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CAUSAS DA OBSESSÃO E MEIOS DE COMBATÊ-LA

Estudo sobre os Possessos de Morzine, As causas da obsessão e os meios de combatê-la - Revista Espírita, dezembro de 1862

As observações que fizemos sobre a epidemia que maltratou e maltrata ainda a comunidade de Morzine, na Haute-Savoie, não nos deixam nenhuma dúvida sobre a sua causa; mas, para apoiar nossa opinião, nos é preciso entrar em algumas explicações preliminares, que farão melhor ressaltar a analogia desse mal com os casos análogos, cuja origem não poderia ser duvidosa, para quem está familiarizado com os fenômenos espíritas e reconhece a ação do mundo invisível sobre a Humanidade. É necessário para isto remontar à própria fonte do fenômeno, e seguir-lhe a gradação, desde os casos mais simples, e explicar, ao mesmo tempo, o modo pelo qual ele se opera; dela deduziremos muito melhor os meio de combater o mal. Embora tenhamos já tratado desse assunto em O Livro dos Médiuns, no capítulo da obsessão, e em vários artigos desta Revista, a isso acrescentaremos algumas considerações novas que tornarão a coisa mais fácil de ser concebida.

O primeiro ponto no qual importa penetrar é a natureza dos Espíritos do ponto de vista moral. Não sendo os Espíritos senão as almas dos homens, e não sendo os homens todos bons, não é racional admitir que o Espírito de um homem perverso se transforme subitamente, de outro modo não haveria necessidade de castigo na vida futura. A experiência vem confirmar esta teoria ou, melhor dizendo, esta teoria é o fruto da experiência. As relações com o mundo invisível nos mostram, com efeito, ao lado de Espíritos sublimes de sabedoria e de saber, outros Espíritos ignóbeis, tendo ainda todos os vícios e todas as paixões da Humanidade. A alma de um homem de bem será, depois de sua morte, um bom Espírito; do mesmo modo um bom Espírito, se encarnando, fará um homem de bem; pela mesma razão, um homem perverso, morrendo, dá ao mundo invisível um Espírito perverso, e um mau Espírito, se encarnando, não pode fazer um homem virtuoso, e isto enquanto o Espírito não estiver depurado ou não tiver sentido o desejo de se melhorar; porque, uma vez entrado no caminho do progresso, despoja-se pouco a pouco de seus maus instintos; ele se eleva gradualmente na hierarquia dos Espíritos, até que haja alcançado a perfeição acessível a todos, não podendo Deus ter criado seres votados ao mal ou infelizes para a eternidade. Assim, o mundo visível e o mundo invisível se derramam, incessante e alternativamente, um no outro, podendo-se assim se exprimir, e se alimentam mutuamente, ou, melhor dizendo, esses dois mundos não fazem em realidade senão um, em dois estados diferentes. Esta consideração é muito importante para compreender a solidariedade que existe entre eles.

Sendo a Terra um mundo inferior, quer dizer, pouco avançado, disso resulta que a imensa maioria dos Espíritos que o povoam, seja no estado errante, seja como encarnado, deve se compor de Espíritos imperfeitos que produzem mais mal do que bem; daí a predominância do mal sobre a Terra; ora, sendo a Terra, ao mesmo tempo, um mundo de expiação, é o contato do mal que torna os homens infelizes; porque se todos os homens fossem bons, todos seriam felizes. E um estado onde ainda não chegou o nosso globo, e é a esse estado que Deus quer conduzi-lo. Todas as tribulações que o homem de bem experimenta neste mundo, seja da parte dos homens, seja da dos Espíritos, são a conseqüência desse estado de inferioridade. Poder-se-ia dizer que a Terra é a Botany-Bay dos mundos: nela se encontra a selvageria primitiva e a civilização, a criminalidade e a expiação.

