga de forças destruidoras que o nosso rebelde amigo acumulou para si mesmo. Nossa missão é de amparar os que erraram, e não de fortalecer os erros.
Percebendo-me o espanto, Anacleto explicou:
- Nosso esforço é também educativo e não podemos desconsiderar a dor que instrui e ajuda a transformar o homem para o bem. Nas normas do serviço que devemos atender, nesta casa, é imprescindível ajuizar das causas na extirpação dos males alheios. Há pessoas que procuram o sofrimento, a perturbação, o desequilíbrio, e é razoável que sejam punidas pelas conseqüências de seus próprios atos. Quando encontramos enfermos dessa condição, salvamo-los dos fluidos deletérios em que se envolvem por deliberação própria, por dez vezes consecutivas, a titulo de benemerência espiritual. Todavia, se as dez oportunidades voam sem proveito para os interessados, temos instruções superiores para entregá-los à sua própria obra, a fim de que aprendam consigo mesmos. Poderemos aliviá-los, mas nunca libertá-los.
Depois de ligeira pausa e sentindo que eu não me atreveria a interromper-lhe os preciosos ensinamentos, Anacleto prosseguiu:
- Este homem, não obstante simpatizar com as nossas atividades espiritualizantes, é portador dum temperamento menos simpático, por extremamente caprichoso. Estima as rixas freqüentes, as discussões apaixonadas, o império de seus pontos de vista. Não se acautela contra o ato de encolerizar-se e desperta incessantemente a cólera e a mágoa dos que lhe desfrutam a companhia. Tornou-se, por isso mesmo, o centro de convergência de intensas vibrações destruidoras. Veio ao nosso grupo em busca de melhoras, e, desde há muitas semanas, buscamos orientá-lo no serviço do amor cristão, chamando-lhe a consciência à prática de obrigações necessárias ao seu Próprio bem-estar. O infeliz, porém, não nos ouve. Adquire ódios com facilidade temível e não percebe a perigosa posição em que se confina. Freqüenta-nos há pouco mais de três meses e, durante esse tempo, já lhe fizemos as dez operações de socorro magnético integral, alijando-lhe as cargas malignas, não só dos pensamentos de angústia e represália que ele provoca nos outros, mas também dos pensamentos cruéis que fabrica para si. Agora, temos de interromper o serviço de libertação, por algum tempo. A sós com a sua experiência forte, aprenderá lições novas e ganhará muitos valores. Mais tarde, receberá, de novo, o socorro completo.
Profundamente edificado com o processo educativo, ousei perguntar:
- Qual a medida de tempo estipulada para os casos dessa natureza?
O interlocutor, porém, assumindo atitude discreta, contornou a pergunta e respondeu:
- Varia de acordo com os motivos. O efeito obedece à causa.
Anacleto prosseguiu auxiliando, enquanto eu' me perdia em profundas considerações de ordem; superior. Depois de partir os laços carnais, compreendemos, com mais clareza e intensidade, a função da dor no campo da justiça edificante. Aquela permanência de minutos, junto ao serviço de assistência magnética, renovava-me as concepções referentemente a socorros e corrigendas. O Senhor ama sempre, mas não perde a ocasião de aperfeiçoar, polir, educar...
Foi Alexandre que, ao reaproximar-se de mim, chamou-me à realidade. Os trabalhos haviam terminado.
PASSES - ML / cap. 19
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Atravessamos a porta e fomos defrontados por ambiente balsâmico e luminoso.
Um cavalheiro maduro e uma senhora respeitável recolhiam apontamentos em pequeno livro de notas, ladeados por entidades evidentemente vinculadas ao serviço de cura.
Indicando os dois médiuns, o Assistente informou:
- São os nossos irmãos Clara e Henrique, em tarefa de assistência, orientados pelos amigos que os dirigem.
- Como compreender a atmosfera radiante em que nos banhamos? – aventurou, Hilário curioso.   
- Nesta sala - explicou Áulus, amigavelmente – se reúnem sublimadas emanações mentais da maioria de quantos se valem do socorro magnético, tomados de amor e confiança. Aqui possuímos uma espécie de altar interior, formado pelos pensamentos, preces e aspirações de quantos nos procuram trazendo o melhor de si mesmos.
Não dispúnhamos, todavia, de muito tempo para conversação isolada.
Clara e Henrique, agora em prece, nimbavam-se de luz.
Dir-se-ia estavam quase desligados do corpo denso, porque se mostravam espiritualmente mais livres, em pleno contato com os benfeitores presentes, embora por si mesmos não no pudessem avaliar.
Calmos e seguros, pareciam haurir forças revigorantes na intimidade de suas almas. Guardavam a idéia de que a oração lhes mantinha o espírito em comunicação com invisível e profundo manancial de energia silenciosa.
Ante a porta ainda cerrada, acotovelavam-se pessoas aflitas e barulhentas, esperando o término da preparação a que se confiavam.
Os dois médiuns, porém, afiguravam-se-nos espiritualmente distantes.
Absortos, em companhia das entidades irmãs, registravam-lhes as instruções, através dos recursos intuitivos.
Pelas irradiações da personalidade magnética de Henrique, reconhecia-se-lhe, de imediato, a superioridade sobre a companheira. Era ele, dentre os dois, o ponto dominante.
Por isso, decerto, ao seu lado se achava o orientador espiritual mais categorizado para a tarefa.
Áulus abraçou-o e no-lo apresentou, gentil.
O irmão Conrado, nosso novo amigo, enlaçou-nos acolhedor.
Anunciou que o serviço estaria a nossa disposição para os apontamentos que desejássemos.
E o nosso instrutor, colocando-nos à vontade, autorizou-nos a dirigir a Conrado qualquer indagação que nos ocorresse.
Hilário, que nunca sopitava a própria espontaneidade, começou, como de hábito, a inquirição, perguntando respeitosamente:
- O amigo permanece frequentemente aqui?
- Sim, tomamos sob nossa responsabilidade os serviços assistenciais da instituição, em favor dos doentes, duas noites por semana.
- Dos enfermos tão-somente encarnados? 
- Não é bem assim. Atendemos aos necessitados de qualquer procedência.
