...Ante o Sol renascente, o campo terrestre brilhava em plena manhã clara. Mudos e expectantes, renteamos com um homem do campo manobrando a enxada na defesa do solo.
Áulus apontou-o com a destra e rompeu o silêncio, murmurando:
- Vejam! A mediunidade como instrumentação da vida surge em toda a parte.
O lavrador é o médium da colheita, planta é o médium da frutificação e a flor é o médium do perfume.
Em todos os lugares, damos e recebemos, filtrando os recursos que nos cercam e moldando-lhes a manifestação, segundo as nossas possibilidades.
Avançávamos e, em breves momentos, víamo-nos defrontados por singela oficina de carpinteiro.
Nosso orientador indicou o operário que aplainava enorme peça e observou:
- Possuímos no artífice o médium de preciosas utilidades.
Da devoção com que se consagra ao trabalho, nasce elevada percentagem de reconforto à Civilização.
Da devoção com que se consagra ao trabalho, nasce elevada percentagem de reconforto à Civilização.
Não longe, surpreendemos pequena marmoraria, à porta da qual um jovem envergava o escopro, ferindo a pedra.
- Eis o escultor – disse Áulus-, o médium da obra-prima.
A Arte é a mediunidade do Belo, em cujas realizações encontramos as sublimes visões do futuro que nos é reservado.
O assistente prosseguiu enunciando importantes considerações sobre o assunto, quando passamos por alguns empregados da higiene pública, removendo o lixo de extensa praça.
- Aqui temos os varredores – disse com respeitoso acento -, valiosos médiuns da limpeza.
Logo após, contornamos um edifício em que funcionava um tribunal de justiça e nosso instrutor adiantou:
- Vemos aqui o fórum onde o juiz é o médium das leis.
Todos os homens em suas atividades, profissões e associações são instrumentos das forças a que se devotam.
Produzem, de conformidade com os ideais superiores ou inferiores em que se inspiram, atraindo os elementos invisíveis que os rodeiam, conforme a natureza dos sentimentos e idéias de que se nutrem.
Atingíramos, no entanto, o lar em que Hilário e eu nos dedicaríamos ao socorro de uma criança doente.
Nesse ponto da excursão, o orientador, esperado a distância, separar-se-ia de nós, por fim.
Na intimidade doméstica, um cavalheiro maduro e a esposa tomavam café em companhia de três petizes.
Ladeando a mesa limpa e sóbria, descansava em larga poltrona o menino abatido e pálido que nos recolheria o esforço assistencial.
O instrutor fixou os olhos no quadro expressivo que nos tomava a atenção e exclamou:
- A família consangüínea é uma reunião de almas em processo de evolução, reajuste, aperfeiçoamento ou santificação.
O homem e a mulher, abraçando o matrimônio por escola de amor e trabalho, honrando o vínculo dos compromissos que assumem perante a Harmonia Universal, nele se transformam em médiuns da própria vida, responsabilizando-se pela materialização, alongo prazo, dos amigos e dos adversários de ontem, convertidos no santuário doméstico em filhos e irmãos.
A paternidade e a maternidade, dignamente vividas no mundo, constituem sacerdócio dos mais altos para o Espírito reencarnado na Terra, pois, através delas, a regeneração e o progresso se efetuam com segurança e clareza.
Além do lar, será difícil identificar uma região onde a mediunidade seja mais espontânea e mais pura, de vez que, na posição de pai e de mãe, o homem e a mulher, realmente credores desses títulos, aprendem a buscar a sublimação de si mesmos na renúncia em favor das almas que, por intermédio deles, se manifestam na condição de filhos.
E, num sopro de bela inspiração, concluiu:
- a família física pode ser comparada a uma reunião de serviço espiritual no espaço e no tempo, cinzelando corações para a imortalidade.
ANDRÉ LUIZ - ÚLTIMAS PÁGINAS – NOS DOMÍNIOS DA MEDIUNIDADE / cap. 30
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