É preciso, pois, imaginar o mundo invisível como formando uma população inumerável, compacta, por assim dizer, que envolve a Terra e se agita no espaço. É uma espécie da atmosfera moral da qual os Espíritos encarnados ocupam os baixios, e se agitam como no lodo. Ora, do mesmo modo que o ar dos lugares baixos é pesado e malsão, esse ar moral é também malsão, porque é corrompido pelos miasmas dos Espíritos impuros; para isso resistir, é preciso temperamentos morais de um grande vigor.

Dizemos, como parêntese, que esse estado de coisas é inerente aos mundos inferiores; mas esses mundos seguem a lei do progresso, e quando tiver alcançado a época própria, Deus os saneia, expulsando deles os Espíritos imperfeitos, que ali não se reencarnarão mais e serão substituídos por Espíritos mais avançados, que fazem reinar entre eles a felicidade, a justiça e a paz. E uma revolução desse gênero que se prepara neste momento.

Examinemos agora o modo recíproco de ação dos Espíritos encarnados e desencarnados.

Sabemos que os Espíritos estão revestidos de um envoltório vaporoso, formando neles um verdadeiro corpo fluídico, ao qual damos o nome de perispírito, cujos elementos são hauridos no fluido universal ou cósmico, princípio de todas as coisas. Quando o Espírito se une ao corpo, nele existe com seu perispírito, que serve de laço entre o Espírito propriamente dito e a matéria corpórea; é o intermediário das sensações percebidas pelo Espírito. Mas esse perispírito não está confinado no corpo como dentro de uma caixa; pela sua natureza fluídica, irradia ao redor e forma, em torno do corpo, uma espécie de atmosfera, como o vapor que dele se libera. Mas o vapor que se libera de um corpo malsão é igualmente malsão, acre e nauseabundo, o que infecta o ar dos lugares onde se reúnem muitas pessoas malsãs. Do mesmo modo que esse vapor está impregnado das qualidades do corpo, o perispírito está impregnado das qualidades, quer dizer, do pensamento do Espírito, e faz irradiar essas qualidades em torno do corpo.

Aqui um outro parêntese para responder imediatamente a uma objeção que alguns opõem à teoria que o Espiritismo dá do estado da alma; acusam-no de materializar a alma, ao passo que, segundo a religião, a alma é puramente imaterial. Esta objeção, como a maioria daquelas que são feitas, provém de um estudo incompleto e superficial. O Espiritismo jamais definiu a natureza da alma, que escapa às nossas investigações; nunca disse que o perispírito constitui a alma: a palavra perispírito diz positivamente o contrário, uma vez que especifica um envoltório ao redor do Espírito. Que diz O Livro dos Espíritos a esse respeito? "Há no homem três coisas: a alma, ou Espírito, princípio inteligente; o corpo, envoltório material; o perispírito, envoltório fluídico semi-material, servindo de laço entre o Espírito e o corpo. "De que na morte do corpo a alma conserva o envoltório fluídico, não quer dizer que esse envoltório e a alma sejam uma só e mesma coisa, não mais que o corpo não faça senão um com a roupa, não mais que a alma não faça senão um com o corpo. A Doutrina Espírita não tira nada à imaterialidade da alma, só lhe dá dois envoltórios em lugar de um durante a vida corpórea, e um depois da morte do corpo, o que é, não uma hipótese, mas um resultado da observação, e com a ajuda desse envoltório ela faz conceber melhor a individualidade e explicar melhor a sua ação sobre a matéria.

Voltemos ao nosso assunto.

O perispírito, pela sua natureza fluídica, é essencialmente móvel, elástico, podendo-se assim se exprimir; como agente direto do Espírito, põe em ação e projeta raios pela vontade do Espírito; por esses raios serve à transmissão do pensamento, porque é de alguma sorte animado pelo pensamento do Espírito.

Sendo o perispírito o laço que une o Espírito ao corpo, é por esse intermediário que o Espírito transmite aos órgãos, não a vida vegetativa, mas os movimentos que são a expressão de sua vontade; é também por esse intermediário que as sensações do corpo são transmitidas ao Espírito. O corpo sólido destruído pela morte, o Espírito não age mais e não percebe mais senão pelo seu corpo fluídico, ou perispírito, é porque age mais facilmente e percebe melhor, sendo-lhe o corpo um entrave. Tudo isto é ainda um resultado da observação.