- Conta com muitos cooperadores?
- Integramos um quadro de auxiliares, de acordo com a organização estabelecida pelos mentores da Esfera Superior.
- Quer dizer que, numa casa como esta, há colaboradores espirituais devidamente fichados, assim como ocorre a médicos e enfermeiros num hospital terrestre comum?
- Perfeitamente. Tanto entre os homens como entre nós, que ainda nos achamos longe da perfeição espiritual, o êxito do trabalho reclama experiência, horário, segurança e responsabilidade do servidor fiel aos compromissos assumidos. A Lei não pode menosprezar as linhas da lógica.
- E os médiuns? São invariavelmente os mesmos?
- Sim, contudo, em casos de impedimento justo, podem ser substituídos, embora nessas circunstâncias se verifiquem, inevitavelmente, pequenos prejuízos resultantes de natural desajuste.
Meu colega passeou o olhar inquieto pelos dois companheiros encarnados, em oração, e continuou:
- Preparam-se nossos amigos, à frente do trabalho, com o auxílio da prece?
- Sem dúvida. A oração é prodigioso banho de forças, tal a vigorosa corrente mental que atrai. Por ela, Clara e Henrique expulsam do próprio mundo interior os sombrios remanescentes da atividade comum que trazem do círculo diário de luta e sorvem do nosso plano as substâncias renovadoras de que se repletam, a fim de conseguirem operar com eficiência, a favor do próximo. Desse modo, ajudam e acabam por ser firmemente ajudados.
- Isso significa que não precisam recear a sua exaustão...
- De modo algum. Tanto quanto nós, não comparecem aqui com a pretensão de serem os senhores do benefício, mas sim na condição de beneficiários que recebem para dar. A oração, com o reconhecimento de nossa desvalia, coloca-nos na posição de simples elos de uma cadeia de socorro, cuja orientação reside no Alto. Somos nós aqui, neste recinto consagrado à missão evangélica, sob a inspiração de Jesus, algo semelhante à singela tomada elétrica, dando passagem à força que não nos pertence e que servirá na produção de energia e luz.
A explicação não podia ser mais clara.
E enquanto Hilário sorria satisfeito, Conrado afagou os ombros de Henrique, como a recordar-lhe o horário estabelecido, e o médium, apesar de não lhe assinalar o gesto no campo das sensações físicas, obedeceu, de pronto, encaminhando-se para a porta e descerrando-a aos sofredores.
Pequena multidão de encarnados e desencarnados aglomerou-se à entrada, todavia, companheiros da casa controlavam-lhes os movimentos.
Conrado entregou-se ao trabalho que lhe competia e, em razão disso, tornamos à intimidade do Assistente. Ambos os médiuns atacaram a tarefa.
Enfermos de variada expressão entravam esperançosos e retiravam-se, depois de atendidos, com evidentes sinais de reconforto. Das mãos de Clara e Henrique irradiavam-se luminosas chispas, comunicando-lhes vigor e refazimento.
Na maioria dos casos, não precisavam tocar o corpo dos pacientes, de modo direto. Os recursos magnéticos, aplicados a reduzida distância, penetravam assim mesmo o << halo vital >> ou a aura dos doentes, provocando modificações subitâneas.
Os passistas afiguravam-se-nos como duas pilhas humanas deitando raios de espécie múltipla, a lhes fluírem das mãos, depois de lhes percorrerem a cabeça, ao contato do irmão Conrado e de seus colaboradores.
O quadro era efetivamente fascinador pelos jogos de luz que apresentava.
Hilário sondou o ambiente e, em seguida, indagou de nosso orientador:
- Por que motivo a energia transmitida pelos amigos espirituais circula primeiramente na cabeça dos médiuns?
- Ainda aqui – disse Áulus -, não podemos subestimar a importância da mente. O pensamento influi de maneira decisiva, na doação de princípios curadores. Sem a idéia iluminada pela fé e pela boa vontade, o médium não conseguiria ligação com os espíritos amigos que atuam sobre essas bases.
- Entretanto – ponderei -, Há pessoas tão bem dotadas de força magnética perfeitamente despreocupadas do elemento moral!...
- Sim – redargüiu o Assistente -, refere-se você aos hipnotizadores comuns, muita vez portadores de energia excepcional. Fazem belas demonstrações, impressionam, convencem, contudo, movimentam-se na esfera de puro fenômeno, sem aplicações edificantes no campo da espiritualidade. É imperioso não esquecer, André, que o potencial magnético é peculiar a todos, com expressões que se graduam ao infinito.
- Mas semelhantes profissionais podem igualmente curar! – frisou meu companheiro, completando-me as observações.
- Sim, podem curar, mas acidentalmente, quando o enfermo é credor de assistência espiritual imediata, com a intervenção de amigos que o favorecem. Fora disso, os que abusam dessa fonte de energia, explorando-a ao seu bel-prazer, quase sempre resvalam para a desmoralização de si  mesmos, porque interferindo num campo de forças que lhes é desconhecido, guiados tão somente pela vaidade ou pela ambição inferior, fatalmente encontram entidades que com eles se afinam, precipitando-se em difíceis situações que não vêm à baila comentar. Se não possuem um caráter elevado, suscetível de opor um dique à influenciação viciosa, acabam vampirizados por energias mais acentuadas que as deles, porquanto, se considerarmos o assunto apenas sob o ponto de vista da força, somos constrangidos a reconhecer que há imenso número de vigorosos hipnotizadores espirituais, nas linhas atormentadas da ignorância e da crueldade, de onde se originam os mais aflitivos processos de obsessão.
E, sorrindo, acrescentou:
- Recordemos a Natureza. A serpente é um dos maiores detentores de poder hipnótico.   
- Então – disse Hilário -, para curar, serão indispensáveis certas atitudes do espírito...
- Indiscutivelmente não prescindimos do coração nobre e da mente pura, no exercício do amor, da humildade e da fé viva, para que os raios do poder divino encontrem acesso e passagem por nós, a benefício dos outros. Para a sustentação de um serviço metódico de cura, isso é indispensável.
- Entretanto, para o esforço desse tipo precisaremos de pessoas escolhidas, com a obrigação de efetuarem estudos especiais?
