Assim sendo, a diversidade das aptidões no homem provém unicamente do estado do Espírito?
– Unicamente não é o termo mais exato; as qualidades do Espírito, que podem ser mais ou menos avançadas são o princípio; mas é preciso ter em conta a influência da matéria, que limita mais ou menos o exercício dessas faculdades.
☼ O Espírito, ao encarnar, traz certas predisposições, admitindo-se para cada uma um órgão correspondente no cérebro; o desenvolvimento desses órgãos será um efeito e não uma causa.
Se as faculdades tivessem seu princípio nos órgãos, o homem seria uma máquina sem livre-arbítrio e sem responsabilidade por seus atos.
Seria preciso admitir que os maiores gênios, os sábios, poetas, artistas, são gênios apenas porque o acaso lhes deu órgãos especiais, e que sem esses órgãos não seriam gênios.
Assim, o maior imbecil poderia ser um Newton, um Virgílio ou um Rafael, se tivesse possuído certos órgãos.
Essa suposição é mais absurda ainda quando aplicada às qualidades morais.
Assim, conforme esse sistema, um São Vicente de Paulo, dotado por natureza desse ou daquele órgão, poderia ter sido um criminoso, e faltaria ao maior criminoso apenas um órgão para ser um São Vicente de Paulo.
Admiti, ao contrário, que os órgãos especiais, se é que existem, são uma conseqüência, que se desenvolvem pelo exercício da faculdade, assim como os músculos, pelo movimento, e não tereis nada de irracional.
Façamos uma comparação simples, mas verdadeira: por meio de certos sinais fisionômicos, reconheceis o homem dado à bebida; são esses sinais que o tornam ébrio, ou é a embriaguez que faz surgirem esses sinais?
Pode-se dizer que os órgãos recebem a marca das faculdades.
O LIVRO DOS ESPÍRITOS - ALLAN KARDEC - QUESTÃO 370
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