Suponhamos agora duas pessoas perto uma da outra, envolvida cada uma de sua atmosfera perispiritual, - que se nos permita ainda esse neologismo.- Esses dois fluidos vão se pôr em contato, penetrar um no outro; se são de natureza antipática, se repelirão, e os dois indivíduos sentirão uma espécie de mal-estar com a aproximação um do outro, sem disso se darem conta; sendo ao contrário movidos por um sentimento bom e benevolente, levarão consigo um pensamento benevolente que atrai. Tal é a causa pela qual duas pessoas se compreendem e se adivinham sem se falarem. Um certo não sei o quê diz freqüentemente que a pessoa que se tem diante de si deve estar animada de tal ou tal sentimento; ora, esse não sei quê é a expansão do fluido perispiritual da pessoa em contato com o nosso, espécie de fio elétrico condutor do pensamento. Compreende-se, desde então, que os Espíritos, cujo envoltório fluídico é bem mais livre do que no estado de encarnação, não têm mais necessidade de sons articulados para se entenderem.

O fluido perispiritual do encarnado, portanto, é posto em ação pelo Espírito; se, pela sua vontade, o Espírito irradia, por assim dizer, seus raios sobre um outro indivíduo, esses raios o penetram; daí a ação magnética mais ou menos possante segundo a vontade, mais ou menos benfazeja segundo esses raios sejam de uma natureza mais ou menos boa, mais ou menos vivificante; porque, pela sua ação, podem penetrar os órgãos, e, em certos casos, restabelecer o estado normal. Sabe-se qual é a influência das qualidades morais no magnetizador.

O que pode fazer o Espírito encarnado irradiando seu próprio fluido sobre um indivíduo, um Espírito desencarnado pode fazê-lo igualmente, uma vez que tem o mesmo fluido, quer dizer, que pode magnetizar, e, segundo seja bom ou mau, sua ação será benfazeja ou malfazeja.

Dá-se conta facilmente assim da natureza das impressões que se recebe segundo os meios onde se encontra. Se uma assembléia é composta de pessoa animadas de maus sentimentos, elas encherão o ar ambiente do fluido impregnado de seus pensamentos; daí, para as almas boas, um mal-estar moral análogo ao mal-estar físico causado pelas exalações mefíticas: a alma é asfixiada. As pessoas, ao contrário, se têm intenções puras, acham-se em sua atmosfera como num ar vivificante e salutar. O efeito será naturalmente o mesmo num meio cheio de Espíritos segundo sejam bons ou maus.

Estando isto bem compreendido, chegamos sem dificuldade à ação material dos Espíritos errantes sobre os Espíritos encarnados, e daí à explicação da mediunidade.

Um Espírito quer agir sobre um indivíduo, aproxima-se dele e o envolve, por assim dizer, de seu perispírito, como de um casaco; os fluidos se penetrando, os dois pensamentos e as duas vontades se confundem, e o Espírito pode, então, se servir desse corpo como do seu próprio, fazê-lo agir segundo a sua vontade, falar, escrever, desenhar, etc.; tais são os médiuns. Se o Espírito é bom, sua ação é branda, benfazeja, não leva a fazer senão boas coisas; se ele é mau, leva a fazer coisas más; se é perverso e mau, o aperta como numa rede, paralisa até sua vontade, mesmo seu julgamento, que ele abafa sob seu fluido, como se abafa o fogo sob uma camada de ar; fá-lo pensar, falar, agir por si, leva-o, apesar dele, a atos extravagantes ou ridículos, em uma palavra, magnetiza-o, cataleptiza-o moralmente, e o indivíduo se torna um instrumento cego de suas vontades. Tal é a causa da obsessão, da fascinação e da subjugação, que se mostram em graus de diversas intensidades. É o paradoxismo da subjugação, que se chama vulgarmente possessão. Há a se anotar que, nesse estado, o indivíduo, freqüentemente, tem a consciência de que o que faz é ridículo, mas é constrangido a fazê-lo, como se um homem, mais vigoroso do que ele, lhe fizesse mover, contra a sua vontade, seus braços, suas pernas e sua língua. Eis um exemplo curioso.