- Importa ponderar – disse Áulus, convicto – que em qualquer setor de trabalho a ausência de estudo significa estagnação. Esse ou aquele cooperador que desistam de aprender, incorporando novos conhecimentos, condenam-se fatalmente às atividades de subnível, todavia, em se tratando do socorro magnético, tal qual é administrado aqui, convém lembrar que a tarefa é de solidariedade pura, com ardente desejo de ajudar, sob a invocação da prece. E toda oração, filha da sinceridade e do dever bem cumprido, com respeitabilidade moral e limpeza de sentimentos, permanece tocada de incomensurável poder. Analisada a questão nestes termos, todas as pessoas dignas e fervorosas, com o auxílio da prece, podem conquistar a simpatia de veneráveis magnetizadores do Plano Espiritual, que passam, assim, a mobilizá-las na extensão do bem. Não nos achamos à frente do hipnotismo espetacular, mas sim num gabinete de cura, em que os médiuns transmitem os benefícios que recolhem, sem a presunção de doá-los de si mesmos. É importante não esquecer essa verdade para deixarmos bem claro que, onde surjam a humildade e o amor, o amparo divino é seguro e imediato.
O ministério da cura, porém, a desdobrar-se eficiente e pacífico, reclamava-nos atenção.
Os doentes entravam dois a dois, sendo carinhosamente atendidos por Clara e Henrique, sob a providencial assistência de Conrado e seus colaboradores.
Obsidiados ganhavam ingresso no recinto, acompanhados de frios verdugos, no entanto, com o toque dos médiuns sobre a região cortical, depressa se desligavam, postando-se, porém, nas vizinhanças, como que à espera das vítimas, com a maioria das quais se reacomodavam, de pronto.
Alinhando apontamentos, começamos a reparar que alguns enfermos não alcançavam a mais leve melhoria.
As irradiações magnéticas não lhes penetravam o veículo orgânico.
Registrando o fenômeno, a pergunta de Hilário não se fez esperar.
- Por quê?
- Falta-lhes o estado de confiança – esclareceu o orientador.
- Será, então, indispensável a fé para que registrem o socorro de que necessitam?
- Ah! sim. Em fotografia precisamos de chapa impressionável para deter a imagem, tanto quanto em eletricidade carecemos do fio sensível para a transmissão da luz. No terreno das vantagens espirituais, é imprescindível que o candidato apresente uma certa << tensão favorável >>. Essa tensão decorre da fé. Certo, não nos reportamos ao fanatismo religioso ou à cegueira da ignorância, mas sim à atitude de segurança íntima, com reverência e submissão, diante das Leis Divinas, em cuja sabedoria e amor procuramos arrimo. Sem recolhimento e respeito na receptividade, não conseguimos fixar os recursos imponderáveis que funcionam em nosso favor, porque o escárnio e a dureza de coração podem ser comparados a espessas camadas de gele sobre o templo da alma.
A lição fora simples e bela.
Hilário calou-se, talvez para refletir sobre ela, em silêncio.
Sem descurar dos nossos objetivos de estudo, Áulus considerou a conveniência de nosso contato direto com o serviço em ação. Seria interessante para nós a auscultação de algum dos casos em foco.
Para isso, aproximou-se de idosa matrona que acabava de entrar, à cata de auxílio e, com permissão de Conrado, convidou-nos a examiná-la com o cuidado possível.
A senhora,aguardando o concurso de Clara, sustentava-se dificilmente de pé, com o ventre volumoso e o semblante dolorido.
- Observem o fígado!
Utilizamo-nos dos recursos ao nosso alcance e passamos a analisar.
Realmente, o órgão mencionado demonstrava a dilatação características das pessoas que sofrem de insuficiência cardíaca. As células hepáticas pareceram-me vasta colméia, trabalhando sob enorme perturbação. A vesícula congestionada impeliu-me a imediata inspeção do intestino. A bile comprimida atingira os vasos e assaltava o sangue. O colédoco interdito facilitava o diagnóstico. Ligeiro exame da conjuntiva ocular confirmava-me a impressão. A icterícia mostrava-se insofismável.
Após ouvir-me, Conrado reafirmou:
- Sim, é uma icterícia complicada. Nasceu de terrível acesso de cólera, em que nossa amiga envolveu-se no reduto doméstico. Rendeu-se, desarvorada, à irritação, adquiriu renitente hepatite, da qual a icterícia é a conseqüência.
- E como será socorrida?
Conrado, impondo a destra sobre a fronte da médium, comunicou-lhe radiosa corrente de forças e inspirou-a a movimentar as mãos sobre a doente, desde a cabeça até o fígado enfermo.
Notamos que o córtex encefálico se revestiu de substância luminosa que, descendo em fios tenuíssimos, alcançou o campo visceral.
A senhora exibiu inequívoca expressão de alívio, na expressão fisionômica, retirando-se visivelmente satisfeita, depois de prometer que voltaria ao tratamento.
Hilário fixou os olhos interrogadores no Assistente que nos acompanhava, solícito, e indagou:
- Nossa irmã estará curada?
- Isso é impossível – acentuou Áulus, paternal -; temos aí órgãos e vasos comprometidos. O tempo não pode ser desprezado na solução.
- E em que bases se articula semelhante processo de curar?
- O passe é uma transfusão de energias, alterando o campo celular. Vocês sabem que na própria ciência humana de hoje o átomo não é mais o tijolo indivisível da matéria... que, antes dele, encontram-se as linhas de força, aglutinando os princípios subatômicos, e que, antes desses princípios, surge a vida mental determinante... Tudo é espírito no santuário da Natureza. Renovemos o pensamento e tudo se modificará conosco. Na assistência magnética, os recursos espirituais se entrosam entre a emissão e a recepção, ajudando a criatura necessitada para que ela ajude a si mesma. A mente reanimada reergue as vidas microscópicas que a servem, no templo do corpo, edificando valiosas reconstruções. O passe, como reconhecemos, é importante contribuição para quem saiba recebê-lo, com o respeito e a confiança que o valorizam.
- E pode, acaso, ser dispensado a distância?              
