Instado pela assembleia de amigos a falar sobre a resposta
do Criador às preces das criaturas, respondeu o velho Simão Abileno, instrutor
cristão, considerado no Plano Espiritual por mestre do apólogo e da síntese:
-Repetirei para vocês, a nosso modo, antiga lenda que corre
mundo nos contos populares de numerosos países.
Em grande bosque da Ásia Menor, três árvores ainda jovens
pediram a Deus lhes concedesse destinos gloriosos e diferentes.
A primeira explicou que aspirava a ser empregada no trono
do mais alto soberano da Terra;
após ouvi-la, a segunda declarou que desejava ser utilizada
na construção do carro que transportasse os tesouros desse rei poderoso,
e a terceira, por último, disse então que almejava
transformar-se numa torre, nos domínios desse potentado, para indicar o caminho
do Céu.
Depois das preces formuladas, um Mensageiro Angélico
desceu à mata e avisou que o Todo Misericordioso lhes recebera as rogativas e
lhes atenderia às petições.
Decorrido muito tempo, lenhadores invadiram o horto
selvagem e as árvores, com grande pesar de todas as plantas circunvizinhas, foram
reduzidas a troncos, despidos por mãos cruéis.
Arrastadas para fora do ambiente familiar, ainda mesmo
com os braços decepados, elas confiaram nas promessas do Supremo Senhor e se
deixaram conduzir com paciência e humildade.
Qual não lhes foi, porém, a aflitiva surpresa!
Depois de muitas viagens, a primeira caiu sob o poder de
um criador de animais que, de imediato, mandou convertê-la num grande cocho destinado
à alimentação de carneiros;
a segunda foi adquirida por um velho praiano que
construía barcos por encomenda;
e a terceira foi comprada e recolhida para servir, em
momento oportuno, numa cela de malfeitores.
As árvores amigas, conquanto separadas e sofredoras, não
deixaram de acreditar na mensagem do Eterno e obedeceram sem queixas às ordens
inesperadas que as leis da vida lhes impunham.
No bosque, contudo, as outras plantas tinham perdido a fé
no valor da oração, quando, transcorridos muitos anos, vieram a saber que as
três árvores haviam obtido as concessões gloriosas solicitadas.
A primeira, forrada de panos singelos, recebera Jesus das
mãos de Maria de Nazaré, servindo de berço ao Dirigente Mais Alto do Mundo;
A segunda, trabalhando com pescadores, na forma de uma barca
valente e pobre, fora o veículo de que Jesus se utilizou para transmitir sobre
as águas muitos dos seus mais belos ensinamentos;
e a terceira, convertida apressadamente numa cruz em
Jerusalém, seguira com Ele, o Senhor, para o monte e, ali, ereta e valorosa, guardara-lhe
o coração torturado, mas repleto de amor no extremo sacrifício, indicando o
verdadeiro caminho do Reino Celestial.
Simão silenciou, comovido.
E, depois de longa pausa, terminou, a entremostrar os olhos
marejados de pranto:
-Em verdade, meus amigos, todos nós podemos endereçar a
Deus, em qualquer parte e em qualquer tempo, as mais variadas preces; no
entanto, nós todos precisamos cultivar paciência e humildade, para esperar e compreender
as respostas de Deus.
Humberto de Campos – Irmão X - À Luz Da Oração À Luz Da
Oração - Francisco Cândido Xavier
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