Em uma pequena reunião de Bordeaux, no meio de uma evocação, o médium, jovem de um caráter brando e de uma perfeita urbanidade, se põe de repente a golpear sobre a mesa, se levanta, os olhos ameaçadores, mostrando os punhos aos assistentes, dizendo-lhes as mais grosseiras injúrias, e querendo lançar-lhes o tinteiro na cabeça. Esta cena, tanto mais assustadora quanto se estava longe de esperá-la, durou em torno de dez minutos, depois dos quais o jovem retomou sua calma habitual, desculpando-se pelo que a acabara de se passar, e dizendo que sabia muito bem ter feito e dito coisas inconvenientes, mas que ele não pudera impedir isso. Tendo-nos sido contado o fato, dele pedimos a explicação numa sessão da Sociedade de Paris, e nos foi respondido que o Espírito que o havia provocado era antes farsante do que mau, e que quisera simplesmente se divertir com o medo dos assistentes. O que prova a verdade dessa explicação é que o fato não se renovou, e que o médium não continua a receber menos excelentes comunicações como no passado. É bom dizer o que havia provavelmente excitado a verve desse Espírito farsante. Um antigo chefe de orquestra do teatro de Bordeaux, Sr. Beck, havia experimentado, durante vários anos, antes de sua morte, um singular fenômeno. Cada noite, saindo do teatro, parecia-lhe que um homem lhe saltava sobre as costas, punha-se a desconjuntar-se sobre suas espáduas, e se agarrava a ele, até que chegasse à porta de sua casa; ali, o pretenso indivíduo saltava para a terra, e o Sr. Beck se achava desembaraçado. Nessa reunião, se quis evocar o Sr. Beck para lhe pedir uma explicação; foi então que o Espírito farsante encontrou prazer em se substituir a ele e fazer o médium desempenhar uma cena diabólica, em que encontrou, sem dúvida, as disposições fluídicas necessárias para secundá-lo.

O que não era senão acidental, nesta circunstância, toma algumas vezes um caráter de permanência quando o Espírito é mau, porque o indivíduo se torna para ele uma verdadeira vítima, à qual pode dar a aparência de uma verdadeira loucura. Dizemos aparência, porque a loucura propriamente dita resulta sempre de uma alteração dos órgãos cerebrais, ao passo que, nesse caso, os órgãos estão tão intactos quanto os do jovem do qual acabamos de falar; não há, pois, loucura real, mas loucura aparente contra a qual os remédios da terapêutica são impotentes, assim como o prova a experiência; bem mais, podem produzir o que não existe. As casas de alienados contêm muitos doentes desse gênero, aos quais o contato dos outros alienados não pode ser senão prejudicial, porque esse estado denota sempre uma certa fraqueza moral. Ao lado de todas as variedades de loucuras patológicas, convém, pois, acrescentara loucura obsessional, que requer meios especiais; mas como um médico materialista jamais poderia fazer essa diferença, ou mesmo admiti-la?

Bravo! vão gritar nossos adversários; não se pode demonstrar melhor os perigos do Espiritismo., e tínhamos muita razão em proibi-lo.

Um instante; o que dissemos prova precisamente a sua utilidade.