- Sim, desde que haja sintonia entre aquele que o administra e aquele que o recebe. Nesse caso, diversos companheiros espirituais se ajustam no trabalho de auxílio, favorecendo a realização, e a prece silenciosa será o melhor veículo da força curadora.
O serviço, em torno, prosseguia intenso.
Áulus considerou que a nossa presença talvez sobrecarregasse as preocupações de Conrado, e que não seria lícito permanecer junto dele por mais tempo, já que havíamos recolhido os apontamentos rápidos que nos propúnhamos a obter e, à vista disso, despedimo-nos do supervisor, buscando o salão central para a continuidade de nossas abençoadas lições.
SERVIÇOS  DE  PASSES - NDM / cap.17

7- SOCORRO AOS PEDIDOS DE AUXÍLIO ESPIRITUAL
Segundo informações de Aniceto, faltava mais de uma hora para o início da preleção evangélica, sob a responsabilidade do senhor Bentes, na esfera dos freqüentadores encarnados, mas o movimento do serviço espiritual tornara-se intensíssimo.
Reuniam-se ali para os olhos humanos, trinta e cinco individualidades terrestres e, no entanto, em nosso círculo, o número de necessitados excedia de duas centenas, porquanto agora, a assembléia estava acrescida de muitas entidades que formavam o séqüito perturbador da maioria dos aprendizes ali congregados. Para elas, organizou-se uma divisão especial, que me pareceu constituída por elementos de maior vigilância, visto chegarem quase obrigatoriamente, acompanhando os que buscavam o socorro espiritual, sem a indicação dos orientadores em serviço nas vias públicas.
A movimentação era enorme e o tempo era escasso para qualquer observação, sem movimento ativo. Todos os servidores da casa se mantinham a postos, desenvolvendo a melhor atenção.
Reparei que num ângulo da grande mesa havia numerosas indicações de receituário e assistência. Os mais variados nomes ali se enfileiravam. Muitas pessoas pediam conselhos médicos, orientações, assistência e passes. Quatro facultativos espirituais se moviam diligentes, e, secundando-lhes o esforço humanitário, quarenta cooperadores diretos iam e vinham, recolhendo informações e enriquecendo pormenores.
Aproximamo-nos do grande número de papéis nominados e, enquanto curiosamente buscava examina-los, Aniceto explicou:
- Temos aqui a indicação de pessoas que se afirmam necessitadas de amparo e socorro imediato.
- Mas recebem elas tudo quanto pedem? – indagou Vicente, curioso.
Nosso mentor sorriu e respondeu:
- Recebem o que precisam. Muitos solicitam a cura do corpo, mas somos forçados a estudar até que ponto lhes podemos ser úteis, no particularismo dos seus desejos; outros reclamam orientações várias, obrigando-nos a equilibrar nossa cooperação, de modo a não lhes tolher a liberdade individual. A existência terrestre é um curso ativo de preparação espiritual, e quase sempre, não faltam na escola os alunos ociosos, que perdem o tempo ao invés de aproveita-lo, ansiosos pelas realizações mentirosas do menor esforço. Desse modo, no capítulo das orientações, a maior parte dos pedidos são desassisados. A solicitação de terapêutica para a manutenção da saúde física, pelos que de fato se interessem pelo concurso espiritual, é sempre justa; todavia, no que concerne a conselhos para a vida normal, é imprescindível muita cautela de nossa parte, diante das requisições daqueles que se negam voluntariamente aos testemunhos de conduta cristã. O Evangelho está cheio de sagrados roteiros espirituais e o discípulo, pelo menos diante da própria consciência, deve considerar-se obrigado a conhecê-los.
O instrutor fez pequena amigo pausa, mudou a inflexão de voz, como para acentuar fortemente as palavras, e considerou:
- Possivelmente, vocês objetarão que toda pergunta exige resposta e todo pedido merece solução; entretanto, nesse caso de esclarecer determinadas solicitações dos companheiros encarnados, devemos recorrer, muitas vezes, ao silêncio. Como recomendar humildade àqueles que a pregam para os outros; como ensinar a paciência aos que a aconselham aos semelhantes, e como indicar o bálsamo do trabalho aos que já sabem condenar a ociosidade alheia? Não seria contra senso? Ler os regulamentos da vida para os cegos e para os ignorantes é obra meritória, mas repeti-los aos que já se encontram plenamente informados, não será menosprezo ao valor do tempo? Alma alguma, nas diversas confissões religiosas do Cristianismo, recebe notícias de Jesus, sem razão de ser. Ora, se toda condição de trabalho edificante traduz compromisso da criatura, todo conhecimento do Cristo traduz responsabilidade. Cada aprendiz do Mestre, portanto, está no dever de observar a consciência, conferindo-lhe os alvitres profundos com as disposições evangélicas.
Vicente, que escutava com grande interesse, aventou :
- No entanto, ousaria lembrar os que formulam semelhantes pedidos levianamente...
- Sim – elucidou Aniceto, sorrindo – mas nós não podemos copiar-lhes o impulso. Os desencarnados e os encarnados que ainda abusam das possibilidades de intercâmbio entre as esferas visíveis e invisíveis ao homem comum, pagarão alto preço pela invigilância.
- Neste caso – perguntei, respeitoso – como corresponder aos pedidos de orientação?
- Alguns raros – esclareceu nosso orientador – merecem o concurso de nossa elucidação verbal, na hipótese de se referirem aos interesses eternos do espírito, quando isso nos seja possível; entretanto, quase sempre é indispensável nada responder de maneira direta, auxiliando os interessados na pauta de nossos recursos, em silêncio, mesmo porque, não temos grande tempo para relembrar a irmãos encarnados certas obrigações que lhes não deviam escapar da memória, para felicidade de si mesmos.
Calou-se por momentos o bondoso instrutor, considerando em seguida interessado em nos subtrair quaisquer dúvidas:
- Muitas entidades desencarnadas estimam o fornecimento de palpites para as diversas situações e dificuldades terrestres, mas esses pobres amigos estacionam desastradamente em questões subalternas, incapazes de uma visão mais alta, em face dos horizontes infinitos da vida eterna, convertendo-se em meros escravos de mentalidades inferiores, encarnados na Terra. Esquecem que o nosso interesse imediato, agora, deve ser, acima de todos, aquele que se refira à espiritualidade superior. Nossos irmãos inquietos, que fornecem palpites a preguiças mentes encarnadas, sobre assuntos referentes à responsabilidade justa e necessária do homem, devem faze-lo de própria conta.
- Que acontece, então? – perguntou Vicente, curioso.
Nosso mentor, contudo, respondeu com outra pergunta:
- Que acontece ao homem de responsabilidade que se põe a brincar?
Nesse instante, um dos clínicos espirituais, aproximando-se, foi gentilmente saudado por Aniceto, que lhe disse, depois de apresentar-nos:
- Disponha da nossa colaboração humilde. Aqui estamos na qualidade de médicos itinerantes, prontos ao concurso ativo.
- Vêm de “Nosso Lar” ? – indagou o novo companheiro, respeitosamente.
- Sim respondeu Aniceto prestativo.
PEDIDOS DE AUXÍLIO ESPIRITUAL - OM/cap.46

A interpretação de Bentes, obedecendo à inspiração de um emissário de nobre posição, presente à assembléia, era recebida com respeito geral, no círculo das entidades desencarnadas.
Na esfera dos encarnados, porém, não se notava o mesmo traço de harmonia. Observava-se apreciável instabilidade de pensamento. A expectativa ansiosa dos presentes perturbava a corrente vibratória. De quando em quando, surpreendíamos determinados desequilíbrios, que afetavam particularmente, a organização mediúnica de Dona Isabel e a posição receptiva do comentarista, que parecia perder “o fio das idéias”, tal qual se diria na linguagem comum. Colaboradores ativos restabeleciam o ritmo, quanto possível. Reparamos que alguns irmãos encarnados se mantinham irriquietos, em demasia. Mormente os mais novos em conhecimentos doutrinários exibiam enorme irresponsabilidade. A mente lhes vagava muito longe dos comentários edificantes. Viam-se-lhes, distintamente, as imagens mentais. Alguns se prendiam aos quefazeres domésticos, outros se impacientavam por não lograrem a realização imediata dos propósitos que os haviam levado até ali.
Aniceto, que não perdia ocasião de prestar-nos esclarecimentos novos, considerou, discreto :
- Muitos estudiosos do Espiritismo se preocupam com o problema da concentração, em trabalhos de natureza espiritual. Não são poucos os que estabelecem padrão ao aspecto exterior da pessoa concentrada, os que exigem determinada atitude corporal e os que esperam resultados rápidos nas atividades dessa ordem. Entretanto, quem diz concentrar, forçosamente se refere ao ato de congregar alguma coisa. Ora, se os amigos encarnados não tomam a sério as responsabilidades que lhes dizem respeito, fora dos recintos de prática espiritista, se, porventura, são cultores da leviandade, da indiferença, do erro deliberado e incessante, da teimosia, da inobservância interna dos conselhos de perfeição cedidos a outrem, que poderão concentrar nos momentos fugazes de serviço espiritual? Boa concentração exige vida reta. Para que nossos pensamentos se congreguem uns aos outros, fornecendo o potencial de nobre união para o bem , é indispensável o trabalho preparatório de atividades mentais na meditação de ordem superior. A atitude íntima de relaxamento, ante as lições evangélicas recebidas, não pode conferir ao crente, ou ao cooperador, a concentração de forças espirituais no serviço de elevação, tão só porque estes se entreguem, apenas por alguns minutos na semana, a pensamentos compulsórios de amor cristão. Como vêem, o assunto é complexo e demanda longas considerações e ensinamentos.
Reparei com mais atenção os circunstantes encarnados. Não fosse o devotamento dos nosso plano, tornar-se-ia impossível qualquer proveito concreto. Isidoro e outros amigos devotados trabalhavam com ardor, despertando alguns dorminhocos e reajustando o pensamento dos invigilantes, para neutralizar determinadas influências nocivas.
Eu reconhecia que os benefícios imediatos da doutrinação de Bentes eram muito mais visíveis entre os desencarnados. No grupo destes, não havia um só que não recebesse consolações diretas e sublime conforto.
Finda a interpretação, pouco antes de se entregar Dona Isabel ao trabalho do receituário, observei que uma senhora desencarnada se aproximara de Isidoro, pedindo emocionada:
- Ser-lhe-ia possível, entender-se por mim com nossos orientadores quanto à possibilidade de me comunicar diretamente com minha filha, presente na reunião? Estou certa de que, com a permissão devida, nossa Isabel me atenderá a angústia materna.
O interpelado mostrou sincero desejo de ser útil, mas, depois de trocar algumas palavras com o instrutor mais graduado da reunião, que se colocara entre a médium e o doutrinador, veio trazer a resposta, algo constrangido, com grande surpresa para mim:
- Minha irmão – disse ele – o nosso nobre Anselmo não julga viável o seu pedido. Asseverou que sua filhinha ainda não está em condições de receber essa benção. Ela tem necessidade de testemunhar agora, o que aprendeu do seu exemplo, no mundo, e precisa permanecer no campo da oportunidade, sem repousar indevidamente nos seus braços.
E como a senhora denotasse tristeza, Isidoro continuou em tom fraternal:
- Não somente por isso, minha amiga, nosso instrutor se vê forçado a desatender. A medida traria inconveniente grave para o seu sentimento maternal. No estado evolutivo em que se encontra, e considerando o velho hábito adquirido, a filhinha se agarraria excessivamente ao seu auxílio. Perder-se-ia à mãezinha afetuosa e sensível, e talvez a irmã se visse perturbada em sua nova carreira espiritual. Ela precisa estar mais livre para testemunhar, enquanto o seu coração deve permanecer em liberdade, por nobre merecimento conquistado ao preço do seu suor e lágrimas, quando na terra. Considerando, embora, o caráter sagrado do amor em sua feição maternal, nossos orientadores não podem conceder à sua filha o direito de perturba-la. Compreende ? Não se atormente com esta impossibilidade transitória. Lembre-se de que todos somos filhos de Deus. O Senhor terá recursos para atender à jovem, em seu lugar. Quanto ao mais, alegremo-nos em nossos serviços. Recorde que o auxílio não se verificará pelo processo direto, mas podemos recorrer ao método indireto. Quem sabe ? Amanhã, possivelmente, poderá encontrar-se com sua filha em sonho.