Credes que os maus Espíritos, que pululam no meio da Humanidade esperaram que fossem chamados para exercer sua influência perniciosa? Uma vez que os Espíritos existiram de todos os tempos, de todos os tempos também desempenharam o mesmo papel, porque esse papel está na Natureza, e a prova disto está no grande número de pessoas obsidiadas, ou possuídas, se o quereis, antes que os Espíritos fossem questão, ou quem, em nossos dias, jamais ouviu falar de Espiritismo nem de médiuns. A ação dos Espíritos, bons ou maus, é, pois, espontânea; a dos maus produz uma multidão de perturbações na economia moral e mesmo física que, por ignorância da causa verdadeira, se atribuíam a causas errôneas. O maus Espíritos são os inimigos invisíveis, tanto mais perigosos quanto não se suponha a sua ação. O Espiritismo, pondo-os a descoberto, vem revelar uma nova causa a certos males da Humanidade; conhecida a causa, não se procurará mais combater o mal por meios que, doravante, se sabe inúteis, procurar-se-ão os mais eficazes. Ora, o que foi que fez descobrir essa causa? A mediunidade; foi pela mediunidade que esses inimigos ocultos traíram sua presença; ela fez para eles o que o microscópio fez para os infinitamente pequenos: revelou todo um mundo. O Espiritismo não atraiu os maus Espíritos; ele os revelou, e deu os meios de paralisar a sua ação, e, por conseqüência, de afastá-los. Portanto, ele não trouxe o mal, porque o mal existia há muito tempo; ao contrário, ele trouxe o remédio ao mal, mostrando-lhe a causa. Uma vez reconhecida a ação do mundo invisível, ter-se-á a chave de uma multidão de fenômenos incompreendidos, e a ciência, enriquecida dessa nova lei, verá se abrir diante dela novos horizontes. Quando a isso chegará? Quando não professar mais o materialismo, porque o materialismo detém seu vôo e lhe põe uma barreira intransponível.

Antes de falar do remédio, expliquemos um fato que embaraça muitos Espíritas, sobretudo no caso de obsessão simples, quer dizer, naqueles, muito freqüentes, em que o médium não pode se desembaraçar de um mau Espírito que se comunica, obstinadamente, a ele pela escrita ou pela audição; aquele, não menos freqüente, onde, no meio de uma boa comunicação, um Espírito vem se imiscuir para dizer coisas más. Pergunta-se, então, se os maus Espíritos são mais poderosos do que os bons.

Reportemo-nos ao que dissemos, em começando, da maneira pela qual o Espírito age, e imaginemos um médium envolvido, penetrado pelo fluido perispiritual de um mau Espírito; para que o de um bom possa agir sobre o médium é preciso que penetre esse envoltório, e sabe-se que a luz penetra dificilmente um espesso nevoeiro. Segundo o grau de obsessão, esse nevoeiro será permanente, tenaz ou intermitente e, consequentemente, mais ou menos fácil de dissipar.

Nosso correspondente de Parme, Sr. Superchi, nos enviou dois desenhos feitos por um médium vidente, que representam perfeitamente essa situação. Num vê-se a mão do médium escrevente cercada de uma nuvem escura, imagem do fluido perispiritual dos maus Espíritos, atravessada por um raio luminoso indo clarear a mão; é o bom fluido que a dirige e se opõe à ação do mau. No outro, a mão está na sombra; a luz está em torno do nevoeiro, que ela não pode penetrar. O que esse desenho limita à mão deve-se entender de toda a pessoa.

Resta sempre a questão de saber se o bom Espírito é menos poderoso do que o mau. Não é o bom Espírito que é mais fraco, é o médium que não é bastante forte para sacudir o casaco que lhe lançaram, para se libertar do aperto dos braços que o enlaçam e no qual, é preciso bem dize-lo, algumas vezes se compraz. Neste caso, compreende-se que o bom Espírito não possa ter vantagem, uma vez que se prefere um outro a. ele. Admitamos agora o desejo de se desembaraçar desse envoltório fluídico, do qual o seu está penetrado, como uma veste que está penetrada pela umidade, o desejo não bastará, a própria vontade nem sempre bastará.

Trata-se de lutar contra um adversário; ora, quando dois homens lutam corpo a corpo, é o que tem músculos mais fortes que derruba o outro. Com um Espírito é preciso lutar, não corpo a corpo, mas Espírito a Espírito, e é ainda o mais forte que o domina; aqui, a força está na autoridade que se pode tomar sobre o Espírito, e esta autoridade está subordinada à superioridade moral. A superioridade moral é como o Sol, que dissipa o nevoeiro pelo poder de seus raios. Esforçar-se por ser bom, tornar-se melhor se já se é bom, purificar-se de suas imperfeições, em uma palavra, se elevar moralmente o mais possível, tal é o meio de adquirir o poder de dominar os Espíritos inferiores para afastá-los, de outro modo eles zombam de vossas injunções. (O Livro dos Médiuns, no 252 e 279.)

No entanto, dir-se-á, por que os Espíritos protetores não lhes ordenam para se retirarem? Sem dúvida, o podem e o fazem algumas vezes; mas, permitindo a luta, deixam também o mérito da vitória; se deixam se debater pessoas merecedoras sob certos aspectos, é para experimentar sua perseverança e fazê-las adquirir mais força no bem; é para elas uma espécie de ,. ginástica moral.

Eis a resposta que demos a um coronel do estado-maior austríaco, em Hongrie, Sr. P..., que nos consultou sobre uma afecção que atribuía aos maus Espíritos, desculpando-se por nos dar o título de amigo, embora não nos conhecesse senão de nome:

"O Espiritismo é o laço fraternal por excelência, e tendes razão em pensar que aqueles que partilham essa crença podem, sem se conhecerem, se tratarem de amigos; eu vos agradeço por ter tido de mim tão boa opinião para me dar esse título.

"Estou feliz por encontrar em vós um adepto sincero e devotado desta consoladora Doutrina; mas por isso mesmo que é consoladora, deve dar a força moral e a resignação para suportar as provas da vida, que, freqüentemente, são expiações; a Revista Espírita disso vos fornece numerosos exemplos.

"No que concerne à doença da qual estais atacado, não vejo nela prova evidente da influência de maus Espíritos que vos obsidiariam. Admitamo-la, no entanto, por hipótese; não haveria aí senão uma força moral a se opor a uma força moral, e ela não pode vir senão de vós. Contra um Espírito é preciso lutar Espírito a Espírito, e é o Espírito' mais forte que o

domina. Em semelhante caso, é preciso, pois, adquirir a maior soma possível de superioridade pela vontade, a energia e as qualidades morais para ter o direito de dizer-lhe: Vade retro. Se, pois, tendes assunto com um deles, não é com vosso sabre de coronel que o vencereis, mas com a espada do anjo, quer dizer, a virtude e a prece. A espécie de temor e de angústia que sentis nesses momentos é uma espécie de fraqueza da qual o Espírito se aproveita. Superai esse medo, e com a vontade podereis ali chegar. Tomai, pois, a decisão resolutamente, como o fazeis diante do inimigo, e crede-me vosso todo devotado e afeiçoado,

"A. K".

Certas pessoas preferem, sem dúvida, uma receita mais fácil para afastar os maus Espíritos: algumas palavras a dizer ou alguns sinais afazer, por exemplo, o que seria mais cômodo do que se corrigir de seus defeitos. Com isso não estamos descontentes, mas não conhecemos nenhum outro procedimento mais eficaz para vencer um inimigo do que ser mais forte do que ele. Quando se está doente, é preciso se resignar a tomar um remédio, por amargo que ele seja; mas também, quando se teve a coragem de beber, como se sente bem, e quanto se é forte! É preciso, pois, se persuadir de que não há, para alcançar esse objetivo, nem palavras sacramentais, nem fórmulas, nem talismãs, nem quaisquer sinais materiais. Os maus Espíritos disso se riem e se alegram freqüentemente em indicarem que sempre têm o cuidado de se dizer infalíveis, para melhor captar a confiança daqueles que querem enganar, porque então estes confiantes na virtude do procedimento, se entregam sem medo.

Antes de esperar domar os maus Espíritos, é preciso domar a si mesmo. De todos os meios de adquirir a força para a isso chegar, o mais eficaz é a vontade secundada pela prece, a prece de coração se entende, e não de/ palavras às quais a boca tem mais parte que o pensamento. É preciso chamar seu anjo guardião e os bons Espíritos para nos assistirem na luta; mas não basta lhes pedir para expulsarem os maus Espíritos, é preciso se lembrar desta máxima: Ajuda-te, o céu te ajudará, e pedir-lhes sobretudo a força que nos falta para vencer os maus pendores que são para nós pior que os maus Espíritos, porque são esses pendores que os atraem, como a corrupção atrai as aves de rapina. Pedindo também pelo Espírito obsessor, é retribuir-lhe o bem para o mal, e se mostrar melhor que ele, e já é uma superioridade. Com a perseverança, acaba-se, o mais freqüentemente, por levá-lo a melhores sentimentos, e de perseguidor dele fazer um devedor.