A interpelada sorriu, confortada, e obtemperou:
- É verdade. Devo compreender a nova situação.
Nesse instante, acercou-se de Isidoro uma entidade amiga, que solicitou:
- Meu caro, estimaria suas providências junto dos receitistas, para que forneçam novas indicações ao Amaro. Meu sobrinho necessita amparo à saúde física.
O esposo espiritual de Isabel tomou uma expressão significativa e respondeu:
- Não posso, meu amigo, não posso. Se Amaro pedir e os receitistas cederem, tudo estará muito bem; mas você não ignora que o nosso doente é muito rebelde. Já lhe providenciei a obtenção de conselhos médicos do nosso plano, por cinco vezes, sem que ele correspondesse aos nossos esforços. Não se resolve a adquirir os remédios indicados, e quando os obtém, por obséquio de amigos, despreza os horários e julga-se superior ao método. Critica mordazmente as indicações obtidas e serve-se delas com desprezo. Naturalmente não estou agastado com isso, como adulto que não se aborrece com as brincadeiras de uma criança; mas você compreende que estamos lidando com um material muito sagrado e não há tempo para conviver com os que estimam a brincadeira. Além disso, não será caridade o ato de dar aos que não querem receber.
Isidoro falava com uma inflexão de bondade fraternal, que afastava todos os característicos da franqueza contundente. Compreendi que, para atender a tanta gente e movimentar-se entre tantos propósitos heterogêneos, não seria possível tratar os assuntos de outro modo.
O serviço prosseguia com enorme demonstração educativa para Vicente e para mim. O esforço dos clínicos espirituais, aliado à abnegação da intermediária, comovia-me o coração. Era necessário, de fato, grande renúncia para atender ao trabalho compacto e numeroso, no setor de assistência aos encarnados, porque poucos freqüentadores do grupo precisam manter atitude correspondente à sublime dedicação fraternal em nome do Mestre.
Aniceto, porém, adivinhando meus pensamentos, falou com bontade:
- Um dia, André, você, compreenderá, com Jesus, que melhor é servir que ser servido; mais belo é dar que receber.
NO TRABALHO ATIVO - OM/cap.47

8- NECESSIDADE DE ASSISTÊNCIA ESPIRITUAL A DESENCARNADOS NO PLANO FÍSICO
Numerosas explicações do orientador, atendiam-me às indagações naturais; no entanto restava aprender alguma coisa. Porque motivo se reuniam ali tantos desencarnados? Já que recebiam assistência espiritual, não poderiam congregar-se em lugares igualmente espirituais?
Respeitosamente, interroguei Aniceto nesse sentido.
- De fato, André – respondeu o generoso mentor – a maioria dos desencarnados recebe esclarecimentos justos em nossa esfera de ação. Você mesmo, nos primórdios da nova experiência espiritual, não foi conduzido ao ambiente de nossos amigos corporificados para o necessário encaminhamento. Grande número de criaturas, porém, na passagem para cá, sentem-se possuídas de “doentia saudade do agrupamento” como acontece, noutro plano de evolução, aos animais, quando sentem a mortal “saudade do rebanho”. Para fortalecer as possibilidades de adaptação dos desencarnados dessa ordem ao novo “habitat”, o serviço de socorro é mais eficiente, ao contato das forças magnéticas dos irmãos que ainda se encontram envolvidos nos círculos carnais. Esta sala, em momentos como este, funciona como grande incubadora de energias psíquicas, para os serviços de aclimação de certas organizações espirituais à nova vida.
E, designando a grande assembléia de necessitados, continuou:
- Os irmãos, nas condições a que me refiro, ouvem-nos a voz, consolam-se com o nosso auxílio, mas o calor humano está cheio dum magnetismo de teor mais significativo, para eles. Com semelhante contato, experimentam o despertar de forças novas. Por isso, o trabalho de cooperação, em templos desta espécie, oferece proporções que você, por agora, não conseguiria imaginar. Não observou os preguiçosos, os dorminhocos e invigilantes que vieram colher benefícios nesta casa? Pois eles também deram alguma coisa de si ... Deram calor magnético, irradiações vitais proveitosas aos benefícios deste santuário doméstico, que manipulam os elementos, dessa natureza, distribuindo-os em valiosas combinações fluídicas às entidades combalidas e inadaptadas.
E sorrindo, concluiu bondoso:
- Tudo tem algum proveito, André. Nosso Pai nada cria em vão.
Terminada a reunião com benefícios gerais, que não me cabe descrever pormenorizadamente, atendeu Aniceto ao facultativo desejoso de aproveitar-lhe o concurso nobre, junto aos clientes.
- Grande número de vezes – exclamou o receitista do grupo de Dona Isabel, como a prestar informações a Vicente e a mim – não só ministramos medicação aos corpos doentes, mas também orientamos os desencarnados que no curso da moléstia, se encontram sob nossa assistência.
- E, são sempre muitos ? – indaguei.
- Número crescente – elucidou atencioso. Há ocasiões em que contamos com a cooperação de amigos e parentes espirituais dos enfermos; mas, na maioria dos casos, somos forçados a agir por nós mesmos. Felizmente, quase nunca estamos sem auxiliares dedicados e ativos. Há companheiros que se consagram a cuidar de tuberculosos, cegos, aleijados, leprosos, perturbados e moribundos, isoladamente. São eles nossos devotados colaboradores em todas as situações.
ASSISTÊNCIA ESPIRITUAL A DESENCARNADOS NO PLANO FÍSICO - OM/cap.48
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Porque a doutrinação em ambiente dos encarnados? – indaguei. – Semelhante medida é uma imposição no trabalho desse teor?
- Não – explicou o instrutor – não é um recurso imprescindível. Temos variados agrupamentos de servidores do nosso plano, dedicados exclusivamente a esse gênero de auxílio. As atividades de regeneração em nossa colônia estão repletas de institutos consagrados à caridade fraternal, no setor de iluminação dos transviados. Os postos de socorro e as organizações de emergência, nos diversos departamentos de nossas esferas de ação, contam com avançados núcleos de serviço da mesma ordem. Em determinados casos, porém, a cooperação do magnetismo humano pode influir mais intensamente, em benefício dos necessitados que se encontrem cativos nas zonas de sensação na Crosta do Mundo. Mesmo ai, contudo, a colaboração dos amigos terrenos, embora seja apreciável, não constitui fator absoluto e imprescindível; mas quando é possível e útil, valemo-nos do concurso dos médiuns e doutrinadores humanos, não só para facilitar a solução desejada, senão também para proporcionar ensinamentos vivos aos companheiros envolvidos na carne, despertando-lhes o coração para a espiritualidade.
O mentor fixou um sorriso e prosseguiu :
- Ajudando as entidades em desequilíbrio ajudarão a si mesmos; doutrinando, acabarão igualmente doutrinados.
...
Em breves minutos penetrávamos o conhecido recinto de orações e trabalhos espirituais.
Observei que muitos servidores de nossa esfera mantinham-se de mãos dadas, formando extensa corrente protetora da mesa consagrada aos serviços da noite. O quadro era para mim uma novidade.
Alexandre, porém, explicou-me discreto:
- Trata-se da cadeia magnética necessária à eficiência de nossa tarefa de doutrinação. Sem essa rede de forças positivas, que opera a vigilância indispensável, não teríamos elementos para conter as entidades perversas e recalcitrantes.
O instrutor, porém, fez-me perceber que a hora não comportava conversações e, auxiliando Necésio, localizou Marinho dentro do círculo magnético, onde, com surpresa, verifiquei a presença de vários desencarnados sofredores, trazidos por outros pequenos grupos de amigos espirituais e que, por sua vez, aguardavam a oportunidade de doutrinação.
Sentindo, agora, o ambiente em que se achava, Marinho quis recuar, mas não pode. A fronteira vibratória estabelecida pelos nossos colaboradores, a reduzida distância da mesa de fraternidade, impedia-lhe a fuga.
- Isto é um logro ! – exclamou, revoltado.
- Sossegue! – respondeu Necésio, sem se alterar – você conquistará grande alívio. Espere ! Poderá desabafar suas mágoas e ouvir a palavra compassiva de um orientador cristão, ainda encarnado. E, em seguida, quem sabe? Talvez possa ver algum ente querido que se encontre em zonas mais altas, à espera de seu fortalecimento e iluminação...
- Não quero ! não quero! – bradava o infeliz.
- Sabe assim a verdade, meu amigo? – perguntou-lhe o nosso companheiro, com inflexão de ternura. – Poderá adivinhar a procedência do socorro de hoje? Conseguirá lembrar-se de quem me enviou ao seu encontro?
O sacerdote desencarnado fixou nele os olhos tomados de expressão terrível, mas Necésio, sem perder a calma, falou, depois de uma pausa mais longa:
- Sua mãe!
Marinho escondeu o rosto nas mãos e prorrompeu em pranto angustioso.
A esse tempo, secundado por diversos auxiliares, Alexandre prestava ao organismo de Otávia o máximo de concurso fraterno, em cotas abundantes de recursos magnéticos. Compreendi que, se para os fenômenos de intercâmbio com os desencarnados esclarecidos era necessário o auxílio de nosso plano ao campo mediúnico, no caso presente essa cooperação deveria ser muito maior, em vista da condição dolorosa e lastimável dos comunicantes. Com efeito, a médium Otávia recebia os mais vastos recursos magnéticos para a execução de sua tarefa.
Daí a minutos, providenciava-se a incorporação de Marinho, que tomou a intermediária sob forte excitação. Otávia, provisoriamente desligada dos veículos físicos mantinha-se agora algo confusa, em vista de encontrar-se envolvida em fluidos desequilibrados, não mostrando a mesma lucidez que lhe observáramos anteriormente; todavia, a assistência que recebia dos amigos de nosso plano era muito maior.
Um instrutor de elevada condição hierárquica substituiu Alexandre junto da médium, passando o meu orientador a inspirar diretamente o colaborador encarnado, que dirigia a reunião.
Enquanto isso ocorria, vários ajudantes de serviço recolhiam forças mentais emitidas pelos irmãos presentes, inclusive as que fluíam abundantemente do organismo mediúnico, o que, embora não fosse novidade, me surpreendeu pelas características diferentes com que o trabalho era levado a efeito.
Não pude conter-me e interpelei um amigo em atividade nesse setor.
- Esse material – explicou-me ele , bondosamente – representa vigorosos recursos plásticos para que os benfeitores de nossa esfera se façam visíveis aos irmãos perturbados e aflitos ou para que materializem provisoriamente certas imagens ou quadros, indispensáveis ao reavivamento da emotividade e da confiança nas almas infelizes. Com os raios e energias, de variada expressão, emitidos pelo homem encarnado, podemos formar certos serviços de importância para todos aqueles que se encontrem presos ao padrão vibratório do homem comum, não obstante permanecerem distantes do corpo físico.
Compreendi a elucidação, reconhecendo que, se é possível efetuar uma sessão de materialização para os companheiros encarnados, noutro sentido a mesma tarefa poderia ser levada a efeito para os irmãos desencarnados, de condição inferior.
Admirando a excelência e a amplitude das atividades dos nossos orientadores, fixei a minha atenção na palestra que estabeleceu entre Marinho, incorporado em Otávia, e o doutrinador humano, orientado intuitivamente por Alexandre.A princípio, o sacerdote demonstrava imenso desespero e pronunciava palavras fortes que lhe denunciavam a rebeldia. O interlocutor, contudo, falava-lhe com serenidade cristã, revelando-lhe a superioridade do Evangelho vivo sobre o Evangelho interpretado.