Em resumo, a prece fervorosa e os esforços sérios para se melhorar, são os únicos meios de afastar os maus Espíritos que reconhecem seus senhores naqueles que praticam o bem, ao passo que as fórmulas os fazem rir; a cólera e a impaciência os excitam. É preciso deixá-los mostrando-se mais pacientes do que eles.

Mas ocorre, algumas vezes, que a subjugação chega ao ponto de paralisar a vontade do obsidiado, e que não se pode esperar dele nenhum concurso sério. É então, sobretudo, que a intervenção de terceiros torna-se necessária, seja pela prece, seja pela ação magnética; mas o poder dessa intervenção depende também do ascendente moral que os intervenientes podem tomar sobre os Espíritos; porque, se não valem mais, sua ação é estéril. A ação magnética, nesse caso, tem por efeito penetrar o fluido do obsidiado de um fluido melhor, e de livrar o do Espírito mau; operando, o magnetizador deve ter o duplo objetivo de opor uma força moral a uma força moral, e de produzir sobre o sujeito uma espécie de reação química, para nos servir de uma comparação material, expulsando um fluido por um outro fluido. Daí, não só opera um desligamento salutar, mas dá força aos órgãos enfraquecidos por uma longa e, freqüentemente, vigorosa opressão. Compreende-se, de resto, que o poder da ação fluídica está em razão, não só da energia da vontade, mas sobretudo da qualidade do fluido introduzido e, segundo o que dissemos, essa qualidade depende da instrução e das qualidades morais do magnetizador; de onde se segue que o magnetizador comum, que agisse maquinalmente para magnetizar pura e simplesmente, produziria pouco ou nenhum efeito; é de toda necessidade um magnetizador Espírita, agindo com conhecimento de causa, com a intenção de produzir, não o sonambulismo ou uma cura orgânica, mas os efeitos que acabamos de descrever. Além disso, é evidente que uma ação magnética dirigida nesse sentido não pode ser senão muito útil no caso de obsessão comum, porque então, se o magnetizador é secundado pela vontade do obsidiado, o Espírito é combatido por dois adversários em lugar de um.

É preciso dizer também que se culpa freqüentemente os Espíritos estranhos de má ação das quais são muito inocentes; certos estados doentios e certas aberrações que se atribuem a uma causa oculta, às vezes deve-se simplesmente ao próprio indivíduo. As contrariedades, que o mais comumente concentram-se em si mesmo, os desgostos amorosos sobretudo, fizeram cometer muitos atos excêntricos que seriam erradamente levados à conta da obsessão. Freqüentemente somos nosso próprio obsessor.

Acrescentamos, enfim, que certas obsessões tenazes, sobretudo nas pessoas merecedoras, algumas vezes, fazem partes das provas às quais estão submetidas. "Ocorre mesmo algumas vezes que a obsessão, quando é "simples, é uma tarefa imposta ao obsidiado, que deve trabalhar para melhorar o obsessor, como um pai à de um filho viciado."

Enviamos, para mais detalhes, ao O Livro dos Médiuns.

Resta-nos falar da obsessão coletiva ou epidêmica, e, em particular, a de Morzine; mas isto exige considerações de uma certa extensão para mostrar, pelos fatos, sua semelhança com as obsessões individuais, e neles encontraremos a prova, seja nas próprias observações, seja nas que estão consignadas nos relatórios médicos. Além disso, nos restará, para examinar, o efeito dos meios empregados, desde a ação do exorcismo e as condições nas quais ele pode ser eficaz ou nulo. A extensão desta segunda parte nos obriga a fazer dela o objeto de um artigo especial, que se encontrará no próximo número.

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