A certa altura da doutrinação, percebi que Alexandre chamava a si um dos diversos cooperadores que manipulavam os fluidos e forças recolhidos na sala e recomendou-lhe que ajudasse a genitora de Marinho a tornar-se visível para ele. Notei que a senhora desencarnada, com os préstimos de outros amigos, atendeu imediatamente, ao passo que Alexandre, abandonando por momentos o seu posto junto ao doutrinador, aplicou passes magnéticos na régio visual do comunicante, compreendendo, então, que ali se encontravam em jogo interessantes princípios de cooperação. A genitora amorosa resignava-se ao envolvimento em vibrações mais grosseiras, por alguns minutos, enquanto o filho elevaria a percepção visual até o mais alto nível ao seu alcance, para que pudessem efetuar um reencontro temporário de benéficas conseqüências para ele.
Voltou Alexandre a fixar-se ao lado do dirigente e, com surpresa, ouvi que o amigo encarnado desafiava o exasperado comunicante, agindo francamente por intuição com a sua voz quente de sinceridade no ministério do amor fraternal:
- Observe em volta de si, meu irmão ! – exclamava o doutrinador, comoventemente – reconhece quem se encontra ao seu lado?
Foi então que o sacerdote lançou um grito terrível:
- Minha mãe! – disse ele alarmado de dor e vergonha – minha mãe ! ...
- Porque não render-se ao amor de Nosso Pai Celeste, meu filho? – disse a genitora, emocionada, abraçando-o – chega de vãs discussões e de contendas intelectuais ! Marinho, a porta de nossas ilusões terrenas cerrou-se com os nossos olhos físicos! ... Não !... Não transfira para cá nossos velhos enganos!  Atenda-me! Não se revolte mais ! Humilhe-se diante da Verdade ! Não me faça sofrer por mais tempo!...
Os encarnados presentes viam tão somente o corpo de Otávia, dominado pelo sacerdote que lhes era invisível, quase a rebentar-se de soluços atrozes, mas nós víamos além. A nobre senhora desencarnada postou-se ao lado do filho e começou a beija-lo, em lágrimas de reconhecimento e amor. Pranto copioso identificava-os.
Cobrando forças novas, a genitora continuou:
- Perdoe-me, filho querido, se noutra época induzi o seu coração à responsabilidade eclesiástica modificando o curso de suas tendências. Suas lutas de agora atingem-me a alma angustiada. Seja forte, Marinho, e ajude-me! Desvencilha-se dos maus companheiros! Não vale rebelar-se. Nunca fugiremos à lei do Eterno! Onde você estiver, a voz divina se fará ouvir no imo da consciência...
Nesse momento, observei que o sacerdote recordou instintivamente os amigos, tocado de profundo receio. Agora que reencontrava a mãezinha carinhosa e devotada a Deus, que sentia a vibração confortadora do ambiente de fraternidade e fé, sentia medo de regressar ao convívio dos colegas endurecidos no mal.
Apertou a destra materna, confiante e perguntou:
- Oh ! minha mãe, posso acompanha-la para sempre?
A entidade amorável contemplou-o, com redobrado amor, através do véu do pranto, e respondeu:
- Por enquanto, não, meu filho! Poderá você distanciar-se do desequilíbrio, neste momento, quebrar todos os elos que prendem às zonas inferiores, abandonando-as de vez; entretanto, há que transformar sua condição vibratória, através da renovação íntima para o bem, mediante a qual é possível nossa reunião em breve no Lar Divino. Não tenha receio, porém! Providenciaremos todos os recursos necessários à sua vida nova, desde que você modifique os propósitos espirituais.....
O filho infortunado prometeu-lhe a transformação imprescindível.
Depois de encoraja-lo com ponderada ternura, a devotada senhora deixou-o aos cuidados de Necésio, que, prazerosamente, recebeu a missão de encaminha-lo na esfera dos deveres novos.
Após despedir—se da mãezinha abnegada, que voltou à nossa companhia, o sacerdote conversou, ainda, por alguns minutos, com o dirigente encarnado da reunião, surpreendendo-me com a mudança brusca.
....
Foram quatro as entidades que receberam os benefícios diretos dessa natureza, através de Otávia e outro médium.
Em todos os casos, o magnetismo foi empregado em larga escala pelos nossos instrutores, salientando-se o de um pobre negociante que ainda ignorava a própria morte. Demonstrando ele certa teimosia, em face da verdade, um dos orientadores espirituais, da condição hierárquica de Alexandre, impondo-lhe sua vontade vigorosa, fê-lo ver, a distância, os despojos em decomposição. O infeliz, examinando o quadro, gritava lamentosamente, rendendo-se, por fim, à evidência dos fatos.
...
Em todos os serviços, o material plástico recolhido das emanações dos colaboradores encarnados satisfez eficientemente. Não era mobilizado apenas pelos amigos de mais nobre condição, que necessitavam fazer-se visíveis aos comunicantes; era empregado também na fabricação momentânea de quadros transitórios e de idéias - formas, que agiam beneficamente sobre o ânimo dos infelizes, em luta consigo mesmos. Um dos necessitados, que tomara o médium sob forte excitação, quis agredir os componentes da mesa em tarefa de auxilio fraternal. Antes, porém, que pusesse em prática o sinistro desígnio, vi que os técnicos de nosso plano trabalhavam ativos na composição de uma forma sem vida própria, que trouxeram imediatamente, encostando-a no provável agressor. Era um esqueleto de terrível aspecto, que ele contemplou de alto a baixo, pondo-se a tremer, humilhado, esquecendo O triste propósito de ferir benfeitores.
Depois de trabalhos complexos da nossa esfera, terminou a sessão, com grandes benefícios para todos. Dentro de mim, germinavam novos mundos de pensamento. Os trabalhos havidos para cada caso particular constituíam lições diferentes para minha alma. E, aturdido pela dilatação da luz que se fazia cada vez mais intensa e viva no meu círculo mental, reconheci que os gênios celestes poderiam trazer o mais belo e eficiente socorro aos Espíritos da sombra, que, movidos de piedade e amor, conseguiriam instalar abundantes celeiros de bênçãos, junto dos sofredores, mas que, de conformidade com a Eterna Lei, os necessitados só poderiam receber os divinos benefícios se estivesse dispostos a aderir, por si mesmos, aos trabalhos do bem.
DOUTRINAÇÃO - ML / cap. 17

9- DESOBSESSÃO

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